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Matéria de Capa RFA 155 — MIDNIGHT HAMMER!!!

12 de agosto de 2025
Matéria de Capa RFA 155 — MIDNIGHT HAMMER!!!

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Em meio a um conflito entre Israel e Irã, o mundo assistiu a uma ousada ação dos EUA para frear a capacidade nuclear do Irã, realizando um ataque cirúrgico às instalações nucleares de Fordow, Natanz e Esfahan, empregando aeronaves B-2 Spirit e mísseis disparados por um submarino da US Navy. Batizada de Operação Midnight Hammer (Martelo da Meia-Noite), a ação foi forte, complexa e impressionante, mas deixou dúvidas, se, de fato destruiu ou apenas retardou as pretensões nucleares iranianas.

Leandro Casella

Mais uma vez, os Northrop Grumman B-2A Spirit protagonizaram um ataque a longa distância. Dessa vez, eles capitanearam a Operação Martelo da Meia-Noite (Midnight Hammer). Sete Spirits realizaram um ataque às plantas nucleares do Irã. Foto: USAF.
Mais uma vez, os Northrop Grumman B-2A Spirit protagonizaram um ataque a longa distância. Dessa vez, eles capitanearam a Operação Martelo da Meia-Noite (Midnight Hammer). Sete Spirits realizaram um ataque às plantas nucleares do Irã. Foto: USAF.

O pano de fundo da Operação Midnight Hammer foi outra operação, a Leão Ascendente, disparada por Israel na sexta-feira, 13 de junho, contra o Irã, que veio na esteira do conflito com o Hamas e nos ataques com mísseis “trocados” em duas oportunidades em 2024 pelos dois países.

Israel lançou uma grande ofensiva atingindo instalações nucleares, alvos militares, bases de mísseis, fábricas de armas, bases aéreas e infraestruturas, além de eliminar altos líderes da República Islâmica, considerados alvos específicos de alto valor. Isso incluiu o alto escalão da IRCG, IRIAF, IRIRN, cientistas e do Governo Xiita do Aiatolá (“sinais de Alá” ou “sinais de Deus”) Ali Khamenei.

O Presidente Americano Donald Trump teria desaconselhado o governo de Israel de uma ação mais ousada para matar Khameine, e assim derrubar o regime, plano que teria sido arquitetado por Israel. Fontes da imprensa de Israel afirmam que o Mossad teve a chance ideal para eliminar o líder supremo no primeiro fim de semana do conflito.

A Leão Ascendente é o resultado de anos de preparação, com o Mossad (agência de inteligência de Israel) sendo infiltrada em território iraniano para sabotar e preparar uma fábrica clandestina de drones – visando destruir os lançadores de mísseis, infiltrar armas, comandos e, claro, gerar interferência eletrônica nas comunicações e na defesa do Irã.

Aliás, foi o Mossad que armou uma falsa reunião com o alto escalão das forças armadas e do programa nuclear em um local considerado seguro por eles, que foi atacado por caças F-16I do 107 Sq da IAF. O Mossad usou “comunicações falsificadas por meio de canais iranianos” para convocar a reunião — o que atraiu com sucesso “toda a liderança sênior da Força Aeroespacial do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC), incluindo o comandante-geral Amir Ali Hajizadeh, seus representantes e pessoal técnico-chave, para um bunker fortificado nos arredores de Teerã”.

O ataque, feito no primeiro dia da guerra (13/06), matou pelo menos os 18 oficiais e seis civis, todos ligados ao projeto nuclear. Entre os principais generais estavam o General Hossein Salami, líder da Guarda Revolucionária do Irã (IRCG), que teve sua morte confirmada pela televisão estatal iraniana. Os seis civis eram engenheiros e químicos principais do projeto nuclear iraniano. Algumas fontes relatam que 30 militares e 14 cientistas foram mortos nesse ataque em um local secreto (nem tão secreto) em Teerã.

Jerusalém afirmou ter realizado um “ataque preciso e preventivo” contra o Irã, declarando que seu programa nuclear era ameaça iminente e, na sequência, anunciou estado de emergência nacional enquanto os cidadãos se preparavam para retaliações. Autoridades de alto escalão alertaram para um potencial conflito, observando que Teerã tinha o poder de infligir sofrimento significativo a Israel. O aeroporto de Ben Gurion (LLBG/TLS), o principal de Israel em Tel Aviv, ficou fechado por dias e, ao longo do conflito, vários voos foram cancelados na região.

Muitas ondas de ataques israelenses foram relatadas em todo o Irã por várias horas, começando por volta das 3 horas (horário local) e se estendendo pela manhã. Mais de 200 aeronaves da Força Aérea Israelense estiveram envolvidas nos ataques iniciais, e caças lançaram mais de 330 munições contra cerca de 100 alvos, como informou as Forças de Defesa de Israel (IDF).

A Operação Leão Ascendente foi direcionada ao programa nuclear iraniano — os militares avaliaram que o país atualmente tem urânio enriquecido suficiente para construir 15 bombas nucleares, bem como fábricas de mísseis balísticos e suas capacidades militares, segundo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e os Comandantes das forças de defesa israelenses (IDF).

O ataque americano veio na esteira do conflito Israel x Irã, iniciado em 13 de junho com a Operação Leão Ascendente, em que o objetivo das Forças de Defesa de Israel (IDF) era neutralizar o programa nuclear e as fábricas e sítios de mísseis do país persa. Na imagem, caças F-15 Ra’am do 69 Sq da Israeli Air Force (IAF) taxiam para uma missão de ataque ao Irã. No primeiro dia, mais de 200 caças israelenses estavam sobre o Irã. Foto: IAF.
O ataque americano veio na esteira do conflito Israel x Irã, iniciado em 13 de junho com a Operação Leão Ascendente, em que o objetivo das Forças de Defesa de Israel (IDF) era neutralizar o programa nuclear e as fábricas e sítios de mísseis do país persa. Na imagem, caças F-15 Ra’am do 69 Sq da Israeli Air Force (IAF) taxiam para uma missão de ataque ao Irã. No primeiro dia, mais de 200 caças israelenses estavam sobre o Irã. Foto: IAF.

Israel disse que não tinha escolha a não ser atacar o Irã, acrescentando que havia reunido informações de que Teerã estava se aproximando do “ponto sem retorno” em sua busca por uma arma nuclear. “O regime iraniano vem trabalhando há décadas para obter uma arma nuclear. O mundo tentou todos os caminhos diplomáticos possíveis para impedir isso, mas o regime se recusou a parar”, disseram os militares em um comunicado. Foram 13 dias de confronto, que só terminariam com a interferência dos EUA.

Durante todos os 12 dias a aviação israelense atacou diuturnamente o Irã em missões complexas e distantes que obrigatoriamente tinham que sobrevoar a Síria e o Iraque ou a Jordânia e o Iraque para, então, ingressar no espaço aéreo do Irã.

Os caças israelenses voaram mais de 2.300 quilômetros dentro do território do Irã sem ser incomodados. Israel ainda alega ter conseguido superioridade aérea a ponto de criar uma “estrada para Teerã”. A maioria dos voos, para cobrir em média 1.500 km de ida e mais 1.500 km de volta, precisou de Reabastecimento em Voo (REVO), o que foi feito pelos KC-707 Re’em (Búfalo) do 120 Sq sediados em Nevatim (LLNV). Somente os F-16I Sufa (Tempestade) e F-15I Ra’am (Trovão) tinham a “força” de ir e vir sem a necessidade de dois REVOS (ida e volta). Eles também eram os únicos a cumprir missões sem REVO, trocando combustível em tanques externos ou conformais, por menos armas. Os F-16I foram os grandes protagonistas dos ataques. Foram feitas mais de 600 missões de REVO na Leão Ascendente e mais de 1.000 surtidas de combate. Isso gerou problemas para a IAF. A frota envelhecida de KC-707 tem dificuldades de manter o ritmo. Fontes não confirmadas dizem que a IAF teve ajuda de reabastecedores da USAF. Informação negada e não bem-vista pela USAF. No entanto, todos os pilotos e tripulações da IAF que participaram dos ataques na Leão Ascendente retornaram ilesos às suas bases, o que vale para os pilotos de F-15C Baz, F-15I, F-16C/D/I e F-35I Adir, além é claro, das tripulações de KC-707, que atuaram em missões de reabastecimento em voo. Não há registro sequer de aeronaves danificadas.

A declaração de “uma estrada para Teerã” traz um fato importante: de que Israel obteve desde o primeiro dia total superioridade aérea sobre o espaço aéreo do Irã. Não há nenhum relato dando conta de que a aviação da Islamic Republic of Iran Air Force (IRIAF) sequer tenha tentado interceptar as aeronaves israelenses, mostrando que as quase 550 aeronaves de combate, como os veteranos F-4D/E, F-5E/F, F-5E Saeghe, F-14A, F-1BQ/EQ, F-7N, FT-7N, MiG-29A e Su-24MK, não conseguiram defender o país. A tão badalada IRIAF, superestimada pelo regime dos aiatolás, se mostrou uma força aérea de desfile militar.

