

Os B-2 sobre o Irã — detalhes da Operação Midnight Hammer. Gradualmente, os detalhes vão surgindo sobre o ataque americano às três instalações nucleares do Irã, cujo principal ator foi a dupla B-2A Spirit e GBU-57A/B MOP.
Segundo o Pentágono, o plano, batizado de Midnight Hammer ou Martelo da Meia-Noite, foi uma ação panejada por meses e revisada constantemente. Fontes da imprensa dos EUA falam em mais de 18 meses. Isto significa que não foi feita especificamente para a administração Trump, mas sim, era algo que poderia ter sido usado pelo Presidente Joe Biden.
Ela foi “disparada” no contexto da guerra Israel x Irã, iniciada pelos israelenses no dia 13/06, com objetivo simples, em tese, de eliminar o projeto nuclear iraniano. Segundo o Gen. Michael Erik Kurilla, Comandante do U.S. Central Command, que liderou as ações, pouquíssimas pessoas sabiam e ela era considerada uma ação ultrassecreta.

Depois de 8 dias de hostilidades entre Israel e Irã, com ataques mútuos e com a Israeli Air Force (IAF) conseguindo superioridade aérea total sobre o Irã, as tensões diplomáticas cresceram com ameaças e pressões de todos os lados. Os EUA, desde o início, se posicionaram por dialogar, mas também a favor de aniquilar o programa nuclear do Irã.
Depois de várias ameaças, tentativas de acordos, o presidente Donald Trump deu um prazo de duas semanas para o Irã e o Aiatolá Ali Khamenei se “resolver” e fazer uma rendição incondicional – algo não aceito pelo Irã. Curiosamente, o aviso foi dado no dia 19/06, mesma data em que os B-2 começaram ser preparados para a missão. Sinal de que foi somente um blefe de Trump, e que ele já estava decidido a aproveitar a oportunidade.

Vale lembrar que o ataque dos EUA não é isento de polêmicas (como quase tudo que ele faz) e questões como autorização do congresso; ter o apoio do conselho de segurança da ONU, 100% do apoio de aliados e mesmo aprovação interna — somente 19% dos americanos concordavam com o ataque estão na mesa. Assim como as consequências disto.
A “Hammer” colocou o Northrop Grumman B-2A pela 6ª vez em ação em um conflito real. Depois do Kosovo (1999), Operação Liberdade Duradoura — OEF (2001), Iraq Freedom — OEF (2003), Operação Odyssey Dawn (2011) e Operação ISIS na Líbia (2017), foi a vez do Irã em 2025.

Foi a maior e mais complexa ação já realizada pelos B-2, além de ser a segunda missão de maior duração desde quando os Spirits entraram em serviço na USAF, com 37h 40 min. A primeira e mais longa ainda é o ataque ao Afeganistão entre 7 e 8 de outubro de 2001 na OEF, com 44,3 horas.
Os protagonistas da ação da noite de 21 de junho de 2025 foram o 325th Bomber Squadron (325th BS) e o 393rd Bomber Squadron (393rd BS), ambos vinculados ao 509th Bomber Wing (509th BW), sediado na Base Aérea de Whiteman, no Missouri, EUA. Como toda a operação desde vulto, além de sigilo, a contrainformação e informações incompletas são a temática.

O fato é B-2 entrou nesta história entre Israel e Irã, devido às plantas nucleares iranianas não poderem ser destruídas com o armamento disponível na IAF. Por serem subterrâneas, em especial a famosa usina de enriquecimento de combustível nuclear de Fordow, a mais segura e protegida do Irã, onde as bombas Joint Direct Attack Munition (JDAM) ou os mísseis ar-superfície Rafael Popeye não são efetivos. Era preciso algo mais “forte”.
A única solução seria o emprego da bomba anti-bunker Boeing GBU-57A/B MOP (Massive Ordnance Penetrator), que só pode ser disparada pelos B-2 e, mais, a única capaz de penetrar e destruir as instalações postadas a metros abaixo da terra. Fordow está a mais de 60 m abaixo do nível do solo. A MOP se tornou uma “desculpa” para os EUA? Provável que sim.

