UK divulga relatório preliminar do acidente com o F-35B da RAF. O Ministério da Defesa do Reino Unido (MOD) divulgou em 08 de setembro, um relatório prévio sobre o acidente com um Lockheed Martin F-35B Lightning II da Royal Air Force (RAF) no Mar Mediterrâneo. Em 17 de novembro de 2021, o F-35B matrícula ZM152/018 do Squadron 617 “The Dambusters”, estava operando embarcado no porta-aviões HMS Queen Elizabeth (R08), quando caiu no mar durante uma tentativa mal-sucedida de decolagem. O piloto ejetou em segurança, sendo resgatado por equipes SAR do navio.
O caça fazia parte do Carrier Strike Group 21 (CSG21), liderado pelo HMS Queen Elizabeth, então a maior concentração de poder marítimo e aéreo a deixar o Reino Unido nas últimas décadas e o primeiro desdobramento operacional conjunto da Royal Navy e Royal Air Force. A viagem da Esquadra Real, liderada pelo HMS R08, se deslocou do Reino Unido até o Pacífico Sul, passando pelo Mediterrâneo, Oriente Médio, Peninsula Arábica, Mar da China e Mar do Japão, realizando diversas operações navais e aéreas.
Estavam embarcados no HMS Queen Elizabeth nada menos que 18 caças F35B, o maior número desses jatos já operado embarcados em um porta-aviões. O Grupo Aéreo do CSG HMS Queen Elizabeth era composto por oito F-35B do Esquadrão 617 — “The Dambusters” da RAF e dez F-35B do VMFA-211 — “The Wake Island Avengers”, dos Fuzileiros Navais dos EUA (USMC).
Para saber mais: RFA 17/11/2021 — O acidente; RFA 29/11/2021 — Vídeo do acidente; RFA 29/11/2021 — Capa plástica teria derrubado F-35B; RFA 1/12/2021 — F-35B é encontrado no fundo do mar; RFA 9/12/2021 — F-35 é recuperado do fundo do mar; RFA 25/01/2022 — Primeiras imagens do F-35B da RAF recuperado.
Relatório
O Relatório Provisório do Diretor Geral da Autoridade de Segurança de Defesa foi concluído em 23 de junho de 2022, informa o seguinte:
Um Inquérito de Serviço está sendo realizado para investigar o acidente envolvendo o F-35B ZM152 ocorrido a bordo do HMS Queen Elizabeth em 17 de novembro de 2021. Este Relatório Provisório contém fatos que foram determinados até o momento de sua emissão. Ele é publicado para informar a cadeia de comando militar, a indústria da aviação e o público sobre as circunstâncias gerais deste acidente e deve ser considerado provisório e sujeito a alteração ou correção se evidências adicionais estiverem disponíveis. A Consulta de Serviço ainda está em andamento agora; o relatório completo será publicado após a conclusão. Todos os horários são locais (UTC + 2 horas).
A causa não está relacionada a um problema técnico da aeronave, mas foi provavelmente causada por fatores humanos, organizacionais e processuais. Em 17 de novembro de 2021, o HMS Queen Elizabeth R08 (QNLZ) estava operando no leste do Mediterrâneo na primeira implantação do Carrier Strike Group 21 na Operação Fortis.
As aeronaves F-35B do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA começaram as operações de voo às 06h30 e dois F-35B do Reino Unido, do 617 Squadron, foram programados para serem lançados às 11h45. A aeronave líder — ZM152 taxiou para o lançamento às 11h37, sendo configurada para o modo de decolagem curta na direção do Flight Deck. O piloto realizou verificações de acionamento do motor, confirmou que todas os parâmetros estavam normais, aplicou a potência para decolagem selecionada – 97% de Engine Thrust Request (ETR), e soltou os freios.
