

Polônia adia a compra de helicópteros S-70i Black Hawk devido às lições aprendidas na guerra da Ucrânia. A Polônia adiou temporariamente a compra de 32 novos helicópteros Sikorsky S-70i Black Hawk, com as autoridades militares sugerindo que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia mostra que esse tipo de aeronave não seria prioridade agora para o seu país.
O General Wieslaw Kukula, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Polonesas, disse em uma entrevista coletiva na sexta-feira (07/06) que “foi decidido mudar as prioridades dos projetos envolvendo helicópteros para estudar melhor os desafios da guerra futura”, informou a Reuters.
O vice-ministro da defesa da Polônia, Pawel Bejda, disse no X que os militares, pilotos e especialistas de seu país estavam analisando a situação geopolítica, a guerra na Ucrânia e a maneira de como a Rússia está equipando suas forças armadas.

O porta-voz da Agência de Armamento da Polônia, Grzegorz Polak, disse que estão sendo revistas as prioridades de aquisições de equipamentos para as forças armadas, citando que talvez fosse importante focar em outros equipamentos em vez de helicópteros, como drones, tanques e sistemas de comunicação. Falando ao site polonês Defence24, Polak disse que “as prioridades das forças armadas mudaram em meio à evolução das ameaças”.
A Polônia, um membro da OTAN, assim como outros países europeus, tem alertado que a Rússia poderia atacar outras partes do continente. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, disse em março que os grandes investimentos militares da Rússia sugerem que o Putin está se preparando para um conflito “com alguém maior” que a Ucrânia nos próximos três a quatro anos.
Proporcionalmente, a Polônia é o país da OTAN que mais investe parte do seu PIB em defesa, e tem sido um grande aliado da Ucrânia deste o início da invasão russa em fevereiro de 2022.
Helicópteros sobre a Ucrânia

Os helicópteros tem desempenhado um importante papel na guerra, com ambos os lados os usando suas aeronaves de asas rotativas para combater drones, apoio aéreo e lançamento de foguetes.
Eles foram particularmente eficazes para a Ucrânia contra as tentativas da Rússia de tomar um importante campo de aviação logo após o início da invasão em fevereiro de 2022, e para a Rússia durante a contraofensiva da Ucrânia em 2023.
Mas eles também se mostraram vulneráveis.
A proliferação de defesas aéreas fez com que os helicópteros e outras aeronaves tivessem que se afastar mais das linhas de frente dos combates do que em conflitos passados, tornando-as muito menos úteis.

O sucesso da Ucrânia em derrubar os helicópteros russos Ka-52 em 2023 fez com que a Rússia os utilizasse menos essas aeronaves. Muitos foram atingidos pelo Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade M142 (HIMARS) fornecido pelos EUA. Relatórios sugerem que a Rússia perdeu mais de 100 helicópteros nos dois primeiros anos da guerra.
A Ucrânia também destruiu alguns helicópteros russos em bases distantes das linhas de frente.
Mesmo assim, as perdas poderiam ter sido maiores. Mark Hertling, ex-comandante do Exército dos Estados Unidos na Europa, disse em janeiro que a Rússia tem usado seus helicópteros e outros meios aéreos de maneira “muito ruim” e que a escassez da defesa aérea da Ucrânia os ajudou.

O pesquisador independente de defesa e segurança e ex-Oficial da RAF, Andrew Curtis, disse no ano passado que uma lição que os países ocidentais poderiam tirar da guerra é “sobre a vulnerabilidade dos helicópteros no campo de batalha moderno, onde esconder-se não é uma brincadeira de criança, é uma questão de vida ou morte”.
Uma estratégia de helicóptero
O S-70i é uma variante do UH-60 Black Hawk fabricado pela empresa polonesa PZL Mielec, uma subsidiária da americana Lockheed Martin. O plano da Polônia era que essas aeronaves fossem usados em combate e logística, atuando lado dos helicópteros de ataque AH-64E Apache Guardian encomendados dos EUA.
O vice-ministro da Defesa polonês disse que a paralisação do projeto não envolveu a rescisão de um contrato, já que ainda não havia documento assinado. Porém, a decisão trouxe alguns problemas domésticos.

Em uma postagem no X, o ex-ministro da defesa da Polônia, Mariusz Blaszczak, chamou a decisão de adiar a compra como “uma vergonha”, dizendo que isso levaria à perda de empregos, atrasos na modernização da frota de helicópteros e uma perda de interoperabilidade porque os militares poloneses já usam Black Hawks.
O adiamento ocorre depois que a Polônia passou anos investindo em tecnologia de helicópteros, incluindo a encomenda de 96 Apache Guardians em um acordo assinado no ano passado, além de 32 Leonardo AW149 em um acordo assinado em 2022.
Bejda disse que a Polônia ainda priorizaria alguns helicópteros, incluindo para missões de treinamento, transporte pesado, combate e busca e salvamento. Entretanto, o novo governo, que assumiu o poder no final de 2023, claramente vê o aumento da frota como menos importante do que investir em outros ativos militares.
A guerra na Ucrânia levou os países ocidentais a aumentar seus próprios gastos com defesa e a mudar suas prioridades, inclusive comprando mais defesas aéreas e drones, investindo mais em tanques e até mesmo trazendo de volta antigos tipos de treinamento, como a guerra de trincheiras.
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