Não era segredo que Israel estava atacando diariamente e enfraquecendo as plantas nucleares de Fordow, Natanz e Esfahan. Mas para aniquilar ou inutilizar elas era preciso ajuda dos EUA. Arak já havia sido inutilizada nesta semana que passou em 19 de junho por caças F-16I da IAF.
“Mesmo assim, essa arma poderia exigir múltiplos disparos para danificar efetivamente as profundas áreas de Fordow”, afirmou Anatoliy Maksymov, jornalista especialista em relações internacionais. As tensões cresceram em uma semana de conflito. E um ataque se desenhava com a mega mobilização da USAF e da US Navy.
Seis B-2 “Isca”

As primeiras informações davam conta de duas coisas. Eram seis B-2 e eles estavam indo na direção de Andersen AFB em Guam. Isto poderia nos intuir que eles aguardariam lá a autorização de ataque. Outra informação é que seriam atacadas as plantas de Fordow, Natanz e Esfahan. Estava correto. Mas só que o ataque não viria de Guam.
Engenhosamente havia sido criado um embuste, uma distração, talvez usando as redes sociais para divulgar, pelos sites de monitoramento, que os B-2 estavam vindo pelo Pacífico.
O que era verdade era que a ordem já estava dada pelo presidente Trump. O ataque iria ocorrer. A Operação Midnight Hammer havia começado na virada de 20 para 21 de junho. As aeronaves do “embuste” começaram a decolar de Whiteman uma a uma. A última saiu do solo às 11h47 UTC. O mundo passou a olhar para aquilo minuto a minuto e em pouco tempo a imprensa falava disto, em dúvida se era só mais um “cerco” à espera das duas semanas dadas por Trump para uma decisão do Aiatolá Ali Khamenei.

Com código-rádio METEE11, MYTEE12 e MYTEE13, a primeira esquadrilha de B-2A decolou para o primeiro reabastecimento em voo (REVO), seguido da segunda esquadrilha com código rádio MYTEE21, MYTEE22, MYTEE23. Todos seguiram para o primeiro REVO ainda sobre os EUA. Os B-2A da 509th Bomb Wing reabasteceram com ao menos 8 KC-135R da USAF entre eles os 58-0034, 58-0046, 60-0350, 60-0351, 63-0505, 63-7987 e 63-8027, com códigos-rádio NITRO61 a NITRO64 e NITRO71 a NITRO74. Após reabastecer, os Spirits seguiram para a costa do pacífico, para a costa de São Francisco.
A missão prosseguiu rumo a costa da Califórnia, onde já na madrugada de 21/06, os MYTEE 11/12/13/14 e MYTEE 21/22/23 transmitiram pela rádio HF da FIR São Francisco que ia seguir a rota, após o REVO com 4 KC-46A com código-rádio HIFI 81 (USAF 17-46035), HIFI 82 (USAF 18-46045), HIFI 83 (USAF 16-46016) e HIFI 84 (USAF 16-46012) na aerovia AR5 West High. A partir daí, outra sessão de REVO com mais 4 KC-135R foi feita sobre o Havaí, antes dos B-2 seguirem na proa de Guam. Aqui a missão “some”, ao menos dos sistemas de monitoramento de voos. Na verdade, ela não tinha permissão para ir para além de Guam, onde devem ter pousado.

A missão real
Enquanto se “olhava para o Pacífico”, a Whiteman AFB continuava agitada e, segundo o Pentágono, às 00h01 de 21 de junho, outros 7 B-2A decolavam em total silêncio rádio e eletrônico. Os códigos-rádio eram BATT 11/12/13/14 (4x B-2) e BATT 21/22/23 (3x B-2). Na costa leste, foi possível ver aeronaves KC-135R com call HIFI88 (USAF 62-3503), operando na região de Nova Iorque na madrugada de 21/06, horas antes do ataque. Além destes, há reportes de outros HIFI, como os 89, 90 e 91 na mesma aérea.
O voo direto de 18 horas ligaria a Base Aérea de Whiteman, que fica a cerca de 120 km a leste de Kansas City às plantas de Natanz e Fordow, a 11.100 quilômetros de distância. Cada um dos 7 B-2 tinha duas GBU-57A/B a bordo.

