Facilmente reconhecidos pelos seus F-16C/D multicoloridos e o tail code “AK” de “AlasKa”, o 18th Aggressor Squadon é uma das unidades de treinamento dissimilar da Força Aérea Americana, responsável por não só por simular aeronaves inimigas, mas refinar e aferir a arte do combate aéreo aos pilotos das demais unidades operacionais da USAF.
Leandro Casella
Nem sempre os Blue Foxes (Raposas Azuis), codinome do 18th Aggressor Squadron (18th AGRS) da USAF, foram “Agressores do Alasca”. Longe disso. No entanto, desde o início, o gelado estado do Alasca esteve presente no seu DNA. A unidade nasceu como um esquadrão do United Stares Army Air Force (USAAF) em 22 de dezembro de 1939, denominado 18th Pursuit Squadron (18th PS), sendo ativado em 1º de fevereiro de 1940 na base Moffett Field, Califórnia, e equipado com um misto de aeronaves Curtiss P-36A e P-40E.
O esquadrão mudou-se pela primeira vez para o Alasca em 21 de fevereiro de 1941, ficando sediado na Base Aérea de Elmendorf, ainda equipado com os P-36/P-40. No ano seguinte, houve três mudanças: de equipagem, passando a voar apenas com os P-40; de sede, com a ida para Ft Greely – também no Alasca, onde permaneceu de 18 de abril a 23 de novembro de 1942; e de denominação, passando para 18th Fighter Squadron (18th FS) em 15 de maio.
No final de 1942, as “Raposas” ingressaram na II Grande Guerra, participando ativamente da Campanha das Aleutas (Alasca), dentro do teatro de operações do Pacífico. O objetivo era expulsar as tropas japonesas que invadiram as ilhas de Attu e Kiska, que fazem parte do arquipélago da Aleutas. O 18th FS operou deslocado nas ilhas de Adak, Amchitka e Attu, entre 6 de dezembro de 1942 e 31 de outubro de 1945. Para defender as ilhas e ampliar seu poder de fogo, a unidade passou, a partir de 1943, a ter uma frota mista, composta por aeronaves Bell P-39Q, Curtiss P-40N e Lockheed P-38L, onde estes dois últimos permaneceram na unidade até 1945. O 18th FS foi peça decisiva na expulsão dos japoneses em agosto de 1943 e na consequente manutenção da segurança das ilhas entre 1944/45, montando uma base em Attu a partir de 28 de março de 1944, voltada para defesa aérea e patrulha, evitando assim uma reinvasão.
Com o fim da guerra, o Esquadrão regressou a Elmendorf AFB em 6 de novembro de 1945, sendo transferido para Ladd Field, também no Alasca, em 20 de junho 1946, já reequipado exclusivamente com os North American P-51D, meses antes de ser desativado, em 15 de agosto daquele ano.
Com a criação da USAF, em setembro de 1947, algumas reformulações foram implementadas e, assim, o “18th” ressurgiu como 18th Fighter Interceptor Squadron (18th FIS) em 10 de outubro de 1952, sendo ativado em 1º de dezembro daquele ano no aeroporto de Minneapolis-St Paul Intenational/MN, equipado com os North American F-51K. Dois anos depois, os F-51 deram lugar ao North American F-86D Sabre, inaugurando a era a jato na unidade.
A partir de 1954, começaria uma série de trocas de equipamentos e sedes, típicas das “necessidades” da Guerra Fria. Em 28 de agosto de 1954, ocorreu o retorno a Ladd AFB/AK e a reequipagem com os Lockheed F-89D Scorpion. Em 20 de agosto de 1957, a unidade se mudou para Wurtsmith AFB/MI reequipada com os F-102 Delta Darth. Já em 1º de maio de 1960, ela mudou-se para Grand Forks AFB/ND, recebendo um misto de aeronaves McDonnell F-101B Voodoo e os Lockheed T-33A Thunderbird.
Depois de um período de inatividade, a partir de 15 de abril de 1971, a unidade voltou ao Alasca em 1º de outubro de 1977, sediada na Elmendorf AFB, agora como 18th Tactical Fighter Squadron (18th TFS) e equipada com os McDonnell Douglas F-4E Phantom. Em 1º de janeiro de 1982, ocorreu a última troca de sede, quando ela se mudou para a atual base, a Eielson AFB, sendo equipada com os Republic A-10A Thunderbolt II.
Em 1º de julho de 1991, ela foi novamente redesignada, agora para 18th Fighter Squadron (18th FS) e equipada com os Lockheed Martin F-16C/D, para, finalmente, em 1º de outubro de 2007, receber a atual designação: 18th Aggressor Squadron (18th AGRS), mantendo sua equipagem.
A era pós-Guerra Fria e do Golfo, em que houve redução de orçamentos, quantidades de unidades e aeronaves disponíveis a níveis nunca antes vistos, afetou diretamente as unidades Aggressors, a ponto de a USAF dissolver todos os seus esquadrões em 1990. Além da USAF, a US Navy e outras forças também reduziram seus investimentos nessa área. O que havia sido criado a partir de 1972 como uma escola essencial de combate aéreo, em 1990, parecia que não estava mais “na moda”.
Passou a se acreditar fielmente que não era mais necessário “treinar simulando o comportamento do adversário”. A única sombra de um esquadrão adversário que permaneceu ativo na USAF foi o 414th Combat Training Squadron, voltado exclusivamente para fornecer suporte aos exercícios Red Flag em Nellis.
Contudo, a teoria do “não é mais preciso” não se comprovou na prática e, gradualmente, o tempo e a globalização se encarregaram de formar novos players importantes (sucessores da URSS) como China, Rússia, Irã e Coreia do Norte, ressuscitando assim uma “nova Guerra Fria” com os EUA e seus aliados. Era hora de retomar velhos hábitos e se preparar e conhecer as táticas e técnicas dos adversários, e treinar contra elas era uma dessas necessidades.
No entanto, essa “percepção de uma nova Guerra Fria” não foi imediata, e, entre a desmobilização e a constatação de que o novo cenário exigia o aumento do treinamento dissimilar adversário, criou-se um problema; a realidade orçamentária e o curto espaço de tempo não permitiriam ter um número necessário de unidades, pilotos e aeronaves dedicados ao treinamento adversário ideal. Até porque havia a escassez de pilotos de caça, pois, com a redução de aeronaves na década de 1990, foram necessários menos pilotos operacionais.
No âmbito agressor, era preciso reativar, criar unidades e buscar, na iniciativa privada, empresas capazes de fornecer o serviço. Só assim seria possível recuperar parte do tempo perdido. Neste último caso, após um longo planejamento, a partir de 2015, diversas empresas – tais como ATAC, Draken, Air USA, TAC Air, entre outras – começaram a fornecer treinamento dissimilar em quantidade não só a USAF, mas a US Navy, empregado aeronaves que há bem pouco tempo estavam nas linhas de voo e pilotos de caça da reserva.