________________________________________________________________________________________
O 1º Esquadrão do 14º Grupo de Aviação (1º/14º GAV) atingiu uma marca histórica em março de 2024. Ultrapassou a barreira das 100 mil horas (100K) de voo em aeronaves Northrop F-5 Tiger II. Uma marca que poucas unidades de F-5 no mundo atingiram. O feito veio na mesma semana em que o Esquadrão Pampa completou seus 77 anos de fundação.
Leandro Casella
Canoas, Rio Grande do Sul, dia 18 de março de 2024. Por volta de 11h30, o Comandante do Esquadrão Pampa — Ten Cel Av Navarro, minutos após decolar da Base Aérea de Canoas, liderando uma esquadrilha de cinco F-5, entra em contato com a Torre Canoas (TWR-CO), cujo código-rádio é “Coruja”, para, literalmente, formalizar a marca de 100 mil horas de F-5, ou 100K de F-5.
“Coruja, neste voo, o Esquadrão Pampa atingiu a notável marca de 100 mil horas de voo em aeronaves F-5. Este esforço ímpar foi possível graças ao esforço e à dedicação de todos. Pilotos, mantenedores, controladores e apoio administrativo, de ontem e de hoje, que com seu trabalho, muitas vezes silencioso, fizeram e fazem deste esquadrão o que ele é! E que venham muitas horas mais! À CAÇA! PAMPA!
O dia 18 de março foi o ápice de um planejamento de mais 2 meses, que envolveu não só a unidade, mas a Base Aérea de Canoas (BACO), do Grupo Logístico da Base Aérea de Canoas (GLOG-CO), o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), através do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Canoas (DTCEA-CO).
Em fins de janeiro, a data do voo ainda era uma incógnita, pois dependeria de alguns fatores que não poderiam ser “cravados naquele momento”. Entre eles, a meteorologia, a fluidez dos voos e, claro, a disponibilidades das aeronaves. Porém, o desejo era que a data coincidisse com o mês do 77º aniversário da unidade, ou seja, março de 2024. Seriam semanas em que tudo seria muito dinâmico, com revisões diárias, e cada minuto, literalmente, seria computado pela Seção de Operações do 1º/14º GAV. Cada dia de operação era um dia mais próximo da marca histórica, isso porque o Esquadrão Pampa entrou em 2024 faltando somente 384 horas para atingir as 100 mil horas de F-5.
Seria o 1º/14º GAV o primeiro a ultrapassar a barreira de 100K em F-5E/F no mundo? A resposta é: “provavelmente” não. Outros operadores, com mais aeronaves, como Coreia do Sul, Suíça e Taiwan, certamente, devem ter tido alguma unidade que chegou a este número primeiro. Apesar de não haver uma publicidade disso.
Nos EUA, apesar de o F-5E/F ter voado na USAF e ainda voar na US Navy e no USMC, há dúvidas razoáveis que uma unidade tenha quebrado esta marca. Na USAF, todos os esquadrões (não foram muitos) que voaram F-5 não o fizeram por mais de 15 anos, o que teria que gerar taxas de quase 7 mil horas/ano para que uma unidade atingisse a marca.
Já na Marinha, houve muitas mudanças desde que o F-5 entrou em serviço na Fighter Weapons School (Top Gun) na NAS Miramar, em 1974. Hoje, o F-5 ainda está em serviço na Marinha, sendo um importante ativo de treinamento dissimilar. Será que houve tempo hábil para uma unidade superar a marca de 100K? Se houve, seria o caso do VFMT-401 do USMC sediado na MCAS Yuma, Arizona, a unidade mais antiga a operar o F-5 (desde 1989); portanto, há 35 anos. Ou talvez, o VFC-13 da US Navy, sediado em Fallon Nevada, que voou o F-5E/F de abril de 1996 a abril de 2022, ou seja, 26 anos, que também possa ter atingido este feito, voando 4 a 5 mil horas/ano.
As demais unidades, como VFC-13, VF-43, VF-45, VFC-111, VFA-126 e VFA-127, não têm tempo de operação suficiente de F-5 para atingir tal marca, mesmo que sobrecarregando a frota com inúmeras horas de voo. Mas se tiver que apostar se alguém nos EUA chegou perto ou ultrapassou as 100K de F-5, “jogaria minhas fichas” no VMFT-401, que, para isso, teria que ter feito com 12 aeronaves, em média, 3 mil horas/ano. Algo nada impossível.