Além de não defender o país, o Irã não enviou aeronaves de combate tripuladas (apenas UAS kamikazes) para o espaço aéreo israelense. Já a IAF “alugou” o espaço aéreo iraniano, chegando a ter mais de 220 aeronaves de combate tripuladas e não tripuladas sobre o país persa, atacando múltiplos alvos ao mesmo tempo. Houve apenas três UAS perdidos durante um conflito, sendo dois Hermes 900 e um IAI Heron. Redes sociais da mídia estatal do Irã fizeram muitas postagens de vitórias sobre as aeronaves da IAF, entre elas relatos sem comprovação de que poderiam ter abatido um F-35I. Uma guerra midiática, nada além disso.
Onde estava a IRIAF? Das cerca de 550 aeronaves do inventário, consta que somente metade estaria em condições mínimas de atuar. São vetores antigos, muitos de origem americana e da era soviética que sofrem com falta de suprimento, manutenção, e dependem, no caso das americanas, de engenharia reversa e canibalização para manter a linha de voo operacional. Até mesmo os Su-35E recém adquiridos da Rússia não foram entregues (foram cancelados). Esse seria o vetor mais moderno da IRIAF. Isso explica muito por que os F-16C/D/I, F-15C/D/I e F-35I dominaram o espaço aéreo.

A IAF atacou ao menos oito bases aéreas/aeroportos, e estampou vídeos destruindo aeronaves da IRIAF no solo, como F-14A, F-5E, MiG-29 e até KC-747 e IL-76 destruídos em aeroportos como Tehran Imam Khomeini International Airport (OIIE) e Tehran Mehrabad International Airport (OIII), ambos em Teerã, além das Bases Aéreas de Dezful/Vahdati (OIAD), Shahid Beheshti (OIFM), Mashhad/Shahid Hashemi Nejad (OIMM), Tabriz/Shaheed Fakouri (OITT), Bushehr/Yassini (OIBB) e Omidiyeh/Shahid Ardestani (OIAJ).

Porém, além dos sistemas de defesa, fábricas de drones e lançadores de mísseis, o principal objetivo era as usinas e plantas nucleares do Irã. Israel desde o primeiro dia atacou as plantas de enriquecimento de urânio em Natanz e Fordow; o centro de pesquisas de Bonab e Isfahan; Planta Nuclear de Arak e Ardakan. O foco principal foi Arak, Isfahan, Natanz e Fordow, os dois últimos os principais centros dedicados a produção de urânico enriquecido a fim de permitir a produção de uma bomba nuclear. Mas, apesar dos esforços, a IAF não possui armas capazes de perfurar o solo e atingir as instalações postadas a dezenas de metros abaixo da superfície. Natanz, por exemplo, está a mais de 60 metros da superfície.

Vale lembrar que Israel, além da frente aberta contra o Irã, estava envolvido em ataques na Faixa de Gaza contra Hamas, Líbano, Hezbollah, Iêmen, Houthis, Síria, rebeldes, e também para proteger a minoria Drusa. O desgaste das aeronaves, pilotos, equipes de solo e os gastos operacionais com combustível, munição, logística e encurtamento das diagonais de manutenção era alto e exigia emprenho extra, além de milhões de dólares.

A IAF conseguiu, desde o primeiro dia, superioridade aérea total sobre o Irã. Caças como F-16I (foto), F-16D, F-15C/D/I e F-35I não foram sequer importunados pelo caças da Islamic Republic of Iran Air Force (IRIAF). Segundo Israel, a IAF literalmente abriu “uma estrada segura para Teerã”. Foto: IDF.
A IAF conseguiu, desde o primeiro dia, superioridade aérea total sobre o Irã. Caças como F-16I (foto), F-16D, F-15C/D/I e F-35I não foram sequer importunados pelo caças da Islamic Republic of Iran Air Force (IRIAF). Segundo Israel, a IAF literalmente abriu “uma estrada segura para Teerã”. Foto: IDF.

Nos 12 dias de conflito (13 a 22 de junho), o revide o Irã ficou restrito a ataques com drones e mísseis balísticos, em grande parte interceptados pelo sistema de defesa das IDF e por helicópteros e caças da IAF. Porém, cerca de 3% “vazaram” as defesas e causaram diversos estragos e vítimas em Israel, em especial em cidades populosas, como Tel Aviv, Haifa, Jerusalém, Nes Ziona, Bat Yam e Tamra. Segundo as IDF, mais de 1.000 drones e 550 mísseis foram lançados pelo Irã. Ao todo as IDF admitem que 31 mísseis e cerca de 50 drones caíram em Israel, causando danos e vítimas.

A máxima de que a primeira vítima da guerra é a verdade não é diferente no caso deste conflito. Números conflitantes dos dois lados sobre alvos civis, ataque a áreas residenciais ou enganos e efeitos colaterais, são a tônica dos dois lados. Por exemplo, podemos citar o número de mortos no conflito. Israel afirma que foram 24 mortos e 3.228 feridos, com algumas fontes dando 28 pessoas mortas. Já no Irã, dependendo da fonte, os números vão de 430 a 1.062 mortos (ONG Human Rights Activists). A mídia estatal trouxe como 627 mortos, e depois corrigiu para 935. O número de feridos vai de 4.435 a mais de 5.500.

Guerra por procuração

Apesar de ser um conflito direto entre Israel e Irã, na prática ele foi também uma guerra por procuração, onde aliados de Israel têm influenciado e dado não só apoio político, como militar indireto, fornecendo armas, missões de inteligência e até interceptando mísseis e drones iranianos. O caso mais visível é o dos EUA, que contam com respaldo de países da OTAN, da Arábia Saudita e da Jordânia.

Por outro lado, China e Rússia têm validado o Irã, pois têm investimentos fortes nesse país em áreas nucelares, marítimas e comerciais. A China, por sua vez, teria inclusive, enviado aeronaves ao Irã, provavelmente com insumos ou mesmo armas, para ajudar na guerra contra Israel. Além disso, grupos terroristas como Hamas, Hezbollah, Houthis e Jihad Islâmica, entre outros, também estavam do lado iraniano. A Rússia tem boas relações com Israel e, por isso, Vladimir Putin declarou que era necessário evitar uma 3ª Guerra Mundial, que ocorreria com a escalada do conflito e entrada de outros atores.

O principal vetor da Leão Ascendente foi o Lockheed Martin F-16I Sufa, uma versão customizada do F-16D feito para a IAF. Com tanques externos e conformais, ele era capaz de ir e vir do Irã sem REVO. Na imagem, F-16I do 107 Sq. Foto: IAF.
O principal vetor da Leão Ascendente foi o Lockheed Martin F-16I Sufa, uma versão customizada do F-16D feito para a IAF. Com tanques externos e conformais, ele era capaz de ir e vir do Irã sem REVO. Na imagem, F-16I do 107 Sq. Foto: IAF.

Porém, os EUA não ficaram isentos por muito tempo. Apesar de ter declarado que não iriam interferir diretamente, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que os EUA “não estavam envolvidos” na ação “unilateral” de Israel contra o Irã, e que a principal prioridade era proteger as forças americanas na região e, que se isso fosse violado, a história iria mudar. O presidente Trump disse: “Os EUA defenderão a si mesmos e a Israel se o Irã retaliar”. Isso horas depois de Israel lançar ataques aéreos contra o Irã.

Donald Trump convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional na sexta-feira 13/01, às 11h, horário local (18h em Israel), para discutir o ataque. Os ataques ocorreram poucos dias antes da rodada seguinte de negociações entre os EUA e o Irã sobre o seu programa nuclear, naturalmente cancelado. Trump disse repetidamente que o Irã não deveria ter nem uma bomba nuclear, mas enfatizou que preferiria evitar esse resultado por meio de diplomacia em vez de ação militar. Ele pediu publicamente a Israel que não atacasse, com as negociações em andamento.

“O presidente Trump e o governo tomaram todas as medidas necessárias para proteger nossas forças e permanecer em contato próximo com nossos parceiros regionais”, acrescentou. “Deixem-me ser claro: o Irã não deve ter como alvo interesses ou pessoal dos EUA”.

Porém, o “buraco é mais embaixo” e a situação era muito diferente de uma guerra tarifária, onde o empresário Donald Trump lida mais à vontade e tem margem de “manobra”. Derrubar o regime pode criar um novo Iraque ou Líbia, onde o “caos passou a reinar” fomentando muitos dos problemas que vemos hoje. O Estado Islâmico (ISIS) nasceu assim. Além disso, o Irã pode se fragmentar e se dividir, com parte do país passando para o controle dos curdos, xiitas e azeris, entre outros. Afora as questões nucelares.

