Rússia pressiona Lituânia e a OTAN pela ligação ferroviária com Kaliningrado. Os Estados Unidos disseram que apoiam fortemente a Lituânia e o compromisso da OTAN de defendê-la. A afirmação foi feita depois que a Rússia chamou a atenção sobre as restrições ao tráfego ferroviário que cruza o território lituano com destino ao seu enclave de Kaliningrado.
“Estamos com nossos aliados da OTAN e estamos ao lado da Lituânia. Especificamente, nosso compromisso com o Artigo 5 da OTAN, no qual a premissa de que um ataque a um membro da Aliança, constituiria um ataque a todos. E esse compromisso por parte dos Estados Unidos é forte”, disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, em entrevista na terça-feira (21/06).
Ex-república soviética, a Lituânia hoje é membro da OTAN e da União Europeia, e tem sido um dos países que mais se opôs à invasão russa ao território ucraniano.
O Oblast russo de Kaliningrado tem quase um milhão de habitantes, e fica encravado entre a Polônia e a Lituânia. Sua ligação com o resto da Rússia é feita por via aérea e através de uma ferrovia que cruza a Lituânia.
Recentemente a Lituânia fechou a rota ferroviária para a passagem para alguns tipos de mercadorias russas como aço e outros metais, sob a alegação de estarem sob recentes sanções da UE que entraram em vigor no último sábado.
“Estamos prontos e preparados para ações hostis da Rússia, como a desconexão do sistema BRELL (rede elétrica) ou outras”, disse o presidente lituano Gitanas Nauseda em entrevista nesta quarta-feira (22/06).
A UE tentou desviar a responsabilidade da Lituânia, dizendo que a política era uma ação coletiva do bloco.
A agência de notícias russa TASS divulgou uma nota do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, de que a Lituânia também está bloqueando o transporte de alimentos, o que coloca em risco a segurança alimentar da região.
A Rússia alertou que “certamente responderá à essas ações hostis”.
Os lituanos que vivem do outro lado da fronteira disseram ter fé na OTAN como um impedimento para qualquer possível ataque russo.
Questionado sobre as observações de Moscou, Price disse: “Não vamos especular sobre o barulho do sabre russo ou sua fanfarronice e nem queremos dar mais atenção”.
Redução de volumes de gás
A Rússia alertou a Lituânia na terça-feira que enfrentaria medidas de “sério impacto negativo” por bloquear alguns embarques ferroviários para Kaliningrado.
Em retaliação às sanções ocidentais, a Rússia começou a reduzir o fornecimento de gás para a Europa, através da Ucrânia. Estados da União Europeia, desde o Mar Báltico (no norte), até o Adriático (no sul), planejaram medidas para lidar com uma crise de abastecimento depois da invasão russa a Ucrânia.
O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, afirmou que a diminuição dos fluxos representa um ataque econômico à Alemanha que “não pode ser bem sucedido”.
Enquanto isso, outro país báltico, a Estônia, convocou o embaixador russo na terça-feira para protestar contra a violação de seu espaço aéreo em 18 de junho, por um helicóptero russo. Não houve comentários imediatos da Rússia.
Impacto
Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Rússia, visitou Kaliningrado para presidir uma reunião de segurança. Ele disse que as ações da Lituânia mostraram que a Rússia não podia confiar no Ocidente, sob alegação de ter quebrado os acordos escritos sobre o enclave de Kaliningrado.
A agência de notícias estatal russa RIA citou Patrushev dizendo que “medidas apropriadas estão sendo elaboradas em resposta”, sem detalhar que “suas consequências terão um sério impacto negativo para a população da Lituânia”.
O representante da UE, Markus Ederero, foi convocado para comparecer ao Ministério das Relações Exteriores da Rússia na terça-feira. O porta-voz da UE, Peter Stano, disse que Ederer pediu aos russos na reunião “que se abstenham de tomar medidas profundas e usar de retórica”.
A tensão abre uma nova frente de confronto na região do Mar Báltico, uma região que tradicionalmente é marcada por disputas de segurança e de extrema importância para o poder naval da Rússia. Como a Suécia e a Finlândia se candidatam à adesão à OTAN, colocam quase todo o litoral do Báltico nas mãos da Aliança.
Fonte: Reuters
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