A partir de 2016, a Aeronautica Militare Italiana (AMI) passou a empregar seus Eurofighter Typhoon não somente em missões ar-ar, mas também, em missões ar-solo. Isso abriu espaço para que os TF-2000A e F-2000A, como são designados os Typhoons biplaces e monoplaces na AMI, passassem a receber uma nova configuração: Swing Role!
A Swing Role consiste na “capacidade de empregar uma aeronave multifuncional para múltiplos propósitos durante a mesma missão”. Traduzindo: uma aeronave multirole configurada para Swing Role é capaz de alterar ou trocar numa mesma surtida sua ação em voo na mesma missão de combate, passando, por exemplo, da arena ar-ar para ar-solo.
Texto e fotos: Katsuhiko Tokunaga
O 36° Stormo Caccia da Aeronautica Militare Italiana (AMI) está sediado no Aeroporto Militar “Antonio Ramirez” em Gioia del Colle (LIBV), Puglia, no sul da Itália. A unidade é equipada com os Eurofighter Typhoon T-2000A e TF-2000A em dois Gruppos (Esquadrões) – 10º e o 12º. O 36º Stormo está subordinado ao Comando Squadra Aerea (Comando do Esquadrão Aéreo) através do Comando Forze da Combattimento (Comando das Forças de Combate), sendo hoje uma das principais alas de defesa aérea da AMI. A principal missão dos dois Gruppos do 36º Stormo é a defesa aérea do espaço aéreo italiano nas 24 horas do dia, durante 365 dias por ano.
Além do 36º Stormo, a AMI tem outras duas alas equipadas com os F/TF-2000A: o 4º Stormo, sediado no Aeroporto Militare Grosseto (LIRS) “Corrado Baccarinina”, na Toscana ao qual estão subordinados o 9º e o 20º Gruppo, e, o 37° Stormo posicionado na Caccia no Aeroporto Militare Trapani-Birgi (LICT) “Livio Bassi”, na Sicília, na qual opera com o 18º Gruppo. O 20º Gruppo opera como uma OCU (Operational Conversion Unit) ou uma unidade de conversão operacional, dedicada a formar os pilotos de F-2000A.
A AMI adquiriu um total de 96 Eurofighters Typhoon, sendo 28 do tranche 1, 47 do tranche 2, e 21 do tranche 3. Originalmente, ela pensava em ter apenas duas bases aéreas de Typhoons em Grosetto e Gioia de Colle. A primeira cobrindo o espaço aéreo ao norte de Pisa e, a segunda, a região sul da Itália. A grande autonomia e a grande capacidade de defesa aérea do F-2000 tornaram isso possível.
Porém, em 2010, a crise na Líbia mudou a maneira de pensar e, por conseguinte, a doutrina da AMI. Com isso, Trapani passou a operar o caça europeu em 2012. Operando do sul da “bota”, o F-2000 além de projetar força na região do Mediterrâneo e do norte da África, tornou-se a primeira barreira de defesa italiana, podendo vetar inimigos ainda em mar aberto.
Além disso, o 32° Stormo Interdizione (Ala de Ataque de Interdição) localizado no Aeroporto Militare de Amendola (LIBA) – Luigi Rovelli, na Puglia, que opera com os Lockheed Martin F-35A/B Lightning II no 13º Gruppo, também foi integrado à rede de defesa aérea da Itália em 2020.
O 36º Stormo é composto por dois esquadrões: 10º Gruppo Caccia Intercettori (10º Esquadrão de Caça e Interceptação) e 12º Gruppo Caccia Intercettori (12º Esquadrão de Caça e Interceptação). O primeiro é o famoso esquadrão “Francesco BARACCA” que usa o mesmo emblema do “cavalo descontrolado” da Ferrari. Já o 12º Gruppo é o esquadrão Tigre da Força Aérea Italiana. O esquadrão começou a participar do evento Tiger Meet da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) apenas em 2017. Ainda assim, já conquistou o Troféu Tigre de Prata, a maior distinção do exercício, na prova de 2021 realizada na Base Aérea #11, em Beja, Portugal.
Embora já fosse uma conquista significativa para o F-2000A, essa vitória marcou muito a comunidade de usuários do Eurofighter. Apesar do fato de que os Typhoons alemães, espanhóis e italianos já tivessem participado do Tiger Meet antes, eles voavam apenas os cenários ar-ar, isto é, de defesa aérea, escolta, PAC e combate aéreo. A edição do ano passado foi a primeira vez que o Eurofighter Typhoon participou de todos os cenários, ou seja, ar-ar e ar-solo, incluindo Interdição e Close Air Support (CAS) e, por isso, seu desempenho foi tão marcante, representando a vitória de um caça multirole.
Os dois esquadrões são formados somente por pessoal operacional, ou seja, não formam alunos e instrutores. Seus pilotos ingressam na unidade após adquirirem uma certa experiência de voo operacional no F-2000 em outros esquadrões. Todas as aeronaves do 36º Stormo são empregadas por ambos os Gruppos que pertencem de fato ao 936° Gruppo Efficienza Aeromobili (936º Esquadrão Integrado de Manutenção de Aeronaves).
Ao contrário das outras três forças aéreas europeias que desenvolveram o Eurofighter juntas (RAF, Ejército del Aire e Luftwaffe), a Força Aérea Italiana planejava usar a aeronave apenas para a missão de defesa aérea. Cabia ao AMX (A-11 Ghibli na AMI) e aos Tornados IDS (A-200 na AMI) e, posteriormente, aos F-35A/B, realizar as missões ar-solo. No entanto, quando o padrão atualizado do Typhoon – o tranche 2 Block 10 foi introduzido em 2015, a AMI percebeu o excelente potencial ar-terra do bimotor Typhoon, que a partir do ano seguinte, foi introduzido no ambiente ar-solo.
Quando os Eurofighters italianos participaram em março de 2016 do exercício Red Flag da USAF na Base Aérea de Nellis, em Nevada, nos Estados Unidos, a AMI enviou dois F-2000A no padrão tranche 2 equipados com o pod designador Rafael Litening e bombas inteligentes GBU-12/16 para uma avaliação. Após os testes de acompanhamento feitos pelo Reparto Sperimentale Volo (RSV) – o centro de teste de voo italiano, a Força Aérea Italiana finalmente decidiu usar o Eurofighter na configuração de ataque ao solo e, após isso, na configuração Swing Role Fighter. Assim, o 36º Stormo tornou-se líder na AMI na introdução da capacidade ar-terra do Eurofighter. A unidade tem dois esquadrões operacionais, sendo a ala com mais aeronaves F-2000A disponíveis de toda a força aérea.
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