Pilotos Afegãos pedem asilo ao Canadá. Ás vésperas do Talibã tomar o poder a Força Aérea do Afeganistão (AFF) ou que havia sobrado dela, já sabia que não teria como lutar. De certa forma virou uma espécie “cada um por si”. Na noite de domingo, 15 de agosto, o aeroporto esta cercado, não se podia sair ou entrar. Os boatos e ameaças vindas de todos os lados, invariavelmente, giravam em torno de “Temos certeza de que eles vão nos matar, porque somos pilotos”. Muito deste clima perigoso vinha de um senda de assassinatos cometidos por membros do Talibã, que nos últimos meses haviam elegidos pilotos como alvos prioritários, passando a caçá-los. Só havia uma coisa a fazer. Voar e fugir.
Parte dos pilotos da base de Mazar-i-Sharif, ao norte já haviam decolado na noite anterior, antes da base ser tomada pelo militantes do Talibã. Cerca de 22 aeronaves e 24 helicópteros rumaram para o aeroporto internacional de Termez, no Uzbequistão, em um movimento que causou a perda de um A-29B da AAF, que colidiu com um MiG-29 da Força Aérea do Uzbequistão.
Na base de Cabul, situada anexa ao Aeroporto Internacional Hamid Karzai, não foi diferente. Como não havia como sair do aeroporto para ver e buscar suas familias, sob o risco de morrerem, a única opção era fugir do país. Doze pilotos e um chefe de manutenção decolaram ao anoitecer um Cessna AC-208B rumo a Dushanbe, no Tajiquistão, que faz fronteira com o Afeganistão.
A aeronave saiu já em meio a primeira onda de civis afegãos desesperados que fugiam do Talibã que rodeavam a pista: “muitas pessoas estavam apenas correndo ao lado aeronave sem rumo”, disse o piloto. O grupo de pilotos que estavam deixando tudo para trás continha pilotos de AC-208 e de helicópteros MD-530 e o UH-60 Black Hawk.
Este não foi o único voo. Autoridades no Tajiquistão, que compartilha uma fronteira de 1.350 km com o Afeganistão, disseram que vários aviões militares afegãos transportando mais de 100 tripulantes e soldados pousaram em vários aeroportos.
Embora sejam livres para se locomover em Dushanbe, a tripulação que saiu em meio ao caos de Cabul teme que as autoridades no Tajiquistão os devolvam ao novo regime do Talibã. O Tajiquistão deixou claro neste fim de semana que não quer participar de uma crise de refugiados. Para evitar isto, todas os 13 tripulantes estão pedindo asilo no Canadá e a ajuda do governo para resgatar suas esposas, pais e filhos das garras do regime Talibã. O meso tem sido feito por outras tripulações que fugiram para o Tajiquistão e as que se isolaram no vizinho Uzbequistão.
Obter ajuda consular canadense será difícil. O Canadá não tem embaixada no Tajiquistão e e Uzbequistão, e todos os casos são encaminhados para a missão no Cazaquistão. Os pilotos se encaixam no perfil de um programa canadense de refugiados, pois serão vítimas de perseguição em seu país.
“Todos nós aqui queremos ir para o Canadá”, disse um dos pilotos que voa AC-208 desde 2017. Embora alguns deles tenham treinado nos Estados Unidos, nenhum dos pilotos expressou interesse em imigrar para lá, depois que o presidente norte-americano Joe Biden afirmou que “os militares afegãos desistiram, sem tentar lutar”.
Na prática as palavras de Biden não levam em conta que nas últimas semanas antes da queda do país para o Talibã, a AAF teve o suprimento, apoio logístico e operacional – grande parte dele proveniente dos EUA, praticamente cortado, ficando as missões reduzidas a voos de inteligência, reconhecimento e vigilância (ISR). Com isto, passaram a observar passivamente o Talibã avançar rumo a Cabul. Sem munição, não havia como atrasar, quanto mais tentar repelir o Talibã.
“Não tivemos chance de lutar com eles porque não havia foguetes”, disse um dos pilotos de MD-530F . A ausência de poder aéreo deixou as tropas afegãs sozinhas no solo para enfrentar o Talibã. Chegou um ponto, as vésperas da invasão de Cabul, que todos tiveram que fazer uma escolha: esperar para ser capturado e morrer ou fugir na esperança de sobreviver e, eventualmente, ver suas famílias.
@CAS