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Matéria de Capa RFA 156 — SUMMIT OF FIRE!

10 de outubro de 2025
Matéria de Capa RFA 156 — SUMMIT OF FIRE!!

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Desde os ataques de 7 de outubro de 2023, feitos pelo grupo terrorista Hamas, Israel está literalmente em guerra. As IDF ou Forças de Defesa de Israel têm aberto várias frentes, e feito ataques diretos e preventivos a alvos em pelo menos sete países, na Cisjordânia ocupada e, principalmente, a Faixa de Gaza. Em 10 de setembro, mais um ataque aéreo ousado foi realizado sob a bandeira de eliminar terroristas, dessa vez no Catar, algo que ainda não tem suas consequências bem claras.

Leandro Casella

Um F-15D Baz da IAF decola armado com um Rafael Silver Sparrow para um voo de ensaio. Esse míssil, que foi desenvolvido originalmente para simular mísseis balísticos, foi redirecionado para missões de ataque, tendo sido usado contra o Irã e agora no Catar, contra o Hamas. Foto: IAF.
Um F-15D Baz da IAF decola armado com um Rafael Silver Sparrow para um voo de ensaio. Esse míssil, que foi desenvolvido originalmente para simular mísseis balísticos, foi redirecionado para missões de ataque, tendo sido usado contra o Irã e agora no Catar, contra o Hamas. Foto: IAF.

Os últimos anos têm sido intensos para as Israeli Defense Force (IDF), em especial, os últimos dois, onde os combates não cessaram, obrigando o país a convocar reservistas, manter estado de prontidão constante e realizar inúmeras ações de guerra. Desde 2021 a capacidade das IDF, o que naturalmente inclui a Israeli Air Force (IAF), vem sendo posta à prova, e, experimentando um forte desgaste de suas tropas, munições, aeronaves, sistemas de defesa e todo e qualquer equipamento de uso militar, de resgate e salvamento, além, é claro, da rede de defesa civil, hospitalar e infraestrutura do país. Claro que o outro lado não está melhor, e a Guerra em Gaza gerou uma das maiores crises humanitárias da história. Esse aumento expressivo de prontidão/ação teve um gatilho na Operation Guardian of the Walls (Guardião dos Muros) disparada em maio de 2021 contra o Hamas. Foram 11 dias (10 a 21 de maio), onde a IAF bombardeou implacavelmente a Faixa de Gaza, buscando alvos do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina (PIJ – Palestinian Islamic Jihad), que iniciaram ataques com foguetes ao território de Israel, repetindo uma velha fórmula usada há anos.

O início da Operação Guardião dos Muros foi marcado por uma série de disparos de foguetes contra Jerusalém, capital de Israel, feito por organizações terroristas a partir da Faixa de Gaza e às 18h03 do dia 10 de maio de 2021. Segundo o IDF, até às 21h locais de 20 de maio de 2021, mais de 4.340 foguetes foram disparados da Faixa de Gaza em direção ao território israelense pelo Hamas e a PIJ, dos quais aproximadamente 640 lançamentos fracassaram e caíram na própria Faixa de Gaza. O Sistema de Defesa Aérea Iron Dome interceptou mais 3.330 foguetes, algo próximo a 90% dos foguetes que invadiram o espaço aéreo de Israel.

Desde a madrugada daquele dia 10, a movimentação nas principais bases aéreas da IAF foi intensa com a saída de diversas aeronaves, em especial dos F-16C/D/I e F-15C/D/I, para efetuar bombardeios em Gaza, em resposta aos ataques com foguetes feitos pelo grupo terrorista Hamas e PIJ. Além desses, caças F-35I, helicópteros de ataque AH-64E e drones como IAI Heron também participam ativamente das ações. A Guardian of the Walls efetuou mais de 1.400 surtidas sobre a Palestina, tendo até o dia 19 de maio, atacado mais de 1.000 alvos. Apesar da desproporcional capacidade de força, Israel não conseguiu eliminar o Hamas, de Gaza.

Desde maio de 2021- quando eclodiu a Operation Guardian of the Walls, os F-16I Sufa, como o IAF 610 da foto, têm sido constantemente usado em missões reais e passaram a ser o sustentáculo do combate. Foto: IAF.
Desde maio de 2021- quando eclodiu a Operation Guardian of the Walls, os F-16I Sufa, como o IAF 610 da foto, têm sido constantemente usado em missões reais e passaram a ser o sustentáculo do combate. Foto: IAF.

Um cessar-fogo foi articulado em 21 maio de 2021, entre Israel e o Hamas a partir das 2h da manhã de sexta-feira, 21 de maio de 2021 (20h no horário de Brasília), como informou um oficial do Hamas e o gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. A trégua foi bilateral foi sem precondições. Fontes da Reuters informaram que a trégua teria vindo após forte pressão dos Estados Unidos, feita pelo presidente John Biden desde o dia 18 que pôs fim a 11 dias de hostilidades.

Desde o início dos combates em 10 de maio, 232 palestinos morreram e mais de 1,9 mil ficaram feridos em bombardeios aéreos. Do lado israelense foram 12 mortos e mais de 660 feridos ou pessoas que necessitaram de assistência médica. Israel diz que matou pelo menos 160 combatentes.

O cessar-fogo foi algo ilusório. Na noite de 16 e 17 de maio de 2021 (menos de um mês após o cessar-fogo), outros ataques aéreos foram feitos pela IAF com caças F-15D/E F-16D/I, desta vez, em resposta ao lançamento de balões incendiários por parte do grupo Hamas pelo terceiro dia consecutivo contra o território israelense.

Tripulação de um F-15D do 133 Sq fazem o check pré-voo para uma missão de ataque noturno. Nos pilones, vemos duas Elbit Delilah, míssil de cruzeiro capaz de atingir alvos a até 250 quilômetros.
Tripulação de um F-15D do 133 Sq fazem o check pré-voo para uma missão de ataque noturno. Nos pilones, vemos duas Elbit Delilah, míssil de cruzeiro capaz de atingir alvos a até 250 quilômetros.

Segundo o IDF, aeronaves de combate atingiram “complexos militares e um local de lançamento de foguetes do Hamas em resposta aos ataques com balões, que estariam sendo produzidos nesses locais”. Essas provocações seguiriam e, entre 10 e 11 setembro de 2021, a IAF bombardeou novamente a Faixa de Gaza após o Hamas lançar foguetes à região israelense de Eshkol e proximidades. Ao longo de 2022 e 2023, vários episódios de ataques e contra-ataques seriam reportados, especialmente ao longo de 2023, com o aumento dos ataques de colonos israelenses a moradores locais, que deslocaram centenas de palestinos de suas casas.

O fato é que a Guardian of the Walls e os seus desdobramentos desencadearam uma série de “efeitos colaterais” e, claro, para muitos, ela foi o primeiro ponto sem volta para o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2021, que contou com apoio do Irã e de outros atores classificados como Grupos Terroristas do Oriente Médio, como Hezbollah (Líbano), PIJ (Gaza), Houthis (Iêmen) e Jihad Islâmica, além do ISIS (Síria) e simpatizantes contra Israel.

A gota d’água veio em abril de 2023, quando houve confrontos na mesquita de Al-Aqsa, um local sagrado para o Islã e disputado em Jerusalém por questões político-religiosas, e terceira mais importante para o Islã. Uma série de confrontos violentos ocorreu entre os palestinos e a polícia israelense no complexo da mesquita de Al-Aqsa. Após a oração noturna do Ramadã em 5 de abril, os palestinos se amotinaram dentro da mesquita, motivados por relatos de que judeus planejavam sacrificar uma cabra no local (o que é proibido pela lei israelense). Em resposta, a polícia israelense invadiu a mesquita com equipamento antimotim, ferindo 50 pessoas e prendendo pelo menos outras 400.