Atualmente, a IAF tem seis veteranas aeronaves Boeing KC-707 Re’em, que vão ser substituídas pelos KC-46A. Sem REVO, seria impossível realizar os ataques aos alvos iranianos. Foto: IAF.
Atualmente, a IAF tem seis veteranas aeronaves Boeing KC-707 Re’em, que vão ser substituídas pelos KC-46A. Sem REVO, seria impossível realizar os ataques aos alvos iranianos. Foto: IAF.

Ao longo de cinco dias, Trump ouviu outros países interessados, e decidiu esperar duas semanas para que “algo novo acontecesse”. Ou seja, que a guerra se resolva por si mesma e um cessar-fogo ocorra. Traduzindo: a rendição do aiatolá. Depois disso, uma ação militar poderia ser tomada para eliminar a capacidade de enriquecimento de urânio do Irã. A declaração de “um prazo de duas semanas” foi dada pela Casa Branca em 19 de junho. Portanto, o prazo final seria até o dia 3 de julho. Na prática, isso seria uma desculpa para ajudar Israel e eliminar o poder do Irã na região.

Não é segredo que o assunto pautou os EUA e diversos presidentes americanos nos últimos anos. Talvez a guerra com Israel fosse (e foi) um pretexto perfeito. Aliás, a possibilidade de queda do regime aguçou a lista de sucessores, a maioria dentro do próprio Irã, formada por opositores do regime e presos políticos. Até mesmo o filho mais velho do último xá do Irã, Reza Pahlavi, foi candidato à sucessão. Ele vive exilado nos EUA, na Virgínia.

Reza Pahlavi é filho do antigo xá Mohammad Reza Pahlavi e da imperatriz Farah Diba, e era o príncipe herdeiro antes da Revolução Islâmica de 1979. Após a revolução, ele e sua família foram exilados e se estabeleceram nos Estados Unidos, onde ele continuou os estudos universitários. Desde então, Reza Pahlavi tem se dedicado a atividades políticas, buscando o apoio internacional para uma transição democrática no Irã. Ele lidera o Conselho Nacional do Irã, um grupo de oposição exilado e tem feito aparições públicas e entrevistas para discutir a situação no Irã e promover a mudança política.

A missão do Irã nas Nações Unidas não respondeu imediatamente à situação proposta por Trump de esperar 14 dias. O secretário-geral das Nações Unidas António Guterres disse no dia 20 de junho que o conflito entre Israel e Irã pode “acender um fogo que ninguém poderá controlar. Nós temos que evitar isso”, disse o português ao comentar a guerra, que entrava em sua segunda semana. A reação internacional ficou dividida, mostrando uma falta de consenso e uma tendência simples de focar em seus interesses.

Para percorrer o trecho Israel-Irã, com voos em média de 1.500 km ida e mais 1.500 km volta (alguns, com duas pernas de 2.300 km), os caças da Israeli Air Force (IAF) contaram com o apoio dos KC-707 Re’em (Búfalo) do 120 Sq sediados em Nevatim (LLNV). Hoje, são seis aeronaves, que vão ser substituídas pelos KC-46. Foto: IAF.
Para percorrer o trecho Israel-Irã, com voos em média de 1.500 km ida e mais 1.500 km volta (alguns, com duas pernas de 2.300 km), os caças da Israeli Air Force (IAF) contaram com o apoio dos KC-707 Re’em (Búfalo) do 120 Sq sediados em Nevatim (LLNV). Hoje, são seis aeronaves, que vão ser substituídas pelos KC-46. Foto: IAF.

O chanceler alemão, Friederich Merz, disse que Israel tem o direito de se defender e que o Irã não deve desenvolver armas nucleares, acrescentando: “Pedimos a ambos os lados para se absterem de medidas que possam levar a uma nova escalada e desestabilizar toda a região”.

O presidente francês Emmanuel Macron disse que a França participaria da defesa de Israel no caso de um ataque iraniano ao país. O ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Noël Barrot, disse que a França “expressou repetidamente nossas sérias preocupações em relação ao programa nuclear do Irã”, e afirmou “o direito de Israel de se defender contra qualquer ataque”.

Já a Arábia Saudita condenou os “ataques hediondos” de Israel, dizendo que o Conselho de Segurança da ONU tem “uma grande responsabilidade de interromper imediatamente essa agressão”.

O Catar denunciou o ataque israelense como uma “violação flagrante” da soberania do Irã e uma clara violação do direito internacional.

O Hamas elogiou o Irã, dizendo que o país está “pagando o preço por suas posições firmes de apoio à Palestina e sua resistência, e por sua adesão a suas decisões nacionais independentes”.

Em resposta, o Irã passou intensificar seus ataques contra Israel e ameaçou mirar as bases regionais de qualquer país que tentar defendê-lo. “O Irã reserva-se o direito – conforme o direito internacional – de responder de forma decisiva a esse regime”, afirmou o funcionário. “Qualquer país que tentar defender o regime contra as operações do Irã verá, por sua vez, suas bases e posições regionais se tornarem novos alvos”, acrescentou.

As ameaças foram dirigidas diretamente aos EUA, Reino Unido e França, além de outros, como Alemanha e Jordânia. A mensagem criou um alerta, pois grupos terroristas financiados pelo Irã estariam dispostos a promover tais ataques. Hamas, Houthis e Hezbollah, além de grupos armados xiitas no Iraque e na Síria estão na lista de prováveis candidatos a “vingar” o Irã.

Ao todo, foram 125 aeronaves da USAF, entre B-2, KC-135R, KC-46A, F-22A, F-16CJ, F-35A e aeronaves de reconhecimento, na Midnight Hammer. Além dessas, várias aeronaves dos Grupos de Batalha dos porta-aviões CVN 69 e CVN 70 participaram das ações, em especial, caças F/A-18E/F e, principalmente, EA-18G, que, junto com os F-16CJ, fizeram missões de SEAD. Foi a maior operação de combate dos KC-46A até aqui. Foto: USAF.
Ao todo, foram 125 aeronaves da USAF, entre B-2, KC-135R, KC-46A, F-22A, F-16CJ, F-35A e aeronaves de reconhecimento, na Midnight Hammer. Além dessas, várias aeronaves dos Grupos de Batalha dos porta-aviões CVN 69 e CVN 70 participaram das ações, em especial, caças F/A-18E/F e, principalmente, EA-18G, que, junto com os F-16CJ, fizeram missões de SEAD. Foi a maior operação de combate dos KC-46A até aqui. Foto: USAF.

A segunda semana de guerra trazia muitos elementos novos, em especial no campo político. A única coisa que permanecia como algo factível era a promessa de Trump de duas semanas para uma solução diplomática ou um ataque. Muitos achavam que era um blefe, e outros, não. De fato, o que havia era as duas coisas. O blefe era o prazo. O ataque já havia sido decidido.

Interferência dos EUA com um blefe

A reunião na Casa Branca na sexta-feira 13, selou o destino do Irã. O ataque, que já estava planejado há meses, estava sobre a mesa, detalhado e pronto em termos de logística. Hoje fica evidente que a definição da data do ataque, era apenas o “OK” da USAF, isto é, a confirmação que tudo estava pronto e que as duas semanas era apenas um despiste.

Na madrugada de 15 de junho começou o deslocamento monstro de aeronaves da USAF para a Europa e o Oriente Médio, bem como o posicionamento de dois porta-aviões e diversos navios da US Navy na região. Não era preventivo. Era apenas uma questão de “arrumar as peças no tabuleiro” para a ação.

Vale lembrar que somente os EUA têm a bomba capaz de penetrar no solo – Boeing GBU-57A/B Massive Ordnance Penetrator (MOP) para aniquilar Bankers e estruturas subterrâneas. Com 13,6 toneladas, ela é capaz de penetrar 18 metros de concreto ou 61 metros de terra antes de explodir. Que todo o esforço de Israel, na segunda semana de guerra, era inútil, pois só atrasaria o programa nuclear do Irã.

A USAF já havia enviado um esquadrão de caças F-15E para a Jordânia, cerca de duas semanas antes, para ajudar a interceptar drones e mísseis iranianos no caso de um ataque a Israel em meio a campanha em Gaza. Em 15 de junho, mais de 30 aeronaves de REVO KC-135R Stratotanker e KC-46A Pegasus saíram dos EUA para a Europa, sem que a USAF explicasse os motivos (precisava?).

As aeronaves foram espalhadas por diversas bases aéreas na Europa, incluindo, Mildenhall, no Reino Unido, Lajes em Portugal, Ramstein, na Alemanha, Morón e Rota, na Espanha, Aviano, na Itália, além do Aeroporto Internacional de Prestwick, no Reino Unido. Outros aviões seguiram rumo ao sul, para a Grécia, Chipre Turquia, Emirados Árabes Unidos e Qatar.

