TuAF questiona a “conveniência” de ter um único país fornecedor de caças. Além de ter o segundo maior exército da OTAN, a Turquia possui a terceira maior frota mundial de caças Lockheed Martin F-16, atrás apenas dos Estado Unidos e de Israel. No entanto, ao contrário de muitos países da OTAN e do Oriente Médio, a Turquia emprega apenas um tipo de caça, tornando-se altamente dependente dos EUA. Esta é uma situação que os turcos começaram a questionar.
Cagri Erhan, assessor de política externa do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, mencionou tem mencionado esta situação de dependência. Em 20 de janeiro, ele twittou que a Turquia não precisa de mais nenhum F-16 e chegou ao ponto de afirmar duvidosamente que o avião nem está entre os 10 melhores caças do mundo. Mais tarde, Erhan expressou sentimentos semelhantes em uma entrevista na TV em 28 de janeiro. Ele questionou por que a Turquia não opera caças não americanos. Ele afirmou que Ancara não recorreu a outros países da OTAN para outros tipos de caças ao longo das décadas, pois seus pilotos receberam treinamento específico para o F-16.
A Turquia recebeu 270 modelos F-16 Block 30/40/50 desde que adquiriu a aeronave pela primeira vez em 1987. Essa enorme frota forma a espinha dorsal de sua força aérea. A Turquia atualmente deseja obter 40 caças Block 70 F-16 avançados e 79 kits de retrofit dos Estados Unidos, como parte de um acordo proposto de US$ 20 bilhões para manter esta frota atualizada até que possa adquirir ou desenvolver a quinta geração.
Os comentários de Erhan vem em cima da dificuldade do fechamento do negócio da compra de 40 F-16C/D Bloco 70 e da modernização de outros 83 F-16C/D para o mesmo padrão, que se arrasta há mais de ano. E também coincidem com as recentes negociações entre a Turquia e o Reino Unido sobre uma possível aquisição turca de 24 – 48 Eurofighter Typhoons. A aquisição seria um sinal de que a Turquia planeja reduzir sua dependência dos Estados Unidos em relação aos caças, enquanto continua a expandir exponencialmente sua florescente indústria doméstica de armas.
Ancara espera que o caça furtivo de quinta geração que está desenvolvendo, o TAI TF-X, entre em serviço na década de 2030. O desenvolvimento do TF-X tornou-se cada vez mais essencial, desde que a Turquia foi alijada do F-35A em 2019, após adquirir os avançados sistemas de mísseis de defesa aérea S-400 da Rússia.
Uma olhada nas forças aéreas de outros aliados dos EUA no Oriente Médio e na vizinha Grécia mostra que as observações de Erhan não é totalmente errada. A Grécia tem uma frota considerável de F-16, a maioria dos quais está sendo modernizada para o Bloco 72. Atenas também comprou um número considerável de caças franceses, primeiro adquirindo o Dassault Mirage 2000 no final dos anos 1980. Recentemente, encomendou 24 Dassault Rafale Caças F3R de Paris e tem planos de comprar 24 F-35A, que já foi autorizado.
Israel tem a segunda maior frota de F-16 do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Ao contrário da Turquia, Israel nem sempre teve uma força aérea composta principalmente por aeronaves americanas, operando por muitos anos com aeronaves francesas como Mirage IIIC, Mirage 5 que geraram o IAI Kfir. Hoje a frota de caças israelenses se consistiu em aeronaves F-15, F-16 e F-35 fornecidos pelos Estados Unidos, mas que tem muita tecnologia embarcada fabricada localmente. Em breve terá mais 25 F-15IA, que também terão customização feita localmente.
A Força Aérea Real da Jordânia (RJAF) opera 43F-16A/B e recentemente encomendou mais oito F-16C/D Block 70 para modernizar sua frota. Atualmente, a Jordânia opera apenas F-16 e provavelmente continuará a fazê-lo no futuro. O Bahrein também depende fortemente dos F-16. Ela opera 17 F-16C/D e possui 16 novos F-16C/D Block 70 a caminho. Já o Iraque comprou 36 jatos F-16 Block 60 dos EUA, complementados por 24 jatos de treinamento T-50 fabricados na Coreia do Sul. Agora, negocia com a França a adquisição de 14 Dassault Rafale.
