Matéria de Capa RFA 141 — JAPAN LIGHTNING!
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A Japan Air Self-Defense Force (JASDF) caminha para ser o segundo maior operador do caça stealth americano de 5ª geração Lockheed Martin F-35A/B Lightning II, atrás apenas dos EUA. Quando receber todas as unidades, o Japão terá nada mais que 147 unidades, sendo 105 “Alfas” e 42 “Bravos”. Neste artigo, vamos falar um pouco dos F-35 nipônicos, um dos dois únicos Lightnings montados 100% fora da planta da Lockheed Martin, em Fort Worth/TX.
Leandro Casella
Um caça de 5ª geração. Assim podemos definir o Lockheed Martin F-35 Lightning II, uma aeronave de combate multirole e stealth, desenvolvida para cumprir missões de ataque, mas que também atua com a mesma desenvoltura na arena ar-ar. A versatilidade da plataforma também permite que cumpra missões de guerra eletrônica (EW), reconhecimento, supressão de defesas (SEAD) e como treinador “agressor”, simulando caças de 5ª geração chineses e russos.
O F-35 trilhou um caminho oposto ao de outras aeronaves stealth, tais como F-117, B-2, F-22 e, provavelmente, do novo B-21, pois foi ofertado, inicialmente, para um seleto grupo de países alinhados aos EUA. Os americanos, sabiamente, aproveitaram a oportunidade ímpar e capitalizaram no exterior até 15% do valor de desenvolvimento do projeto. Originalmente, para ter o F-35, era necessário tornar-se parceiro investidor, assumindo também o risco financeiro de uma empreitada dessa envergadura. Para muitos analistas, só assim era possível tirar o caça do papel e, o mais importante, conseguir com que ele atingisse um nível de vendas que pagasse o projeto, e, após, desse lucro e viesse a ser o caça padrão de diversas forças aéreas, como foi o F-4 Phantom e o F-16 Fighting Falcon, este último em produção até hoje.
Assim, em fins de 2001, foi criado um fundo de participação do projeto Joint Strike Fighter (JSF) que atraiu oito países. Ele foi dividido em três níveis: I – Parceiro Colaborador (Reino Unido); II – Parceiro Associado (Itália e Holanda); e III – Parceiro Informado (Austrália, Canadá, Dinamarca, Noruega e Turquia). Além disso, foi aberta uma modalidade chamada Security Cooperative Participants, destinada a países aliados.
Com a carta de fornecedores fechada, abriu-se uma quarta e inédita modalidade para um caça furtivo. O F-35 passou a ser oferecido via FMS (Foreing Military Sales) e, como tal, todas as ofertas passam pela Defense Security Cooperation Agency (DSCA) – uma agência do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (US DoD) que fornece assistência financeira e técnica, transferência de material de defesa, treinamento e serviços para aliados, além de promover contatos entre empresas e militares. Cada venda recomendada pela DSCA deve ser aprovada pelo Congresso Americano.
Até o momento Israel, Japão, Coreia do Sul, Alemanha, Bélgica, Finlândia, Grécia, Polônia, República Tcheca, Suíça e Cingapura são clientes da aeronave via FMS, que deve absorver mais clientes nos próximos anos. Ao todo, 20 países adquiriram o F-35, gerando 24 usuários – EUA, Reino Unido e Itália, empregam a aeronave em suas forças aéreas e navais, e os demais, apenas em nível de força aérea.
Deve-se registrar que um desses países nem chegou a operar a aeronave, mesmo sendo um investidor importante. A Turquia foi alijada do projeto JSF em julho de 2019, após a compra de sistemas de defesa antiaérea russos S-400. A compra dos S-400 e a aproximação com a Rússia desagradaram a OTAN e, em particular, os EUA. A principal alegação americana é a de que o uso do S-400 pela Turquia poderia comprometer a capacidade furtiva do F-35, além da possibilidade de existir vazamento de informações críticas da aeronave aos russos e chineses.
Os EUA pediram o cancelamento do negócio, o que não foi atendido. O imbróglio resultou não só na retenção de oito de 30 aeronaves que já estavam em fase de pré-entrega, mas também na suspensão do treinamento dos pilotos em solo americano e na exclusão, em julho de 2019, da Turquia do programa JSF. A Turkish Air Force (TuAF) planejava ter 100 F-35A. Esse imbróglio reflete até hoje na compra de novos F-16 e na modernização de sua frota F-16 para o Bloco 70/72, que ainda não foi aprovada pelo congresso, mesmo após aprovação da DSCA.
Mesmo com a saída dos turcos, o F-35 se tornou um dos mais vendidos caças da atualidade, tendo, nos últimos 15 anos, vendido 3.411 unidades. Segundo a Lockheed Martin, até 1º março de 2023, foram entregues mais de 890 unidades, que tiveram mais de 635 mil horas de voo em mais de 378 mil sortidas. Ele já foi implantado nas 27 das 43 bases até então previstas para serem operados, além de 10 dos 20 navios americanos, ingleses, japoneses e italianos que irão operar as duas versões navais: EUA: USS Essex • USS WASP • USS America • USS Carl Vinson • USS Makin Island • USS Abraham Lincoln • USS Tripoli • USS Boxer 2023 • USS George Washington 2023 • USS Kearsarge 2024 • USS Theodore Roosevelt 2025 • USS John C. Stennis 2025 • USS Bataan 2026 • USS Gerald R Ford 2026 • USS Bougainville; Itália: ITS Cavour; UK: HMS Queen Elizabeth • HMS Prince of Wales; Japão • DDH Izumo 2026 • DDH Kaga 2029.
