Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Guiana fez um comunicado à Imprensa no dia 3 de março de 2021 para informar que na terça-feira, 2 de março de 2021, aproximadamente às 13h20, dois caças Sukhoi SU-30 MK2V da Aviação Militar Bolivariana (AMB) invadiram deliberadamente seu espaço aéreo.
As aeronave pertence ao Grupo Aéreo de Caza 13 com sede na Base Aérea de Barcelona, ao norte da Venezuela.
O comunicado, em forma de protesto formal, informou que os caças sobrevoaram a comunidade de Eteringbang e a pista de pouso a 1500 pés. Os jatos de combate circularam o local uma vez antes de prosseguir na direção leste. Eteringbang está localizado no Alto Rio Cuyuni, perto da fronteira Guiana-Venezuela.
“O Governo da Guiana condena este último ato de agressão das Forças Armadas da Venezuela como uma violação da soberania da Guiana sobre o seu território. O Governo deseja lembrar que esta última hostilidade segue de perto:
(1) Um Decreto recentemente emitido pelo Presidente Nicolas Maduro que pretende estabelecer um território marítimo para a Venezuela que abrange as águas territoriais da Guiana, ZEE e plataforma continental, bem como seu território terrestre a oeste do rio Essequibo.
(2) A interceptação e detenção ilegal de duas embarcações de pesca da Guiana e sua tripulação nas águas da Guiana.
(3) As resoluções da Comissão Especial para a Defesa da “Guayana Esequiba” e Soberania Territorial que recomendou a convocação de uma sessão desta Comissão Especial para o Essequibo com o auxílio das Forças Armadas venezuelanas. A incursão em nosso território dos dois caças venezuelanos é uma indicação clara de que o governo da Venezuela está preparado para usar a agressão e a intimidação para realizar o que não pode ser realizado por meios legais – a entrega pela Guiana de seu patrimônio. O Governo da Guiana exorta o Governo da Venezuela, e seus agentes, a agir de acordo com o direito internacional e as relações de boa vizinhança. A comunidade internacional será mantida informada sobre todas as ações empreendidas pela Venezuela para minar a soberania e a integridade territorial da Guiana e ameaçar a paz e a segurança da região”.
A tensão na fronteira entre a Venezuela e a Guiana voltou a crescer, em 23 de janeiro, após dois navios pesqueiros de bandeira da Guiana – o Nady Nayera e o Sea Wolf, terem sido abordados e apreendidos pela Marinha da Venezuela. Os dois países trocaram notas de protesto. A Guiana acusa a Venezuela de ter cometido um “ato de agressão” ao apreender os navios em suas águas territoriais. Já os venezuelanos consideram a apreensão legítima, por ter sido realizada em águas sob jurisdição.
A disputa entre os dois países por limites de fronteira vem dede o século 19, quando espanhóis e britânicos já disputavam o posicionamento da fronteira entre suas colônias no norte da América do Sul. Ao longo das décadas isto nunca foi resolvido, nem mesmo após a independência de ambos e ações em tribunais arbitrais internacionais. O assunto ainda rende na Corte de Justiça Internacional.
O fato é que a região – com solo rico em ouro, minérios e petróleo é cobiçada pelo Governo de Maduro, que em meio a uma crise economica e social sem fim, está mais uma vez buscando um fator externo para tirar o foco da crise.
No entanto esta crise tem um “algo a mais”. Em dia 8 de janeiro deste ano, a Venezuela estabeleceu a “Zona de Desenvolvimento Estratégico da Fachada Atlântica” , um ato ilegal visando tomar águas territoriais que não são suas para, assim revindicar a Guiana. Ato similar ao feito em 1981, pelo líbio Muammar Kadafi, que por conta ampliou seu mar territorial, o que acabou gerando o conhecido indicente do Golfo de Sidra.
Como em 1981, no dia seguinte a US Navy fez exercícios com a Marinha da Guiana na região, e firmou um acordo de ajuda, o que não agradou Maduro. O incidente do dia 2 de março, aliados as disputas judiciais devem criar novos capítulos de um novela que vem se arrastando há décadas no todo da América do Sul.
@CAS