Os mísseis de cruzeiro são armas extremamente letais e de alta precisão que permitem atacar alvos a grandes distâncias sem que a aeronave lançadora se exponha às defesas inimigas. Suas origens remontam às V-1 alemãs da Segunda Guerra Mundial e, desde 1991, eles vêem sendo empregados nos principais conflitos, como os do Iraque, do Afeganistão, da Líbia e da Síria.
Rudnei Dias da Cunha
Introdução
Os mísseis de cruzeiro entraram para o conhecimento do público em geral no início do ano de 1991, quando pela primeira vez uma guerra foi televisionada em tempo real desde o campo de batalha inimigo. As cenas filmadas em Bagdá por equipes de reportagem durante a primeira Guerra do Golfo são emblemáticas, particularmente uma delas na qual um míssil de cruzeiro Tomahawk, de fabricação norte-americana, passa a poucas centenas de metros acima de uma dessas equipes, numa avenida da capital iraquiana. Mais recentemente, em 2015 durante o conflito da Síria, foi filmado o lançamento de mísseis de cruzeiro Kalibr, de fabricação russa, a partir de cruzadores no mar Mediterrâneo.
Mas o que é um míssil de cruzeiro? Tradicionalmente, um míssil de cruzeiro se distingue de um míssil balístico por voar a baixas altitudes dentro da atmosfera terrestre (isto é, a altitudes inferiores a 100 km) e a velocidades subsônicas ou supersônicas, com o auxílio de meios de sustentação aerodinâmica durante todo o voo para lançar ou colocar uma carga útil com armamento explosivo ou NBQ (Nuclear, Biológico ou Químico) num alvo distante, a no máximo 500 km do vetor de lançamento. Os mísseis de cruzeiro são tipicamente categorizados pela missão pretendida; míssil de cruzeiro de ataque terrestre (LACM – Land-attack Cruise Missiles) ou como um míssil de cruzeiro antinavio (ASCM – Anti-Ship Cruise Missile). Eles ainda podem também ser categorizados segundo a plataforma de lançamentos: aeronaves, navio, submarino ou lançador terrestre.
A orientação de um míssil de cruzeiro geralmente ocorre em três fases: lançamento, médio curso e terminal. Durante a fase de lançamento, um míssil é guiado usando apenas o sistema de navegação inercial (INS). Durante a fase de médio curso, o INS do míssil é atualizado por um, ou mais, dos seguintes sistemas: um sistema de navegação por satélite (como o GPS norte-americano ou o GLONASS russo), um sistema de correspondência de contornos de terreno (TERCOM), por um radar ou sistema de correspondência de cena por comparação óptica. A fase de orientação terminal começa quando um míssil entra na área do alvo e usa um sistema de correspondência de cena mais preciso ou um buscador de alvo (geralmente um sensor óptico ou um radar). Alguns desses mísseis utilizam sistemas de orientação altamente precisos que podem colocar o míssil a poucos metros do alvo pretendido.
Uma característica importante exibida pelos mísseis de cruzeiro é que eles são alvos desafiadores para sistemas de defesa aérea. Em geral, um míssil de cruzeiro voa a baixas altitudes, de modo a ficar abaixo da linha de visão de um radar. Além disso, o plano de voo empregado pode explorar as características do terreno – tais como montanhas e vales – para se esconder dos radares, empregando ainda rotas tortuosas para o alvo, evitando instalações de radar e defesa aérea. Os mísseis de cruzeiro também podem exibir configurações aerodinâmicas furtivas, reduzindo sua assinatura radar, além de poderem ser equipados com sistemas de autodefesa, como lançadores de chaff e flare. Do ponto de vista de emprego operacional, uma salva de mísseis de cruzeiro pode ser lançada para se aproximar de um alvo simultaneamente vinda de diferentes direções e saturando as defesas aéreas, como foi observado no recente ataque às instalações petrolíferas na Arábia Saudita, em setembro de 2019.
Cabe salientar que os avanços tecnológicos alcançados nas últimas décadas em termos de meios de propulsão com motores do tipo ramjet (motor a jato que não possui partes móveis) empregados em diferentes mísseis, em alguns casos proporcionando velocidades hipersônicas, e, o uso de superfícies de sustentação em mísseis ar-terra (e também, ar-ar), tornaram um tanto difuso esse conceito de mísseis de cruzeiro. Por outro lado, surgiram na última década bombas com guiamento híbrido (navegação INS/GPS e, em alguns casos, com apontamento a feixe de laser) dotadas de asas que se abrem em voo, como por exemplo a Small Diameter Bomb (SDB I) norte-americana, com alcance de mais de 100 km. Exceto pelo fato de essas bombas planadoras não serem equipadas com quaisquer tipos de motores, elas poderiam se encaixar na definição acima, mas por esse motivo, tais armamentos não serão cobertos neste artigo.