Três F-15I Ra’am do 69 Sq armados com bombas GPS/INS JDAM. Nos ataques contra o Irã, os F-15I Ra’am, F-16D Barak e os F-16I Sufa, foram a espinha dorsal da Operação Leão Ascendente, muito por sua grande autonomia, que permitiu ir e vir do Irã (3000 km de voo) sem escalas ou reabastecimento em voo. Foto: IAF.
Três F-15I Ra’am do 69 Sq armados com bombas GPS/INS JDAM. Nos ataques contra o Irã, os F-15I Ra’am, F-16D Barak e os F-16I Sufa, foram a espinha dorsal da Operação Leão Ascendente, muito por sua grande autonomia, que permitiu ir e vir do Irã (3000 km de voo) sem escalas ou reabastecimento em voo. Foto: IAF.

Imediatamente após os confrontos, grupos militantes palestinos dispararam foguetes contra Israel a partir da Faixa de Gaza e do Líbano, atos amplamente interpretados como resposta aos eventos em Al-Aqsa. Mais uma vez, a religião havia sido usada para a guerra. Em maio ocorreram confrontos entre Israel e o grupo JIP, e em setembro, com o Hamas. Em 13 de setembro cinco palestinos foram mortos na fronteira. Israel disse que encontrou explosivos escondidos em um carregamento, e interrompeu todas as exportações de Gaza. O Hamas negou as alegações de Israel. Em resposta à proibição, o Hamas colocou suas forças em alerta máximo e conduziu exercícios militares com outros grupos, incluindo a prática aberta para invadir assentamentos israelenses. Isso foi o estopim. Era a justificativa dada pelo Hamas para a realização dos ataques de 7 de outubro, como pano de fundo e retaliação aos eventos em Al-Aqsa. Ao amanhecer daquele dia ocorreu uma série de atentados coordenados e conduzidos pelo Hamas, vindos da Faixa de Gaza para as áreas fronteiriças do sul de Israel. Os ataques marcaram o início da guerra Israel-Hamas, exatamente no cinquentenário da Guerra do Yom Kippur (6 de outubro de 1973).

O Hamas e outros grupos armados palestinos nomearam os ataques como Operação Dilúvio de Al-aqsa (devido ao incidente na mesquita). Já em Israel ficou conhecido como Sábado Negro (Black Sabbath).

Os ataques começaram com uma barragem de pelo menos 4.300 foguetes lançados contra Israel e por incursões de parapentes transportados por veículos e motorizados em Israel. Militantes do Hamas atacaram bases militares e 21 comunidades, incluindo Be’eri, Kfar Aza, Nir Oz, Netiv Haasara e Alumim. De acordo com um relatório das IDF, cerca de 6.000 moradores de Gaza violaram a fronteira em 119 locais, incluindo 3.800 das forças de elite Nukhba (Hamas) e 2.200 civis e outros militantes. Ao todo 1.195 pessoas foram mortas no ataque, sendo 736 civis israelenses 79 estrangeiros e 379 membros das forças de segurança.

Um A310 da Yemenia Airways em chamas no Aeroporto Internacional de Sanna, no Iêmen. Ele foi destruído por caças da IAF (F-15I/F-16D) entre dos dias 5 e 6 de maio de 2025. No ataque, vários aviões A310/320/330 da Yemenia Airways e um cargueiro Il-76 da Força Aérea Iemenita foram destruídos, além de prédios, pistas, terminal de passageiros, hangares e outras estruturas. O objetivo era atingir o grupo terrorista Houthi, que controla parte de Iêmen. Foto: via AP.
Um A310 da Yemenia Airways em chamas no Aeroporto Internacional de Sanna, no Iêmen. Ele foi destruído por caças da IAF (F-15I/F-16D) entre dos dias 5 e 6 de maio de 2025. No ataque, vários aviões A310/320/330 da Yemenia Airways e um cargueiro Il-76 da Força Aérea Iemenita foram destruídos, além de prédios, pistas, terminal de passageiros, hangares e outras estruturas. O objetivo era atingir o grupo terrorista Houthi, que controla parte de Iêmen. Foto: via AP.

O Hamas oficialmente afirmou que o ataque foi uma reação ao que alega serem esforços israelenses para tomar o complexo da mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém, terceiro local mais sagrado do islamismo. O Hamas também exigiu a libertação de milhares de palestinos em prisões israelenses, algo conseguido em troca de parte dos 251 reféns do 7 de outubro. Cerca de 48 ainda estão com o Hamas, nem todos eles vivos.

Efeito colateral

A partir de 7 de outubro a Guerra Israel-Hamas foi instaurada com efeitos devastadores. Até outubro de 2025, marco dos dois anos de conflito, a Faixa de Gaza havia sido total e literalmente destruída. O território tem 41 quilômetros de comprimento e apenas de 6 a 12 quilômetros de largura, com uma área total de 365 km2. Antes da guerra havia 2,2 milhões de habitantes.

As informações são contraditórias, mas as mais aceitas dão conta de que o número de palestinos mortos na Faixa de Gaza passa de 65 mil, com 166 mil feridos, vítimas dos ataques de Israel, e, claro, do conflito entre soldados do Hamas e das IDF. Vários desdobramentos do conflito ocorreram, com a IDF, em especial a IAF, realizando talvez o maior número de frentes de combate que Israel já teve em seus quase 80 anos de fundação.

Apesar de ser um conflito direto entre Israel e Irã, na prática tem sido também uma guerra por procuração, onde aliados de Israel vêm influenciando e dando não só apoio político, mas também, militar de forma indireta, fornecendo armas, missões de inteligência e até interceptando mísseis e drones iranianos. O caso mais visível é o dos EUA, que contam com respaldo de países da OTAN, da Arábia Saudita e da Jordânia.

Desde 2021, sem dúvida, a mais forte e ousada ação foi contra o Irã, na Leão Ascendente. Caças da IAF monopolizaram os céus do Irã, chegando a ter 230 aeronaves de combate ao mesmo tempo, sem sequer uma reação da IRIAF. Um F-16I pronto para mais uma saída, armado com mísseis supersônicos Elbit Rampage. Foto: IAF.
Desde 2021, sem dúvida, a mais forte e ousada ação foi contra o Irã, na Leão Ascendente. Caças da IAF monopolizaram os céus do Irã, chegando a ter 230 aeronaves de combate ao mesmo tempo, sem sequer uma reação da IRIAF. Um F-16I pronto para mais uma saída, armado com mísseis supersônicos Elbit Rampage. Foto: IAF.

Por outro lado, China e Rússia têm validado o Irã, pois têm investimentos fortes nesse país em áreas nucelares, marítimas e comerciais. A China, por sua vez, teria inclusive, enviado aeronaves ao Irã, provavelmente com insumos ou mesmo armas, para ajudar na guerra contra Israel. Além disso, grupos terroristas como Hamas, Hezbollah, PIJ, Houthis e Jihad Islâmica, ISIS entre outros, também estavam do lado iraniano. A Rússia tem boas relações com Israel e, por isso, Vladimir Putin declarou que era necessário evitar uma 3ª Guerra Mundial, que ocorreria com a escalada do conflito e entrada de outros atores da região e potências ocidentais e orientais.

Na carona destes dois anos de guerra, Israel fez operações reais de combate no Líbano, Cisjordânia, Síria, Iêmen, Irã, Tunísia, Iraque, Faixa de Gaza e Catar, que puseram à prova a capacidade militar e diplomática de Israel. Houve uma literal caça e eliminação de líderes de grupos terroristas (assassinatos), como Hamas, Houthis e Hezbollah e dos líderes do Irã.

Um dos ataques mais impressionantes e ousados foi feito em território iraniano, em 13 de junho, durante a Operação Leão Ascendente (Operation Rising Lion) contra o Irã. O ataque, feito no primeiro dia da guerra matou pelo menos os 18 oficiais e seis civis, todos peças-chave e ligados ao projeto nuclear e ao alto escalão IRGC. Tudo foi feito com a ajuda do Massad, que criou uma falsa reunião com os importantes personagens em um local conhecido por eles. Tudo falso. A IAF literalmente arrasou o lugar com um ataque aéreo maciço e pesado. Entre os mortos, o General Hossein Salami, líder da Guarda Revolucionária do Irã (IRCG), que teve sua morte confirmada pela televisão estatal iraniana. Os seis civis eram engenheiros e químicos principais do projeto nuclear iraniano. Algumas fontes relatam que 30 militares e 14 cientistas foram mortos ao todo nesse ataque em um local secreto (ou nem tão secreto) em Teerã.

