Porque o Beriev A-50U foi alvo de pequenos drones dos rebeldes belarussos. Em 26 de fevereiro, um grupo de oposição ao governo belaruso, conhecido por BYPOL, utilizou pequenos drones civis para atacar um quadrimotor Beriev A-50U “Mainstay” russo. A aeronave de comando e controle (AWACS), estava estacionada na Base Aérea de Machulishchy, na Belarus, e sofreu danos suficientes para ser retirado de combate temporariamente.
Para a Força Aerospacial Russa (RF VKS), o Mainstay é mais que apenas um avião de inteligência AWACS. Ele é usado na guerra contra a Ucrânia como uma plataforma de direcionamento para os mísseis hipersônicos Kh-47M2 Kinzhal, lançados a partir de um caça MiG-31K Foxhound, especialmente modificado para essas missões.
A RF VKS converteu algumas unidades básicas do caça interceptador MiG-31 na versão “K”, instalando um conjunto de sistemas para o transformá-lo em plataforma de lançamento do Kinzhal. Com essas modificações, o caça perdeu algumas capacidades embarcadas, necessitando do suporte externo do Beriev A-50U.
O radar rotativo instalado sobre a fuselagem do Mainstay, acomoda um sistema de comunicação SATCOM que atua em conjunto com o Foxhound para o direcionamento do Kinzhal até seu alvo marcado. A ameaça representada pela combinação dessas duas plataformas é, talvez, o sistema de armas mais temido pelas forças de defesa da Ucrânia.
De acordo com um funcionário da OTAN trabalhando em Kiev, a Inteligência ucraniana observou que o A-50 está sempre acompanhado por dois ou mais MiG-31K, e não há como determinar se é uma missão real de ataque ou apenas um voo de treinamento. “Sempre que um A-50 é rastreado em voo, as sirenes de ataque aéreo soam nas cidades ucranianas. Não importa onde você esteja, deve ir para um abrigo antiaéreo – e isso pode acontecer mais de quatro vezes por dia”, disse o funcionário em entrevista ao Breaking Defense.
O ponto forte do míssil hipersônico Kinzhal (uma versão ar-terra do KBM Iskander) é atacar alvos de alto valor estratégico, como centros de comando ou grandes instalações militares. “O atual sistema de defesa antimísseis da Ucrânia é inútil contra essa arma. É isso que torna a combinação MiG-31K e A-50U uma ameaça real quando estão voando”, disse o funcionário da OTAN, que serviu temporariamente na Ucrânia como adido militar.
A campanha de ataques indiscriminados contra alvos civis na Ucrânia, esgotou os estoques de mísseis de cruzeiro ar-ar da Rússia. Estimativas de analistas falam que os estoques do Raduga Kh-101/Kh-555 estariam em apenas 15%, e do Novator Kalibr apenas 9%. No entanto, essas mesmas estimativas indicam que 85% dos mísseis Kinzhal ainda não foram usados.
Apenas no dia 09 de março, as forças armadas russas dispararam 84 mísseis contra a Ucrânia. Foi um dos maiores ataques até agora. Desse total, apenas seis eram Kinzhals, apesar de ter sido o maior número desse modelo utilizado em um único dia até agora.
“Isso torna os Beriev A-50 um alvo de primeira ordem para qualquer atividade contraofensiva com drones. Não temos como derrubar um Kinzhal depois que eles são lançados, então esta pode ser a melhor maneira de garantir que eles sejam minimamente eficazes contra nós” disse um militar ucraniano, falando ao Breaking Defense.
Os dados divulgados disponibilizados pelo fabricante, indicam que o Beriev A-50U é capaz de detectar alvos aéreos em um raio de 400 milhas e de superfície dentro de 190 milhas. Seus sensores embarcados podem gerenciar até 150 alvos simultaneamente.
A frota de Beriev A-50U da RF VKS é muito pequena, estimada entre seis e nove aeronaves, sendo que não há informação sobre a quantidade realmente operacional. Estima-se que a maioria dessas aeronaves não tem capacidade de combate devido à falta de peças sobressalentes, especialmente pelas sanções internacionais sobre equipamentos eletrônicos.
No ataque da Belarus, o A-50U atingido era o RF-50608 #43 Vermelho, um dos mais modernos da frota. Atuando de fora do país, os membros do BYPOL utilizaram dois pequenos drones civis, facilmente comprados na internet e modificados para levar uma diminuta carga explosiva. Os vídeos divulgados na época, mostram os aparelhos pousando sobre o radar rotativo do Beriev, demonstrando a facilidade com que esta plataforma pode ser sabotada.
Os danos causados ao A-50U foram pequenos e não suficientes para retirá-lo de combate. Após um rápido reparo realizado no pátio da Base Aérea de Machulishchy, utilizando peças trazidas por um Il-76 (RF-86843) e um An-26, o Beriev foi transladado para um centro de manutenção para reparo completo.
@FFO