Depois do Kosovo (1999), Operação Liberdade Duradoura – OEF (2001) no Afeganistão, Iraq Freedom – OEF (2003) no Iraque, Operação Odyssey Dawn (2011) na Líbia e Operação ISIS (2017) na Líbia, foi a vez do Irã em 2025. Na imagem, um dos B-2AA do 509th BW inicia o táxi para percorrer 11.100 km até o Irã. Foram mais de 22.300 e 37h40 de voo, a segunda missão mais longa feita pelos B-2. Foto: USAF.
Depois do Kosovo (1999), Operação Liberdade Duradoura – OEF (2001) no Afeganistão, Iraq Freedom – OEF (2003) no Iraque, Operação Odyssey Dawn (2011) na Líbia e Operação ISIS (2017) na Líbia, foi a vez do Irã em 2025. Na imagem, um dos B-2AA do 509th BW inicia o táxi para percorrer 11.100 km até o Irã. Foram mais de 22.300 e 37h40 de voo, a segunda missão mais longa feita pelos B-2. Foto: USAF.

Só em Lajes, Açores foram 9 KC-135R e mais 3 KC-46 estacionados. Ao todo, 36 reabastecedores ficaram de prontidão na região. Cada aeronave de REVO levou consigo nesses traslados ao menos quatro caças F-22A e F-35A vindos dos EUA, que na Europa se juntaram a outros F-35 e F-15E, além dos F-15 e F-16 postados no Oriente Médio (Catar, Jordânia, Emirados Árabes e Arábia Saudita). Além disso, aeronaves de reconhecimento (ISR), alerta aéreo antecipado (AWACS) e inteligência eletrônica (ELINT), faziam seu papel de coleta de dados. A USAF tinha mais de 170 aeronaves na região. Os Grupos de Batalha dos porta-aviões USS Nimitz (CVN 68) e o USS Carl Vinson (CNV 70) também foram posicionados na região, com uma frota juta de mais de 170 aeronaves, submarinos e navios de guerra. O ataque seria feito com bombardeiros B-2 armados com as MOP. Se somadas as os B-2 e os reabastecedores nos EUA, em torno de 200 aeronaves da USAF estavam de algum jeito envolvidas na missão.

Em meio à mobilização, o presidente americano Donald Trump disse em coletiva no dia 20 de junho que ainda não havia tomado uma decisão, e que essa seria somente dele. Ele avisou que iria pensar nas próximas duas semanas sobre o assunto, isto é, se realizaria ataques aéreos ao lado de Israel contra o Irã ou se faria algo isolado.

As tais duas semanas, segundo a imprensa americana, são um mantra de Trump, que costuma “dar este tempo” em vários assuntos de relevância. Dessa vez, as duas semanas foram um blefe do pôquer.

Martelo da meia-noite

Segundo o Pentágono, o plano, batizado de Midnight Hammer ou Martelo da Meia-Noite, foi uma ação panejada por meses e revisada constantemente. Fontes da imprensa dos EUA falam em mais de 18 meses de planejamento. Isso significa que não foi feita especificamente para a administração Trump, mas era algo que podia ter sido utilizado pelo Presidente Joe Biden.

Desde o primeiro esboço, o plano foi moldado em torno de uma dupla: o bombardeiro stealth Northrop Grumman B-2A Spirit e a bomba de penetração Boeing GBU-57A/B MOP. Todo o resto envolvido seria voltado para o apoio, atuando como coadjuvantes. A GBU-57A/B, que só pode ser disparada pelos B-2, é a única capaz de penetrar e destruir as instalações postadas a metros abaixo da terra. A MOP se tornou uma “desculpa” para os EUA? Provavelmente sim. Mesmo assim, seriam necessários múltiplos disparos para danificar efetivamente as profundas de Fordow e Natanz.

A operação foi “disparada” no contexto da guerra Israel x Irã, iniciada pelos israelenses no dia 13/06, com objetivo simples, em tese, de eliminar o projeto nuclear iraniano. Segundo o General Michael Erik Kurilla, Comandante do U.S. Central Command (US CENTCOM), que liderou as ações, pouquíssimas pessoas sabiam, e ela era considerada uma ação ultrassecreta. Após os ataques, veio à tona que o planejamento e as constantes revisões vinham sendo feitas em cima da degradação das tentativas do Irã em abdicar do enriquecimento de urânio, bem como de impedir as verificações pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e mascarar suas intenções. O que faltava era uma desculpa para agir. O conflito Israel x Irã deu essa desculpa, e Trump foi aconselhado fortemente a autorizar, sob pena de perder a janela de oportunidade, resultando, inclusive, em um conflito maior na região.

Os Spirits não entraram sozinho no Irã. Eles foram acompanhados por caças Lockheed Martin F-22A Raptors do 94th FS da 1st FW e F-35AA da 48th FW. Além disso, aeronaves F-16CJ e F-15E também cobriram o caminho, com apoio de caças F/A-18E/F e EA-18G da US Navy. Foto: USAF.
Os Spirits não entraram sozinho no Irã. Eles foram acompanhados por caças Lockheed Martin F-22A Raptors do 94th FS da 1st FW e F-35AA da 48th FW. Além disso, aeronaves F-16CJ e F-15E também cobriram o caminho, com apoio de caças F/A-18E/F e EA-18G da US Navy. Foto: USAF.

Não era segredo que Israel estava atacando diariamente e enfraquecendo as plantas nucleares de Fordow, Natanz e Esfahan. Mas para aniquilar ou inutilizá-las era preciso obter ajuda dos EUA. Arak já havia sido inutilizada na semana de 15 a 19 de junho por caças F-15I e F-16I da IAF.

Depois de oito dias de hostilidades, com ataques mútuos e com a IAF tendo conseguido superioridade aérea total sobre o Irã, as tensões diplomáticas cresceram com ameaças e pressões de todos os lados. Os EUA, desde o início, se posicionaram por dialogar, mas também a favor de aniquilar o programa nuclear do Irã. Depois de várias ameaças, tentativas de acordos, o presidente Donald Trump deu um prazo de duas semanas para o Irã e o Aiatolá Ali Khamenei se “resolver” e fazer uma rendição incondicional – algo não aceito pelo Irã. Curiosamente, o aviso foi dado no dia 19/06, mesma data em que os B-2 começaram ser preparados para a missão, após todo o staff de caças, reabastecedores, aeronaves especializadas e a US Navy dar o “OK, estamos em posição”. A janela de oportunidade se abriu. E o aviso foi somente um blefe de Trump, uma distração, pois ele já estava decidido a aproveitar a oportunidade.

Claro que o ataque dos EUA, autorizado por Trump, não estava isento de polêmicas (como quase tudo que ele faz) e em relação a questões como autorização do congresso; apoio do Conselho de Segurança da ONU, 100% do apoio de aliados e mesmo aprovação interna, somente 19% dos americanos concordavam com o ataque, bem como com as consequências dele.

Em Whiteman AFB, no Missouri, única base da USAF a sediar os B-2, desde o dia 15 de junho o movimento era intenso, com sinais de que algo iria acontecer. Vale lembrar que a Base e o 509th Bomber Wing (509th BW) não sabiam detalhes da operação secreta, que só foi divulgada às vésperas do voo (19/07), ou melhor, após a autorização presidencial. A informação preliminar era para manter prontidão para uma futura operação, após encerrar o prazo dado ao Irã. No mesmo dia do ultimato, a coisa mudou em Whiteman.

Foram separados 15 B-2 do 325th Bomber Squadron (325th BS) e o 393rd Bomber Squadron (393rd BS), ambos vinculados a 509th BW, subordinados ao Comando de Mobilidade Aérea (AMC), para a missão. Algo grandioso. Pois só foram fabricadas 21 unidades e, dessas, apenas 19 estavam em serviço (uma foi perdida em acidente em Guam em 28 de fevereiro de 2008 e outra em Whiteman AFB em 10 de dezembro de 2022) e três estavam em manutenção programada, isto é, dos 16, 15 foram preparados para o voo. Algo espetacular, mostrando uma disponibilidade de quase 85% da frota. Dos 15 B-2, 13 seriam usados na missão e dois eram reservas, igualmente com tripulação reserva, para substituir qualquer aeronave com uma eventual pane na saída de Whiteman. Inclusive foram acionadas no dia junto com os demais (titulares), regressando aos hangares após não haver panes.