Ataques do Irã contra Israel em junho de 2025, ficaram restritos a lançamento de mísseis balísticos e de cruzeiro e drones suicidas, que foram em 90% repelidos pela defesa aérea israelense. Foto: AP.
Ataques do Irã contra Israel em junho de 2025, ficaram restritos a lançamento de mísseis balísticos e de cruzeiro e drones suicidas, que foram em 90% repelidos pela defesa aérea israelense. Foto: AP.

A Leão Ascendente foi um desdobramento da Operação Espadas de Ferro (Operation Iron Swords) como foi chamado o contra-ataque israelense aos ataques de 7 de outubro.

Jerusalém afirmou ter realizado um “ataque preciso e preventivo” contra o Irã (Leão Ascendente), declarando que seu programa nuclear era ameaça iminente, e na sequência anunciou estado de emergência nacional enquanto os cidadãos se preparavam para retaliações.

Hoje Israel, leia-se governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, tem sofrido desgastes e pressões em meio a questões legítimas para a defesa do país e outras questões controversas, sendo acusado de genocídio e massacre, além de criar um cenário ainda sem definição. A intenção de tomar 100% do território de Gaza por terra retirando os palestinos de seu território tem criado protestos mundo afora. O que se tem visto é um efeito contrário, com aumento de países reconhecendo o Estado Palestino, algo proposto em novembro de 1947.

Um 2024 conturbado

Em verdade, a Operação Espadas de Ferro (Operation Iron Swords) não ficou restrita a Gaza, como a Guardião do Muros cujo maior alcance foi no sul do Líbano (Hezbollah). Ela se expandiu rapidamente pelo Oriente Médio, com respingos no mundo todo.

Assim Israel atacou a embaixada do Irã em Damasco na Síria em 1 de abril de 2024. No ataque aéreo, membros da Força Quds do IRGC foram mortos. O revide iraniano veio dias depois, em 13 de abril, com um ataque de 75 drones kamikazes e mísseis de cruzeiro, que quase em sua totalidade foram interceptados pelas defesas de Israel, em especial o sistema Iron Dome.

Imagem de satélite da planta de Fordow. Os impactos ficaram concentrados 3 a 3, atingindo duas áreas, uma de enriquecimento e outra das centrífugas. Foto: Maxar.
Imagem de satélite da planta de Fordow. Os impactos ficaram concentrados 3 a 3, atingindo duas áreas, uma de enriquecimento e outra das centrífugas. Foto: Maxar.

O contragolpe de Israel veio em 26 de outubro de 2024, com um ataque aéreo direto ao território do Irã. As primeiras explosões em Teerã foram observadas por volta das 02h15 (horário local) daquele sábado. Pelo menos duas ondas de ataques foram realizadas pela IAF com caças F-15/16/35. “Esta ação é uma resposta aos meses de ataques contínuos do regime iraniano contra o Estado de Israel”, disse as IDF em um comunicado, referindo-se ao financiamento do Irã aos grupos terroristas e aos próprios ataques do Irã.

O ataque, que visou eliminar parte das defesas aéreas, radares e sítios de mísseis, foi feito por mais de 100 aeronaves voando sobre o território iraniano sem serem incomodadas pela Islamic Republic of Iran Air Force (IRIAF). Na prática não foi só uma eliminação selecionada para evitar novos ataques a Israel, mas sim, uma prévia, um ensaio real para um ataque que visava eliminar o programa nuclear iraniano o qual vinha ensaiando há anos pela IAF.

O ano fecharia em 26 de dezembro, quando 25 aeronaves da IAF atingiram vários alvos nas áreas do Iêmen, controladas pelos Houthis, principalmente, no Aeroporto Internacional da capital Sanaa (SAH/OYSN). De acordo com Israel, os ataques, que faziam parte da Operação Sons da Vinha (Operation Tzelilei HaKerem), foram realizados em resposta ao disparo de mísseis balísticos e veículos aéreos não tripulados (VANT) em direção a Israel pelos Houthis. Esse ataque aconteceu como parte de vários outros ataques aéreos israelenses no Iêmen em dezembro para enfraquecimento dos Houthis, e para retirá-los do apoio ao Hamas na guerra de Gaza.

Um 2025 mais conturbado ainda

O ano de 2025 ficou mais conturbado ainda na região do Oriente Médio com a intensificação dos ataques, das questões políticas e, principalmente, da participação cada vez maior de atores como EUA, Rússia, China, Irã e comunidade europeia, pressionando por um acordo de paz, fornecendo apoio direto militar, humanitário e político, não necessariamente nesta ordem. A IDF atacou diversos alvos em 2025, e alguns dos ataques mais importantes foram ao Iêmen, Irã e Catar.

A IAF efetuou entre 05 e 06 de maio mais um ataque ao Aeroporto Internacional de Sanaa, no Iêmen, país controlado pelos rebeldes Houthis, financiados pelo Irã. Os ataques foram em retaliação ao ataque com um míssil balístico a Tel Aviv, mais especificamente ao aeroporto internacional Ben Gurion (TLV/LLBG), feito no dia 4 de maio pelo grupo rebelde Houthis. O ataque rebelde visava prestar um apoio direto a Gaza em detrimento das ações de Israel, de amplificação de suas operações militares na região.

No ataque, caças F-15I Ra’am, apoiados por caças F-16D Barak, deixaram inutilizáveis vários aviões A310/320/330 da Yemenia Airways, além de um cargueiro Il-76 da Força Aérea Iemenita. Prédios, pistas, terminal de passageiros, hangares e outras estruturas foram atingidas, e literalmente destruídas ou seriamente danificadas.

O B-2 foi a grande estrela da Operação Midnight Hammer, que atacou as usinas nucleares do Irã. Os Spirits não entraram sozinhos no Irã. Foram acompanhados por caças Lockheed Martin F-22A Raptors do 94th FS da 1st FW e F-35AA da 48th FW. Além disso, aeronaves F-16CJ e F-15E também cobriram o caminho, com apoio de caças F/A-18E/F e EA-18G da US Navy. Foto: USAF.
O B-2 foi a grande estrela da Operação Midnight Hammer, que atacou as usinas nucleares do Irã. Os Spirits não entraram sozinhos no Irã. Foram acompanhados por caças Lockheed Martin F-22A Raptors do 94th FS da 1st FW e F-35AA da 48th FW. Além disso, aeronaves F-16CJ e F-15E também cobriram o caminho, com apoio de caças F/A-18E/F e EA-18G da US Navy. Foto: USAF.

Com desdobramentos e intensificação da Operação Espadas de Ferro, Israel ativa a Operação Leão Ascendente contra o Irã em uma sexta-feira, 13 de junho. A Leão Ascendente foi direcionada ao programa nuclear iraniano. Os militares avaliaram que o país tinha urânio enriquecido suficiente para construir 15 bombas nucleares, bem como fábricas de mísseis balísticos, e para ampliar suas capacidades militares, segundo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e os comandantes das forças de defesa israelenses (IDF).

Israel disse que não tinha escolha a não ser atacar o Irã, acrescentando que havia reunido informações de que Teerã estava se aproximando do “ponto sem retorno” em sua busca por uma arma nuclear. Durante todos os 12 dias a aviação israelense atacou diuturnamente o Irã em missões complexas e distantes que obrigatoriamente tinham que sobrevoar a Síria e o Iraque ou a Jordânia e o Iraque para, então, ingressar no espaço aéreo do Irã. Tudo foi feito “sem pedir licença”.

