O plano de reequipamento da Força Aérea Brasileira prevê, num prazo de cinco a 10 anos, a desativação gradativa dos seus caças F-5M e A-1M, com a entrada em serviço dos F-39E/F, caças multimissão de geração 4,5. Será que é necessário que a FAB adquira um treinador a jato para utilizá-lo numa etapa intermediária, entre o A-29 Super Tucano e os caças de primeira linha?
Rudnei Dias da Cunha
Existem diferentes fases no preparo de um piloto selecionado para pilotar um caça a jato. Após o piloto ter cumprido com sucesso todas as fases de treinamento em aeronaves de menor desempenho, com motores a pistão e/ou turboélice, ele fará a transição inicial numa aeronave a jato, conhecida como Advanced Jet Trainer (AJT), a fim de adequar todo o conhecimento que já recebeu, como: decolagem e pouso, voo em formação e voo em condições de instrumento, adaptando-se ao novo regime de voo da nova aeronave. Idealmente, também, ele será exposto, pela primeira vez, a uma cabine de pilotagem bastante parecida com a do futuro caça que ele pilotará.
Uma vez obtida a proficiência de voo no preparo inicial, o piloto progredirá para o treinamento que levará à aviação de caça, etapa conhecida em inglês como Lead-In Fighter Training (LIFT). Essa fase é o elo primordial entre o treinamento inicial e as fases posteriores, no qual ele passará pelo emprego básico de armamento. É importantíssimo, para garantir uma transição adequada e com baixo índice de atrito, que a mesma aeronave seja usada no treinamento inicial e no LIFT. Nele, o piloto vai aprender a realizar as chamadas BFM (Basic Fighter Maneuvers) e, também, poderá ser exposto aos conceitos de combate aéreo na arena visual e além dela (Within Visual Range – WVR e Beyond Visual Range – BVR).
Inúmeras forças aéreas utilizam um avião a jato para fazer o treinamento inicial de futuros pilotos de caça ou à sua conversão operacional. Por outro lado, há que se considerar que há um custo substancial envolvido no uso de uma aeronave desse tipo, e, é por isso que surgiram iniciativas multilaterais, como o NATO Flying Training in Canada (NFTC), no qual a empresa de simuladores CAE é contratada para fornecer o treinamento aos futuros pilotos da Royal Canadian Air Force (RCAF) e outras forças aéreas, e o Euro-NATO Joint Jet Pilot Training Program (ENJJPT), operado pela United States Air Force (USAF), onde as forças aéreas de países da OTAN podem contratar o treinamento (incluindo horas de voo e de simuladores), barateando, dessa forma, o custo. Já a Itália, recentemente inaugurou a International Flight Training School (IFTS), operada de forma conjunta pela Leonardo (fabricante de aeronaves) e pela Força Aérea Italiana (AMI).
Existe ainda uma terceira opção: contratar uma empresa particular que forneça treinamento na área, com a sua própria frota de aeronaves. Atualmente, apenas uma empresa fornece esse tipo de serviço, a ITPS Canada Ltd, através da sua divisão International Tactical Training Center (ITTC), a qual dispõe de cinco aeronaves L-39C Albatros de fabricação tcheca. O ITTC já treinou pilotos das forças aéreas da Tailândia, Indonésia e Paquistão e, atualmente, mantém um contrato com a Força Aérea da Malásia para prover treinamento do tipo LIFT.
Nos EUA, a USAF usa atualmente o Northrop T-38C Talon, mas o futuro treinador a jato já foi selecionado e encontra-se na fase de testes e desenvolvimento – o Boeing T-7A Red Hawk. Já os aviadores navais utilizam o T-45C Goshawk, uma variante do British Aerospace (BAE) Hawk T.1, com capacidade de pouso em porta-aviões.
A Royal Air Force (RAF) utiliza atualmente o Hawk T.2A, uma evolução do Hawk T.1, tendo entrado em serviço em 2009. A Espanha utiliza os F-5M e os EF-18BM, modernizados, como treinadores avançados para os pilotos selecionados para voar os Eurofighter EF-2000 e os EF-18M. Outros países da OTAN, como Holanda, Bélgica, Alemanha, Dinamarca e Noruega, utilizam os centros de treinamento multinacional NFTC e ENJJPT, nos quais o treinamento é oferecido no Hawk 115 (conhecido como CT-155 no Canadá) e no T-38C (futuramente, no T-7A).
Já a Força Aérea Francesa adquiriu 17 exemplares do treinador turboélice suíço Pilatus PC-21, no ano de 2017. Ela continuará a utilizar o treinador a jato, Alpha-Jet, similar em concepção e idade ao Hawk T.1 britânico, como treinador avançado, antes do piloto passar a pilotar um caça Rafale ou Mirage 2000. Porém, os Alpha-Jet deverão, num futuro próximo, ser desativados e acredita-se que os PC-21 serão utilizados em seu lugar na missão de treinamento avançado.
De forma similar, a Suíça empregou o BAE Hawk entre 1990 e 2002 para treinamento avançado dos pilotos antes de eles passarem para os F-5E/F e F/A-18C/D. Entre 2003 e 2008, os F-5F passaram a ser usados no lugar dos Hawks, até o recebimento dos oito PC-21 encomendados em 2006. A partir de 2008, o treinamento avançado passou a ser realizado exclusivamente pelos PC-21.
A Itália, continuando com a sua tradição de produzir conceituadas aeronaves de treinamento a jato, utiliza hoje em dia os Aermacchi MB-339AM e MB-339CD, nas fases 2 e 3 de seu programa de treinamento, bem como o Leonardo (Alenia Aermacchi) M-346 Master como aeronave LIFT (fase 4 do programa). Outro treinador a jato que deverá entrar em serviço em breve na Aeronautica Militare Italiana é o Leonardo M-345.
Israel, que possui indubitavelmente uma das mais bem treinadas e poderosas forças aéreas do mundo, utilizou por muitos anos o Fouga Magister, mas, desde 2014, utiliza os M-346. De forma semelhante, a Polônia escolheu o M-346 para substituir seus antigos treinadores a jato TS-11 Iskra, desenvolvidos e fabricados localmente na década de 1960.