Assim, de forma a mostrarmos um panorama geral dos principais mísseis de cruzeiro em uso hoje em dia, consideraremos neste trabalho mísseis que podem em certos casos expandir o conceito acima. Inicialmente, iremos apresentar sua evolução histórica.
História
Assim como o míssil balístico alemão A4/V-2 utilizado durante a Segunda Guerra Mundial para atacar Londres e a Antuérpia, que é considerado o “pai dos mísseis balísticos” e também dos foguetes utilizados para lançamento de cargas úteis como satélites, a primazia do desenvolvimento e utilização do que hoje se chama de míssil de cruzeiro, coube aos alemães com a “bomba voadora” V-1.
A V-1 (Vergeltungswaffe 1 – arma de vingança) ou Fieseler Fi-103 era uma pequena aeronave, dotada de asas curtas e propulsada por um motor pulso-jato Argus As 109-014, o qual gerava o característico zumbido durante o voo. Dotada de uma carga explosiva convencional de 850 kg, ela voava a 640 km/h a uma altitude de 1.800 a 3.000 pés com um alcance de até 250 km, sendo guiada até o alvo por piloto automático baseado em uma bússola giroscópica. Um sistema eletromecânico baseado em um hodômetro e em uma pequena hélice localizada no nariz da V-1, era utilizado para, após a distância prevista de voo ter sido percorrida (a cada 30 revoluções da hélice, o contador do hodômetro diminuía uma unidade), comandar o travamento dos profundores em posição de mergulho e cortar o funcionamento do leme. Dessa forma, a V-1 mergulhava em direção ao alvo. Em geral, a mudança brusca na atitude de voo causava a interrupção do fornecimento de combustível ao motor, resultando na sua parada e, consequentemente, o característico zumbido do motor, que avisava a população sobre a iminente explosão da bomba.
A V-1 era lançada a partir de uma catapulta no solo, ou de bombardeiros Heinkel He 111H-22 modificados para transportar o míssil sob a asa esquerda entre a fuselagem e o motor. Duas unidades aéreas da Luftwaffe empregaram com sucesso essa versão, o III/Kampfgeschwader 3 (KG 3) e o Kampfgeschwader 53 (KG 53), entre julho de 1944 e janeiro de 1945. Mais de 1.100 exemplares da V-1 foram lançados a partir desses bombardeiros contra alvos na Grã-Bretanha, incluindo Londres e os portos de Portsmouth e Southampton. Um fato interessante a respeito do emprego da combinação He 111H-22/V-1 era o perfil de voo lo-hi-lo (low-high-low) utilizado pelas tripulações dos bombardeiros para evitar a sua detecção pelo radar, subindo para altitudes em torno de 3.000 pés apenas para fazer o lançamento e, logo depois retornando para suas bases na Holanda em voo rasante sobre o mar.
Apesar de sua introdução em serviço ter causado dificuldades para a defesa aérea da Grã-Bretanha, contramedidas logo foram colocadas em uso adotando uma defesa em três níveis com anéis de artilharia antiaérea, barragens de balões e interceptação por caças, em que se destacaram os Hawker Tempest, de Havilland Mosquito, os Vickers-Supermarine Spitfire Mk.XIV britânicos e o North-American P-51B/D Mustang norte-americano. O Tempest, por ser o mais rápido de todos e dotado de armamento mais pesado (quatro canhões de 20 mm), acabou por alcançar o maior número de vitórias sobre as V-1 (638), seguido pelo Mosquito (623), Spitfire XIV (303) e Mustang (232). Outros caças também empregados no combate às V-1 acabaram por destruir um total de 158 delas.