Os caças israelenses voaram mais de 2.300 quilômetros dentro do território do Irã sem serem incomodados. Israel ainda alega ter conseguido superioridade aérea a ponto de criar uma “estrada para Teerã”. A maioria dos voos, para cobrir em média 1.500 quilômetros de ida e mais 1.500 quilômetros de volta, precisou de Reabastecimento em Voo (REVO), o que foi feito pelos KC-707 Re’em (Búfalo) do 120 Sq sediados em Nevatim (LLNV). Somente os F-16I Sufa (Tempestade) e F-15I Ra’am (Trovão) tinham a “força” de ir e vir sem a necessidade de dois REVOS (ida e volta). Eles também eram os únicos a cumprir missões sem REVO, trocando combustível em tanques externos ou conformais, por menos armas. Os F-16I foram os grandes protagonistas dos ataques. Mais de 600 missões de REVO foram feitas na Leão Ascendente e mais de 1.000 surtidas de combate.

A declaração de havia “uma estrada para Teerã” traz um fato importante: de que Israel obteve desde o primeiro dia total superioridade aérea sobre o espaço aéreo do Irã. Não há nenhum relato dando conta de que a aviação da IRIAF sequer tenha tentado interceptar as aeronaves israelenses, mostrando que as quase 550 aeronaves de combate, como os veteranos F-4D/E, F-5E/F, F-5E Saeghe, F-14A, F-1BQ/EQ, F-7N, FT-7N, MiG-29A e Su-24MK, não conseguiram defender o país. A tão badalada IRIAF, superestimada pelo regime dos aiatolás, se mostrou uma força aérea de desfile militar.

A frente da mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém, que teria sido um dos pivôs do ataque de 7 de outubro de 2023, após confronto com a polícia israelense. Foto: Godot13.
A frente da mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém, que teria sido um dos pivôs do ataque de 7 de outubro de 2023, após confronto com a polícia israelense. Foto: Godot13.

Além de não defender o país, o Irã não enviou aeronaves de combate tripuladas (apenas UAS kamikazes) para o espaço aéreo israelense. Já a IAF “alugou” o espaço aéreo iraniano, chegando a ter mais de 220 aeronaves de combate tripuladas e não tripuladas sobre o país persa, atacando múltiplos alvos ao mesmo tempo. Houve apenas três UAS perdidos durante um conflito, sendo dois Hermes 900 e um IAI Heron. Redes sociais da mídia estatal do Irã fizeram muitas postagens de vitórias sobre as aeronaves da IAF, entre elas relatos sem comprovação de que poderiam ter abatido um F-35I. Uma guerra midiática, nada além disso.

A IAF atacou ao menos oito bases aéreas/aeroportos, e estampou vídeos destruindo aeronaves da IRIAF no solo, como F-14A, F-5E, MiG-29 e até KC-747 e IL-76 destruídos em aeroportos como Tehran Imam Khomeini International Airport (OIIE) e Tehran Mehrabad International Airport (OIII), ambos em Teerã, além das Bases Aéreas de Dezful/Vahdati (OIAD), Shahid Beheshti (OIFM), Mashhad/Shahid Hashemi Nejad (OIMM), Tabriz/Shaheed Fakouri (OITT), Bushehr/Yassini (OIBB) e Omidiyeh/Shahid Ardestani (OIAJ).

Porém, além dos sistemas de defesa, fábricas de drones e lançadores de mísseis, o principal objetivo era as usinas e plantas nucleares do Irã. Israel desde o primeiro dia atacou as plantas de enriquecimento de urânio em Natanz e Fordow; o centro de pesquisas de Bonab e Isfahan; Planta Nuclear de Arak e Ardakan. O foco principal foi Arak, Isfahan, Natanz e Fordow, os dois últimos os principais centros dedicados à produção de urânico enriquecido a fim de permitir a produção de uma bomba nuclear. Mas apesar dos esforços a IAF não possui armas capazes de perfurar o solo e atingir as instalações postadas a dezenas de metros abaixo da superfície. Natanz, por exemplo, está a mais de 60 metros da superfície.

Primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu. Foto: Ronen Zvulun.
Primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu. Foto: Ronen Zvulun.

Ao obter superioridade área total sobre o Irã, destruir boa parte dos sistemas de radar e de defesa aérea, e anular a IRIAF, a IAF abriu espaço para os EUA porem em prática a Operação Midnight Hammer, uma operação planeja com 18 meses de antecedência, que tinha só um objetivo: aniquilar o programa nuclear do Irã. O ataque usando sete Northrop Grumman B-2A Spirit do 509th Bomber Wing (509th BW) equipados cada um com duas Boeing GBU-57 MOP (Massive Ordnance Penetrator), a única bomba capaz de destruir as usinas nucleares de Fordow, Natanz e Esfahan, esta última seria atacada por um submarino class cruise missile da Classe Ohio, USS Georgia (SSGN-729), que estava na região desde o fim de setembro de 2024.

O ataque foi efetivado na noite de 21 de junho de 2025. Fordow, recebeu ao todo seis impactos diretos. Outros seis impactos foram feitos em Natanz. Ao todo, 12 MOP foram lançadas, sendo a primeira vez que ela foi usada em um conflito real. O SSGN-729 lançou 30 de mísseis de cruzeiro de ataque terrestre Tomahawk contra alvos-chave da infraestrutura de superfície em Isfahan. O ataque não eliminou o projeto nuclear do Irã, apenas o atrasou em meses. A Midnight Hammer entrou para a história como uma das operações militares mais impressionantes e ousadas já realizadas. Ela mobilizou de mais de 125 vetores para atingir dois alvos a mais de 11 mil quilômetros de distância (+ de 22 mil ida e volta), com mais 163 toneladas de explosivos, em uma missão de 37,4 horas sem escalas por B-2A! Foi a segunda mais longa missão já feita pelos B-2, perdendo apenas para o ataque ao Afeganistão entre 7 e 8 de outubro de 2001 na OEF, com 44,3 horas.

Vale lembrar que Israel, além da frente aberta contra o Irã, estava envolvido em ataques na Faixa de Gaza contra Hamas, Líbano contra o Hezbollah, Iêmen contra os Houthis, Síria, rebeldes, e também para proteger a minoria Drusa. Em 16 de julho de 2025, Israel realizou ataques aéreos contra vários prédios governamentais em Damasco, na Síria, incluindo o quartel-general militar e as proximidades do palácio presidencial. Esses ataques mataram pelo menos três pessoas e feriram outras 34.

A força e a capacidade destrutiva de Israel ficaram demonstradas em setembro de 2025, quando de 8 a 10 (72 horas), de segunda-feira a quarta-feira, Israel bombardeou locais em Gaza, Líbano, Síria, Tunísia, Iêmen e no Catar. Esse último alvo foi sem dúvida uma missão ousada não só pela distância, 2.000 km, mas por ser em meio a uma cidade um dos países árabes mais importantes do mundo.

Sumit of Fire

A Operação Cúpula de Fogo (Operation Sumit of Fire), também chamada de Operação Dia do Julgamento, foi o nome dado à missão de eliminar de forma ousada lideranças do Hamas exiladas em Doha. Ela é parte de uma série de assassinatos programados, cuidadosamente estudados pelo Mossad (serviço secreto), IDF (Forças de Defesa de Israel) e ISA (Agência de Segurança de Israel).

O ataque de precisão contra a alta liderança do Hamas na capital do Catar foi planejado por mais de dez meses, com agentes infiltrados em Doha, observando todos os passos e locais onde estavam hospedados. Esta parece ser a primeira vez que forças israelenses atacam abertamente alvos no Catar, marcando uma expansão significativa nas operações do país contra o Hamas.

Líder do Hamas Khalil al-Hayya, principal alvo do ataque de 9 de setembro. Foto: Khalil Hamra.
Líder do Hamas Khalil al-Hayya, principal alvo do ataque de 9 de setembro. Foto: Khalil Hamra.

