

Turquia planeja retorno do F-35. Turquia retoma negociações com os EUA sobre o F-35 na cúpula da OTAN, visando o retorno ao programa F-35, apesar das tensões envolvendo o S-400 que resultaram na exclusão do projeto em 2019.
Em 25 de junho de 2025, durante a cúpula da OTAN em Haia, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan anunciou que a Turquia havia retomado as discussões técnicas com os Estados Unidos para retornar ao programa F-35 Joint Strike Fighter. Em entrevista coletiva, Erdogan enfatizou o compromisso da Turquia em adquirir o caça furtivo avançado, observando que o país já havia investido entre US$ 1,3 bilhão e US$ 1,4 bilhão antes de sua exclusão em 2019.
O anúncio, após uma reunião com o presidente dos EUA, Donald Trump, sinaliza uma potencial mudança nas relações EUA-Turquia. A retomada das negociações ocorre em meio a tensões persistentes sobre a aquisição pela Turquia de sistemas de defesa aérea russos S-400, que Erdogan descreveu como uma questão encerrada.
Vale lembrar que a exclusão da Turquia decorreu da preocupação dos EUA de que o S-400 de fabricação russa pudesse comprometer as capacidades furtivas do jato, um risco que levou à remoção de Ancara do programa JSF, apesar de suas significativas contribuições financeiras e industriais como parceiro nível 3 do projeto.
A trajetória da Turquia com o programa F-35 começou em 2002, quando se tornou país parceiro, comprometendo fundos e recursos industriais ao projeto liderado pela Lockheed Martin. Foram encomendadas 100 unidades do F-35A
Empresas turcas, incluindo a Turkish Aerospace Industries (TAI), foram contratadas para produzir componentes essenciais, como seções da fuselagem e peças do trem de pouso. Em 2019, a Turquia havia recebido alguns F-35A em solo americano e treinado pilotos nos EUA. Ao todo, 8 F-35A estavam com as marcas da Turkish Air Force (TuAF).

A parceria se desfez quando a Turquia finalizou a compra do sistema de defesa aérea russo S-400 Triumph em 2019. Os EUA, citando riscos para a tecnologia sensível do F-35, argumentaram que os radares avançados do S-400 poderiam coletar dados sobre o perfil furtivo do jato, compartilhando-os potencialmente com Moscou. Isso levou à suspensão da Turquia do programa, ao cancelamento de suas entregas de F-35 e a sanções sob a Lei de Combate aos Adversários dos Estados Unidos por meio de Sanções (CAATSA). A decisão custou bilhões em investimentos à Turquia e interrompeu seus planos de substituir sua frota de F-16, que estava envelhecida.
Recomeço
As declarações recentes de Erdogan indicam que a questão do S-400 não é mais um obstáculo nas discussões com os EUA. “Não discutimos o S-400 na reunião com Trump. Este assunto não está em nossa agenda. Este assunto está encerrado”, disse ele a repórteres em Haia, segundo a Agência Anadolu. A mudança sugere uma abordagem pragmática de ambos os lados, possivelmente impulsionada por imperativos geopolíticos mais amplos, embora autoridades americanas ainda não tenham confirmado se a retenção do S-400 pela Turquia continuará sendo um problema.
Na Turquia, a perspectiva de retornar ao programa F-35 provocou reações variadas entre líderes políticos, autoridades militares e a indústria de defesa. O orgulho nacional e a autonomia estratégica moldam há muito tempo as políticas de defesa da Turquia, com a compra do S-400 sendo enquadrada como uma decisão soberana para combater ameaças regionais.

