Xeque-mate! Irã compra os dois A340 ex-Força Aérea Francesa. Em novo “golpe de mestre“, o governo iraniano conseguiu obter mais dois Airbus A340 para sua frota. Driblando novamente as sanções e bloqueios internacionais, essa ação surpreende porque os aviões envolvidos, até pouco tempo, voavam para a Força Aérea e Espacial Francesa!
Depois de quatorze anos de operações, em dezembro de 2020 a Armée de l’Air et de l’Espace Francesa retirou de serviço os seus dois Airbus A340-200. Conforme noticiamos na época, as duas aeronaves, matrículas F-RAJA (c/n 075) e F-RAJB (c/n 081), foram oferecidas em leilão público.
Ambos foram arrematados pela empresa LMO Aero, que os registrou como F-HFDD (ex-F-RAJA) e F-HLMG (ex-F-RAJB). Em uma negociação posterior, eles foram vendidos para uma empresa de manutenção aeronáutica sediada na Indonésia. Entre abril e maio de 2022 eles deixaram Chateauroux, na França, voando diretamente para o Aeroporto Kertajati Bandar Udara, na província de Java Ocidental, Indonésia.
As matrículas francesas foram canceladas em 11 de abril de 2022 (F-HFDD) e 22 de maio de 2022 (F-HLMG). Alguns meses após chegarem no país, ambos foram pintados de branco e receberam matrículas do Mali, respectivamente TZ-DTA (ex-F-HFDD) e TZ-DTC (ex-F-HLMG). Mais tarde descobriu-se que esses registros africanos eram uma fachada para o verdadeiro destino dos quadrijatos: a República Islâmica do Irã.
O plano executado foi exatamente igual ao realizado em dezembro do ano passado, quando Teerã comprou quatro A340 que estavam estacionados em Johanesburgo, na África do Sul. Todos decolaram quase simultaneamente com destino ao Uzbequistão, mas no meio do caminho foram desviados para o Irã (detalhes aqui).
Neste caso, em 23 de maio de 2023, os dois A340 “africanos” decolaram quase juntos de Kertajati – teoricamente – com destino ao Mali. No meio do caminho, eles desviaram para o Aeroporto de Chabahar, no sul do Irã.
Segundo uma investigação realizada pelo jornalista iraniano Babak Taghvaee – que vive no exílio por perseguição do governo iraniano pelas informações que divulga sobre a aviação no país – a empresa da Indonésia serviu apenas como intermediária para o real comprador das aeronaves, a companhia aérea iraniana Mahan Air.
Fontes da aviação iraniana ouvidas por Taghvaee, afirmaram que os dois A340 foram comprados por uma “companhia aérea ligada ao governo” (no caso a Mahan Air), e que um deles já foi levado para Teerã, enquanto o remanescente permanece armazenado no pátio militar da 10ª Ala de Aviação de Caça de Chabahar.
Para colocar uma cereja sobre esse bolo, exatamente no dia que os dois A340 deixaram o país rumo ao Irã, ocorria a primeira visita oficial do presidente iraniano, Ebrahim Raisi a Indonésia. A viajem de Raisi ao país asiático ocorreu – justamente – a bordo de um Airbus A340 utilizado como avião presidencial pela Força Aérea Iraniana.
Diante da repercussão do fato, a porta-voz do Ministério dos Transportes da Indonésia, Adita Irawati, divulgou um comunicado à imprensa: “As duas aeronaves civis estrangeiras (registro TZ-DTA e TZ-DTC) deixaram o território indonésio em 23 de maio de 2023 com destino a Amã, na Jordânia, após obter a aprovação de voo de acordo com a legislação”.
Ela ainda explicou o motivo porque os aviões estiveram no país: “Eles estiveram sob os cuidados da empresa de manutenção GMF Aero Wisata. Após os serviços realizados, em 22 de maio de 2023 a representante do proprietário, a empresa JAS Serviços Espaciais Universais, apresentou uma autorização de voo para as duas aeronaves que haviam concluído a manutenção. Finalmente, a licença foi emitida e os dois aviões deixaram o país” , explicou a porta-voz.
Ficou claro que o Irã novamente usou uma estratégia de triangulação de países para evitar as sanções internacionais, e adquirir mais aviões ocidentais para manter a sua frota operacional. Os A340 são considerados pelas grande maioria das empresas aéreas mundiais, aviões relativamente antigos e antieconômicos, mas apesar disso, eles são muito procurados pelo governo e companhias aéreas iranianas, cuja frota nacional é bastante significativa.
@FFO