Mas o que o Hamas fazia no Catar? Esse país tem sido um dos principais apoiadores financeiros da organização militante palestina Hamas, transferindo mais de US$1,8 milhão ao Hamas ao longo dos anos. Estima-se que ao menos US$ 30 milhões mensais sejam enviados ao Hamas. O Catar já foi chamado de “o mais importante financiador e aliado estrangeiro do Hamas”. Em 2011, os Estados Unidos solicitaram que o Catar fornecesse uma base para a liderança do Hamas, visando facilitar as comunicações com o grupo. A partir de 2012, o Catar passou a hospedar a liderança do partido Hamas quando seu chefe, Khaled Mashal, se mudou da Síria para Doha. De 2018 a 2023, o governo de Israel permitiu e aprovou o apoio do Catar ao Hamas por razões políticas e interesses de inteligência.

O ataque de outubro de 2023 mudou tudo. Em maio de 2024, os Estados Unidos haviam instado o Catar a remover os líderes do Hamas de seu território se eles se recusassem a aceitar um acordo de reféns com Israel. Focando em resolver a questão dos reféns de 7 de outubro, o Catar estava revisando manter o escritório do Hamas em Doha como parte de uma avaliação mais ampla do seu papel como mediador na guerra de Gaza. Vale ressaltar que o Catar era o principal mediador do conflito.

Em novembro de 2024, surgiram relatos de que o Catar havia encerrado sua mediação entre Israel e o Hamas e ordenado que o grupo deixasse o país após pressão dos EUA. O Catar tem sido um jogador curioso, pois além de abrigar o braço político do Hamas, tem boas relações com o Irã e ao mesmo tempo com Israel e os EUA, e abriga o maior contingente de americanos no Oriente Médio, na Base Aérea da Força Aérea do Catar de Al Udaid (OTBH).
Reunião urgente

O chefe do Estado-Maior das FDI, tenente-general Eyal Zamir (à esquerda) e o chefe do Mossad, David Barnea (à direita), questionaram o momento dos ataques, já que as negociações para um cessar-fogo em Gaza estavam em andamento. Fotos AFP.
O chefe do Estado-Maior das FDI, tenente-general Eyal Zamir (à esquerda) e o chefe do Mossad, David Barnea (à direita), questionaram o momento dos ataques, já que as negociações para um cessar-fogo em Gaza estavam em andamento. Fotos AFP.

Uma sensação de urgência pairava sobre a reunião de paz em 8 de setembro. O primeiro-ministro do Catar sentou-se em frente ao negociador-chefe do Hamas, Khalil Al-Hayya sob a bandeira marrom e branca do país do Golfo na noite de segunda-feira. Os dois já haviam se encontrado diversas vezes em conversas que muitas vezes se mostraram infrutíferas.

Mas dessa vez foi diferente, pois os EUA tinham acabado de apresentar uma nova proposta de cessar-fogo que poderia pôr fim à guerra de quase dois anos em Gaza. E o xeque Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani pressionava Al-Hayya a aceitar.

A discussão terminou pouco antes das 21h30, segundo uma fonte familiarizada com a reunião, mas o trabalho de verdade estava apenas começando. Após a saída de Al-Hayya, os negociadores do Catar telefonaram para seus colegas israelenses para atualizá-los sobre o incipiente esforço de cessar-fogo.

Ao contrário da maioria das propostas, que vieram do Catar e do Egito, os dois principais mediadores capazes de dialogar com os EUA, Israel e Hamas, esse plano veio diretamente do governo Trump. Negociadores catarianos se encontraram com o enviado dos EUA, Steve Witkoff em Paris na semana anterior, e o presidente dos Estados Unidos Donald Trump queria ver progressos.

No domingo (07/09), Trump emitiu o que descreveu como seu “último aviso” ao Hamas para que aceitasse o acordo. Ele alegou prematuramente que Israel havia aceitado a proposta, embora autoridades israelenses tivessem apenas dito que a estavam “considerando seriamente”. Caberia ao Catar transformar a proposta em acordo.

Um KC-707 Re’em (Búfalo) do 120 Sq sediados em Nevatim (LLNV) reabastece aeronaves F-35I Adir da IAF. Assim como no ataque ao Irã, o ataque ao Catar exigiu reabastecimento em voo para os F-35I e F-15D. Foto: IAF.
Um KC-707 Re’em (Búfalo) do 120 Sq sediados em Nevatim (LLNV) reabastece aeronaves F-35I Adir da IAF. Assim como no ataque ao Irã, o ataque ao Catar exigiu reabastecimento em voo para os F-35I e F-15D. Foto: IAF.

A ligação entre as equipes de negociação do Catar e de Israel durou até 5h da manhã. O Hamas havia prometido responder aos negociadores do Catar em até 12 horas. Mas Israel tinha outros planos.

O fato é que nada havia mudado para Israel, nem a saída do Hamas do Catar nem as negociações de paz evoluíram, ao menos para Israel, que tinham os líderes do grupo terrorista um entrave. A operação Summit of fire ia ser disparada, custasse o que custasse.

Alvos e preparação

O ataque levou “meses para ser preparado e dois meses para ser refinado” e envolveu além de agentes do Mossad e ISA, todo um estafe da IAF, que na prática era o que faria a coisa se materializar. Os preparativos se intensificaram nas últimas semanas para uma operação militar ao mesmo tempo ousada e descarada: um ataque contra altos líderes do Hamas em Doha.

A cidade havia se tornado um centro vital para negociações de libertação dos reféns e para pôr um fim à guerra. Frequentemente era visitada por altos funcionários israelenses. Porém, a operação não era uma unanimidade. Altos oficiais israelenses, incluindo o chefe do Estado-Maior das FDI, Tenente-General Eyal Zamir e o chefe do Mossad, David Barnea, questionaram o momento dos ataques, já que as negociações para um cessar-fogo em Gaza estavam em andamento com chance de ser fechadas, e isso poderia pôr tudo a perder. Eles vinham participando de ações de negociações em Doha nos últimos meses. Suas posições contrárias os tiraram de algumas das principais decisões de segurança de Israel, já que Netanyahu priorizava as demandas dos parceiros de coalizão de extrema direita. Zamir se opôs ao plano do governo de tomar e ocupar a cidade de Gaza, alertando que isso colocaria em risco os soldados e os 48 reféns restantes e faria de Israel um “vilão”. Suas preocupações foram ignoradas. Em fevereiro, Barnea foi substituído como chefe da equipe de negociação de Israel por Ron Dermer, confidente de Netanyahu.

A decisão final seria exclusivamente do premier israelense, e ele e seu gabinete concluíram que atacar o Catar valia o risco. Nas últimas semanas, acelerou-se o planejamento para a missão complexa e de longo alcance. Enquanto as IDF avançavam com o ataque à cidade de Gaza, a Força Aérea Israelense se preparava para o que seria o primeiro ataque israelense a uma nação árabe do Golfo. Tudo se resumia a uma questão de quando, pois onde, isto é, o endereço, já tinha CEP.

No alto: um F-15D Baz armado com um Silver Sparrow. Acima um F-15I com um Blue Sparrow. Ao lado dele, alguns dos mísseis balísticos de Israel, incluindo, o Silver Sparrow usado no Catar. Fotos IAF. Arte via X.

Seriam 12 caças, duas aeronaves de reabastecimento em voo, e outras de apoio eletrônico e suporte. A data escolhida foi 9 de setembro, terça-feira, supostamente em um local em que todos os alvos estariam reunidos, justamente para discutir uma nova proposta de paz e libertação dos reféns israelenses.

Mas quem eram os alvos?

De acordo com relatos, os alvos incluíam várias figuras importantes do Hamas. Entre elas Khalil al-Hayya, líder sênior em Gaza; Zaher Jabarin, responsável pelas operações do Hamas na Cisjordânia; Muhammad Ismail Darwish, chefe do Conselho Shura do grupo; e Khaled Meshal, ex-líder geral do Hamas e chefe do seu braço internacional. Além desses, outros nomes de peso figuravam na mesa de reunião incluindo, Musa Abu Marzouk, Razi Hamad, Izzat al-Rishq e Taher al-Nono.

