No recente e pouco conhecido conflito entre a Armênia e o Azerbaijão pela disputada região de Nagorno Karabakh, ocorreu um fato, ao mesmo tempo, interessante e curioso.
Do armamento existente no teatro de operações, o que mais preocupava a Força Aérea do Azerbaijão eram diversas baterias de mísseis terra-ar S-300, de fabricação russa, em várias versões.
Para obter a superioridade sobre o front, para sua pequena força aérea, era necessário destruir o maior número possível dessas baterias. Era uma tarefa difícil, porque os mísseis estavam muito bem camuflados e escondidos, fazendo com que fosse praticamente impossível localizá-los do ar.
O Azerbaijão, então, desenvolveu uma tática para forçar os Armênios a acionarem os seus radares de busca, assim traindo sua posição para que fossem localizados e atacados.
Os ataques eram iniciados por antigos biplanos de transporte leve Antonov An-2, transformados para que operassem por controle remoto. Ao se aproximarem das baterias de mísseis armênias, se tornavam, para os seus observadores, um perigo por demais iminente, que teria que ser enfrentado. Drones eram lentos e pequenos demais para serem acompanhados pela grande parte das baterias de mísseis terra-ar armênios, desenvolvidos primariamente para encontrar e abater aeronaves maiores, ou mais rápidas.
Assim, os An-2 conseguiam que os radares das baterias de mísseis, até então em silêncio eletrônico, fossem acionados e localizados.
Operando na mesma região, drones suicidas do Azerbaijão voavam em padrões de voo predeterminados, aguardando somente um sinal eletromagnético para se lançarem contra os radares deles provenientes.
Uma vez acionados os radares, os drones mergulhavam sobre eles, tendo seus sinais como fonte de atração, e se explodiam contra suas antenas ou outros elementos de seus sistemas. Logo atrás, vinham drones de ataque que completavam a faxina, lançando mísseis e bombas sobre o alvo. Se a bateria estivesse dentro do alcance da artilharia do Azerbaijão, esta imediatamente abria fogo sobre as coordenadas indicadas por drones de reconhecimento.
Assim, de acordo com um comunicado do presidente do Azerbaijão, IIham Aliyev, seus drones destruíram sete lançadores de S-300, duas estações de guiamento e um radar.
E não foram só os mísseis S-300 que foram atingidos. Os armênios possuíam mísseis SA-13 (nomenclatura OTAN Strela-10), SA-8 (Gecko), SA-6 (Gainful), SA-4 (Ganef), Tor (SA-15 Gauntlet) e Buk (SA-11 Gadfly). Os dois primeiros tinham alcance menor que o dos mísseis lançados pelos drones de ataque do Azerbaijão. Os demais foram desenvolvidos para atingir jatos de combate e mísseis de cruzeiro, mas não eram eficazes contra a velocidade, a altura e a assinatura-radar dos drones que os atacavam. Somente o Tor conseguia operar eficazmente contra eles e, de acordo com relatos, conseguiu derrubar tanto mísseis camicase quanto de ataque.
Os armênios, no entanto, possuíam apenas seis baterias de mísseis Tor, segundo alguns. E, passados quatro dias, perderam sua eficácia.
Os drones trouxeram à guerra aérea algumas novidades bem interessantes. Eles conseguem permanecer na proximidade do alvo por muito mais tempo que os aviões pilotados por humanos. Além disso, o fato de seus pilotos operarem a uma distância segura e com maior tranquilidade do que se corressem maior perigo estando ao alcance da antiaérea permite decisões menos emotivas, e até compartilhadas com outros operadores.
O sucesso dos drones no conflito de Nagorno-Karabakh foi revolucionário, se não no aspecto tático, certamente no campo estratégico.
O baixo custo, sua simplicidade, a versatilidade e a disponibilidade dos drones, se comparados às milionárias aeronaves tripuladas, permitem que países menores ou mais pobres como o Azerbaijão ou a Ucrânia possuam meios de ataque aéreo capazes e numerosos. Até grupos terroristas vêm empregando drones e trazendo preocupações para adversários que até então não precisavam olhar para cima, na certeza da ausência de ameaças provenientes do céu.
Os drones de hoje não irão substituir os meios das forças aéreas mais capazes, pelo menos a curto prazo. No entanto, o sucesso que eles têm obtido em guerras menores contra alvos no solo aponta para um futuro promissor para o tipo, como o conceito Loyal Wingman, no qual drones a jato realizam suas missões acompanhando aeronaves tripuladas.
Já os meios de defesa antiaérea precisam estudar sua vulnerabilidade diante dos ataques de drones ou mistos, algo que não existia recentemente.
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Editorial da edição número 152 – Fevereiro de 2025 da Revista Força Aérea (RFA) A Revista Digital de Aviação Militar Brasileira
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