Desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, nenhum país invasor, com exceção do Vietnã do Norte, conseguiu consolidar qualquer conquista ao seu território, como ocorria normalmente ao longo de séculos da história da humanidade. Não somente pela diferença na vontade dos combatentes em questão (defender a pátria é uma missão muito mais premente do que tomar o que não lhe pertence), mas pelo veloz crescimento das populações da terra, principalmente nas últimas 10 décadas. Em 1920, logo após a Primeira Guerra Mundial e o flagelo da Gripe Espanhola, a população do planeta beirava 2 bilhões de habitantes. Nesses 100 anos que nos trazem até hoje, esse número quadruplicou — 8 bilhões.
Praticamente todos os países tiveram um crescimento populacional exponencial. Especialmente nos últimos 60 anos.
Vejamos alguns: entre 1960 e 2023, a população do Chile cresceu de 8 para 19 milhões de pessoas; a Argentina foi de 20 a 45 milhões; o México, de 36 a 128 milhões; o Iraque, de 7 a 43 milhões; o Irã, de 21 a 89 milhões; a Turquia, de 27 a 84 milhões; e o Canadá, de 17 a 38 milhões. A Austrália duplicou sua população, indo de 10 a 22 milhões de pessoas, e o Vietnam foi de 32 a 97 milhões em meros 60 anos.
Se raciocinarmos com a guerra irregular que se tornou a norma para dissuadir invasores, fica fácil entender porque as invasões têm sido perenemente derrotadas. O país com as maiores forças militares do mundo, a China, tem cerca de 2 milhões de homens e mulheres na ativa. Convém lembrar que o grosso deste número precisa garantir a defesa do território pátrio, o que, juntamente com o alto custo de qualquer expedição militar protelada, reduz o número de militares disponíveis para o combate em outras paragens. Só para constar, a Rússia possui cerca de 1.150.000 militares na ativa.
Invadir um país com populações significativas tornou-se uma aposta cara demais. Ações policiais com objetivos bem-definidos, como as operações norte-americanas em Granada ou no Panamá, funcionam. Entretanto, qualquer conflito que exija a ocupação de territórios tão populosos, principalmente aquelas nas quais não existe um objetivo palpável, estão fadadas ao fracasso com repercussões negativas e duradouras. Foi assim com os franceses na Indochina e na Argélia, no final do período colonial, e, agora, na fracassada Operação Barkhane, no Mali. Com os russos no Afeganistão e, agora, na Ucrânia, e com os norte-americanos no Vietnã, no Iraque e no Afeganistão.
Some-se a isso o estrago que baixas de combate imprimem na própria sociedade de um país invasor, e o conflito rapidamente se torna impopular em casa.
O conflito na Ucrânia e as campanhas de terror ou de desestabilização interna que ocorrem desde os anos 1960 vêm demonstrando, diariamente, que as guerras convencionais são coisa do passado.
Seja no Iraque, no Afeganistão ou na Ucrânia, as imagens de enormes colunas de blindados destruídas nas estradas logo vêm à cabeça. Operações helitransportadas ou aerolançadas só têm dado certo em cenários parcamente ou não defendidos. A exceção à regra são as inserções de pequenas frações especiais. O que funcionaria no que se chamava de Airland Battle, e que era o conceito operacional previsto para um conflito OTAN-União Soviética nos anos 1960-2000, já se provou obsoleto em 2023. Mesmo a aviação de combate, com exceção da que emprega tecnologia stealth, já não consegue o domínio dos céus frente a sistemas antiaéreos cada vez mais avançados. Na Ucrânia, a aviação de combate não tem sido o fator decisivo.
Quem gosta de ficção e lê as obras do cada vez maior grupo de autores extremamente bem informados acerca de assuntos militares, irá notar que os conflitos imaginários sobre os quais escrevem são, cada vez mais, decididos por ações executivas e ataques stand-off, seja com mísseis balísticos, de cruzeiro ou hipersônicos – ou robôs capazes de atuar e atritar o inimigo em terra, no mar e, é claro, no ar.
Finalmente, no revolucionário campo de batalha cibernético, cada vez mais, são encontradas maneiras de derrotar um inimigo sem que se arrisque uma vida sequer, afetando sua infraestrutura, criando o caos e o medo e direcionando o seu próprio processo político e de gestão.
Em um mundo que demonstra ser péssima ideia invadir território inimigo, e no qual existem armas muito mais eficazes e furtivas, é fundamental trocar o conceito de alcance pelo de permanência. Além de possuir uma capacidade dissuasória efetiva e temida.
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@CL