Matéria de Capa RFA 139
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Devido às suas diversas — algumas lendárias, ações em combate, a Israeli Air and Space Arm possui a fama de ser uma das forças aéreas mais bem equipadas e eficientes do planeta. Inserida numa das regiões mais complexas e perigosas do mundo, precisa estar sempre em alerta total para levar a guerra ao inimigo e ao mesmo tempo defender os céus sobre o seu país.
Carlos Lorch/Leandro Casella
Uma esquadrilha de caças F-35I Lightning II com as luzes de sinalização e a iluminação de cabine apagadas rasga o manto negro do céu sobre o deserto. Imperceptíveis aos radares de busca de dezenas de sítios em sua rota, eles rumam para seus alvos enquanto o mundo dorme milhares de metros abaixo. Ao atingir o primeiro waypoint, o líder dentro de sua cabine envia por meio de enlace de dados o código pré-estabelecido que indicava uma curva de 40 graus à esquerda, realizada quase em perfeita coordenação por todos os aviões, deixando-os a poucos quilômetros da fronteira oeste do país. Em terra, na sala de controle da defesa aérea, um silêncio sepulcral domina o ambiente. Todos os olhos estão focados nas telas de situação acompanhando os dois caças que rumam em direção ao inimigo. Uma vez sobre território hostil, os F-35I passam a buscar seus alvos, que já estavam sendo acompanhados por outros meios, aéreos ou espaciais.
O objetivo naquela noite, era um comboio carregando mísseis, drones suicidas e combustível, certamente endereçados a grupos terroristas que os utilizariam em breve para atingir alvos urbanos e estratégicos não longe das bases dos pilotos que se preparavam para destruí-los.
Com os caminhões alinhados no deserto à vista, os caças “invisíveis” finalmente abriram suas baias de armas e mergulharam sobre o inimigo despejando sua carga mortífera sobre os transportes. O ataque foi fulminante. Em pouco tempo o armamento ameaçador foi destruído, e 15 elementos que operavam os caminhões ou lhes faziam a escolta foram mortos. Em completo silêncio eletrônico, radar e infravermelho, os jatos retornaram à sua base como se nada houvesse acontecido. Havia sido mais uma missão conduzida com precisão pela Força Aérea Israelense.
Essa missão pode ou não ter ocorrido conforme narrada acima, pois até hoje não foi confirmada pelo governo israelense. Ela teria ocorrido na noite de 8 de novembro passado em uma localidade denominada Al-Quaim, na província de Deir Ezzor, no extremo leste da Síria, quase fronteira com o Iraque.
As autoridades sírias culparam os Estados Unidos sem saber de fato se eles haviam sido os executores do ataque. Já a mídia oficial iraniana confirmou que o comboio, “carregado de combustível”, havia de fato sido destruído. A rota não deixava dúvidas de que sua proveniência havia sido de lá.
Pouco depois, sites especializados russos noticiaram não apenas que as “aeronaves ou mísseis” não só não eram norte-americanas, mas sim, caças F-35I Adir israelenses, e que a carga atingida incluía mísseis fabricados no Irã, bem como drones do tipo Shahed 131 e 136. As mídias russas disseram ainda que dois alvos foram atingidos, ambos operados por milícias sírias apoiadas pelo Irã.
Para chegar à localidade do ataque, os caças alegadamente decolaram de sua Base de Nevatim, no deserto do Negev, e percorreram cerca de 500 quilômetros até a fronteira entre a Síria e o Iraque, sobrevoando diversos sítios com radares sírios e russos, o que talvez explique a maior profundidade de conhecimento da mídia russa. Será que os russos não “viram” os F-35I nas suas telas de radar e se mantiveram em silêncio para não “entregar” sua capacidade?
Especulações à parte, os F-35I, caso tenham sido eles, cumpriram sua missão na totalidade. Evitando que grupos como o Hamas ou o Hizbollah tivessem acesso a armas que poderiam causar um enorme estrago ao seu país.
Esse não foi o único ataque israelense no qual caças F-35I foram empregados contra alvos iranianos na Síria. Suspeita-se fortemente que no mês de outubro uma fábrica de drones iranianos foi destruída perto de Damasco. As operações aéreas israelenses são geralmente mantidas sob uma nuvem de mistério. São divulgadas somente quando os seus resultados beneficiam de alguma forma a estratégia geopolítica nacional.
Isso ocorreu após o dia 15 de março de 2021, quando foram divulgados filmes que mostram aviões F-35I abatendo dois drones iranianos que rumavam para a faixa de Gaza, no que foi o primeiro engajamento ar-ar do novo caça norte-americano.
O F-35I não é o único avião novo da Força Aérea de Israel, mas é o mais significativo e decisivo de sua ordem de batalha. Pois é o único avião na região “invisível” ao radar. Assim como ocorreu com outras aeronaves de seu passado, notadamente o Dassault Ouragan, o Dassault Mystére IV, o Super Mystére, o Dassault Mirage IIIC, o McDonnell Douglas F-15 Eagle e o Lockheed Martin F-16 Fighting Falcon, o F-35I, também obteve o seu batismo de fogo com a Força Aérea Israelense.
