Venda dos F-16 à Turquia não é considerada “crítica”. Ainda não está claro se Washington permitirá que Ancara adquira 40 caças Lockheed Martin F-16 Block 70 e obtenha kits para atualizar outros 80 F-16C/D. A novela se arraste há meses e hoje precisa de autorização do congresso americano. Embora existam opositores no congresso, o Departamento de Defesa (US DoD) acredita que a venda não é considerada crítica, isto é, não é essencial para o futuro da nova versão do F-16.
Em 31 de março, saiu o novo relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso, que trouxe maior clareza do “porque”, no momento, Washington não dá luz verde para essa venda.
O relatório diz que os interesses entre a Turquia e os EUA estão cada vez mais divergentes. Mais uma vez, é enfatizado o impacto negativo da compra do sistema de defesa aérea russo S-400 da Turquia, bem como o aumento dos laços econômicos com a Rússia. O relatório diz que os EUA esperam grandes encomendas de sua última versão do F-16 (bloco 70/72). “A Lockheed já antecipa pedidos para 148 novas aeronaves F-16 Block 70/72. Assim, uma venda turca não é crítica nem para a linha de produção, nem para a base militar-industrial dos EUA”, disse o relatório. Esta afirmação não é simbólica, mas pelo contrário: proposital.
A Grécia também foi relatada como um fator que influencia a não venda de caças para a Turquia. Washington vê uma oportunidade para a Grécia aumentar sua capacidade de combate ao nível da Turquia se considerar vender armas para Atenas em vez de fazer o mesmo para Ancara. O mesmo relatório diz que a Turquia não deve atualizar sua frota aérea para obter um equilíbrio entre os dois países vizinhos dos Bálcãs.
“Como as forças armadas, a população e a economia da Turquia são significativamente maiores que a Grécia, e a Turquia mantém várias vantagens militares sobre a Grécia. Porém, algumas vantagens em termos de poder aéreo pelo lado grego ajudam a manter o equilíbrio regional. Os Estados Unidos devem recompensar a Grécia pelo nível de cooperação que demonstrou, convidando a OTAN para o uso adicional de suas bases e território – inclusive para fortalecer a Ucrânia e a Europa Oriental. Não modernizar a frota de F-16 tucos é uma foma de recompensar a Grécia”, enfatiza o relatório.
Mas é o relacionamento de vizinhança que pode, em algum momento, ajudar a Turquia a obter ajuda para reformar seus F-16. Por exemplo, o relatório disse que, ao construir uma forte frota grega de F-16 e potencialmente vender F-35, a Turquia poderia comprar atualizações americanas para seus aviões para garantir não apenas o equilíbrio, mas também aliviar as tensões entre os dois países.
Existem pontos em que a venda de F-16 para a Turquia, ou a modernização da frota turca de F-16, deveria acontecer. Por exemplo, o relatório disse que uma venda não apenas fortaleceria a cooperação militar-industrial, mas também a cooperação econômica. Além disso, Washington considera que, em algum momento, se a Turquia não conseguir o que deseja, Ancara pode recorrer à ajuda da Rússia ou da China. Os EUA não querem isso, então uma possível venda ou modernização do F-16 impediria tal decisão.
É por isso que o Serviço de Pesquisa do Congresso propõe vender rapidamente caças à Turquia. Os analistas relatam uma consequência perigosa: um longo atraso ou falha contínua em dar uma resposta definitiva sobre a compra do F-16 pode motivar a Turquia a considerar acordos com fornecedores estrangeiros, possivelmente incluindo a Rússia ou a China. Isso também reflete a cooperação conjunta no eixo da OTAN. Washington acredita que um dos argumentos para a Turquia receber o F-16 é justamente a futura ameaça russa e a possibilidade de que em algum momento as forças aéreas grega e turca cooperem.
Parece que quanto mais Ancara precisa de novos aviões, mais difícil é para Washington decidir. “Prós” e “Contras” são muitos argumentos, mas em algum momento os EUA terão que ser firmes em sua resposta. Porque o presidente turco Erdogan, afirmou repetidamente que não apenas os EUA produzem aeronaves, mas também outros países.
Além disso, enquanto os EUA permanecerem em silêncio, está mais perto o tempo em que a Turquia poderá esquecer o F-16m e só focar no caça furtivo turco já fez testes de taxiamento. Se o TF-X fizer seu primeiro voo até o final de 2023, isso significará que em alguns anos, a Turquia poderá realmente iniciar a sua produção em série e renunciar aos caças ocidentais.
Se os EUA não suavizarem o tom em relação à Ancara e não tomarem medidas para melhorar as relações – o que incluir a venda dos F-16, eles correm o risco de perder cada vez mais a Turquia como cliente e aliado.
@CAS