“Donald Trump prepara a saída dos EUA da OTAN! O presidente norte-americano prepara o fim dos subsídios de seu país à Organização Mundial de Saúde! Trump olha torto para as Nações Unidas! Os EUA começam a cortar pesado as despesas da USAID!”
É uma disrupção tão grande no modo americano de espalhar apoio ao mundo, que muita gente anda dizendo que ele é doido.
Outros, mais gente ainda, não param de reclamar, espernear até. O que vão fazer sem os dólares que antes chegavam tão facilmente a seus cofres, e, por que não dizer, seus bolsos?
Há mais de uma década, vínhamos ouvindo que os EUA haviam entrado em um ciclo sem volta de decadência e declínio. Era só uma questão de tempo até que fosse decretado o ocaso do Império Americano.
E, de fato, entre a perda de empregos para países com mão de obra mais barata, para uma dura realidade de sem-teto, apinhando as principais metrópoles do país. Derrotas injustificáveis como, por exemplo, a fatídica retirada do Afeganistão, e uma invasão silenciosa — e inacreditavelmente fomentada — de imigrantes ilegais. De movimentos internos que transformavam a maior potência do planeta em um fantasioso mundo woke, em que o patrulhamento de modo tradicional começou a ser lugar comum. E da infiltração de instituições basilares como o FBI, o Departamento de Justiça e muitos outros que passaram a levantar bandeiras partidárias e não mais as nacionais. Gastos desenfreados de vários governos vieram elevando a dívida norte-americana, ameaçando a própria soberania do dólar como âncora financeira do planeta.
E é esse o problema principal identificado por Trump como seu maior desafio. Ele herdou a maior dívida norte-americana da história. São US$ 36,22 trilhões que impedem que o estado funcione como deveria, provendo infraestrutura, segurança, educação e saúde de qualidade.
E, ao contrário de vários de seus antecessores, não empurrou o problema para debaixo do tapete. Optou por enfrentá-lo, e começou cortando custos no exterior.
E a OTAN é um bom exemplo. Criada em 1949 para implementar o Tratado do Atlântico Norte e conter qualquer ameaça soviética ao ocidente, a OTAN é composta de 32 estados-membros — 30 na Europa, além do Canadá e dos EUA.
No entanto, é na contribuição financeira que vive a discórdia. No ano de 2023, por exemplo, dos cerca de US$ 1,2 trilhões gastos pela OTAN, US$ 860 bilhões são os gastos de defesa dos EUA. Quatrocentos e quatro bilhões foram contribuídos por todos os outros países juntos (3,4% do PIB x 1,9% do PIN de todos os outros 31 países somados).
A OTAN, na configuração atual, é uma organização ultrapassada. Sua nêmesis, o Pacto de Varsóvia, não existe desde julho de 1991; serve aos interesses de países que economizam fortunas em sua defesa. No entanto, se juntarmos todos os principais meios militares europeus, eles ultrapassam com facilidade as quantidades de meios do mesmo tipo norte-americanos, russos ou chineses.
Some-se a isso a crescente percepção da China como principal ameaça potencial aos EUA, exigindo um redirecionamento dos gastos e do posicionamento de suas forças para o Pacífico, e fica fácil entender por que a OTAN deixou de ser uma prioridade para eles.
O que falta aos europeus é uma cultura capaz de criar um organismo militar único e coeso sem arestas operacionais e doutrinárias. E não um caleidoscópio de forças nacionais muito diferentes umas das outras. Para dar um exemplo: a Europa de hoje, com quatro tipos diferentes de aeronaves de combate (Rafale, Eurofighter, Gripen e o Kaan turco chegando), vários tipos de fragatas, submarinos, blindados e outros meios, só funciona em tempos de paz. Em uma guerra prolongada, o que acaba contando nos dias atuais é a capacidade de projetar força em massa, uma doutrina e um comando único e uma logística eficiente e bem ensaiada.
E, desde a Segunda Guerra, o velho continente se adapta à liderança americana. Uma liderança que se tornou desnecessária e proibitiva financeiramente. Imagine-se a cauda logística para manter uma força de mais de 100.000 de seus militares em diversas bases espalhadas por toda a Europa.
Os EUA precisam desse corte. E, talvez, essa necessidade seja a liga que falta para que a Europa se torne realmente uma potência militar autônoma.
Pena que o presidente americano se expresse de forma pouco diplomática e que seja chegado a bravatas. Esse grande e fundamental corte de gastos poderia ser atingido de forma menos agressiva.
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Editorial da edição número 153 – Abril de 2025 da Revista Força Aérea (RFA) A Revista Digital de Aviação Militar Brasileira
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