Um erro do piloto causou sérios danos estruturais em um C-130J da USAF, durante o treinamento de pouso de assalto, realizado na Base Aérea de Ramstein (RMS/ETAR), Alemanha, em abril do ano passado. A causa foi apontada pelo relatório de investigação do acidente, que também apontou falha no treinamento dos tripulantes.
A aeronave, um C-130J-30 Super Hercules, matrícula AF 11-5736, atribuído ao 37th Airlift Squadron, sofreu danos estruturais estimados em US $ 20,9 milhões. Nenhum membro da tripulação ficou ferido no incidente. De acordo com o relatório do Conselho de Investigação de Acidentes (AIB – Accident Investigation Board) da USAF na Europa (USAFE), divulgado em 16 de fevereiro, a ênfase em surtidas operacionais, em vez de treinamentos, e a falta de uma zona para aterrissagens de assalto na base, também contribuíram para o incidente.
No final da tarde de 23 de abril de 2020, o C-130J-30 decolou de Ramstein, usando o código rádio “Herk 83”, para uma missão de treinamento e avaliação do piloto. Uma das manobras do treinamento incluía uma decolagem de máxima performance, um pouso curto com parada total, seguido de nova decolagem para reunião em formação com outro C-130J (“Herk 81”), que participava da missão.
Durante a aproximação final para o pouso de alta performance na pista 26, o piloto (1P) iniciou a redução de potência dos motores a cerca de 70 pés (AGL), ao invés dos padrões de 50 pés para o pouso de assalto. Desta forma, os motores chegaram “ociosos” (idle) a 45 pés, fazendo com que o C-130 tocasse a pista com uma força “g” estimada de 3,62 à 3,81, e a uma razão de descida de 834 pés por minuto, muito acima dos limites da aeronave (2,0 Gs e 540 pés/minuto).
Antes de tocar na pista 26, percebendo o erro, o co-piloto (2P) comandou um “go-around” (arremetida), levando ao piloto (1P) imediatamente empurrar as manetes de potência para o máximo, mas que não evitou o forte impacto dos trens principais contra o asfalto. Após a arremetida, a tripulação solicitou pouso na cabeceira oposta (08), pensando que a causa da aproximação desestabilizada teria sido um vento de cauda, porém os investigadores concluíram que a meteorologia não desempenhou papel contribuinte no incidente.
O relatório final atribui como causa principal do incidente, a redução precoce da potência dos motores. Por conta da aerodinâmica do C-130J, reduzir a potência muito cedo aumenta a taxa de descida, porque as hélices da aeronave geram fluxo de ar de alta velocidade sobre as asas, afetando diretamente a sustentação. A cerca de 10 pés acima do solo, o piloto adicionou potência, mas foi insuficiente para evitar o “hard landing”. Além disso, o AIB declarou que ambos os pilotos (1P e 2P) não conseguiram identificar a tempo a excessiva taxa de afundamento, uma vez que não tentaram reduzi-la, ou abortaram o pouso no momento certo.
Durante a investigação, membros do 37th Airlift Squadron disseram que o alto ritmo de operações da unidade reduz o tempo e as oportunidades dedicadas para o treinamento local, “o que é particularmente importante para tripulações menos experientes”, afirmou o relatório. Missões operacionais são a prioridade, portanto, poucas surtidas de treinamento e restrições locais tornam difícil para os pilotos praticarem manobras e habilidades críticas. A Base Aérea de Ramstein não possui uma zona demarcada para a prática de pousos de assalto e, em vez disso, usa uma “Landing Zone” (LZ) pintada, simulando o local para o treinamento, o que não oferece treinamento realista para pousos e decolagens de assalto, afirmou o relatório.
O pouso forte excedeu o limite de carga estrutural de 15 componentes e estruturas da aeronave, que devem obrigatoriamente serem substituídos, além da necessidade de inspeção em cinco outras áreas, para a certificação de aeronavegabilidade. Além disso, os investigadores identificaram limitações do software Data Transfer and Diagnostic System da Lockheed Martin Engineering, incluindo um erro no algoritmo de detecção de hard land.
@FFO