O meu 11 de setembro de 2001. Passaram-se 20 anos do 11 de setembro! Didaticamente foi um dia histórico, trágico, emblemático e, porque não, icônico para a humanidade. Dia dos ataques coordenados feito por terroristas fundamentalista da Al-Qaeda, liderados pelo árabe Osama Bi Laden, onde quatro aeronaves comerciais foram sequestradas e usadas como armas.
Os voos American Airlines 11 (Boeing 767-223ER # prefixo N334AA) e United Airlines 175 Boston – Los Angeles (Boeing 767-222 # N612UA), ambos fazendo a rota de Boston para Los Angeles, colidiram com as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque. Já o voo American Airlines 77 de Washington para Los Angeles (B757-224 # N644AA) foi arremessado contra o prédio do Pentágono, em Washington e, por fim, o United Airlines 93 de Newark/Nova Jersey para São Francisco (B757-222 # N591UA), caiu em um campo perto de Diamond T. Mine, na Pensilvânia, após os passageiros tentarem tomar o avião, antes que ele fosse jogado em um alvo na Capital.
Naquele dia, 2.996 pessoas morreram, incluindo 19 terroristas! As consequências deste ato insano foram inúmeras, entre elas o início de uma Guerra ao Terror, capitaneada pelos EUA, e que gerou as guerras do Iraque, Afeganistão, uma caçada a Bin Laden, e que proliferou outros grupos radicais, como o Estado Islâmico. Passadas duas décadas, isto ainda não terminou e segue sem um final definido, com resultados desastrosos, como a retirada sombria e vergonhosa dos americanos do Afeganistão!
Por ser algo tão marcante, talvez seja uma das datas em que grande parte das pessoas já nascidas e com idade para “lembrar”, saiba onde e o que estava fazendo naquela manhã de 11 de setembro de 2001. Aposto que, ao ler isto, você lembrou com detalhes.
“Daqui a pouco acordamos, é um sonho ruim apenas!”
Pois bem, as 07h00 da manha daquele dia, eu decolava da Base de Canoas (BACO), para a Base Aérea de Santa Maria (BASM), ambas no Rio Grande do Sul, a bordo do “Pégaso 89” (C-95A # FAB 2289), com objetivo de fazer um artigo para a Revista Força Aérea – Edição 24 sobre o 1º/10º GAV – Esquadrão Poker. Além disso, eu e o amigo Rudnei Dias da Cunha, iríamos acompanhar as manobras do 1º/14º GAV – Esquadrão Pampa, que estava com seus F-5E/F em campanha de emprego terrestre no estande de Tiro de Saicã, no interior de Santa Maria (RS), a convite da unidade.
Até o destino, foi um voo legal, em NBA (Navegação à Baixa Altura) com o C-95 do “Pégaso”. Ao chegar na BASM, nos instalamos, e fui ao Poker para gravar uma entrevista com o então Comandante do 1º/10º GAV, Ten-Cel-Av. Milker. Papo vai papo vem, até que o Oficial de Operações, Maj-Av. Mangrich, bate a porta e interrompe a entrevista:
“- O Senhor precisa ver isto, Coronel!” falou o Maj Mangrich para o Ten Cel Milker;
“- Só depois de terminar a entrevista”, respondeu Ten-Cel-Av Milker, sem perceber inicialmente a gravidade da situação.
Depois de alguma insistência do Maj Mangrich, fomos até área de descanso dos pilotos, há tempo de ver uma cena inacreditável: o segundo Boeing 767 colidir com a segunda torre, e claro, o desabamento de ambas!
As caras de todos era algo indescritível, a ponto de um dos pilotos do Poker dizer uma frase que jamais esqueci:
– “Daqui a pouco acordamos, é um sonho ruim apenas!”
Surreal foi voltar a sala do Comandante e reiniciar a entrevista. Até hoje tenho a mini fita K-7 com a “interrupção patrocinada pelo Bin Laden”. Impossível se concentrar sem pensar no que viria pela frente… e não era só eu. Todos estavam assim!
