Mirta Vanni Barbot, a primeira piloto agrícola do mundo, morre no Uruguai aos 101 anos. Nascida em Carmelo, no Uruguai — à beira do Rio da Prata, em 3 de janeiro de 1924, Mirta Vanni Barbot se matriculou aos 17 anos no Curso de Piloto do Centro Aeronáutico, vindo a ser a primeira mulher a receber o brevê da categoria profissional de piloto, em 1941.
Além disso, foi a primeira mecânica aeronáutica do Uruguai e também se formou anteriormente como enfermeira aeronáutica. Ainda no final de 1941, juntamente com outros colegas Mirta participou de um esquadrão que sobrevoou Buenos Aires, demonstrando os então novos Stinson 10 uruguaios.
Durante sua carreira, trabalhou principalmente na área agrícola, no Serviço Aéreo do Ministério da Pecuária e Agricultura, sendo a primeira piloto a realizar voos experimentais de fertilização e semeadura. Teve uma carreira de sucesso, destacada por suas qualificações como instrutora de voo e mecânica de manutenção, mas, sobretudo, por suas conquistas e trajetória na aviação agrícola, que recebeu reconhecimento nacional e internacional.
Ela foi Chefe do Serviço Aéreo do Ministério (a primeira mulher nesta posição) e mais tarde Diretora Geral desta unidade. Coordenou o Curso de Piloto Agrícola e representou o Uruguai, nesta especialidade, em países como Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Holanda, França, Reino Unido, Costa Rica e Jamaica. Durante as décadas de 1950 e 1960, Mista voou para os Estados Unidos para transportar a nova aeronave agrícola Aerocommander projetada por Leland Snow, mais tarde fundador da Air Tractor, para o Uruguai pela rota do Pacífico, que incluía sobrevoar a Cordilheira dos Andes no caminho.
Entre muitos méritos, vale destacar sua colaboração em 1959, durante as mais graves e históricas enchentes que afetaram o Uruguai, episódio em que se dedicou tanto ao transporte de medicamentos quanto de pessoas. Em 1975, representando o Ministério da Pecuária e Agricultura do Uruguai, tornou-se o primeiro cliente internacional do pulverizador Ipanema da Embraer, adquirindo 10 unidades, muitas das quais Mirta realizou o ferry flight.
Em 1985, após 43 anos de trabalho e mais de 7.000 horas de voo, Mirta se aposentou da atividade oficial. Ela recebeu diversas condecorações, prêmios e homenagens no Uruguai, Argentina, Brasil e Estados Unidos por sua contribuição ao desenvolvimento da aviação latino-americana.
A Comandante Mirta Vanni tripulou um A-37B do Esquadrão Aéreo Nº 2 (Caça) da Força Aérea Uruguaia, aos 71 anos, em um voo histórico em 21 de fevereiro de 1995, ao lado do lendário Coronel Walter “Chino” Martínez a bordo do FAU 283. Durante este voo, que durou 20 minutos, Vanni teve a oportunidade de se familiarizar com os controles da aeronave e realizar manobras acrobáticas, sendo posteriormente reconhecida com um diploma, um lenço de voo e uma pintura comemorativa, tornando-se uma piloto simbólica da FAU.
Ironicamente, devido a um erro involuntário, em 1974, ao sobrevoar inadvertidamente a prisão de Libertad (onde estavam alojados quase todos os líderes guerrilheiros de Tupamaros), após pulverizar um campo vizinho, quase foi abatida em voo. Mais tarde, em 2009, quando completou 80 anos, ele também fez seus primeiros saltos de paraquedas.
Em 2013, ela doou seu uniforme de voo ao Museu Aeronáutico Cel. Jaime Meregalli. Entre o final de 2023 e o início de 2024, por ocasião do seu centenário, recebeu homenagens do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca, da Câmara Uruguaia da Indústria Aeronáutica, do Ministério da Defesa e da Direção Nacional de Aviação Civil e Infraestrutura Aeronáutica.
Mirta Vanni faleceu no sábado, 22 de março de 2025. No seu funeral, realizado dois dias após, estiveram altas autoridades nacionais, chefiadas pelas hierarquias da Força Aérea, como o Comandante da FAU, General Fernando Colina, e o Comandante Logístico, Brigadeiro Gaetano Battagliese. Na cerimônia, foram prestadas honras e executado o toque de silêncio.
TEXTO: Javier Bonilla.
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