Causou alvoroço até entre a maioria dos veículos de mídia militar o recente combate simulado entre caças F-39 Gripen, da Força Aérea Brasileira, e aeronaves Boeing F-15C Eagle, da Guarda Aérea Nacional, dos EUA, ocorrido durante o exercício internacional CRUZEX 2024, realizado em Natal–RN. Pois não devia.
Quem realmente conhece esses aviões de combate sabe que, apesar de serem considerados “imbatíveis”, pelo simples fato de nunca terem sido abatidos em combate aéreo, o Eagle é, frente a frente, bastante inferior ao Gripen E/F e outros caças de sua geração.
O F-15, em suas diversas versões, é um caça de quarta geração. O seu primeiro voo ocorreu em 1972, e sua entrada em serviço se deu em 1976, enquanto o F-39 é considerado uma aeronave que atinge a fímbria da quinta geração, faltando apenas a furtividade quase absoluta para ser considerado daquela classe. Entre outras capacidades: a interoperabilidade, a defesa eletrônica que cerca a aeronave, — e que muitos se referem erroneamente e somente como EW — Guerra Eletrônica, sensores, principalmente o IRST e o radar capaz de acompanhar os grandes ângulos do sistema aviônico WAD provendo uma consciência situacional muito maior que o da maioria, se não da totalidade das aeronaves atualmente em operação, dão ampla vantagem ao Gripen. Some-se a isso a capacidade de carregar armamento de praticamente qualquer proveniência, e a arma está completa.
E é por isso que os suecos da Saab não gostam de raciocinar com as gerações de aeronaves de caça da mesma maneira como nós, e, sim, como encaramos novos apps que, cada vez mais rapidamente, revolucionam nossos celulares. No entanto, fiquemos na comparação entre gerações de aeronaves só para dar mais linearidade ao texto e à compreensão do leitor.
E, para tal, daremos uma olhada em como se comparam aviões de quarta e quinta geração do mesmo país, neste caso, os EUA. Durante o exercício Red Flag 17–1, ocorrido há quase 8 anos na Base da Força Aérea de Nellis, no estado de Nevada, o Lockheed Martin F-35 Lightning II, de quinta geração, fez o seu batismo em uma operação que mais realisticamente simula as condições do combate real. Logo no início do exercício, informações de que os F-35 estavam conseguindo cerca de 15 vitórias contra uma derrota para aeronaves de quarta geração — F-15 e F-16 — foram imediatamente corrigidas pelo então vice-comandante do Air Combat Command, o Tenente-General Jerry D. Harris, para 20–1. Os aviões de quarta geração pertenciam ao esquadrão Aggressor de Nellis, que simula forças inimigas, sendo composto por pilotos extremamente experientes. Não tiveram qualquer chance contra os F-35 de uma geração inteira acima. O Tenente Coronel George Watkins, então comandante do 34th FS, baseado em Hill AFB, Utah, explicou:
“Voar um F-35A em combate te dá a sensação de ter o domínio aéreo. Quatro dos meus pilotos, caras que já voaram caças F-15 e F-16 durante anos em versões anteriores da Red Flag, voltarem das surtidas e me disseram: “Isso é incrível. Eu nunca tive tanta consciência situacional na minha vida. Sei quem é quem, quem está sendo ameaçado e sei exatamente para onde devo ir”. É impossível ter todas essas informações ao mesmo tempo, e tão instantaneamente em uma plataforma de quarta geração.”
O que vimos em Natal não foi uma surpresa. Foi o coroamento de um trabalho de algumas gerações de oficiais da FAB que trilharam um longo, persistente e extremamente profissional caminho para o país estar equipado com o que há no estado da arte no que diz respeito. Após diversos programas de montagem e fabricação de aeronaves, componentes e sistemas, a Força Aérea e a indústria aeronáutica do país alcançaram o discernimento necessário para fazer a escolha de seu novo caça com o absoluto domínio de todas os elementos listados em seus requisitos operacionais, além do acompanhamento dos avanços da guerra aérea que ocorreram ao longo das duas compridas concorrências.
O avião de combate (e sua inserção no sistema preparado para apoiá-lo) é um dos principais elementos para garantir a soberania de um país, bem como de prover definitiva dissuasão. Sua capacidade de desenvolvimento ao longo de seu ciclo de vida garante o renascimento de vantagens operacionais que o mantêm sempre no estado da arte da superioridade aérea. O excelente desempenho do Gripen, em Natal, não foi nenhuma surpresa para quem conhece sua filosofia.
Em toda a sua história — tirando o fato de dispor de um número de caças que não atende —, a FAB jamais esteve tão bem equipada e preparada como hoje. Pena que o Governo Federal não reconheça a importância de projetos como este, preferindo enfraquecer suas Forças Armadas através de cortes no orçamento, em um eterno morde e assopra, no qual a soberania do país fica sempre em segundo plano.
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Editorial da edição número 150 – Outubro de 2024 da Revista Força Aérea (RFA) A Revista Digital de Aviação Militar Brasileira
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