Com o fim da guerra, inúmeros exemplares de V-1 foram capturados pelos Aliados e serviram de base para diferentes artefatos. A França produziu uma versão em tamanho menor para ser usada como alvo aéreo; a União Soviética produziu uma cópia da V-1, mas seu desenvolvimento foi terminado no início da década de 1950 devido ao seu sistema de navegação pouco preciso. Nos EUA, a V-1 serviu de base para os mísseis Republic-Ford JB-2 Loon, os quais podiam ser lançados a partir de navios, submarinos ou aeronaves de patrulha marítima, como os Consolidated PB4Y-1 e PB4Y-2. Alguns exemplares foram destinados para uso contra o Japão, mas não chegaram a ser utilizados antes da rendição japonesa em agosto de 1945. Após a guerra, os JB-2 serviram de base para o desenvolvimento de mísseis norte-americanos terra-terra.
Os mísseis de cruzeiro começaram a surgir já na primeira metade da década de 1950, quando a URSS introduziu em serviço inicialmente o KS-1 Komet (designado pela OTAN como AS-1 Kennel) e o Kh-20 (AS-3 Kangaroo). O KS-1 era destinado ao emprego contra alvos navais de superfície (usando explosivo convencional ou nuclear) e o Kh-20 contra alvos estratégicos terrestres (usando explosivo nuclear). Ambos tinham motores turbojato e eram baseados nos caças MiG-15 e no MiG-21, respectivamente, sendo lançados de bombardeiros soviéticos como o Tu-4 Bull, Tu-16 Badger e Tu-95K Bear. Em 1962, os soviéticos colocaram em serviço o KSR-2 (AS-5 Kelt), um míssil de cruzeiro dotado de motor-foguete a combustível líquido, voltado para emprego contra alvos navais de superfície e terrestres. Ele era lançado a partir do Tu-16 e foi empregado pela força aérea egípcia contra alvos israelenses durante a guerra do Yom Kippur, em 1973.
Os EUA colocaram em serviço seu primeiro míssil de cruzeiro somente em 1961, quando os bombardeiros B-52G/H, passaram a levar dois AGM-28 Hound Dog sob as asas. Equipado com uma ogiva nuclear de 1 MT, o AGM-28 era dotado de um motor turbojato e alcançava velocidades superiores a Mach 2, sendo dotado também, de navegação inercial e correção de curso por rastreamento estelar. Com apenas 600 exemplares construídos, o Hound Dog foi utilizado até 1976. Quatro anos antes, a USAF colocou em serviço o AGM-69 SRAM de dimensões menores, permitindo o transporte de até 20 deles por um B-52 (oito na baia de bombas e 12 em cabides subalares), enquanto os bombardeiros FB-111A podiam transportar seis deles. O SRAM era dotado de um motor-foguete de dois estágios usando combustível sólido, e empregava um perfil de voo balístico para atingir alvos estratégicos e, assim, minimizar as chances de interceptação pelas defesas soviéticas. Aproximadamente 1.500 exemplares foram produzidos, sendo utilizados até 1990, quando foram desativados.
Já o Reino Unido introduziu em 1962, o Avro Blue Steel. Equipado com um motor-foguete a combustível líquido (de operação complexa, por ser altamente inflamável e corrosivo), o Blue Steel era dotado de uma ogiva nuclear de 1,1 MT. Ele foi utilizado pelos bombardeiros Avro Vulcan B.2 e Handley-Page Victor B.2, que transportavam um desses mísseis, parcialmente embutido na fuselagem ventral. Com a entrada em serviço dos mísseis balísticos Polaris na Marinha Real, lançados por submarino, o Blue Steel foi desativado em 1969.
A URSS recebeu em 1967 o Kh-22 (AS-4 Kitchen), um míssil de cruzeiro que foi projetado em conjunto com o bombardeiro Tu-22 Blinder. O Kh-22 era dotado de um motor foguete a combustível líquido, e continua em uso nos dias de hoje, sendo capaz de atacar alvos navais e terrestres com ogivas de explosivo convencional, perfurante de blindagem e nuclear. Um míssil de cruzeiro semelhante ao Kh-22 é o KSR-5 (AS-6 Kingfish), voltado para o ataque a alvos navais, colocado em serviço em 1974, sendo empregado a partir dos Tu-16; uma versão antirradar, KSR-5P, utiliza um sensor passivo para detectar e travar num alvo-radar.