A espinha dorsal da frota de caças da Arábia Saudita é composta por 84 F-15SA (Saudi Advanced) adquiridos em um acordo histórico de armas de US$ 60 bilhões assinado em 2010. Também possui uma frota considerável de Eurofighter Typhoons, garantindo que não dependa apenas dos EUA . Os Emirados Árabes Unidos (EAU) também possuem uma frota diversificada de caças americanos e franceses. Comprou 30 Mirage 2000-9DAD/DAE franceses no final dos anos 1990, pouco antes de sua aquisição histórica de 80 F-16E/F Block 60.
Em janeiro de 2021, Abu Dhabi fechou outro acordo histórico com os Estados Unidos para 50 F-35A. No entanto, os Emirados Árabes Unidos suspenderam o acordo em dezembro seguinte, citando pré-condições “onerosas” dos EUA. Naquele mesmo mês, ele assinou outro contrato recorde de US$ 19 bilhões com a França para 80 Rafale F4. Ao fazer isso, Abu Dhabi mais uma vez demonstrou sua diligência em evitar a dependência total de qualquer país para aquisição de caças.
Kuwait opera 28 F/A-18E/F Hornets e 28 Eurofighterr Tranche 3 da Itália e 28. Oman voa o Eurofighter e o britânico BAE Hawk 200 junto com seus F-16.
Quando o Irã pré-revolucionário era um aliado dos Estados Unidos sob o falecido Xá, ele comprou apenas aviões americanos, tornando-se o único país a operar o icônico F-14 Tomcat. Depois de 1979, o Irã voltou-se principalmente para a Rússia. Em 1990, comprou uma modesta frota de Fulcrums MiG-29A. O Irã está adquirindo atualmente 24 caças russos Su-35 Flanker-E, provavelmente como forma de pagamento dos drones que vem fornecendo à Rússia para uso na guerra em andamento na Ucrânia.
Com o tratado de paz de 1979 entre o Egito e Israel, o Egito mudou da União Soviética para os Estados Unidos para comprar a maioria de seu equipamento militar. Cairo construiu gradualmente a quarta maior frota de F-16 do mundo. No entanto, ele se ressentiu da recusa dos EUA em fornecer a ele mísseis ar-ar de longo alcance Raytheon AIM-120 AMRAAM ou vender F-15. O Egito tem periodicamente tentado reduzir sua forte dependência dos Estados Unidos para aeronaves. Em 1981, tornou-se o primeiro país estrangeiro a comprar o Mirage 2000, mas comprou apenas 20. Em 2015, também se tornou o primeiro comprador estrangeiro do Dassault Rafale F3R ao encomendar 24 unidades. Em 2021, ele ordenou outros 30. O atual presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, também se voltou para a Rússia na década de 2010 para diversificar ainda mais suas forças armadas. Ele comprou uma frota de 48 MiG-29M/M2.
Quando o Egito buscou os Su-35 em 2018, Washington alertou que poderia entrar em conflito com a Lei de Combate aos Adversários da América por meio de Sanções (CAATSA), introduzida no ano anterior. A CAATSA, como o nome sugere, impõe sanções aos compradores de equipamentos militares russos. O Egito supostamente desistiu silenciosamente desse acordo e os Su-35s foram desviados para o Irã. Além disso, os Estados Unidos sugeriram que em breve abandonariam sua proibição de décadas de vender os Boeing F-15EX ao Egito, e este reduzir seus laços de defesa com Moscou.
A Turquia gostaria de ter tomado medidas semelhantes para diversificar pelo menos parcialmente sua frota de caças nas últimas décadas. Se ele seguir com o acordo proposto com o Eurofighter, será um sinal de que ele finalmente está começando a dar passos nessa direção. E se o acordo de US$ 20 bilhões do F-16 for bloqueado, o que é uma possibilidade real devido à forte oposição do Congresso, espera-se que turcos sigam Erhan e questionem a sabedoria de confiar tanto nos Estados Unidos.
@CAS