A “Hammer” colocou o Northrop Grumman B-2A pela 6ª vez em ação em um conflito real. Depois do Kosovo (1999), Operação Liberdade Duradoura — OEF (2001) no Afeganistão, Iraq Freedom — OEF (2003) no Iraque, Operação Odyssey Dawn (2011) na Líbia e Operação ISIS (2017) na Líbia, foi a vez do Irã em 2025. Entrevista no Pentágono no dia 22/06 proferida pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto da USAF, General Dan “Razin” Caine. AP. esta foi a maior e mais complexa ação já realizada pelos B-2, além de ser a segunda missão de maior duração desde quando os Spirits entraram em serviço na USAF, com 37 horas e 40 minutos. A primeira e mais longa ainda é o ataque ao Afeganistão entre 7 e 8 de outubro de 2001 na OEF, com 44,3 horas.

Seis B-2 “Isca”

Noite de 20 de junho de 2025 – sexta-feira. Decolam de Whiteman AFB seis B-2A rumo ao Pacífico. Imediatamente, as redes sociais começam a pipocar com informações. As primeiras davam conta de que seis B-2 estavam indo na direção de Andersen AFB, em Guam. Logo, dois cenários poderiam acontecer. Estavam indo para Guam aguardar o fim do prazo ou já estariam rumo ao Irã para atacar as plantas de Fordow, Natanz e Esfahan.

A segunda alternativa estava parcialmente correta. O ataque havia sido autorizado, só que não viria de Guam.

Mapa mostra a posição das principais plantas nucleares iranianas. Ali são apresentados os 8 dos 18 locais mais importantes e que foram alvos dos ataques de Israel. Três deles – Isfahan, Fordow e Natanz – foram atacados pelos EUA. Arte: Teo Nascimento.
Mapa mostra a posição das principais plantas nucleares iranianas. Ali são apresentados os 8 dos 18 locais mais importantes e que foram alvos dos ataques de Israel. Três deles – Isfahan, Fordow e Natanz – foram atacados pelos EUA. Arte: Teo Nascimento.

Engenhosamente, havia sido criado um embuste, uma distração, talvez usando as redes sociais para balizar a distração, chancelada pelos sites de monitoramento de voos, que rapidamente dariam voz a sites e redes sociais, indicando que os B-2 estavam vindo pelo Pacífico.

A Operação Midnight Hammer havia começado na virada de 20 para 21 de junho. As aeronaves do “embuste” começaram a decolar de Whiteman uma a uma. A última saiu do solo às 23h47 ETD – horário do leste EUA (3h47 UTC). O mundo e os iranianos passaram a olhar para aquilo minuto a minuto, e em pouco tempo a imprensa só falava da situação, porém, com a dúvida de que se era só mais um “cerco” à espera das duas semanas dadas por Trump para uma decisão do Aiatolá Ali Khamenei, ou o ataque propriamente dito.

Com código-rádio METEE11, MYTEE12 e MYTEE13, a primeira esquadrilha de B-2A decolou para o primeiro reabastecimento em voo (REVO), seguido da segunda esquadrilha com código rádio MYTEE21, MYTEE22, MYTEE23. Todos seguiram para o primeiro REVO ainda sobre os EUA. Os B-2A da 509th Bomb Wing reabasteceram com ao menos oito KC-135R da USAF entre eles os 58-0034, 58-0046, 60-0350, 60-0351, 63-0505, 63-7987 e 63-8027, com códigos-rádio NITRO61 a NITRO64 e NITRO71 a NITRO74. Após reabastecer, os Spirits seguiram para o Pacífico, mais precisamente para a costa de São Francisco/CA.

A missão prosseguiu rumo ao largo da costa da Califórnia, onde já na madrugada de 21/06, os MYTEE 11/12/13/14 e MYTEE 21/22/23 transmitiram pela rádio HF da FIR São Francisco que estavam seguindo em rota pela aerovia AR5 West High, após o REVO com 4 KC-46A com código-rádio HIFI 81 (USAF 17-46035), HIFI 82 (USAF 18-46045), HIFI 83 (USAF 16-46016) e HIFI 84 (USAF 16-46012).

A partir daí, outra sessão de REVO com mais 4 KC-135R foi feita sobre o Havaí, antes dos B-2 tomarem a proa de Guam. Aqui, a missão “some”, pelo menos dos sistemas de monitoramento de voos. Na verdade, ela não tinha permissão para ir para além de Guam, onde pousaram.

A retirada, ou melhor, a colocação dos olhares do mundo para o Pacífico foi genial. Por vários momentos, a imprensa convencional e especializada e diversos observadores em redes sociais compartilharam o “evento”. Em tempo, a própria impressa que cobre a Casa Branca havia indo embora naquela sexta-feira, pois nada iria acontecer. O estranho é que Trump que costuma ir para a Flórida nos fins de semana, havia “decidido” ficar em Washington. O motivo todos veriam na vidada de sexta para sábado.

O ataque

Apenas 13 minutos depois da decolagem do último “B-2 isca” de Whiteman AFB, uma nova onda de decolagens aconteceu. Segundo o Pentágono, às 00h01 ETD (04h01 UTC) de 21 de junho, outros 7 B-2A decolavam em total silêncio rádio e eletrônico, em um rumo oposto, isto é, rumo ao Atlântico. Os códigos-rádio eram BATT 11/12/13/14 (4x B-2) e BATT 21/22/23 (3x B-2). Toda a missão até o Irã foi em silêncio de rádio, inclusive os REVOS.

Na costa leste dos EUA, aeronaves KC-135R com call HIFI88 (USAF 62-3503) e HIFI89/90/91, operavam em espera na região de Nova Iorque na madrugada de 21/06, à espera dos B-2. Era o primeiro REVO de um voo direto de 18 horas que ligaria a Base Aérea de Whiteman, que fica a cerca de 120 quilômetros a leste de Kansas City às plantas de Natanz e Fordow, distante a 11.100 quilômetros.

Cada um dos 7 B-2 tinha duas GBU-57A/B a bordo. A essa altura, o 509th BW já sabia sua missão detalhadamente. Se até na antevéspera havia dúvidas, o segredo havia sido desvendado. Enquanto os seis “B-2 isca” iam para Andersen AFB, os sete “B-2 MOP” iam atacar as usinas de Fordow e Natanz, escoltados por caças F-22 e F-35, ao passo que a planta de Esfahan seria atacada por um submarino da US Navy com mísseis Tomahawk, protegido por navios e aeronaves da US Navy.

Enquanto se “olhava para o Pacífico”, foram feitos mais dois REVOS com os “B-2 MOP”. Um no sul da Europa e outro no Mediterrâneo, efetivados pelas dezenas de reabastecedores KC-135 e KC-46, levados dias antes para diversas bases na Europa e Oriente Médio. Só em Lajes/Açores e Morón/Espanha, havia naquela noite 12 e 17 aviões-tanque, respectivamente. Além desses, foram vistas aeronaves KC-135R, operando a partir da Chania International Airport, localizado na cidade Chania, Creta, Grêcia. Era também parte da ação, assim como outros 22 KC-135R presentes na Base Aérea Prince Sultan, na Arábia Saudita, que apoiariam as demais aeronaves da missão. Vários dos KC-135R, com código-rádio GOLD foram vistos atuando na região, em especial após o ataque. Entre eles, os KC-135R USAF 63-7985, 58-0069 e 60-0349.

Um B-2A lança em um treinamento uma bomba antibunker Boeing GBU57/B MOP. Ela era a única bomba guiada capaz de danificar as instalações subterrâneas de Fordow e Natanz. Foi a primeira vez que ela foi usada em combate e, ao que consta, não destruiu as plantas, apesar de ter causado danos severos. Foto: USAF.
Um B-2A lança em um treinamento uma bomba antibunker Boeing GBU57/B MOP. Ela era a única bomba guiada capaz de danificar as instalações subterrâneas de Fordow e Natanz. Foi a primeira vez que ela foi usada em combate e, ao que consta, não destruiu as plantas, apesar de ter causado danos severos. Foto: USAF.

O voo seguiu na proa do Irã, via Mediterrâneo, e pouco antes das 17h ETD (21h UTC) já estava sobre o Iraque. Apesar de haver 100% de consciência situacional de que o espaço aéreo iraniano estava sob controle da IAF, que na mesma noite estava atuando em ataques a outros alvos, os B-2 receberam escolta de caças F-35 e F-22, além do apoio de caças F-16C e F-15E, esses do 389th FS, que atuaram na proteção do espaço aéreo ao redor.

Os F-22A da 1st Fighter Wing da Langley AFB voaram abrindo caminho para os ataques. O radar AESA AN/APG-77 (AN/APG-77(V)1) do F-22A é parecido como AN/APG-81 do F-35A, mas os sensores são mais focados no combate ar-ar. Já os F-35A da 48th Fighter Wing com sede em Lakenheath, Reino Unido e os F-16CJ da 31st Fighter Wing de Aviano, Itália, fizeram o papel de “varrer ao arredor”, coibindo qualquer tentativa da IRIAF de interceptar ou lançamento de mísseis contra os B-2. O guarda-chuva aos Spirits foi mantido até eles deixaram o espaço aéreo do Iraque.

