Turquia está considerando adquirir caças russos. O impasse da longa novela sobre a compra de 40 novos F-16 Bloco 70 e a venda de kits de modernização para 80 F-16C/D da Turkish Air Force (TuAF) parece que está gerando uma reviravolta. Turquia e os Estados Unidos realizaram uma reunião técnica no da 15 de agosto para selar o negócio. Porém, a imposição de condições para o fechamento do negócio, não foram bem vistas pelos turcos e diante das dificuldades em chegar a um acordo com os Estados Unidos, a Turquia poderá buscar um novo mercado para compra de caças.
O atrito da compra do mísseis de defesa antiaérea S-400, parece ser uma aresta intransponível. A Turquia vem tendo divergências com os EUA desde a compra dos sistemas de defesa aérea russos S-400, que gerou seu alijamento do programa F-35. A compra e/ou modernização de seus F-16 é vista por muitos com uma compensação pela expulsão do JSF. Mesmo assim esta venda vem sendo questionada, apesar do forte interesse da Lockheed Martin no negócio.
A reunião em Washington, em 15 de agosto de 2022, discutiu várias condições para a compra, muitas consideradas “inaceitáveis” pelo ministro da Defesa turco Hulusi Akar. As discussões em Washington parecem ter falhado e, consequentemente, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan mais uma vez vê a perspectiva de comprar caças de fornecedores não americanos, o que abre espaço para a Rússia.
“Os Estados Unidos não são os únicos que vendem caças”, disse Erdogan a repórteres na sexta-feira passada. “O Reino Unido, a França e a Rússia também os vendem. É possível obtê-lo em outros lugares, e alguns destes já enviam sinais que podem nos atender”.
Uma encomenda de caças Rafale parece improvável, uma vez que o caça da Dassault foi vendido a Grécia, e isto seria munição para ampliar as tensões territoriais com a Turquia. Além do mais a França declarou seu apoio à Grécia. Os dois países assinaram o primeiro acordo de defesa mútua dentro da OTAN em setembro de 2021.
O Reino Unido pode ser um parceiro mais realista. Em março de 2022, um diplomata turco disse que uma possível encomenda de cerca de 80 Eurofighter Typhoons estava sendo considerada uma solução provisória até que o TF-X de quinta geração entrasse em serviço. A fabricante britânica de motores Rolls-Royce também deve concorrer para desenvolver o motor para o TF-X.
Um pedido a Rússia é mais plausível. Moscou foi a primeira a ajudar a Turquia após sua exclusão do programa F-35. “Se nossos colegas turcos expressarem seu desejo, estamos prontos para trabalhar nas entregas do Su-35”, declarou Sergey Chemezov, chefe da Rostec, no dia seguinte à exclusão. Desde então, circularam rumores de um pedido de caças russos Su-35 ou mesmo Su-57 de quinta geração, embora negados pelo Ministério da Defesa Nacional turco.
Seria de esperar que o apoio ativo da Turquia à Ucrânia contra a invasão russa, inclusive através da entrega de drones de combate Bayraktar TB2, teria fechado as portas para o mercado Russo. Mas em meados de agosto de 2022, na mesma época em que a diplomacia turca estava nos Estados Unidos para discutir a compra dos F-16, o chefe do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar da Rússia, Dmitry Shugaev, disse que Ancara havia assinado outro contrato para sistemas de mísseis S-400. Mais tarde, um oficial de defesa turco esclareceu que as negociações estavam sendo realizadas apenas para a entrega do segundo lote previsto no contrato original.
Os comentários de Erdogan na sexta-feira ocorrem no momento em que os laços econômicos entre a Turquia e a Rússia estão se intensificando e o líder turco emitiu declarações em apoio a Moscou. Ancara, ao contrário de seus aliados da OTAN, se recusou a sancionar a Rússia por sua invasão da Ucrânia e Erdogan se encontrou com Putin várias vezes nos últimos meses em uma tentativa de promover boas relações.
Talvez a postura da Turquia de abrir o leque, em especial para o Typhoon e o Su-35, seja uma última estratégia para pressionar os americanos a ceder os termos e fechar o acordo com a Lockheed Martin para venda dos F-16 Block 70. Mas se isto não resolver, a tendência é que os russos levem este contrato, arrastando um membro da OTAN de vez para o lado da Rússia.
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