O piloto relatou que a aceleração inicial parecia normal, mas depois diminuiu. Ao verificar os displays do motor, eles descobriram que a potência estava baixa, a 74% ETR. O piloto então selecionou o máximo (100% ETR), mas o motor continuou a fornecer potência abaixo do esperado. Devido à baixa velocidade resultante, o piloto tentou abortar a decolagem do ZM152, mas não conseguiu parar a aeronave antes do final da rampa e ejetou. A ejeção foi bem sucedida, o paraquedas foi acionado e o piloto pousou no convés de voo sofrendo apenas ferimentos leves. A aeronave colidiu com o mar sendo vista flutuando passando pelo lado de bombordo (esquerdo) do navio antes de afundar posteriormente.
O ZM152 voou pela última vez em 13 de novembro de 2021 e não exigiu nenhuma atividade de manutenção antes da preparação para seu voo em 17 de novembro de 2021. No dia anterior ao acidente, HMS Queen Elizabeth transitou pelo Canal de Suez, e como medida de segurança, todos os F-35B no convés de voo tiveram instalados dispositivos chamados “Red Gear”, que cobriam as tomadas e entradas dos jatos. Entre esses dispositivos – na cor vermelha chamativa – estavam capas, fitas (conhecidas “Remove Before Flight”) e tampas acolchoadas para fechar a tomada de ar dos motores, evitando assim a entrada de objetos estranhos.
Naquela noite, a equipe técnica do 617 Sqn atendeu o ZM152 para prepará-lo para o voo no dia seguinte. A manutenção do ZM152 foi atribuída a dois técnicos que iniciaram o turno às 19h30. O primeiro mecânico iniciou a manutenção logo após as 21h30, sendo esta concluída às 23h. Após uma refeição no meio do turno, o segundo técnico começou seu trabalho às 00h30. Durante um período da madrugada, ocorreu uma tempestade na região onde o R08 navegava. Em todas as inspeções realizadas na aeronave ( incluindo o pré-voo), não foram checadas as entradas de ar dos motores e o Red Gear daquele local.
Durante suas tarefas individuais, os mecânicos removeram alguns Red Gear, mas nenhuma anotação de colocação ou retirada foi feita no registro técnico da aeronave após a vistoria. Um procedimento de contagem dos Red Gear estava em vigor durante a travessia do Canal de Suez, mas isso não foi feito pelos técnicos. Sendo assim, não se sabia quantos Red Gears foram colocados e removidos d ZM152.
Antes de afundar, observou-se que a capa vermelha acolchoada do motor esquerdo flutuava ao lado dos destroços do ZM152. Ela foi posteriormente recolhida para análise, juntamente com os destroços da aeronave que foi resgatada do fundo do Mar Mediterrâneo e levada ao Reino Unido.
Causa
Após a análise do Flight Data Recorder pelo fabricante e tendo completado uma Revisão de Aeronavegabilidade independente, a equipe de investigação não identificou nenhum problema técnico com a aeronave. A opinião da equipe é que, quase certamente, uma tampa removível permaneceu na entrada do motor esquerdo do F-35B, e no momento do seu lançamento ela restringiu o fluxo de ar para o mesmo, de modo que não foi possível gerar energia suficiente para a decolagem.
Conclusão
Com base nas evidências obtidas, equipe de investigação está confiante que o principal fator que causou o evento foi a capa na entrada do motor esquerdo (Red Gear), que permaneceu na aeronave antes do seu lançamento, reduzindo a potência do motor. Isso foi provavelmente devido a uma combinação de fatores humanos, organizacionais e processuais. No entanto, a investigação continua a buscar um padrão de evidência que permitirá que outras linhas de investigação sejam abordadas analisando uma série de causas possíveis. A equipe de investigação está se concentrando em possíveis mecanismos de movimento desses Red Gear – especialmente dos motores – e comparações dos procedimentos de manutenção do Reino Unido com outras nações que operam os F-35.
De acordo com seus termos de referência, a Consulta de Serviço continua a examinar outros fatores, incluindo projeto de equipamentos, recursos da força de trabalho, gerenciamento de fadiga, garantia de qualidade e gerenciamento pós-ocorrência do evento, para identificar quaisquer lições relevantes que possam impedir a recorrência e melhorar a segurança.
Fonte: MoD UK
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