Israel é uma pequena nação mediterrânea de 22.072 Km2 e 9,3 milhões de habitantes, encrustada no Oriente Médio. Em algum momento de sua história teve que lutar contra todos os seus vizinhos, porém, hoje, está em paz com o Egito e com a Jordânia ao sudoeste e à leste, respectivamente. O Líbano, a norte e a Síria ainda estão tecnicamente na lista de seus inimigos. O território palestino, que busca sua total independência e que disputa o território israelense, também é uma grande situação não resolvida e de grande reverberação mundial. Porém, a maior ameaça à existência israelense é o Irã, que não esconde sua determinação de destruir o pequeno país.
Apesar de a região ser uma das mais instáveis do mundo, as atuais circunstâncias geopolíticas e a brilhante astúcia política do governo Donald Trump, fizeram com que fosse possível a assinatura dos Acordos de Abraão, em 15 de setembro de 2020. Neles, o Estado de Israel e os Emirados Árabes Unidos, dois países que são exemplos de civilidade e desenvolvimento na região, selaram a paz após décadas sem se falarem. Como num efeito cascata, outros três países árabes assinaram acordos de paz com Israel; o Barein, o Sudão e o Marrocos. Trump esperava mais adesões ao seu plano de paz, que, provavelmente, culminaria com uma adesão da Arábia Saudita e o consequente isolamento geopolítico do Irã, uma preocupação, não só para americanos e israelenses, mas para a maioria dos países do Golfo Pérsico.
Mesmo com a definição cada vez maior de seus verdadeiros inimigos, que além do Irã compreendem os grupos militares palestinos Hamas e Hizbollah e a Síria, os israelenses precisam se manter a par do que está sendo adquirido e/ou está em serviço na região em termos de equipamentos militares, que nos últimos anos teve um forte acréscimo em termos de novas aeronaves de combate. Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Barein, Omã, Arábia Saudita, Marrocos e Egito, são exemplos das fortes mudanças nas Ordens de Batalha (OBA) do Oriente Médio e Norte da África.
A Kuwait Air Force (KuAF) passou por uma grande renovação. Em 2016, a KuAF encomendou 28 Typhoons ao custo de US$ 8,7 bilhões. As primeiras unidades começaram a ser entregues em 2022 aos Esquadrões nº 7 e 18, ambos sediados na Base Aérea de Ali al Salem (OKAS). Ela também está trocando os F/A-18C/D Hornet por novos 22 F/A-18E e 6 F/A-18F Super Hornet. O contrato de US$ 2,7 bilhões foi assinado em 2018, as aeronaves já foram entregues e estão nos EUA para finalização do treinamento. Em 2023 elas entrarão em serviço nos Esquadrões nº 9, 25 e 61 (OCU) todos sediados na Base Aérea de Ahmed Al Jaber (OKAJ). Os F/A-18C/D serão postos à venda.
A Qatar Emiri Air Force (QEAF) também fez pesados investimentos, adquirindo entre 2015 e 2017 um misto de aeronaves. Foram 96 Boeing F-15QA, Dassault Rafale e Eurofighter Typhoon. Uma escolha interessante, cara e que demanda muita logística, mas justificada, como política para “não depender de um único fornecedor”. O investimento nos quase 100 caças foi de quase US$ 30 bilhões.
A primeira compra foi em 2015 quando 24 Dassault Rafale F3-R foram adquiridos. Essas aeronaves foram complementadas por mais 12 unidades em 2017, perfazendo seis Rafales DQ (biplaces) e 28 Rafales EQ (monoplaces) como são chamados na QEAF, ao custo de US$ 10,5 bilhões. As aeronaves começaram a ser recebidas em 2020, inicialmente no Esquadrão 1 sediado na Base Aérea de Tamim (QA-0001).
Em 2017, a Boeing vendeu por US$ 12 bilhões 36 F-15QA Ababil, uma versão do F-15E chamada F-15 Advanced Eagle, com muitos dos atributos do novo F-15EX. As aeronaves começaram a ser entregues no final de 2021 à QEAF, que os alocou ao Esquadrão 51 sediado na Base Aérea de Al Udaid (OTBH). No mesmo ano, a Leonardo negociou 24 Typhoons ao custo de US$7,25 bilhões, que começaram a ser entregues em 2022 aos Esquadrões nº 1 e 9, sediados na Base Aérea de Tamim (QA-0001).
A United Arab Emirates Air Force (UAEAF) fez recentemente — em dezembro de 2020, — a maior compra de aeronaves Rafale de um cliente estrangeiro. São 80 Rafale F4 ao custo de US$ 16 bilhões que irão atuar ao lado dos F-16E/F daquele país a partir de 2027. A UAEAF está desativando também sua frota de Mirage 2000-9DAE/DAD e vem fazendo investidas para compra do F-35A, assunto que ainda está em discussão e ao qual Israel vem se opondo. Os Rafales irão para os Esquadrões 71 e 76 em Abu Dhabi/Al Dhafra, unidades que voam hoje os Mirage 2000. O governo dos Emirados estava negociando um acordo de US$ 23 bilhões para a compra de 50 F-35A, drones MQ-9 Reaper e outras armas de vários tipos desde 2020, mas esse foi suspenso em dezembro de 2021 devido a um “significativo desacordo” entre os dois países (EUA e Emirados) dadas as restrições operacionais dos F-35, que inviabilizariam sua operação.
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