Os F-22A da 1st FW, pertencentes ao 94th Fighter Squadron (94th FS), com código de cauda “FF”, que estiveram deslocados em Lakenheath, e que foram enviados ao Oriente Médio foram os USAF 05-4097, 08-4154, 08-4164, 08-4168, 08-4169, 09-4173, 09-4177, 09-4181, 09-4184, 09-4187, 09-4191 e 10-4194. Os F-22A provavelmente foram levados para a Base Aérea de Muwaffaq, também chamada de Base Aérea de Azraq, na Jordânia.

Spirits sobre o Irã

A aproximação foi sorrateira, em silêncio-rádio e com comunicações por datalink mínimas possíveis entre os B-2 e os F-22, F-35 e F-16CJ. Não há confirmação, mas é provável que tenham tido o apoio de F-35I da IAF (indireto) e de aeronaves dos porta-aviões CVN 68 e CVN 70, que fizeram proteção em missões de AEW e ASW, para proteger o submarino da US Navy no ataque. Uma aeronave ELINT da USAF estava voando na região, fazendo missões de inteligência eletrônica.

Segundo a USAF, mais de 40 aeronaves de reabastecimento em voo KC-135R e KC-46A estiveram envoltas na Hammer, não só para atender os B-2 do ataque, mas os “B-2 iscas”. Ao todo, 125 aeronaves, entre B-2, KC-135R, KC-46A, F-22A, F-16CJ, F-35A e aeronaves de reconhecimento, estiveram na Midnight Hammer. Além disso, houve relatos de forte degradação do espectro eletromagnético no Irã – incluindo queda de internet, telefonia, GPS e comunicações. Isso pode ser explicado pela presença de caças EA-18G Growler no pacote de ataque para apoiar as aeronaves envolvidas.

Imagem de satélite da planta de Fordow. Os impactos ficaram concentrados 3 a 3, atingindo duas áreas, uma de enriquecimento e outra das centrífugas. Foto: Maxar.
Imagem de satélite da planta de Fordow. Os impactos ficaram concentrados 3 a 3, atingindo duas áreas, uma de enriquecimento e outra das centrífugas. Foto: Maxar.

A Midnight Hammer visou os três principais alvos nucelares do Irã. Fordow, Natanz e Esfahan. A última seria atacada exclusivamente por mísseis Raytheon BGM-109 Tomahawk, lançados pelo submarino americano o submarino class cruise missile da Classe Ohio, USS Georgia (SSGN-729), que estava na região desde o fim de setembro de 2024.

Por volta das 17h ETD (21h UTC) do dia 21/06, o submarino americano na Área de Responsabilidade do Comando Central (US CENTCOM) o SSGN-729 lançou 30 de mísseis de cruzeiro de ataque terrestre Tomahawk contra alvos-chave da infraestrutura de superfície em Isfahan, enquanto o pacote de ataque aéreo da Operação Midnight Hammer se aproximava do espaço aéreo iraniano. Os mísseis Tomahawk foram os últimos a atingir Isfahan, para garantir o elemento-surpresa durante toda a operação, e foram lançados do Estreito de Omã.

Já a operação dos B-2 foi dividida em duas. Quatro B-2 (BATT11/12/14/14) fizeram o ataque a Natanz, sendo que somente três lançaram as MOP – um deles era reserva. Já os três B-2 (BATT21/22/23) fizeram a parte mais “pesada”: Fordow. A operação de 20 minutos dentro do Irã começou às 18h40 ETD (22h40 UTC) — 02h10 no Irã, com um bombardeiro americano B-2 lançando duas primeiras GBU-57 em Fordow, que recebeu ao todo seis impactos diretos.

Outros seis impactos foram feitos em Natanz. Ao todo, 12 MOP foram lançadas, sendo a primeira vez que ela foi usada em um conflito real. Originalmente, as primeiras informações davam conta de que todos os B-2 haviam lançado as MOP, algo corrigidos depois. O mesmo vale para os Tomahawks. O primeiro relato era de 24 e, no fim, passaram a ser oficialmente 30.

O furtivo bombardeio Northrop Grumman B-2A Spirit foi projetado para missões de ataque de longo alcance e conseguiu transportar armas convencionais e nucleares. É a única aeronave americana projetada especificamente para penetrar alvos fortemente defendidos, como instalações subterrâneas, e o único capaz de levar a bomba antibunker Boeing GBU-57A/B MOP.

Os três alvos da infraestrutura nuclear iraniana foram atingidos entre 18h40 e 19h ETD (22h40 e 23h UTC) já na madrugada de 22/06 (2h10 e 2h30 no Irã de 22/06) no Oriente Médio, enfatizou o Chefe do Estado-Maior Conjunto. Isso corresponde a 19h40 e 20h de 21/06 no Brasil. No total, as forças americanas utilizaram cerca de 75 armas guiadas de precisão durante a operação. Seriam 12 MOP, 30 BGM-109 e o que mais? É provável que outras missões de supressão tenham sido feitas por navios ou aeronaves da US Navy e USAF. O US DoD não comentou para não criar melindres de um possível auxílio direto a Israel na guerra. Porém fontes no X afiram que os F-16CJ e EA-18G destruíram radares e sítios de defesa aérea com os AGM-88, “limpando a área” de ação dos B-2. Vale lembrar que os B-2 voaram acima de 35 mil pés.

Detalhes da Boeing GBU-57A/B Massive Ordnance Penetrator (MOP). Arte: Teo Nascimento.
Detalhes da Boeing GBU-57A/B Massive Ordnance Penetrator (MOP). Arte: Teo Nascimento.

Após o ataque, os B-2 regressaram direto a Whiteman realizando mais dois REVO, um ao sul da Europa (Estreito de Gibraltar), com aeronaves KC-135R vindas de Rota, Espanha e outro já no Atlântico Norte próximo a costa de Nova Jersey, com reabastecedores KC-46A vindos dos EUA. Os sete B-2 deixaram o espaço aéreo iraniano as 19h30 ETD (23h30 UTC). Ao pousaram em sua casa, por volta das 13h30 ETD (17h30 UTC) de 22/06, fecharam 37h 40 de voo. Um voo maçante e incrível, por ser feito por apenas dois pilotos por aeronave, o que exige muito fisicamente, mentalmente e operacionalmente. Ao todo 12 reabastecedores participaram do apoio ao regresso. Foi o maior emprego dos B-2A na USAF, tendo envolvido 13 das 20 aeronaves atualmente no inventário.

Um voo difícil

A Operação Midnight Hammer, pareceu saída de um filme de Hollywood. Mas, a realidade apresentou muitos detalhes que só podem ser executados com metódico planejamento e exaustiva preparação física dos tripulantes. A missão marcou o segundo voo mais longo de um B-2 na história da aeronave.

Voar alto por tanto tempo pode deixar os tripulantes com mais sede. Isso os obriga a se hidratar e a dupla de pilotos esvaziaram várias garrafas de água durante o voo, mas o banheiro químico da aeronave é pequeno demais para comportar o equivalente a quase 38 horas de urina. Em vez disso, os aviadores usaram “piddle packs”, sacos plásticos cheios de uma substância semelhante à areia para gatos, que transforma urina em gel. Cada aeronave encheu em média dois “piddle packs”, resultando no final em mais de 45 kg por B-2 de urina solidificada.

Para manter a energia, um dos pilotos cochila em um saco de dormir sobre uma cama de lona atrás dos assentos ejetáveis. Não é um sono de alta qualidade, mas ajuda a energizar.

Porém, ambos os pilotos precisavam permanecer em seus assentos durante fases críticas do voo, como o reabastecimento em voo. Para se manterem mais ativos, a tripulação leva café, água, sanduíches, pretzels e refeições pré-embaladas, projetadas especificamente para consumo a bordo. Mas ficar sentado em uma cabine apertada por períodos prolongados não costuma abrir o apetite, ainda mais em uma missão real. Volta e meia eram checados e revisados os planos e coordenadas da missão, criando sempre um estado de alertam mental.

As tripulações que participaram do ataque no Irã podem ter tido mais dificuldades, já que voaram para o leste na escuridão. Os aviadores podem ter tomado anfetaminas, chamadas “pílulas ‘go’”, comumente usadas pelas tropas para se manterem alertas em voos longos.

As tripulações que voaram na missão ao Irã, sem dúvida, sentiram o mesmo alívio — e é improvável que sejam as últimas. Oficiais da USAF esperam ver voos igualmente longos, enquanto se preparam para um potencial conflito com a China no vasto Pacífico.