A operação recebeu aprovação preliminar na segunda-feira, 8/08, de acordo com uma autoridade israelense. O Shin Bet (ISA), a agência de segurança interna de Israel, que tem a responsabilidade primária de monitorar o Hamas, tinha informação de que altos funcionários do Hamas estavam se reunindo em Doha para discutir a proposta que os EUA estavam apresentando. Não está claro se foi a mesma reunião em que o primeiro-ministro do Catar pressionou o Hamas a aceitar o acordo de paz. O alvo principal era Al-Hayya. Israel adiou a operação por um dia para consolidar a identificação, ou para garantir que o primeiro-ministro do Catar não estivesse lá. A aprovação final veio poucas horas antes do ataque.

Um F-15D do 106 Sq da IAF armado com um míssil de cruzeiro Silver Sparrow, que teria sido modificado para o ataque de precisão para causar menos efeitos colaterais, uma vez que seria usado em meio a um bairro residencial. Foto: IAF.
Um F-15D do 106 Sq da IAF armado com um míssil de cruzeiro Silver Sparrow, que teria sido modificado para o ataque de precisão para causar menos efeitos colaterais, uma vez que seria usado em meio a um bairro residencial. Foto: IAF.

A ordem final teria sido dada após agentes do Massad terem confirmado a presença na residência localizada no bairro de luxo West Bay Lagoon, em Doha, um bairro que abriga embaixadas estrangeiras e residências de alto padrão, associadas a personalidades, empresários e altos funcionários do governo. O objetivo era simples. Enfraquecer a liderança do Hamas e dar um novo rumo às negociações.

Oficialmente, Israel declarou que o ataque foi uma resposta aos atentados de 7 de outubro e ao tiroteio em Ramot Junction, ocorrido no dia anterior. O tiroteio no cruzamento de Ramo, ocorrido em 8 de setembro de 2025, foi um atentado em Jerusalém no qual dois homens armados abriram fogo contra passageiros de um ônibus. A ação resultou na morte de seis pessoas e deixou outras 21 feridas.

Paralelo à definição do momento exato, hora e dia da missão, a IAF já estava preparando as aeronaves para a longa missão. A escolha das aeronaves recaiu sobre os Boeing F-15D Baz e Lockheed Martin F-35I Adir. Nas bases de Nevatim (LLNV), lar dos Adir, G550 Nachshon Eitam (SIGINT) e também dos KC-707 Re’em, os preparativos foram intensos desde o dia 8 de setembro. O mesmo ocorreu na Base Aérea de Tel Nof (LLEK), sede dos F-15D do 106 Sq e do 133 Sq.

Vale ressaltar que algumas fontes dão que os F-15 usados, foram os F-15I Ra’am do 69 Sq, sediados em Tel Nof (LLEK); porém, não há uma confirmação oficial da IAF. A informação mais plausível é de que a missão foi dos F-15D, pois estavam habilitados para os mísseis escolhidos. Além disso, aeronaves de SAR e de apoio logístico e sistemas de manutenção estavam envolvidas na Summit of fire.

Mapa mostra o esquema tático da operação, com a missão sendo conduzida sobre o Mar Vermelho, sem escalas e com apoio de reabastecimento em voo. Arte: Leandro Casella.
Mapa mostra o esquema tático da operação, com a missão sendo conduzida sobre o Mar Vermelho, sem escalas e com apoio de reabastecimento em voo. Arte: Leandro Casella.

Armas

Segundo informação da IAF, foram empregados mísseis de cruzeiro lançados pelo ar para destruir o alvo. Foi necessária uma salva de 10 a 12 mísseis. Mas quais mísseis? Informações iniciais davam conta de que entre os vários sistemas da IAF, dois foram os escolhidos: o Elbit Systems Delilah e o Rafael Silver Sparow, ambos homologados para uso com os F-15, F-16 e F-35. Porém, o Delilah na prática era um candidato pouco provável, pois afinal, o lançamento teria ocorrido por volta da 2.000 km, muito acima dos 250 km de alcance do míssil da Elbit.

Então, por que o míssil Delilah foi cogitado ou apontado como participante? Os danos no local da explosão foram pequenos e localizados, consistentes com o uso de munição de alta precisão. O Delilah é um míssil de ataque de precisão, lançado do ar, conhecido por seu pequeno tamanho e ogivas precisas, que podem causar danos colaterais mínimos. É um dos menores mísseis de cruzeiro de Israel. A série Delilah de mísseis ar-superfície oferece capacidades operacionais únicas para busca de longo alcance, aquisição e ataque de precisão de alvos móveis, estacionários ou realocáveis de alto valor com um erro circular provável (CEP) de 1 metro (3 pés e 3 pol.) e um alcance de até 250 km e efetivo 200 km.

O que provavelmente foi usado? Apesar das características do Delilah corresponderem aos danos, especialistas sugerem que Israel usou um míssil balístico lançado do ar Rafael Silver Sparrow, com um alcance de 1.500 a 2.000 km. Essa tática “além do horizonte” do tipo “dispare e esqueça” provavelmente foi empregada para contornar as defesas aéreas sauditas e catari e evitar que os caças da IAF sobrevoassem a Arábia Saudita.

Flagrante da explosão sobre o local da reunião no bairro de luxo West Bay Lagoon, em Doha. Foto Via X.
Flagrante da explosão sobre o local da reunião no bairro de luxo West Bay Lagoon, em Doha. Foto Via X.

A versão Silver Sparrow pertence à família Sparrow, que possui as versões Blue (curto alcance), Black e Silver (médio alcance). Foi projetada para simular mísseis balísticos iranianos da classe Shahab-3 do Irã. Porém, há relatos que a IAF o estaria usando para missões de ataques a alvos, e que isso teria começado no conflito recente contra o Irã. Os simuladores de alvos Sparrow foram projetados para simular as trajetórias, manobras de reentrada e assinaturas de vários mísseis balísticos. Foram selecionados pelo Ministério da Defesa de Israel para testar os Sistemas de Defesa de Mísseis Arrow dos EUA/Israel. O Black Sparrow também foi selecionado por um país estrangeiro não informado. Os Sparrow oferecem representação fiel de ameaças de média a alta complexidade, e uma resposta abrangente aos requisitos de teste, treinamento de sensores e de interceptores de mísseis balísticos. Eles podem ser lançados do solo e do ar, proporcionando flexibilidade no cenário de testes.

Porém, em um ponto desconhecido, Israel converteu mísseis Black e Silver em mísseis balísticos de até 2.000 km de alcance com ogivas ativas, que podem ser lançadas de caças F-16D/I e F-15C/D/I. O Silver Sparrow possui uma ogiva de 150 kg e utiliza orientação GPS/Dual INS. Com isso, o desenho tático deve ter ficado assim na Summit of fire: os F-35I voaram como escolta para os F-15D lançarem os Silver Sparrow.

Foto de satélite mostra exatamente o complexo onde o Hamas estava hospedado e onde ocorreram as reuniões com as propostas de paz. Foi neste local marcado pelo retângulo vermelho, que a IAF lançou 1dez mísseis Silver Sparrow. Foto: Maxxar.

O ataque

Como sempre, o mundo foi surpreendido com o ataque de 9 de setembro, e, mais uma vez a notícia veio primeiro com vídeos em redes sociais, sem muita informação ou com informações desencontradas. O prédio, em um bairro nobre de Doha, é envolto por colunas de fumaça, com relatos de explosões após um ataque de mísseis ou bombas guiadas. À primeira vista, era um atentado. À segunda vista, vendo quem foi o alvo, era um ataque de Israel. E mais, um ataque de Israel por mísseis balísticos, feito por caças F-15 e F-35.

Mas por onde? De Israel ao Catar, são mais de 2.300 km, e ainda por cima, vários países pela frente, dependendo de que rota decidisse seguir. Para chegar pelo lado norte do Catar teria que sobrevoar Cisjordânia, Jordânia, (talvez Síria), Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, e ingressar no Golfo Pérsico. Violar esses vários espaços aéreos trariam problemas; porém, daria a garantia de poder atirar de uma distância mais favorável. Essa foi a rota imaginada e, talvez, que tenha inicialmente creditado os ataques aos Delilah, uma vez que poderia ser feito dentro do seu alcance operacional de até 250 km.

