Boeing tem perdas de US$ 7 bilhões com o KC-46A. Foi um bom negócio? Os números até aqui dizem que, ao menos para o lado financeiro, ainda não. Com mais de 70% da frota planejada já encomendada, o avião ainda é um fardo financeiro para a Boeing, e aponta para um futuro onde o KC-46A Pegsus não será lembrado como um sucesso rentável de vendas.
As perdas da Boeing com o projeto e construção do que deveria ser um avião de reabastecimento em voo (REVO) de “baixo risco” para a USAF e aliados, chegaram a perdas de US$ 7 bilhões e podem aumentar. A informação foi divulgada dia 26/4 pela empresa, confirmando um cenário que vinha se desenhando há muito tempo, face aos problemas de desenvolvimento.
A empresa com sede em Arlington, Virgínia, disse que perdeu mais US$ 245 milhões com o KC-46 nos primeiros três meses de 2023. As perdas foram devido a um “problema de qualidade do fornecedor, resultando em interrupção da fabricação e todo retrabalho de manufatura”, disse a empresa em um comunicado. O problema de qualidade é com os tanques de combustível do avião, que foram pintados incorretamente por um subcontratado, informou o The Air Current no mês passado.
“A boa notícia é que entendemos isso e estamos progredindo nesse retrabalho”, disse o CEO da Boeing, Dave Calhoun, na teleconferência trimestral da empresa. “Do lado operacional, o avião continua cumprindo bem sua missão”.
Este é mais um episódio de uma lista de problemas, que ao longo dos anos assombram o projeto desde que foi anunciado em fevereiro de 2011. A lista vai desde problemas de qualidade de acabamento, com o esquecimento de ferramentas dentro das asas, até sérios, como o vazamento de combustível e a “cegueira” do Sistema de Visão Remota (RVS – Remote Vision System), que levou a Boeing a redesenhar ele para sua versão 2.0. Além disto, problemas na Unidade de Energia Auxiliar (APU), nos dutos da linha de drenagem (receptacle drain line tubes) e instabilidades no Sistema de Gerenciamento de Voo (FMS – Flight Management System), também foram reportados, entre outros.
Além de atrasar entregas, que geraram multas, os diversos problemas restringiram a operacionalidade, retardando o IOC, pois o KC-46 ficou, inicialmente, restrito a missões de treinamento e limitadas a partir de agosto de 2021, sem poder atuar em missões de combate, algo que só foi liberado em setembro de 2022, mais de 3 anos após entrar em serviço. Em 25 de janeiro de 2019, a 22d Air Refueling Wing da McConnell AFB recebeu seus dois primeiros KC-46A (AF15-46009 e 17-46031) pssando a ser a primeira unidade a operar o KC-46A na USAF.
A USAF tem hoje 69 KC-46 em sua frota para missões de REVO. O serviço já encomendou 128 unidades, isto é, mais de 70% das 179 aeronaves que pretende comprar. Japão com seis unidades e Israel com 12 unidades também compraram o KC-46A. A Itália também quer ao menos seis KC-46.
Apesar do conturbado histórico do programa, a USAF pode ampliar a encomenda com mais 75 aeronaves, elevando para 254 o total de substitutos dos KC-135. Calhoun chamou os potenciais KC-46 extras de “uma grande oportunidade para nós”. Na verdade, isto poderia ser uma solução para ao menos “empatar os custos” e fazer o programa não ter prejuízo.
@CAS