Em 1981, os EUA passaram a empregar o AGM-86B ALCM (Air Launched Cruise Missile). Seu desenvolvimento iniciou-se em 1968, e a primeira versão, o AGM-86A, introduziu o sistema de navegação inercial por correspondência de contorno do terreno (TERCOM – Terrain Contour Matching) para aumentar a precisão no ataque e minimizar as chances de interceptação em voos próximos ao solo. No entanto, devido ao seu pequeno raio de ação, ele não entrou em serviço. A versão AGM-86B, de maior alcance, foi selecionada para uso pela USAF a partir de seus B-52G/H, os quais podem transportar 20 ALCMs, oito internamente e 12 em cabides subalares. O AGM-86B é dotado de um motor turbofan e asas retráteis que se abrem após o lançamento. A versão AGM-86C CALCM (Conventional Air Launched Cruise Missile) entrou em serviço em 1990 e foi utilizada com grande sucesso na primeira Guerra do Golfo, quando 35 desses mísseis foram lançados no primeiro dia da Operação “Desert Storm”, por sete B-52G, os quais realizaram uma das mais longas missões de bombardeio, com duração de 35 horas de voo.
Em 1983, a União Soviética acrescentou ao seu arsenal um dos mais importantes mísseis de cruzeiro desde então, o Kh-55 (AS-15 Kent). Dotado de um motor turbojato retrátil e asas que se abrem após o lançamento, o Kh-55 é usado até hoje em diferentes versões, tendo servido de base para o desenvolvimento de mísseis similares, como o Hoveyzeh iraniano. Ele foi desenvolvido para equipar os bombardeiros estratégicos Tu-95MS e Tu-160 Blackjack. O Tu-95MS pode transportar 16 desses mísseis, sendo seis internamente e 10 em cabides subalares, ao passo que o Tu-160 transporta 12, internamente.
O último país dos “cinco grandes” a empregar um míssil de cruzeiro foi a França. O desenvolvimento do ASMP (Air-Sol Moyen Portée – Míssil Ar-Terra Aerotransportado) começou em 1974 pela Aérospatiale. O ASMP emprega um motor-foguete para a fase inicial de voo e, após alcançar velocidade supersônica, seus motores ramjet a combustível líquido entram em operação, alcançando velocidades de até Mach 3. Dotado de uma ogiva nuclear de 150 a 300 KT, o ASMP empregava navegação inercial por correspondência de contorno do terreno. Ele entrou em serviço em 1986 a bordo dos bombardeiros estratégicos Mirage IVP. Com a desativação dos Mirage IVP, a missão de ataque nuclear tático foi assumida pelos Mirage 2000N; os ASMP também podiam ser transportados pelos SuperÉtendard da aviação naval francesa, embarcados em porta-aviões.
Os mísseis de cruzeiro na atualidade
MBDA (UK) Storm Shadow/Scalp EG
Em 1982, o Ministério da Defesa (MOD UK) do Reino Unido iniciou estudos para o desenvolvimento de um míssil stand-off, estudos esses posteriormente utilizados como base no projeto Modular Stand-Off Weapon da OTAN que envolvia sete países. Esse projeto não se desenvolveu a contento e o Reino Unido o abandonou. No entanto, a necessidade de tal arma continuava premente e, em 1994, o MOD UK solicitou o envio de propostas para atender às necessidades do requerimento CASOM (Conventionally Armed Stand Off Missile). Uma das propostas foi feita pela empresa israelense Rafael Advanced Defense Systems, apresentando o Popeye Turbo (descrito a seguir).
Das sete companhias que responderam ao pedido, a MBDA (UK) foi selecionada com o míssil Storm Shadow, e, em 1997, um contrato foi assinado para desenvolvimento e produção do míssil. O Storm Shadow é um melhoramento do míssil antipista francês Apache AP, e destina-se a atacar alvos de alto valor estratégico e tático, como, por exemplo, centros de controle e comando enterrados e/ou protegidos por grossas paredes. A versão francesa do Storm Shadow é denominada SCALP EG (sigla em francês que significa míssil de cruzeiro de longo alcance de emprego geral).
O Storm Shadow tem 5,10 m de comprimento e 3 m de envergadura e pesa 1,3 tonelada. Sua velocidade é de Mach 0,8 e o alcance é de aproximadamente 560 km. O míssil é dotado de um computador principal que recebe os dados de guiamento e informações sobre o alvo (na forma de imagens em diferentes níveis de resolução) antes de ser lançado da aeronave. Após o lançamento, o míssil abre suas asas e navega em baixa altitude usando um sistema integrado de GPS, seguindo o perfil do terreno. Ao se aproximar do alvo, ele ganha altitude, descarta a capa protetora do nariz e passa a buscar a identificação do alvo com uma cabeça de busca infravermelha (IR). As imagens obtidas com o sensor IR são comparadas com as fotos armazenadas antes do lançamento e em alta resolução de forma a garantir a maior precisão possível. Sua cabeça de guerra de 450 kg de explosivo convencional, é otimizada para emprego contra alvos reforçados, denominada BROACH (Bomb Royal Ordnance Augmented Charge). Ela é dotada de duas cargas explosivas, sendo a primeira usada para perfurar um bunker ou penetrar no solo, e a segunda para destruir o alvo, sendo essa dotada de uma espoleta de tempo.