Ninguém sabia o que estava acontecendo e os jornalistas que cobrem a Casa Branca até haviam recebido a informação de que não teria mais agenda. Porém, Trump não foi para a Flórida como sempre faz aos finais de semana. Ele havia ficado em Washington.
Não há muito detalhes, mas devem ter sido feitos dois ou três REVOs, sendo um ainda no litoral dos EUA, outro no sul da Europa e um no Mediterrâneo. Isto justificou o posicionamento ao longo da semana de aeronaves KC-135R e KC-46A em bases como Lajes/Açores (12) e Morón/Espanha (17). Além destes, foram vistos KC-135 atuando nos REVOS, operando a partir da Chania International Airport, localizado na cidade Chania, Creta, Grêcia. Era também parte da ação, assim como outros 22 KC-135R na Base Aérea Prince Sultan, na Arábia Saudita, que apoiariam as demais aeronaves na missão. Vários dos KC-135, com código-rádio GOLD foram vistos atuando na região, em especial após o ataque. Entre eles, os KC-135R USAF 63-7985, 58-0069 e 60-0349.

A aproximação foi sorrateira. Em silêncio-rádio e com comunicações por datalink e mínimas possíveis. Ao entrar no espaço aéreo iraniano, os “BATTs” passaram a contar com apoio direto de caças F-22A e F-35A, que desde o início da semana já estavam posicionados na região, trazidos dos EUA e Europa. Os F-22A provavelmente foram levados para a Base Aérea de Muwaffaq, também chamada de Base Aérea de Azraq, na Jordânia.
Não há conformação, mas é provável que houve o apoio de F-35I da IAF (indireto) e de aeronaves dos porta-aviões CVN 68 e CVN 70, que deve ter feito proteção, missões de AEW e ASW, para proteger o submarino da US Navy no ataque. Uma aeronave ELINT da USAF estava voando na região.

Segundo a USAF, 40 aeronaves de reabastecimento em voo KC-135R e KC-46A estiveram envoltas na Hammer, não só para atender os B-2 do ataque, mas os “B-2 Iscas”. Ao todo, 125 aeronaves americanas, entre B-2, KC-135R, KC-46A, F-16CJ, F-22A, F-35A e aeronaves de reconhecimento, estiveram na Midnight Hammer.
Após o ataque, os B-2 regressaram direto a Whiteman, fechando um voo de 37 horas, onde novos REVOS foram feitos, um deles no Estreito de Gibraltar. Foi o maior emprego dos B-2A na USAF, tendo envolvido 13 das 20 aeronaves atualmente no inventário.
O ataque

A Midnight Hammer visou os três alvos nucelares do Irã. Fordow, Natanz e Esfahan. A última seria atacada exclusivamente por mísseis Raytheon BGM-109 Tomahawk, lançados de um submarino americano.
“Por volta das 17h (horário padrão do leste) da noite passada e pouco antes do pacote de ataque [aéreo] entrar no Irã, um submarino americano na Área de Responsabilidade do Comando Central lançou mais de duas dúzias de mísseis de cruzeiro de ataque terrestre Tomahawk contra alvos-chave da infraestrutura de superfície em Isfahan, enquanto o pacote de ataque da Operação Midnight Hammer entrava no espaço aéreo iraniano. Os mísseis Tomahawk foram os últimos a atingir Isfahan, para garantir que mantivéssemos o elemento surpresa durante toda a operação”. – Chefe do Estado-Maior Conjunto da Força Aérea dos EUA, General Dan “Razin” Caine.

Este ataque ocorreu antes que os B-2 fizessem o seu papel. Foram lançados por um submarino na região do Golfo de Omã. Provavelmente é o submarino class cruise missile da Classe Ohio, USS Georgia (SSGN-729), que está na região desde o fim de setembro de 2024.

Já a operação dos B-2 foi dividida em duas. Quatro B-2A (BATT11/12/13/14) fizeram o ataque a Natanz. Só três de fato atacaram, sendo um atuando como reserva Já os três B-2 (BATT21/22/23) fizeram a parte mais “pesada”: Fordow. A operação de 20 minutos dentro do Irã começou às 18h40 (horário do leste dos EUA), — 02h10 no Irã, com um bombardeiro americano B-2 lançando duas primeiras GBU-57 em Fordow, que recebeu ao todo oito impactos diretos. Outros seis impactos foram feitos em Natanz. Ao todo, 12 MOPs foram lançadas, sendo a primeira vez que foi usada em um conflito real.