Não houve nenhum registro de que a defesa aérea do Irã tenha tentado interceptar os aviões americanos ou, se quer, antecipado que haveria um pacote de ataque. A IRIAF se mostrou inexistente neste conflito. Suas aeronaves obsoletas e mal armadas não foram capazes de enfrentar os caças da IAF e da USAF, e, se quer tentaram.

Entrevista no Pentágono no dia 22 de junho, proferida pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto da Força Aérea dos EUA, General Dan “Razin” Caine, mostrando detalhes da operação. A operação contou com seis B-2 “isca” que decolaram antes e seguiram para o Pacífico, atraindo os olhares do mundo até Guam. Enquanto rolava a distração, sete B-2 em silêncio rádio vieram pelo Leste e realizaram o ataque. Foto: AP.
Entrevista no Pentágono no dia 22 de junho, proferida pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto da Força Aérea dos EUA, General Dan “Razin” Caine, mostrando detalhes da operação. A operação contou com seis B-2 “isca” que decolaram antes e seguiram para o Pacífico, atraindo os olhares do mundo até Guam. Enquanto rolava a distração, sete B-2 em silêncio rádio vieram pelo Leste e realizaram o ataque. Foto: AP.

A verdade é que o Irã mostrou que não tem capacidade alguma de se defender. O máximo que tem conseguido é lançar mísseis, que não têm sido tão efetivos, e drones. Já os EUA e Israel tiveram ações decisivas. Independente de ações políticas, a guerra Irã x Israel mostra o diferencial enorme entre Força Aérea OPERACIONAL e a Força Aérea no PAPEL. Caças não só antigos, como os americanos F-4, F-5 (e variantes), F-14 e russos Su-22, Su-29, MiG-29, mas provavelmente mal mantidos e sem suprimento, não conseguem o básico que é tentar obter superioridade aérea, quiçá, projetar força.

Curiosamente, a missão a Fordow foi ensaiada muitas vezes, de acordo com o ex-piloto do B-2. Algo que vinha sendo planejado internamente na unidade e depois a nível do Comando de ataque Global. Primeiro, o voo foi planejando no simulador e, a seguir, em voo, em missões compactas e, no fim, completas de +18 horas de voo, algumas simulando voos de longa distância, com pouso em Guam, Diego Garcia e Europa.

O dia seguinte

No mundo de hoje, o ataque foi divulgado na hora, com diversos artigos e notas em redes sociais e passou a pipocar na imprensa. Foi algo surpreendente e gerou várias ilações do que aconteceria. Antes de mais nada, apesar de várias nações terem ficado neutras ou no máximo feito protestos, o fato é que na Europa e parte do Oriente Médio – até mesmo críticos dos EUA e Israel, ficaram aliviados com o retrocesso do Irã no campo nuclear.

Trump anunciou o ataque oficialmente, surpreendendo o mundo por volta das 20 horas no horário de Washington, três horas depois de o ataque começar. Ele usou uma rede social e, após, às 22h ETD (2h UTC), ele falou em rede nacional. Foi uma surpresa e ao mesmo tempo não foi, pois o mundo já esperava a ação.

Concluímos nosso ataque muito bem-sucedido às três instalações nucleares no Irã, incluindo Fordow, Natanz e Esfahan. Todos os aviões estão agora fora do espaço aéreo iraniano. Uma carga completa de BOMBAS foi lançada no local principal, Fordow. Todos os aviões estão a caminho de casa em segurança. Parabéns aos nossos grandes guerreiros americanos. Não há outro exército no mundo que pudesse ter feito isso. “AGORA É A HORA DA PAZ! Agradecemos a sua atenção a este assunto”, disse Trump em uma publicação na Truth Social.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, condenou o ataque americano às instalações nucleares do país, afirmando que a Casa Branca, “belicista” (doutrina ou tendência que apoia ou incita a guerra), será “totalmente responsável” pelas consequências de suas ações.

Ele solicitou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que convocasse uma sessão de emergência “para condenar inequivocamente o ato criminoso de agressão dos Estados Unidos contra o Irã e responsabilizar o governo em Washington por suas violações aos princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas e das normas do direito internacional”.

Imagem de satélite da planta de Natanz. Os impactos ficaram concentrados, abrindo uma cratera de aproximadamente 5,5 m acima da área de enriquecimento. Não se sabe se todas as MOP caíram na cratera vista na imagem ou se alguma foi perdida. Foto: Maxar.
Imagem de satélite da planta de Natanz. Os impactos ficaram concentrados, abrindo uma cratera de aproximadamente 5,5 m acima da área de enriquecimento. Não se sabe se todas as MOP caíram na cratera vista na imagem ou se alguma foi perdida. Foto: Maxar.

A Jordânia declarou que interceptou vários mísseis e drones no dia 22/06, lançados pelo Irã contra o território de Israel. A ação foi feita para evitar que caíssem em território jordaniano.

O Irã declarou logo após o ataque que qualquer americano é inimigo do estado. A retórica colocou um tom de atos terroristas como solução. O Irã retaliou atacando Israel, lançando mais de 50 mísseis contra Israel, que, por sua vez, enviou no dia 22/06 mais 50 caças para atacar alvos militares, entre eles lançadores de mísseis. O Irã prometeu retaliar diretamente ao EUA, sob pena de não conseguir manter a ordem interna. O governo do Irã lançou 14 mísseis balísticos contra o espaço aéreo do Catar, visando atingir a Base Aérea da Força Aérea do Catar de Al Udaid (OTBH). Essa base — Al-Udeid, abriga também a maior guarnição dos EUA no Oriente Médio, além de servir a outros aliados como o Reino Unido.

Explosões foram ouvidas em Doha por volta das 20 horas, horário local, logo depois que o sistema antimíssil foi acionado para deter os mísseis do Irã. Oficialmente o Governo do Catar afirma ter interceptado 13 mísseis, com apoio dos EUA, usando Baterias Patriot americanas e catari. Um míssil caiu em uma área desabitada. Não houve feridos.

Al Udaid é a principal base da Qatar Emiri Air Force (QEAF), que hoje abriga boa parte dos principais vetores do Catar, entre elas unidades de F-15QA, unidades de transporte (C-17, C-130) e de helicópteros AH-64E e AW139. Dos EUA, a base abriga mais de dez mil militares e constantemente tem unidades aéreas expedicionárias vindas da Europa e dos EUA, que compreendem diversos vetores de caça, reconhecimento, transporte e reabastecimento em voo da USAF. Além do Catar, o Irã disse que ao menos um míssil teria sido lançado a uma base americana no Iraque, até hoje não confirmado oficialmente. O revide ficou nisso e foi protocolar, do tipo “dar satisfação a população iraniana”.

No dia 22, o Parlamento Iraniano aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz. A decisão precisa da aprovação do líder supremo, o Aiatolá Ali Khamenei, que vetou. Se isso tivesse sido efetivado, haveria um impacto global e para a economia. Por Ormuz, um canal que varia de largura de 34 a 50 km navegável, passa 20% dos navios petroleiros do mundo, e é um dos principais pontos de transporte do petróleo do Oriente Médio. No final, não passou de ameaças veladas.

No final, os EUA conseguiram mediar um cessar-fogo, válido a partir de 24/06. Após muita pressão, Donald Trump anunciou em suas redes sociais. O acordo veio depois de 12 dias de conflito e foi considerado “completo e total”. Esse frágil acordo permanece em vigor.

Resultados

Quais foram os resultados do ataque histórico dos EUA ao programa nuclear do Irã? Difícil dizer em tempos de guerra de narrativas, onde um lado fala em aniquilação e outro em atraso, que não impedirá a retomada. Somente, e olhe lá, uma verificação isenta e independente – o que é difícil de encontrar no mundo polarizado no século 21, poderia jogar uma luz sobre o assunto.

Inicialmente, Irã, Israel e EUA concordam que as instalações nucleares da República Islâmica foram “gravemente danificadas”, dando a entender que o programa nuclear do país persa foi muito atrasado ou mesmo extinto.

Toda a missão só foi possível com uma maciça operação de REVO, feita por mais de 40 aeronaves KC-46 e KC-135 (foto) Eles foram deslocados dos EUA para a Europa e, após, para o Oriente Médio, onde se juntaram a outros “KCs”. Além disso, vários “KCs” operaram dos EUA. Eles foram responsáveis por levar caças para a região; levar os B-2 “iscas” e “MOP” até os alvos e trazê-los de volta. Foto: Steve Lynes.
Toda a missão só foi possível com uma maciça operação de REVO, feita por mais de 40 aeronaves KC-46 e KC-135 (foto) Eles foram deslocados dos EUA para a Europa e, após, para o Oriente Médio, onde se juntaram a outros “KCs”. Além disso, vários “KCs” operaram dos EUA. Eles foram responsáveis por levar caças para a região; levar os B-2 “iscas” e “MOP” até os alvos e trazê-los de volta. Foto: Steve Lynes.