O Storm Shadow foi empregado com sucesso pelos caças Tornado GR4 do Esquadrão no 617 da RAF durante a campanha no Iraque em 2003, mesmo antes de encontrar-se em serviço definitivo na RAF. Os resultados demonstraram a precisão excepcional e o efeito devastador do míssil. Em 2011 durante a guerra civil na Líbia, Tornados da RAF e da Força Aérea Italiana, bem como os Rafale da Força Aérea Francesa empregaram o Storm Shadow/SCALP EG. Desde 2015, ele vem sendo empregado contra alvos do ISIS na Síria.
O Storm Shadow/SCALP EG é empregado pelos Typhoon FGR4 da RAF, e hoje, é parte do arsenal dos Tornados IDS italianos, Mirage 2000C, Rafale F3 e Gripen C/D. A versão naval do míssil, denominada de MdCN (míssil de cruzeiro naval), é utilizada pela Marinha Francesa a bordo das fragatas FREMM e dos submarinos das classes Scorpène; o MdCN foi usado pela primeira vez em 2018 contra alvos em Damasco e Homs.
MBDA ASMP-A
Em 1991, a MBDA desenvolveu uma nova versão do míssil francês ASMP denominada ASMP-A (Air-Sol Moyen Portée Amélioré) com a finalidade de aumentar o alcance e, ao mesmo tempo, modernizar seus sistemas de bordo. Da mesma forma que o ASMP, o ASMP-A é dotado de um sistema de propulsão de dois estágios, com um motor-foguete a combustível sólido que impulsiona o míssil até alcançar a velocidade de Mach 2 em apenas 5 segundos. O motor-foguete é então descartado e os motores ramjet passam a ser empregados, permitindo-o alcançar uma velocidade de até Mach 3, dependendo da altitude de emprego. O ASMP-A pode alcançar alvos a distâncias de até 600 km (o dobro do alcance do ASMP), dependendo da altitude de lançamento. Acredita-se que o guiamento empregado no ASMP-A seja misto, combinando navegação inercial e TERCOM, com trajetória pré-programada antes do lançamento. Atualmente, o ASMP-A é empregado pelos caças Rafale F3.
Israel Military Industries Delilah
Em serviço na força aérea israelense (IAF) desde 1995, o Delilah é um míssil de cruzeiro com alcance de 250 km, projetado para atingir alvos fixos ou móveis com precisão de 1 m. Ele é dotado de um motor turbojato que impulsiona o míssil a velocidades de cruzeiro de 0,7 Mach e 0,85 Mach no mergulho para atingir o alvo.
Desenvolvido a partir do alvo aéreo MQM-74 da USAF, o Delilah utiliza guiamento misto inercial e por satélite (INS/GPS), sendo dotado de um piloto automático que permite que ele seja empregado de forma autônoma. Através de um datalink, correções de curso podem ser transmitidas por um operador a bordo de uma aeronave, bem como o travamento no alvo após a validação do mesmo, usando os sensores eletro-ópticos (câmera CCD e IR) instalados na parte dianteira do míssil.
O Delilah pode voar a altitudes de até 28.000 pés e, diferente de outros mísseis de cruzeiro, ele pode permanecer voando sobre uma região de interesse até que o alvo surja. Isso permite que a aeronave lançadora se afaste, aumentando suas chances de sobrevivência e, também, reduzindo as chances de detecção do míssil. O Delilah é empregado pelos caças F-16D e F-16I, e por helicópteros H-60 israelenses. Seu primeiro uso em combate foi sobre o Líbano, em 2006 e, em 2018, foi empregado contra as baterias de mísseis terra-ar na Síria.
Rafael Advanced Defense Systems Popeye Turbo
A família de bombas e mísseis stand-off Popeye é desenvolvida pela empresa israelense Rafael Advanced Defense Systems desde o início da década de 1980. Em 1994, ela desenvolveu a versão Popeye Turbo ALCM incorporando um motor turbojato e asas retráteis ao míssil Popeye (também empregado pelos EUA como AGM-142A Have Nap).
