No dia 7 de outubro de 2020, o chefe do Estado-Maior Naval da Marinha do Paquistão (Pakistan Navy – PN), Almirante Zafar Mahmoud Abbasi, anunciou que o projeto chamado Sea Sultan, que visa a aquisição de uma nova aeronave de patrulha marítima de longo alcance (LRMPA – Long-Range Maritime Patrol Aircraft ), entrou em uma fase avançada. Vale lembrar que o LRMPA paquistanês vinha tomando forma desde 2016, quando começaram as propostas para um novo vetor, inicialmente na forma da versão de patrulha do ATR-72 (RAS-72 Sea Eagle). Dois anos depois ficou decidido que os Lockheed P-3C Orion seriam substituídos por uma aeronave a reação, e que esta, poderia ser até de origem americana, citando o P-8A Poseidon.
O Almirante Abbasi revelou neste mês, que a PN já teria encomendado uma aeronave comercial bimotora a jato para operar como plataforma LRMPA, e que, pretende adquirir um total de 10 unidades para substituir os atuais sete P-3C. E mais, a escolha teria recaído no jato brasileiro Embraer Lineage 1000E, conforme informações fornecidas por um militar paquistanês ao Defense News. O Ministério da Defesa Paquistanês não deu maiores detalhes, tão pouco se os jatos serão adquiridos do fabricante ou através de um fornecedor privado – leia-se usados. A Embraer, obviamente, não expõem dados dos seus clientes e não comentou o assunto.
Os requisitos da PN estipularam que o LRMPA teria que ter alcance acima de 4 mil milhas náuticas para uma aeronave bimotora com MTOW entre 120 e 140 mil libras, algo que favorece o Lineage. Se a PN reduzir seus requisitos de alcance para mais 2.500 milhas náuticas, também poderiam ser candidatos os Embraer E190E-2/E195-E2 e o Airbus 320.
A conversão de aeronaves comerciais, como base para plataformas militares de patrulha marítima e guerra anti-submarino (ASW –Anti–Submarine Warfare), não é algo novo. Entretanto, especialistas alertam para o fato das grandes modificações estruturais necessárias nesses projetos, principalmente, pelo integraçao de armamentos em um produto originalmente comercial.
Atualmente a Boeing oferece o P-8A Poseidon para forças navais, tendo como base o Boeing 737-800. Conforme noticiamos recentemente, a Marinha da Turquia recebeu o seu primeiro ATR-72 ASW, um projeto feito “a várias mãos”, envolvendo o fabricante da aeronave, as empresas TAI e Leonardo, que modificaram o turboélice comercial o uso militar, inclusive quecom armamentos navais. A Airbus está oferecendo um vetor baseado no A319/A32O e o próprio P-3 Orion deriva do Lockheed L-188 Electra II.
Porém, é preciso um pouco de cautela nesta informação da compra do Lineage por parte da PN. Apesar de já terem existido propostas da Embraer de fazer um versão MPA (Maritime Patrol Aircraft) da família 190/195 – o que inclui o Linage 1000E e de a empresa brasileira ter informado, em novembro de 2016, que estudava a possibilidade de uma versão de patrulha marítima das versões E-2, não existe projeto um projeto de fábrica em desenvolvimento. O que pode estar sendo planejado pelos paquistaneses, é a aquisição de um lote de aeronaves usadas ou mesmo novas de fábrica e, a partir daí, ser feita uma conversão, algo com um grande risco de projeto e financeiro.
Caso o Embraer Linage 1000 seja realmente confirmado como o novo vetor ASW do Paquistão, certamente a fabricante brasileira trabalhará em conjunto com a empresa que fará as modificações no seu jato executivo. A Embraer tem longa experiência em modificações de projetos civis para uso militar, como no caso dos jatos regionais da família EMB-145, que possuem versões altamente modificadas para missões AEW&C (Airborne Early Warning and Control), operando nas forças aéreas do Brasil, Grécia, Índia e México.
@FFO/CAS