A opinião pública, frequentemente influenciada pela retórica nacionalista, tem visto a exclusão da Turquia do programa F-35 pelos EUA como uma pequena ofensa, alimentando a desconfiança nas alianças ocidentais. Postagens recentes no X refletem essa divisão, com alguns usuários lamentando a perda do acesso ao F-35 devido ao acordo com o S-400, enquanto outros elogiam Erdogan por buscar estratégias defensivas independentes, incluindo o desenvolvimento do próprio caça turco.
O F-35 Lightning II, desenvolvido pela Lockheed Martin, representa o auge da tecnologia moderna de caças. Projetado como uma família de caças multifuncionais, furtivos, monomotores e com assento único, para todas as condições climáticas, o F-35 integra sensores avançados, fusão de dados e recursos furtivos para dominar o espaço aéreo disputado.
Seu radar de varredura eletrônica ativa (AESA) AN/APG-81 pode detectar e rastrear múltiplos alvos a longas distâncias, enquanto seu sistema de mira eletro-óptica (EOTS) permite ataques de precisão com armas como a Munição Conjunta de Ataque Direto (JDAM) e o míssil ar-ar AIM-120 AMRAAM. O design de baixa visibilidade do jato reduz sua seção transversal de radar, dificultando a detecção por radares inimigos, incluindo os de sistemas como o S-400.
Para a Turquia, o F-35 preencheria lacunas críticas em sua força aérea. A espinha dorsal da Força Aérea Turca, o F-16, carece da furtividade e da fusão de sensores dos caças de quinta geração, o que limita sua eficácia contra adversários modernos. Por exemplo, a aquisição de jatos Rafale pela Grécia, equipados com radares AESA avançados e mísseis Meteor de longo alcance, alterou o equilíbrio regional, enquanto a implantação de Su-35 e Su-57 pela Rússia na Síria representa desafios adicionais. A capacidade do F-35 de conduzir guerra centrada em rede, integrando-se a ativos como os drones Bayraktar da Turquia, aumentaria a capacidade de Ancara de projetar poder em conflitos como os da Síria ou do Mediterrâneo Oriental.

Comparado aos concorrentes globais, o F-35 se destaca por sua interoperabilidade com a OTAN. O Su-57 russo, embora com capacidade furtiva, fica atrás em integração de sensores e escala de produção, com menos de uma dúzia de unidades operacionais em 2025. O J-20 chinês, projetado para interceptação de longo alcance, não possui a versatilidade multifuncional do F-35 e não foi testado em combate. A busca da Turquia pelo F-35 reforça seu desejo de se alinhar à vantagem tecnológica da OTAN, ao mesmo tempo, em que aborda rivalidades regionais.
Um grande obstáculo nas aspirações da Turquia com o F-35 é o risco potencial representado pelo S-400 à tecnologia sensível do jato. Segundo informações vindas do encontro EUA – Turquia, para ter o F-35, é necessário prescindir do S-400 e entregar os sistemas aos EUA.
O S-400, desenvolvido pela russa Almaz-Antey, é um sistema de defesa aérea de longo alcance capaz de atingir alvos a até 400 quilômetros de distância com seus mísseis 40N6.
Seus radares avançados, incluindo o radar de gerenciamento de batalha 91N6E, poderiam teoricamente coletar assinaturas eletromagnéticas do F-35, comprometendo sua vantagem furtiva. Autoridades americanas temem há muito tempo que técnicos russos na Turquia possam acessar esses dados, uma preocupação agravada pelo histórico de Moscou de exploração de sistemas interoperáveis.
Riscos semelhantes surgiram em outros programas. Por exemplo, a aquisição de sistemas S-400 pela Índia levantou preocupações sobre sua integração com plataformas ocidentais como o Rafale francês, levando os EUA a impor sanções limitadas em 2022.