Foram formados quase 2 mil pilotos e mais de 13.700 mantenedores. Ao todo, dos 19 países, 9 já operam a aeronave em seu próprio território, que, juntos, têm 12 operadores em IOC, ou capacidade operacional inicial: EUA (USAF/USN/USMC), Reino Unido (RAF/RN), Itália (AMI), Israel (IAF), Austrália (RAAF), Holanda (RNALF), Noruega (RoNAF), Coreia do Sul (ROKAF) e Japão (JASDF).
Para atender a todo o espectro operacional, tanto em nível de força aérea quanto naval – operando embarcado –, a Lockheed Martin atendeu à prerrogativa base do projeto Joint Strike Fighter (JSF) e desenvolveu três versões distintas e mais uma customizada, mas com alto grau de comunalidade, que chega próximo dos 80%. Entre os pontos em comum está o motor, um Pratt & Whitney F135-PW, cuja versão “PW-100” (25 mil lb/40 mil lb – com pós-combustão) equipa os F-35A/C e a “PW-600” (26 mil lb/38 mil lb – com pós-combustão); uma versão dotada do sistema vetorado Shaft-Driven Lift Fan (SDLF) da Rolls-Royce equipa os F-35B.
F-35A – Primeiro voo em 15 de dezembro de 2006. É a versão CTOL (Conventional Take-Off and Landing/Pouso e Decolagem Convencional),sendo considerado o modelo mais importante de produção. Destinado a substituir os Lockheed F-16C/D/CJ, o Alfa é uma aeronave de caça convencional típica, similar ao F-22A, não só no aspecto visual, como conceitual e operacional. Das três versões do F-35, é o único a ter o canhão rotativo de quatro canos Gatling GAU-22/A (25 mm) com 182 cartuchos e o sistema de Reabastecimento em Voo (REVO) padrão USAF (boom and receptacle) sobre a fuselagem. O GAU-22/A é baseado no GAU-12 (usado no AV-8B), que, curiosamente, “quebrou” a forte tradição das últimas décadas quando os caças americanos empregaram o canhão rotativo de seis canos Vulcan M61 (20 mm). Nas demais versões, o GAU-22 é carregado em um pod externo disposto no pilone central da fuselagem, capaz de levar 220 projéteis, e o sistema de REVO adotado é o padrão universal (probe and drogue).
O F-35A foi a versão escolhida por 16 dos 19 países que encomendaram a aeronave até aqui. EUA (USAF), Canadá (RCAF), Japão (JASDF), Austrália (RAAF), Coreia do Sul (ROKAF), Alemanha (Luftwaffe), Bélgica (BAF), Dinamarca (RDAF), Noruega (RoNAF), Finlândia (FAF), Itália (AMI), Holanda (RNLAF), República Tcheca (CzAF), Suíça (Schweizer Luftwaffe), Polônia (Siły Powietrzne) e Grécia (HAF)
F-35B – Primeiro voo em 11 de junho de 2008. A segunda versão de produção é o primeiro jato supersônico com capacidade STOVL (Short-Take-Off and Vertical-Landing/Decolagem Curta e Pouso na Vertical), destinado a substituir os AV-8B Harrier II dos US Marines e da Marinha Italiana, bem como os BAe Harrier GR.7/GR.9/T.10 ingleses. O F-35B surge como provável herdeiro da notável família de jatos Harrier/Sea Harrier, o que lhe dá uma perspectiva de mercado promissora, especialmente para operações embarcadas. Se excluirmos a presença do sistema Rolls-Royce SDLF e do bocal do motor com empuxo vetorado, responsáveis pela capacidade STOVL da aeronave, externamente, o Bravo é basicamente idêntico ao F-35A.
O F-35B foi a versão escolhida por quatro dos 19 países que encomendam a aeronave até aqui. EUA (USMC), Reino Unido (RAF/RN), Cingapura (RSAF), Itália (MMI) e Japão (JASDF).
F-35C – Primeiro voo em 6 de junho de 2010. A versão naval F-35 CV (Carrier Variant) é otimizada para a operação em porta-aviões convencionais. Nasceu da necessidade da US Navy de ter um vetor que formasse, junto com os F/A-18E/F, sua principal força de ataque/defesa aérea na próxima década. Para atender às especificações da marinha, o Charlie dispõe de um trem de pouso navalizado e asas dobráveis que possuem uma envergadura 22% maior que a dos F-35A/B. Isso permitiu a introdução de ailerons convencionais, inexistentes nos F-35A/B, nos quais o controle de rolagem é feito por flaperons e/ou profundores. O F-35C foi adquirido apenas pela Marinha Americana (USN).
F-35I – Conhecido como F-35I Adir, é uma versão do F-35A feita sob medida para a Israeli Air Force (IAF), que incorpora muitos sistemas e armas exclusivas. Ele sege a mesma linhagem de caças como F-15 e F-16, que também foram customizados para a IAF. O F-35I é exclusivo da IAF.
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