Vídeo – CNN acompanha missão de 33 horas de voo a bordo de um B-52H da USAF. Dezenove horas após decolar da Base Aérea de Barksdale, na Louisiana, voando em uma área perto do Mar da China Oriental, um alerta no medidor da pressão do óleo de um dos motores do bombardeiro B-52H da USAF chamou a atenção dos pilotos. Este foi um dos pequenos problemas enfrentados pela tripulação nas mais de 33 horas de voo ininterruptas, em uma das missões mais longas da USAF, acompanhada a bordo da aeronave com exclusividade pelo jornalista Oren Liebermann da CNN.
No cockpit, os dois pilotos trabalhavam no checklist. O Capitão Jinan Andrews leu cada item em voz alta, enquanto o Capitão Tramaine “Omaha” Barnett voava o jato. Sentado no único beliche à bordo, o terceiro piloto, o Capitão Sabin “Jett” Park, observava para certificar que nenhum item ficasse de fora. Faltavam ainda 14 horas de voo e quase 12.800 km para o pouso mas, mesmo assim, os pilotos tomaram a decisão de desligar o motor.
Utilizando o indicativo “MYLAR 11”, a nossa missão envolvia dois B-52H, mas o outro bombardeiro pousou no Japão. Agora o nosso avião voltaria sozinho para os EUA com um motor desligado. Felizmente o Boeing B-52H Stratofortress tem oito motores, mas a pane serve para lembrar que a nossa aeronave é um projeto da década de 1950, que passou pela Guerra Fria, mas que ainda é o principal bombardeiro estratégico dos EUA. Ele participou de todas as guerras desde o Vietnã.
A CNN obteve acesso exclusivo neste voo épico em um dos mais veneráveis jatos militares da USAF, símbolo do poder aéreo americano. Este B-52 especificamente foi fabricado em 1961 e, embora seja décadas mais velhos que os seus tripulantes, ele continua sendo a pedra angular da frota de bombardeiros dos EUA.
“Se olharmos para as lideranças da Rússia e da China, a que eles reagem?” pergunta o Major-General Jason Armagost, Comandante da Oitava Força Aérea. “Vemos que eles comentam publicamente sobre as missões da nossa força-tarefa de bombardeiros.”
Nosso voo decolou na madrugada de 1º de abril de de Barksdale para uma das missões mais longas do mundo. O B-52H voaria dos EUA, passando pelas Ilhas Aleutas, no Alasca, pela costa leste da Rússia e descendo pela China, Coreia do Norte até uma área ao largo da Península Coreana. Sem pousar, o “MYLAR 11” voaria em formação com caças da Coreia do Sul e do Japão antes de voltar para os EUA.
O tempo de voo da missão foi estimado em 33 horas sem pousos, quando seriam percorridos mais de 13.000 milhas (23.800 km) a uma altitude média de 28.000 pés, principalmente sobre as águas geladas do norte do Oceano Pacífico. Foi calculado que o B-52 queimasse cerca de 105.000 galões (397.500 litros) de combustível em todo o voo.
“Não somos apenas uma das pernas mais visíveis e flexíveis da tríade nuclear americana, mas uma maneira fácil da USAF e dos EUA demonstrarem apoio aos nossos aliados”, disse o Capitão Bo “NATO” Cain, Oficial Especialista em Sistemas de Armas do voo. A tríade nuclear inclui bombardeiros estratégicos, silos de mísseis balísticos e submarinos de mísseis balísticos, e constitui a força de dissuasão nuclear dos EUA. O B-52 é o elemento mais móvel da tríade. “Temos um B-52 onde você precisar, quando precisar, em 48 horas.”
Uma jornada épica
A tripulação padrão para missões desta duração é composta por três pilotos, três oficiais de sistemas de armas e um oficial de guerra eletrônica. A maior parte da tripulação do “MYLAR 11” nunca esteve em missão por tanto tempo.
Após algumas horas de voo, uma coisa se torna dolorosamente óbvia: o B-52 não foi construído para oferecer conforto. Embora o jato tenha uma envergadura de 56,3 metros e comprimento de 48.7 metros, a tripulação fica toda amontoada na parte dianteira, dividida entre o pequeno convés superior e o convés inferior sem janelas. Os pilotos alternam de posição frequentemente, tirando curtos períodos de descanso no único beliche a bordo. Para o resto da tripulação o negócio é encontrar uma posição para descansar no chão ou encostado em uma parede.
O Capitão Leo “Swabbie” Weber, Oficial de Sistemas de Armas, descreveu seu primeiro voo de mais de 30 horas como um passeio de montanha-russa. “Você fica animado quando decola, passa por calmarias de sono e então percebe que ainda não percorreu nem um quarto do caminho. Tentar manter o foco é difícil, mas é um desafio que aceito e gosto”, disse o Oficial.
