Malvinas/Falklands – 40 anos: batismo de fogo do Boeing 707 da Força Aérea Argentina. Este dia 21 de abril de 2022 marca os 40 anos do batismo de fogo dos Boeing 707 da Força Aérea Argentina (FAA) na Guerra das Malvinas/Falklands. Uma missão de reconhecimento ao largo da costa brasileira, colocou o quadrijato argentino de frente com a esquadra britânica, que rumava em direção ao arquipélago no Atlântico Sul.
Naquele outono de 1982, a Força Aérea Argentina possuía dois Boeing 707, operados pela então Escuadrilla Boeing 707, subordinada ao Escuadrón II do Grupo 1 de Transporte, sediado na Base Aérea El Palomar, nos arredores de Buenos Aires. As aeronaves que compunham a frota da unidade eram o Boeing 707-387C, matrícula TC-91 (c/n 21070) e o Boeing 707-372C, TC-92 (c/n 20077).
Embora esses dois aviões fossem destinados para o transporte de passageiros e cargas, o Comando da FAA decidiu usá-los em missões de esclarecimento marítimo e vigilância, com objetivo de localizar e acompanhar a Força-Tarefa britânica (TF317) que rumava para o Atlântico Sul. Esses quadrimotores não possuíam sensores ou sistemas específicos para este tipo de missão, com exceção de um radar meteorológico de uso civil Bendix RDR, portanto, não destinado para a detecção de alvos de superfície.
Por volta das 05h00 da manhã, daquele 21 de abril de 1982, o Boeing 707 TC-91, decolava para o primeiro voo em missão de vigilância e reconhecimento distante, ou “Exploración y Reconocimiento Lejano” (ERL 01). Utilizando o código de chamada rádio “TITO”, a tripulação mista era composta do por oito militares da FAA e três da Armada Argentina, conforme identificação abaixo:
Tripulantes da Força Aérea Argentina (FAA)
Vice-comodoro RICARDINI J.
Vice-comodoro ARGUELLES BJ
Vice-comodoro GENOLET H.
Vice-comodoro CONTE MA
Vice-comodoro LOPEZ M. E
Suboficial Principal HUSTEY A.
Suboficial Sênior. ZARATE N.
Major Suboficial RIVAROLA M.
Tripulantes da Armada Argentina (ARA)
Capitão de fragata Luis A. DUPEYRON (na foto acima, em farda naval)
Tenente da Marinha (R) Oscar PINAL (Intérprete fotográfico. Em traje civil)
Cabo Diretor(R) Alfredo GARRIDO (Fotógrafo. Com blusão branco)
Pouco antes do meio-dia os tripulantes tiveram o primeiro sobressalto, quando às 11h30 um plote radar mostrava um alvo distante 40 milhas, que foi identificado visualmente como sendo uma embarcação comercial. Cerca de uma hora depois, enquanto voavam sobre uma camada de nuvens a 20 mil pés (FL200), surgiu um novo alerta. Seis alvos ecoavam na tela do radar, em uma formação simétrica, distante cerca de 70 milhas (130 km).
O ponto de contato ficava nas coordenadas 19°39’S e 21°35’W, e estava a cerca de 2.000 km da costa do Brasil (altura do estado do Espírito Santo), 1.500 km ao sul das Ilhas Ascensão (base de apoio britânica, localizada entre a África e o Brasil), 4.000 km de Buenos Aires e aproximadamente 5.000 km do seu destino, as Ilhas Malvinas/Falklands.
Minutos após o contato radar, às 12h30, uma abertura na camada de nuvens possibilitou que os tripulantes to TC-91″TITO” pudessem visualizar os navios britânicos da TF317. Foi possível distinguir os porta-aviões HMS Hermes (R12) e HMS Invincible (R05), bem como quatro Fragatas e Destróieres que os escoltavam. Era o primeiro contato dos argentinos com a frota real britânica!
Obviamente, os radares dos navios britânicos também haviam detectado o avião gigante em voo não identificado. Imediatamente os tripulantes argentinos observaram pelas as esteiras deixadas na água, que frota britânica iniciava uma manobra de dispersão em alta velocidade, evidentemente temendo um possível ataque aéreo.
Correndo contra o tempo, o piloto do TC-91 fez uma curva para o norte, tentando uma melhor posição solar para fazer as fotografias das embarcações, quando foi possível observar que algumas aeronaves estavam decolando do porta-aviões britânico. Rapidamente o comandante da missão de reconhecimento ordena a transmissão imediata das coordenadas do contato para Buenos Aires, enquanto inicia a subida e aceleração para retorno à Argentina. Ao chegar próximo de 40 mil pés (FL400), perto das 12h50, um grito ecoa no interior do TC-91: “Harrierrr abaixo e se aproximando!!!!”.
O grande Boeing 707 branco e azul da FAA havia sido interceptado pelo Sea Harrier FRS.1, matrícula XZ460/26 (c/n 912014), do 800 Naval Air Squadron (800 NAS), pilotado pelo Tenente Simon Hargreaves, e armado com dois mísseis ar-ar AIM-9L Sidewinder.
Alguns minutos antes o piloto naval britânico se preparava para fazer mais um voo de treinamento de rotina no HMS Hermes, quando recebeu o aviso de um contato radar real. Com a pressa de lançar o voo em defesa a Esquadra, o Sea Harrier de Hargreaves foi reconfigurado apenas com os mísseis AIM-9L, sem tempo para municiar os seus canhões ADEN de 30 mm.
O piloto do Sea Harrier realizou diversas manobras junto ao TC-91, oportunizando que várias fotografias fosse realizadas por ambas triulações. Naquele momento, as Regras de Engajamento (ROE) da TF317 não permitiam que as Patrulhas Aéreas de Combate (CAP) usassem armas contra intrusos, e que deveriam apenas escoltá-los para impedir um voo sobre a Esquadra. As disposições da ROE foram alteradas no dia seguinte, liberando o uso de armamentos.
Pouso depois das 13h00, o Sea Harrier abandonou a escolta e retornou para o HMS Hermes, aliviando a tensão que reinava a bordo do 707 argentino. O “TITO” pousou no Aeroporto Internacional de Ezeiza por volta das 18h30, finalizando com sucesso a missão ERL 01, que registrou pela primeira vez a contra-ofensiva lançada pelos britânicos para manter a posse das longínquas ilhas do Atlântico Sul.
Outros voos de reconhecimento foram realizados pelos dois Boeing 707 da FAA, mas sempre com risco iminente de uma interceptação com aplicações da nova ROE da TF317.
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