No caso da Turquia, a presença de sistemas S-400 ao lado de caças F-35 pode criar vulnerabilidades nas redes de compartilhamento de dados da OTAN, como o link de dados tático Link 16, do qual o F-35 depende para obter informações em tempo real sobre o campo de batalha. Embora Erdogan afirme que o problema com o S-400 está resolvido, as discussões técnicas provavelmente se concentrarão no isolamento do sistema russo para evitar vazamentos de dados, possivelmente por meio de bases restritas ou protocolos operacionais.
O potencial retorno da Turquia ao programa F-35 traz implicações econômicas significativas. Antes de sua exclusão, empresas turcas como a TAI e a Aselsan produziam mais de 900 componentes para o F-35, incluindo peças de fuselagem e aviônicos. Esses contratos geraram milhares de empregos e posicionaram a Turquia como um ator-chave na cadeia de suprimentos aeroespacial global.
A volta ao programa poderia reavivar essas oportunidades, impulsionando a economia turca, que tem enfrentado desafios de inflação e câmbio nos últimos anos. A transferência tecnológica da produção do F-35 também aumentaria as capacidades da TAI, apoiando projetos como o TF-X/Kaan, o caça turco de quinta geração.
Outros países parceiros do F-35, como Japão e Itália, colheram benefícios substanciais com seu envolvimento. A japonesa Mitsubishi Heavy Industries produz componentes para o F-35, fortalecendo sua indústria de defesa, enquanto a Itália abriga uma unidade de montagem final, gerando empregos e expertise. Para a Turquia, a reentrada poderia compensar as perdas econômicas de 2019, quando os EUA redirecionaram contratos para outros fornecedores, custando às empresas turcas cerca de US$ 9 bilhões ao longo da vigência do programa.
A retomada das negociações sobre o F-35 reflete uma dinâmica geopolítica mais ampla. A posição estratégica da Turquia, conectando a Europa e o Oriente Médio, a torna um pilar fundamental para o flanco sul da OTAN. Seu controle do Estreito de Bósforo e a proximidade com zonas de conflito como Ucrânia e Síria ampliam sua importância.

A Cúpula de Haia, realizada nos dias 24 e 25 de junho de 2025, ressaltou o foco da OTAN na defesa coletiva, com os líderes concordando em aumentar os gastos com defesa para 5% do PIB até 2035, uma medida defendida por Trump. A promessa da Turquia de aumentar seu orçamento de defesa está alinhada a esse objetivo, sinalizando seu compromisso com a aliança.
A aparente disposição de Trump em reconsiderar a exclusão do F-35 da Turquia pode advir do desejo de fortalecer a unidade da OTAN em meio às tensões com a Rússia e a China. O papel da Turquia na mediação das negociações entre a Rússia e a Ucrânia, incluindo a realização das negociações em Istambul, reforça ainda mais sua influência diplomática.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, discursando na cúpula, agradeceu a Erdogan por seus esforços de mediação, destacando a posição única da Turquia. No entanto, os EUA precisam equilibrar essa reaproximação com as preocupações de aliados como Grécia e Israel, que se preocupam com a crescente assertividade da Turquia e sua manutenção de sistemas russos.
As negociações sobre o F-35 fazem parte de um esforço mais amplo da OTAN para modernizar suas forças aéreas em resposta às crescentes ameaças. O compromisso da aliança com gastos de defesa de 5% do PIB reflete preocupações com o aumento do poder militar da Rússia e a crescente influência da China.
O F-35, operado por 14 membros da OTAN, é fundamental para essa estratégia, oferecendo interoperabilidade e dissuasão incomparáveis. O Su-57 da Rússia e o J-20 da China, embora formidáveis, não têm o alcance global e a escala de produção do F-35, que teve mais de 1.000 unidades entregues em todo o mundo até 2025.
O potencial retorno da Turquia poderia fortalecer o flanco sul da OTAN, mas corre o risco de exacerbar as tensões com aliados como a Grécia, que também está adquirindo caças F-35. A aliança precisa equilibrar essas dinâmicas e, ao mesmo tempo, garantir a segurança tecnológica, um desafio que moldará o resultado da candidatura turca.
A nova investida da Turquia no F-35 marca um momento crucial para sua estratégia de defesa e para a coesão da OTAN. As capacidades avançadas do jato transformariam a força aérea turca, reforçando seu papel na estabilidade regional e nas operações da aliança.
No entanto, a sombra do S-400 paira sobre a mesa, levantando questões sobre se Ancara conseguirá reconstruir a confiança com Washington sem comprometer sua autonomia estratégica. As negociações técnicas, em andamento, testarão a disposição de ambas as nações em chegar a um acordo em um ambiente geopoliticamente tenso. O otimismo de Erdogan, reforçado pela aparente abertura de Trump, sugere um caminho a seguir, mas ainda existem obstáculos.
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