Nos longos trechos entre os quatro reabastecimentos em voo, a tripulação passa o tempo conversando, descansando e lanchando. No “MYLAR 11” a Tenente Rebecca “Vulcan” Moore, Oficial de Guerra Eletrônica, trouxe nuggets de frango para a tripulação, aquecidos no minúsculo forno situado atrás das fileiras de disjuntores. Minipizzas e biscoitos de chocolate também são os favoritos da tripulação.
A Tenente Moore é responsável por rastrear ameaças externas ao voo, mas internamente ela assume um papel de manter o bem estar de todos a bordo. “Estou sempre tentando ter certeza de que estou prestando atenção em quem está cansado, com fome ou se existe algo em que eu possa ajudar” disse Moore. “Como você viu, este é um jato antigo e é necessária uma tripulação completa para resolver todos os muitos problemas que o acompanham.”
Futuro do B-52
A USAF trabalha na atualização do B-52H, elevando para a versão B-52J equipando com modernos motores mais eficientes, novos aviônicos e radares. O programa de modernização manterá os jatos voando por quase um século, desde que entraram em serviço pela primeira vez, em meados da década de 1950. “Nas próximas décadas, poderemos ver como um jato que existe há décadas e décadas pode continuar a evoluir com o tempo e ser mais capaz, do que nunca”, disse o Tenente-Coronel Jared Patterson, Comandante do 20º Esquadrão de Bombardeiros.
Este ano, a USAF deu inicio a produção de baixa taxa do futuro bombardeiro furtivo Northrop Grumman B-21 Raider. A China não fica muito atrás, e deverá revelar em breve o seu bombardeiro estratégico H-20, um projeto mantido em total sigilo.
O B-52 ainda tem um papel importante no futuro. “Esta foi provavelmente a fuselagem mais adaptável na história da indústria aeroespacial. Ele começou como um bombardeiro nuclear de alto nível. Nós o transformamos em um bombardeiro penetrante de baixo nível e em uma plataforma isolada de mísseis de cruzeiro. Ao longo do tempo, ele foi adaptado para realizar quase todas as outras missões ar-terra definidas no Departamento de Defesa dos EUA”, disse o Coronel Michael Maginness, Comandante da 2ª Ala de Bombardeiros.
A área da missão
Na extremidade leste do Oceano Pacífico, o “MYLAR 11” atinge a área de missão, um retângulo do espaço aéreo entre o sul do Japão e a Coreia do Sul. Horas antes, a Coreia do Norte disparou um teste de míssil balístico de médio alcance, um lembrete claro das ameaças na área.
Em Outubro, caças chineses interceptaram um bombardeiro B-52 durante a noite sobre o Mar da China Meridional, a sul da nossa posição. O jato chinês voou a três metros do bombardeiro, no que os EUA chamaram de “interceptação insegura”.
Entre camadas de nuvens, o nosso B-52 e seu Ala voam em formação com caças japoneses e sul-coreanos. Em visibilidade reduzida com múltiplas aeronaves voando próximas, a tripulação permanece alerta. Com pequena autonomia, os caças permanecem por pouco tempo, o que exige precisão no tempo da missão. “Quanto mais jogadores houver, mais complexa e interessante se tornará a missão”, disse o Capitão Sabin “Jett” Park, um dos pilotos do B-52.
Depois de tirar algumas fotos dos jatos em formação, logo voltamos para casa quando o indicador de alerta do motor número 5 ascende uma luz laranja brilhante. Em poucos minutos, a tripulação desliga o motor. Não há pânico – apenas uma gestão de risco.
Mesmo com um motor desligado, o B-52 ainda tem sete para levá-lo para casa. Não é um avião inteligente como os caças modernos de 5ª geração, mas é redundante, com numerosos sistemas de backup para realizá-lo em suas missões. “Apesar da sua idade avançada o B-52 ainda é considerado uma aeronave formidável. Ela é uma garota durona”, disse o Capitão Jinan Andrews.
Depois de contornar o espaço aéreo da Rússia pelo leste, nos preparamos para o longo trecho de volta para casa. Todos estão cansados, principalmente quando nos aproximamos da marca de 24 horas de voo, mas a missão ainda não está concluída. O B-52 ainda traz uma última surpresa!
Na aproximação final para a Base Aérea de Barksdale o trem de pouso principal direito não se estende. “Vá em frente e use o sistema de emergência”, ordena o Capitão Tramaine “Omaha” Barnett, Comandante da missão. Segundos depois, tocamos a pista 33 suavemente, depois de 33 horas de voo, abrindo o paraquedas de arrasto do jato enquanto desaceleramos.
Fonte: CNN
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