16,7 bilhões de reais. Este é o orçamento alocado pelo Governo Federal à redução de impostos que podem ser revertidos para a Lei Rouanet que subsidia projetos culturais. Trata-se de uma quantia respeitável sob qualquer ótica. Para fazer essa afirmação, basta dizer que é tão grande que os produtores culturais do país só conseguiram captar R$ 2,2 bilhões. No entanto, não cabe a nós opinar se esse valor é pequeno, grande ou adequado para os cofres nacionais.
Interessa-nos, no entanto, observar e, quando conveniente, comentar como anda a defesa da soberania do país, principalmente a aeroespacial.
E, aqui, vale uma comparação: vivemos em um mundo novo, que infelizmente tem pouco de admirável. E talvez muito de assustador.
Conversando recentemente com nosso colunista Anastácio Katsanos sobre as radicais mudanças que vêm ocorrendo no mundo a partir da chegada do novo século, ouvi uma listagem completa dos problemas que vivenciamos em todos os cantos do planeta. Permito-me reproduzi-la aqui:
“Não são só as guerras que estão mudando, há uma mudança completa no cenário geopolítico para muito pior. Há total instabilidade de vários governos, a perda de poder da ONU e de organizações correlatas que estão imobilizadas e desmoralizadas, novas alianças — como o chamado eixo do mal — Rússia, China, Irã e Coreia do Norte. Uma disrupção total das cadeias de suprimento, convulsão social e movimentos outrora impensáveis como o Wokeism, e tudo sem contar com os efeitos das mudanças climáticas. Talvez nunca antes tenhamos lidado com tantos riscos em nosso entorno estratégico.”
Ao observar o cenário mundial, nota-se que praticamente todos os países do planeta vêm se armando e modernizando a passos largos. A média do orçamento dedicado à defesa gira em torno de 2% do PIB. No Brasil gastamos, 1,1 a 1,2% dele.
O país definiu sua ordem de batalha aérea a partir de meados da década passada. Desenhou uma Força Aérea com base em dois vetores principais: o Saab F-39 Gripen e o Embraer KC-390 Millenium — dois aviões que combinam eficiência tecnológica com o benefício de custos adequados às possibilidades históricas brasileiras. O Millenium necessita de cerca de R$ 600 milhões por ano para cumprir o seu cronograma financeiro, e o Gripen, de outro 1 bilhão e 100 milhões de reais (R$ 1.100.000.000,00)/ano.
É uma quantia para lá de razoável para garantir a entrega das aeronaves contratadas e assegurar a mínima defesa aérea do país.
O Programa Gripen já se encontra parcialmente pago — algumas fontes falam em metade da dívida — e precisa dessa quantia anualmente para completar a frota.
Com os caças A-1 dando baixa neste ano que entra, e o F-5E/FM completando 50 anos de bons serviços à FAB e com pouco tempo de vida útil pela frente, os Gripen já entregues (8 de 36) não dão conta do recado. A mensagem é simples: o Brasil fica totalmente desguarnecido.
O problema é que, em vez de honrar o compromisso do país junto ao fabricante desses aviões, o Governo Federal está mais preocupado em cortar o orçamento das Forças Armadas em um momento de grande turbulência no mundo.
E aí volto à comparação do início deste texto e passo a pergunta a você, caro leitor: será que a cultura é tão mais importante que a nossa segurança?
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Editorial da edição número 151 – Dezembro de 2024 da Revista Força Aérea (RFA) A Revista Digital de Aviação Militar Brasileira
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