Alerta real na Base
Minutos depois do ocorrido, chegou uma ordem superior: Base em alerta. Ninguém sai ou entra, até tudo se esclarecer. Naquele momento, sem a velocidade de comunicação vista hoje, não se sabia exatamente se o que estava acontecendo era algo localizado, ou um ataque global.
Além de entrar em alerta, dois caças F-5E do Esquadrão Pampa, que estavam deslocados em Santa Maria, foram enviados para Canoas, e retornaram armados com mísseis Python 3 reais e passaram a guarnecer um alerta a partir da BASM.
Clima era de espanto e de uma certa tensão
Naquela terça-feira, 11 de setembro de 2001, havia um clima de desconfiança e tensão no ar. A partir da BASM, os F-5 em alerta, estavam interceptando todos os tráfegos que estivessem fora de rota, ou sem contato rádio com os órgãos de controle de tráfego aéreo.
Isto se materializou com a interceptação de um Boeing 767-300 da Varig, que fazia a rota Buenos Aires – São Paulo, e até em um Bandeirante da FAB, em exercício com o Exército Brasileiro na região. O comandante do B767 da Varig soube dos ataques nos EUA pelo piloto do F-5, que comunicou à ele o motivo da interceptação.
Naquele dia só se falava em atentado, Bin Laden, World Trade Center – ou para os íntimos WTC e tudo que fosse especulação sobre isto, inclusive uma guerra em retaliação. A noite caiu e todas as televisões da BASM – e do mundo, estavam ligadas nos telejornais ao vivo e prolongados, com edições fechando perto das 23h00.
Guerra no interior gaúcho!
Apesar de tudo, as operações continuavam, e naquela noite, fomos para os HLV (Hangares de Linha de Voo) observar uns A-1 AMX que realizavam uma missão de rotina e, principalmente, uma surtida dos F-5 do Pampa armados com bombas BAFG 230 (Mk82) para emprego em Saicã.
Saíram cinco caças F-5, sendo o primeiro equipado com dois flares iluminativos LU-2B, sendo um em cada asa, para “jogar uma luz sobre os alvos”, enquanto os outros quatro F-5E, com bombas reais, lançariam as suas bombas. Isto era próximo das 20h.
Dos HVLs era possível ver uma TV 20 polegadas de tubo (nada das modernas 4K fininhas) na casa de pista do 3º/10º GAV, ligada no jornal Nacional apresentado por Sérgio Chapelin e William Bonner, que falavam sem parar sobre os atentados, inclusive com chamadas ao vivo dos correspondentes da Rede Globo no exterior. Olhei para o Rudnei e para um dos mecânicos de pista do “14” e disse:
“Imagina um estanceiro (fazendeiro) lá no interior de Cacequi, ou Rosário do Sul, que fazem fronteira com o estande (de Saicã), nesta noite agradável, céu limpo, e ver um ponto no céu largando “bolas de fogo” (flares) e, na sequência, ataque com bombas seguidas do famoso som dos motores G&E do Tiger II. Ai ele olha para a TV e vê o Bonner falando em guerra!”
Muitos nem dormiram naquela noite.
Vida que segue
No dia seguinte (12/09), as coisas ficaram mais calmas, e após o meio-dia a BASM saiu do estado de alerta, inclusive com o relaxamento dos F-5. Nós, voltamos para Canoas, no C-95A do 5º ETA, ouvindo o tempo todo alguém falando do atentado, e da pessoa mais famosa do momento: Osama Bin Laden e a sua Al-Qeada!
PS: naquela noite, fiz umas fotos com uma câmera de filme – isto mesmo, o digital não superava o filme naqueles dias. Era um filme da Fuji ISO 800, que ficou não sei porque, ficou perdido por 20 anos! Sumido, escondido, desaparecido. Semanas atrás, achei ele, intacto em uma caixa! Será que se aproveita algo?
Leandro Casella – Editor
@CAS