E no Brasil? Bom, o único que pode ter atingido a marca antes do 1º/14º GAV — Pampa seria o 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA), cujos seus dois esquadrões, 1º/1º GAVCA — Jambock e 2º/1º GAVCA — Pif-Paf, receberam o F-5 a partir de março de 1975, portanto, 20 meses antes da unidade de Canoas.
É possível que a unidade de Santa Cruz tenha até alcançado a marca antes, visto que, por um bom tempo, tinha mais aviões, pilotos e até mesmo mais horas anuais de voo, em especial entre 1977 e 1990. Porém, se o fez, não computou com minúcia as horas de voo, como o pessoal de Canoas, que não só computou, mas documentou isso de forma oficial. Além disso, o Pampa chegou a 100K de caça em junho de 1994, e o Grupo chegou somente 1 ano depois. Pode ser também que SC ainda não tenha as 100K de F-5, especialmente se o cômputo for feito por esquadrão e não somando as horas do Grupo. A dúvida permanece.
Aqui, uma observação importante. A Força Aérea Brasileira (FAB) tem, atualmente, duas unidades equipadas com o caça bimotor Northrop F-5EM/FM Tiger II, a versão brasileira modernizada pela Embraer e AEL Sistemas dos F-5E/F. São elas: o 1º GAVCA sediado na Base Aérea de Santa Cruz (BASC) e 1º/14º GAV, sediado na Base Aérea de Canoas (BACO), região metropolitana de Porto Alegre/RS. São as mais antigas operadoras do F-5 e, portanto, as mais voadas. Essa estrutura de apenas duas bases com F-5 durou, sem alterações, de dezembro de 1976 até dezembro de 2010, quando o 1º/4º GAV — Pacau trocou o AT-26 pelo F-5M. Foram anos de “monopólio” de SC e CO. Com a chegada do F-5 a Ponta Pelada, em Manaus, e a saída dos Mirage 2000, em 2013, de Anápolis, e a posterior chegada do F-5 ao 1º GDA — Jaguar, em fevereiro de 2016, a FAB, pela primeira vez, passou a ter sua aviação supersônica padronizada com um único vetor: o F-5M. Foi algo inédito.
O Pacau voou o F-5M de 2010 a 2021, e o Jaguar de 2016 a 2020. A partir de janeiro de 2022, a situação “voltou ao passado”, com apenas duas unidades de F-5. O GDA passou a focar no F-39 Gripen, e o Pacau foi temporariamente desativado. Portanto, somente Canoas e Santa Cruz poderiam atingir essa marca de 100K de F-5.
No final de 2023, a Sessão de Operações já havia constatado que a unidade havia passado as 99.500 horas de F-5, e que “romper a barreira” das 100 mil era uma questão de semanas. O planejamento começou em janeiro de 2024, junto com uma contagem regressiva.
O esquadrão considerou os dias úteis a partir de janeiro de 2024 e passou a monitorar os voos, utilizando o dia 20 de março como “Dia D” para o voo da 100K, dada a proximidade dos festejos dos 77 anos da unidade. Ficou acordado que o rompimento da barreira de 100 mil teria que ocorrer até o dia 20 de março.
Assim, conforme a disponibilidade das aeronaves e condições meteorológicas, o resultado foi uma média de 8 a 10 horas/dia, considerando os voos apenas em dias úteis. Como foi possível controlar e prever os voos ao longo das semanas, foi possível escolher o dia do voo histórico da 100K. De olho na meteorologia, o “14” verificou que o dia 20 de março não estaria favorável e, por isso, antecipou-se o voo para o dia 18, que também, gerou várias dúvidas na véspera, se estaria bom meteorologicamente. O voo parou dia 15 de março, restando apenas 1 hora e 35 minutos de voo!
Desde a semana anterior, o “14” já vinha organizando o voo, com preparativos que iam desde a manutenção das aeronaves até o cerimonial do evento, que ocorreria na mesma semana dos seus 77 anos.
@CAS