“Nossas instalações nucleares foram seriamente danificadas, isso é certo”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Ismail Baghaei, à Al Jazeera. “Mas vamos reconstruí-las”.

O Chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Tenente-General Eyal Zamir, disse que sua avaliação é de que o programa nuclear do Irã foi “significativamente danificado”, enquanto a Comissão de Energia Atômica de Israel descreveu os ataques dos EUA como devastadores. “O devastador ataque americano a Fordow destruiu a infraestrutura crítica do local e tornou a instalação de enriquecimento inoperante. Avaliamos que os ataques americanos às instalações nucleares do Irã, combinados com os ataques israelenses a outros elementos do programa nuclear militar iraniano, atrasaram em muitos anos a capacidade do Irã de desenvolver armas nucleares”.

Nos Estados Unidos, o presidente do Estado-Maior Conjunto, Dan “Razin” Caine, disse que “Mais de 125 aeronaves dos EUA participaram desta missão, incluindo bombardeiros stealth B-2, vários voos de caças de quarta e quinta geração, dezenas e dezenas de aviões-tanque de reabastecimento aéreo, um submarino com mísseis guiados e uma gama completa de aeronaves de inteligência, vigilância e reconhecimento, bem como centenas de profissionais de manutenção e operação”, disse Caine em uma coletiva de imprensa.

O diretor da CIA (Agência Central de Inteligência), John Ratcliffe, afirmou na quarta-feira, 25/06, que informações confiáveis indicam que o programa nuclear do Irã foi severamente danificado pelos ataques dos EUA e que levaria anos para ser reconstruído.

“Isso inclui novas informações de uma fonte/método historicamente confiável e preciso, de que várias instalações nucleares iranianas importantes foram destruídas e teriam que ser reconstruídas ao longo dos anos”, pontuou Ratcliffe em um comunicado.

Mas o que se pode dizer? As imagens de satélite pós-ataque dos três alvos dizem pouco. Esfahan, que levou uma saraivada de 30 mísseis BGM-109E apareceu com parte de sua infraestrutura destruída, onde é visível que as explosões geraram incêndios em prédios vitais. É possível que tenha sido inutilizada. Já em Natanz os impactos ficaram concentrados, abrindo uma cratera de aproximadamente 5,5 m acima da área de enriquecimento. Se as seis MOP acertaram ali ou alguma foi perdida, não se sabe. Como as instalações são subterrâneas, a imagem não permite uma análise de danos, como em Isfahan. Em Fordow, o alvo mais importante dos três, é possível ver seis impactos diretos, concentrados três a três. Sinal que as MOP atingiram o alvo. Novamente, como é subterrânea, fica impossível mensurar danos. Dias depois, imagens de satélite mostram que a entrada e dutos de ventilação de Natanz e Fordow estavam obstruídos e máquinas trabalhavam para retirar os escombros. Vale ressaltar que os alvos estavam praticamente vazios, sem funcionários.

A dúvida é se os ataques dos Estados Unidos contra instalações nucleares do Irã destruíram o programa nuclear do país ou apenas o atrasaram por alguns meses. Segundo um relatório preliminar do setor de inteligência do Pentágono que vazou no dia 24/6, ele não foi destruído, e sim atrasado, podendo ser reconstruído a médio prazo. Talvez a maior perda tenha sido dos cientistas mortos por Israel no início do conflito (13/06).

Fontes da CIA (Agência de Inteligência dos EUA), disseram que o estoque de urânio enriquecido não foi eliminado nos bombardeios de 21/6, e que havia sido retirado dias antes. Fontes do Pentágono afirmam que as centrífugas do Irã permanecem, em grande parte, “intactas” e que o impacto se limitou a estruturas em superfície. Mais uma vez a verdade se esconde nas sombras da política.

Foto de satélite mostra os estragos na planta nuclear de Isfahan, que foi atacada por nada mais que 30 mísseis BGM-109 Tomahawk disparados pelo submarino USS Georgia (SSGN-729). Foto: Maxar.
Foto de satélite mostra os estragos na planta nuclear de Isfahan, que foi atacada por nada mais que 30 mísseis BGM-109 Tomahawk disparados pelo submarino USS Georgia (SSGN-729). Foto: Maxar.

Porém a onde existe fumaça, existe fogo. Em 28 de julho, Donald Trump, fez ameaças ao Irã afirmando que irá destruir o país caso Teerã decida reiniciar seu programa nuclear. Sinal que o ataque não foi 100% eficiente. No início de agosto (02/08), várias informações tem circulado que Israel estaria preparando um novo ataque ao Irã, visando as instalações nucleares, de mísseis e infraestruturas críticas. Seria um ataque conjunto, com apoio direto dos EUA. Seria a Operação Leão Ascendente II, que seguiria os passos da Leão Ascendente.

A possibilidade de novo ataque vem na esteira do relatório do Pentágono, que tanto os ataques de Israel, como os dos EUA, não eliminaram o programa nuclear do Irã. Somente o atrasaram em alguns meses. Se confirma que, apesar de celebrada, a Midnight Hammer não foi eficaz. Segundo informações preliminares, o ataque poderá ocorrer em agosto de 2025, em um espaço de 48 horas 14 dias, e deve envolver uma ação conjunta de Israel e EUA. Fontes também afirmam que a Rússia, ora alvo das críticas dos EUA pelo conflito na Ucrânia, teria avisado o Irã da futura ação militar.

Consequências

Os ataques sem precedentes de sete B-2 que voaram para o interior do Irã no mês passado trouxeram algumas lições diretas e um aviso. Os Spirits, carregados com armas sob medida, projetadas para atingir instalações nucleares iranianas profundamente enterradas, precisavam de amplo apoio de REVO e de comando e controle. Várias coisas poderiam ter dado errado, mas não deram. A missão correu dentro de planejado. Uma das lições é que a USAF é a única força aérea capaz de projetar força nesse nível e atingir qualquer pondo do mundo. O resto é conversa. Outra lição é que a GBU-57 não apresentou resultados incontestáveis, pois ao que se sabe, Fordow e Natanz ainda “vivem”.

Isso pode ser repetido? Sim. Vale a pena? Ponto de inflexão aqui. Porque cada vez mais, alvos como esses se tornam mais protegidos e difíceis de atingir. Outra lição é que, se ele só foi atrasado como de fato parece ter sido, o Irã não irá desistir de seu programa nuclear e novos capítulos virão, cada vez mais rápidos. O mundo terá que se acostumar.

De frente com um B-2. Principal vetor de ataque a longa distância, inclusive quando o assunto é ataque nuclear, ele deverá permanece em serviço até a chegada de seu sucessor, o B-21 Raider, outro produto da Northrop Grumman, ora em fase de ensaios em voo. Foto: USAF.
De frente com um B-2. Principal vetor de ataque a longa distância, inclusive quando o assunto é ataque nuclear, ele deverá permanece em serviço até a chegada de seu sucessor, o B-21 Raider, outro produto da Northrop Grumman, ora em fase de ensaios em voo. Foto: USAF.

Também fica um aviso. Talvez a ação de junho de 2025 possa no futuro breve, gerar ataques terroristas, como os vistos na Espanha, Londres e, claro Nova Iorque, promovidos pelos grupos apoiados pelo Irã, como Houthis, Hezbollah, Hamas ou outro que nasça na esteira desses acontecimentos que vemos em Gaza, Líbano, Irã, Iêmen, Síria, Líbia. Isso é uma realidade cada vez maior. Tanto que que vários setores de inteligência já preveem um novo 11 de setembro.

Seja como for, a Midnight Hammer entrou para a história com uma das operações militares mais impressionantes, digna de cinema, e será estudada por anos, além de despertar análises e admiração, pela complexidade, ousadia e mobilização de mais de 125 vetores para atingir dois alvos a mais, 11 mil quilômetros de distância (+ de 22 mil ida e volta), com mais 163 toneladas de explosivos, em uma missão de 37,4 horas sem escalas!

Nossa capa - Pela 6ª vez, os bombardeiros Stealth Northrop Grumman B-2A Spirit da USAF entraram em ação. Dessa vez, a ação de sete Spirits ocorreu na Operação Midnight Hammer, como foi designado o ataque às plantas nucleares iranianas de Natanz e Fordow, realizado na noite de 21 de junho de 2025. Foto: USAF.
Nossa capa – Pela 6ª vez, os bombardeiros Stealth Northrop Grumman B-2A Spirit da USAF entraram em ação. Dessa vez, a ação de sete Spirits ocorreu na Operação Midnight Hammer, como foi designado o ataque às plantas nucleares iranianas de Natanz e Fordow, realizado na noite de 21 de junho de 2025. Foto: USAF.

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