Porém, o cenário foi muito diferente do que a maioria imaginava inicialmente, isto é, o citado acima. Isso porque a expectativa era de que jatos israelenses voassem para o leste e depois descessem para o Golfo Pérsico antes de lançar seus mísseis, sem entrar no espaço aéreo do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC). Ao invés disso, eles foram para o sul, rumo ao Mar Vermelho.

A formação de caças era composta por quatro F-35I Adir de um dos esquadrões sediados em Nevatim (LLNV), provavelmente o 117 Sq, ladeados por oito caças F-15D Baz do 106 Sq e 133 Sq, esses armados com os mísseis Rafael Sliver Sparrow. Além desses, uma aeronave G550 Nachshon Eitam (SIGINT) e outra GV Nachshon Shavit (AEW), ambos do 122 Sq, também de Nevatim, estavam na área para promover inteligência de sinais (SIGINT) e alerta aéreo antecipado (AEW).

O objetivo é era monitorar, interferir e antecipar passos no caso da aeronave de SIGINT e, claro, monitorar o espaço aéreo ao redor das aeronaves de ataque e escolta, prevendo e antecipando qualquer interceptação ou ataque e “garantindo um caminho livre”. Junto com os caças, dois KC-707 Re’em do 120 Sq (Nevatim) também participaram da missão, fornecendo reabastecimento em voo (REVO) aos F-35I e F-15D. O voo direto e sem escalas chegou perto de 5h, entre decolagem, REVO, espera, ataque e regresso com novo REVO. Tudo em silêncio, rádio e com comunicações restritas, provavelmente, por mensagens criptografadas.

Sobre o mar, ao norte da cidade saudita de Jeda, começou uma espera para o “OK” final. Às 15h, dez mísseis foram lançados, atingindo o alvo com diferença de um a dois segundos, por volta de 15h46, hora local. Ao menos oito impactos puderam ser vistos, todos de precisão. Eles cruzaram o espaço aéreo da Arábia Saudita, sem ser notados. Não está muito claro o que a Arábia Saudita realmente pensa de tudo isso ou se sabiam. Provavelmente não, e como isso irá afetar as relações entre os dois países. Não está claro também se eles invadiram o espaço aéreo sobre o mar saudita. Provavelmente não. A Jordânia confirmou que não houve nenhuma violação do seu espaço aéreo, ratificando que o voo foi via Mar Vermelho, não havendo nenhum sobrevoo de países da região. Todos os aviões da IAF regressaram em segurança para suas bases.

O prédio em West Bay Lagoon semidestruído após o ataque dos caças israelenses a mais de 1200 quilômetros de distância. Foto: Via X.
O prédio em West Bay Lagoon semidestruído após o ataque dos caças israelenses a mais de 1200 quilômetros de distância. Foto: Via X.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu assumiu todo o crédito por ordenar o ataque.“Ao meio-dia de hoje, convoquei os chefes das organizações de segurança de Israel e autorizei um ataque cirúrgico e de precisão contra os chefes terroristas do Hamas”. Enquanto caças israelenses cortavam os céus em direção ao seu alvo, Netanyahu se abrigava no Centro de Comando de Operações Especiais do Shin Bet, no centro de Israel.

A maioria das baterias de defesa aérea não tem uma visão de 360 graus, e é provável que as baterias de mísseis MIM-104 Patriot do Catar estivessem voltadas para o Irã, não havendo cobertura para o Mar Vermelho que faz fronteira com a Arábia Saudita. Porém, mísseis balísticos voam na atmosfera superior ou até mesmo para o espaço antes de retornarem a uma velocidade muitas vezes superior à do som. Sendo assim, mesmo que a postos, as baterias Patriot não poderiam atingir tais altitudes ou velocidades na interceptação. Já um sistema Lockheed Martin THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) consegue fazer isso. O Catar encomendou um desses durante a visita do presidente norte-americano Donald Trump em maio de 2025.

De acordo com vários altos funcionários americanos informados sobre a operação, somente alguns minutos antes do ataque Israel notificou os militares dos EUA que estava realizando um ataque contra o Hamas. Inicialmente, os israelenses não forneceram informações precisas sobre o alvo, mas sensores espaciais operados pela Força Espacial dos EUA detectaram assinaturas de calor infravermelho projetadas pelo lançamento e pela trajetória dos mísseis, confirmando o alvo como Doha.

O U.S. Central Command (USCENTCOM) alertou o General Dan Caine, Chefe do Estado-Maior Conjunto, que por sua vez informou a Casa Branca. O presidente dos Estados Unidos instruiu o enviado especial Steve Witkoff a notificar o governo do Catar. Mas era tarde demais. O Catar afirmou que o alerta chegou cerca de dez minutos depois que os mísseis haviam atingido o local da reunião em Doha.

Resultados

O ataque fracassou porque Israel bombardeou um prédio próximo ao local onde altos funcionários do Hamas se reuniam, mas não o local exato. A precisão dos mísseis atrapalhou, pois, ao minimizar danos, preservou parte do complexo, não atingindo os alvos em um efeito colateral ou destruindo todo o complexo.

O primeiro-ministro do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, disse que as armas usadas não foram detectadas pelos radares da Qatar Emiri Air Force (QEAF).

Primeiro-ministro do país, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani. Foto: Karim Jaafar.
Primeiro-ministro do país, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani. Foto: Karim Jaafar.

O Hamas afirmou que seis pessoas foram mortas, mas que sua liderança sobreviveu ao ataque. As vítimas fatais foram identificadas como: Humam Al-Hayya (Abu Yahya), filho do negociador-chefe al-Hayya, Jihad Labad (Abu Bilal), diretor do escritório de al-Hayya; os seguranças Abdullah Abdul Wahid (Abu Khalil) Moamen Hassouna (Abu Omar), Ahmed Al-Mamluk (Abu Malik) e o Cabo Badr Saad Mohammed Al-Humaidi, forças de segurança interna do Catar. “Confirmamos o fracasso do inimigo em assassinar nossos irmãos na delegação de negociação”, disse um comunicado do Hamas.

Autoridades e analistas dizem que a pequena escala de danos fotografadas por satélite no Catar desqualifica vários tipos de mísseis, exceto alguns, que seriam usados em um ataque “stand-off” feito por aeronaves. A IAF não confirmou oficialmente o que foi usado, somente que foram mísseis balísticos ar-terra. O Sparrow inclui uma opção com ogiva inerte, o que pode explicar os danos limitados causados e o fato de um posto de gasolina próximo ao local do ataque não ter explodido.

Seu alcance estimado é de cerca de 2.000 km (1.240 nm). Um lançamento do Mar Vermelho até o local teria percorrido uma distância de até 1.700 quilômetros (1.055 nm). Mesmo uma ogiva inerte deve atingir com muita força cinética — digamos equivalente a algumas centenas de quilos (libras) de TNT. O uso de mísseis balísticos lançados do ar tem sido comum pela Rússia em sua guerra contra a Ucrânia, enquanto Moscou busca proteger suas aeronaves das defesas aéreas ucranianas. A China exibiu um míssil balístico lançado do ar com capacidade nuclear este mês, durante seu desfile do Dia da Vitória em setembro.

Israel possui diversas variantes de mísseis balísticos lançados do ar, publicamente conhecidas após o vazamento de documentos de inteligência dos EUA no ano passado. Entre elas estão o Golden Horizon e o IS02 ROCKS, que os documentos de inteligência sugeriram que Israel provavelmente poderia usar para atingir o Irã.

Consequências

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse no sábado (13/09) que eliminar chefes do Hamas que vivem no Catar removeria o principal obstáculo para a libertação de todos os reféns e o fim da guerra em Gaza. O ataque de 9 de setembro, que matou seis pessoas em Doha, interrompeu meses de negociações diplomáticas mediadas pelo país da Península Arábica para alcançar um cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hamas, que devasta a Faixa de Gaza há dois anos.