O furtivo bombardeio Northrop Grumman B-2A Spirit foi projetado para missões de ataque de longo alcance e consegue transportar armas convencionais e nucleares. É a única aeronave americana projetada especificamente para penetrar alvos fortemente defendidos, como instalações subterrâneas, sendo o único capaz de levar a bomba anti-bunker Boeing GBU-57A/B MOP (Massive Ordnance Penetrator).
Todos os três alvos da infraestrutura nuclear iraniana foram atingidos entre 18h40 e 19h, horário do leste dos EUA em 21/06 (2h10 e 2h30 no Irã de 22/06), enfatizou o Chefe do Estado-Maior Conjunto. No total, as forças americanas utilizaram cerca de 75 armas guiadas de precisão durante a operação. Seriam 12 MOP, 30 BGM-109 e o que mais? Provável que outras missões de supressão tenham sido feitas por navios ou aeronaves da US Navy e USAF.




Não há nenhum registro de que a defesa aérea do Irã tenha tentado interceptar os aviões americanos ou, se quer, antecipado que haveria um pacote de ataque. A Islamic Republic of Iran Air Force (IRIAF) se mostrou inexistente neste conflito. Suas aeronaves obsoletas e mal armadas não foram capazes de enfrentar os caças da IAF.
Para efeito militar, o Irã não tem capacidade alguma de se defender. O máximo que tem conseguido é lançar mísseis, que não têm sido tão efetivos, e drones. Já os EUA e Israel tiveram ações decisivas. Independente de ações políticas, a guerra Irã x Israel mostra o diferencial enorme entre Força Aérea OPERACIONAL e no PAPEL. Caças não só antigos como F-4, F-5 (e variantes), F-14 e russos Su-22, Su-29, MiG-29, mas provavelmente mal mantidos e sem suprimento, não conseguem o básico que é dar superioridade aérea, quiçá, projetar força.
Resultados
Trump anunciou o ataque, surpreendendo o mundo por volta das 20h no horário de Washington, três horas depois do ataque começou. Ele usou uma rede social e após, as 22h ele falou em rede nacional. Foi uma surpesa e ao mesmo tempo não foi, pois o mundo já esperava a ação.


O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, condenou o ataque americano às instalações nucleares do país, afirmando que a Casa Branca, “belicista” (doutrina ou tendência que apoia ou incita a guerra), será “totalmente responsável” pelas consequências de suas ações.
Ele solicitou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que convoque uma sessão de emergência “para condenar inequivocamente o ato criminoso de agressão dos Estados Unidos contra o Irã e responsabilizar o governo em Washington por suas violações dos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas e das normas do direito internacional”.
O Irã declarou que qualquer americano é inimigo do estado. A retórica coloca um tom de buscar atos terroristas como solução. O Irã retaliou atacando Israel, lançando mais de 50 mísseis contra Israel. Que por sua vez enviou no dia 22/06 mais 50 caças para atacar alvos militares, entre eles lançadores de mísseis.
A Jordânia declarou que interceptou vários mísseis e drones no dia 22/06, lançados pelo Irã contra o território de Israel. A ação foi feita para evitar que caíssem em terrotório jordaniano.
Irã fecha o Estreito de Ormuz

No dia 22, o Parlamento Iraniano aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz. A decisão precisa da aprovação do líder supremo, o Aiatolá Ali Khamenei, o que denota que é necessário se os militares iranianos conseguem efetivar a decisão. Se isto efetivado, terá um impacto global. Por Ormuz, um canal que varia de largura de 34 a 50 km navegável, passa 20% dos navios petroleiros do mundo e é um dos principais pontos de transporte do petróleo do Oriente Médio.
O que vem por ai
O Irã prometei retaliar diretametne ao EUA, sob pena de não conseguir manter a ordem interna. Porém é algo nada fácil. Talvez algum ataque de míssil balistico a alguma base na região do Oriente Médio. Mais provável é que terceirize a tarefa a algum grupo terrorista aliado, como Houthis, Hezbollah entre outro.
Israel promete continuar os ataques. Ele diz que ainda tem alvos a atingir. Na noite de 22/06 disparou mais uma onda de ataque com 50 caças a Teerã e arredores, buscando aniquilar lançadores de mísseis. Ao mesmo tempo, há um movimento para a paz, ou ao menos um acordo de cessar-fogo. O enfraquecido conselho de segurança da UN está reunido buscando isto. Os próximos dias devem trazer novidades.
O ataque americano ao Irã traz uma pergunta. O que impede que outras nações façam ataques similares, seguindo a chancela aberta na noite do dia 21/06?
Entre no nosso grupo de WhatsApp
@CAS