Muitos críticos de Netanyahu, inclusive dentro do seu governo, afirmam que o ataque foi feito justamente para interromper qualquer tipo de cessar-fogo, pois isso impediria uma tomada completa de Gaza. Cerca de uma semana após o lançamento dos Silver Sparrow, Israel iniciou uma ofensiva terrestre contra a Cidade de Gaza. Isso reacendeu a revolta na região em relação à guerra, enquanto o ataque a Doha gerou temores de que outros países da região também possam ser atingidos.

As IDF e a ISA (mais conhecida como Shin Bet) emitiram um comunicado conjunto após explosões que atingiram Doha em 9/09.

“As IDF e a ISA realizaram um ataque preciso visando a alta liderança da organização terrorista Hamas. Durante anos, esses membros da liderança do Hamas lideraram as operações da organização terrorista. São diretamente responsáveis pelo brutal massacre de 7 de outubro e têm orquestrado e administrado a guerra contra o Estado de Israel. Antes do ataque, medidas foram tomadas para mitigar os danos aos civis, incluindo o uso de munições precisas e inteligência adicional. As IDF e a ISA continuarão a operar com determinação para derrotar a organização terrorista Hamas, responsável pelo massacre de 7 de outubro”.

Um F-15D armado com uma Silver Sparrow decola a plena pós-combustão. O uso deste míssil de cruzeiro coloca em cheque os países da região, pois dá a Israel a capacidade de atingir qualquer alvo em um raio de 1500 quilômetros. Foto IAF.
Um F-15D armado com uma Silver Sparrow decola a plena pós-combustão. O uso deste míssil de cruzeiro coloca em cheque os países da região, pois dá a Israel a capacidade de atingir qualquer alvo em um raio de 1500 quilômetros. Foto IAF.

Na declaração, a IDF/ISA não fornece detalhes sobre como os ataques foram realizados. Uma declaração separada da IAF disse que a operação havia sido realizada “através” desse serviço, mas nenhum contexto adicional foi oferecido.

Por outro lado, formalmente o Catar protestou, apesar de nada mais ter sido feito.

“O Estado do Catar condena veementemente o covarde ataque israelense que teve como alvo prédios residenciais que abrigam vários membros do Birô Político do Hamas na capital do Catar, Doha. Esse ataque criminoso constitui uma violação flagrante de todas as leis e normas internacionais e representa uma séria ameaça à segurança dos catarianos e residentes no Catar”, afirmou em comunicado o Dr. Majed Al Ansari, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar e assessor do primeiro-ministro do país, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani. “O Ministério afirma que as forças de segurança, a defesa civil e as autoridades competentes começaram imediatamente a lidar com o incidente e tomar as medidas necessárias para conter suas repercussões e garantir a segurança dos moradores e das áreas vizinhas. Embora o Estado do Catar condene veementemente este ataque, confirma que não tolerará esse comportamento irresponsável de Israel e a contínua perturbação da segurança regional nem qualquer ato que vise sua segurança e soberania”, acrescentou Al Ansari. “Investigações estão em andamento no mais alto nível, e mais detalhes serão anunciados assim que estiverem disponíveis”.

Em Washington, o governo Trump “condenou o ataque unilateral de Israel ao Hamas em Doha, no Catar, enfatizando que ele minou os interesses dos EUA e de Israel”. Em uma publicação no Truth Social algumas horas após o ataque, Donald Trump disse que o ataque foi “uma decisão tomada pelo primeiro-ministro Netanyahu, não foi uma decisão tomada por mim”. Trump disse que, assim que foi notificado do ataque, ele “imediatamente ordenou” ao enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, que informasse o Catar, mas disse que a notificação havia sido feita “tarde demais” para impedi-lo. “Vejo o Catar como um forte aliado e amigo dos EUA e me sinto muito mal com o local do ataque”, disse ele na publicação, acrescentando que havia garantido aos seus líderes que “tal coisa não acontecerá novamente em seu território”. Ele acrescentou: “Bombardear unilateralmente o Catar, uma nação soberana e aliada próxima dos Estados Unidos, que está trabalhando arduamente e corajosamente assumindo riscos conosco para negociar a paz, não promove os objetivos de Israel ou dos Estados Unidos. No entanto, eliminar o Hamas, que lucrou com a miséria dos que vivem em Gaza, é um objetivo nobre”.

O primeiro-ministro do Catar, que havia pressionado o Hamas a aceitar a proposta um dia antes, ficou furioso, chamando o ataque de “terrorismo de Estado”.

Um F35I Adir é reabastecido em voo por um KC-707. Ao longo dos últimos meses a IAF refinou muito sua capacidade de atingir alvos a longas distâncias com uso do reabastecimento em voo. Com a chegada dos novos Boeing KC-46A, a IAF expandirá ainda mais essa capacidade, fazendo com que distância acima de 2.500 ok possam ser atendidas sem dificuldades. Foto: IAF.
Um F35I Adir é reabastecido em voo por um KC-707. Ao longo dos últimos meses a IAF refinou muito sua capacidade de atingir alvos a longas distâncias com uso do reabastecimento em voo. Com a chegada dos novos Boeing KC-46A, a IAF expandirá ainda mais essa capacidade, fazendo com que distância acima de 2.500 ok possam ser atendidas sem dificuldades. Foto: IAF.

Em uma entrevista exclusiva à CNN, Al-Thani disse: “Se observarmos o padrão de ações de Netanyahu desde 7 de outubro, desde que a guerra começou, ele tem tentado de forma muito sistemática minar qualquer chance de estabilidade, qualquer chance de paz e qualquer chance de recuperar seus próprios reféns”.

Esta parece ser a primeira vez que forças israelenses atacam abertamente no Catar, marcando uma expansão significativa nas operações do país contra o Hamas. Isso levantou questões urgentes sobre como tal ataque poderia ter sido realizado no coração de um estado do Golfo Pérsico.

O uso de mísseis balísticos lançados do ar, embora relativamente raro globalmente, tem sido observado em conflitos recentes. A Rússia os utilizou na Ucrânia para manter aeronaves fora do alcance das defesas aéreas, e a China exibiu uma versão com capacidade nuclear durante um desfile militar no início deste mês.

Para Israel, a tática demonstrou sofisticação técnica e introduziu uma nova dimensão às preocupações com a segurança regional. Ao pegar os sistemas de defesa do Catar e dos EUA desprevenidos, o ataque a Doha ampliou os temores entre os Estados do Golfo de que eles também possam ser alvos da caçada de Israel por terroristas. Afora as políticas do Governo de Israel, que hoje são questionadas, o fato é que a IAF vem se consolidando como a Força Aérea mais operacional da atualidade, capaz de prover suporte de combate a cinco, sete frentes, com alto grau de eficiência e bons resultados, e mais, sem perdas. Pouquíssimas, a ponto de se contar nos dedos, podem se igualar hoje em dia a IAF.

Um Boeing F-15D Baz da Israeli Air Force (IAF) visto em voo. Desde o 7 de outubro de 2023, os caças da IAF, em especial, os F-16C/D/I, F-15C/D/I e F-35A, têm sido o sustentáculo das diversas operações aéreas impostas por Israel a pelo menos sete países, além da Cisjordânia e, claro, da Faixa de Gaza. A última operação que foi ousada não só do ponto de vista militar, mas do ponto de vista diplomático, foi o ataque ao Hamas em território do Catar, feita em setembro passado na chamada Operação Summit of Fire. Os F-15D estavam lá!. Foto: IAF.
Nossa capa – Um Boeing F-15D Baz da Israeli Air Force (IAF) visto em voo. Desde o 7 de outubro de 2023, os caças da IAF, em especial, os F-16C/D/I, F-15C/D/I e F-35A, têm sido o sustentáculo das diversas operações aéreas impostas por Israel a pelo menos sete países, além da Cisjordânia e, claro, da Faixa de Gaza. A última operação que foi ousada não só do ponto de vista militar, mas do ponto de vista diplomático, foi o ataque ao Hamas em território do Catar, feita em setembro passado na chamada Operação Summit of Fire. Os F-15D estavam lá!. Foto: IAF.

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