O guiamento do Popeye Turbo é feito usando navegação inercial na fase de cruzeiro e, na fase terminal, usando uma combinação de navegação inercial e comandos transmitidos via datalink por um operador que enxerga o alvo, seja através de imagens ópticas ou de IR. Esse guiamento terminal pode ser feito inclusive por um operador a bordo de outra aeronave que não a lançadora do míssil, a qual pode evadir-se após o míssil ter sido lançado. As informações a respeito do alcance do Popeye Turbo são escassas, mas quando ele foi apresentado como proposta ao requerimento britânico CASOM, foi aludido que ele apresentaria um alcance de 320 km. Em termos de cabeça de guerra, o Popeye Turbo pode ser equipado com uma carga explosiva convencional de 340 kg ou penetradora de alvos reforçados, de 360 kg.
A versão do Popeye Turbo lançada a partir de submarino (SLCM) tem um alcance de pelo menos 1.500 km, conforme verificado pela Marinha dos EUA durante os testes realizados por Israel em 2002 ao largo da costa do Sri Lanka. Ele é lançado a partir dos submarinos israelenses da classe Dolphin e acredita-se que possa ser equipado com uma ogiva nuclear de 200 quilotons.
EADS/Bofors Taurus KEPD 350
O míssil stand-off KEPD 350 é destinado a atacar com precisão alvos de alto valor tático. Ele foi desenvolvido a partir do planador dispensador de submunições EADS/Bofors DWS39, sendo similar em conceito ao Storm Shadow/SCALP EG.
O KEPD 350 emprega um motor turbofan Williams P8300-15, que o impulsiona a velocidades supersônicas (Mach 1). Um par de asas retráteis proporciona a sustentação em voo após o lançamento. A navegação é feita com sistemas GPS/INS e TERCOM, permitindo que ele voe a baixas altitudes (entre 40 m e 50 m). Durante a fase terminal do voo, um sensor de imagem IR instalado no nariz do míssil proporciona a identificação do alvo (podendo ser também utilizado para verificação de fixos de navegação durante a fase de cruzeiro).
O míssil emprega uma cabeça de guerra de 481 kg, com uma carga precursora para penetração e uma carga principal para destruição do alvo; uma espoleta programável calcula a separação ótima de tempo para maximizar a explosão. O míssil tem comprimento de 5,10 m, e no lançamento, peso de 1.400 kg. O KEPD 350 tem um alcance superior a 500 km.
Mais de 800 exemplares foram produzidos e estão atualmente em serviço nas forças aéreas alemã, espanhola e sul-coreana. O KEPD 350 foi integrado aos caças Tornado IDS, Eurofighter EF2000, F/A-18C Hornet, Boeing F-15K e Gripen.
Sagem AASM/HAMMER
O míssil/bomba-planadora AASM (Armament Air-Sol Modulaire), também conhecido pela sigla HAMMER (Highly Agile Modular Munition Extended Range) é uma arma do tipo stand-off, capaz de ser lançada a mais de 50 km, quando de grandes altitudes, ou até 15 km, quando de baixas altitudes. O AASM foi projetado para substituir o míssil francês AS-30L e operar em complemento ao míssil Storm Shadow/SCALP EG. O AASM é um conjunto formado por um kit de navegação GPS/INS (incluindo aletas de manobra) ou uma cabeça com sensor óptico IR, e uma bomba de 900 kg, podendo ser configurado como uma bomba planadora, ou ainda, ser provido de um foguete.
O guiamento GPS/INS é feito de acordo com um padrão de voo pré-programado através de um sistema computadorizado e carregado no AASM antes do lançamento. A precisão alcançada com esse guiamento é de 10 m. Já o guiamento IR, tanto diurno como noturno, é empregado na fase terminal do voo, comparando a imagem obtida do alvo com uma imagem armazenada no computador de bordo do AASM (por exemplo, uma foto de satélite). A precisão nesse caso é inferior a 10 m.
O AASM entrou em serviço em 2007 com os Rafale e Mirage 2000 franceses, tendo sido empregado nos conflitos do Afeganistão e durante a guerra civil na Líbia, quando mais de 200 AASM foram lançados. O míssil foi exportado para Egito, Marrocos e Qatar.
Boeing AGM-84H SLAM ER
O AGM-84H SLAM ER (Standoff Land Attack Missile Expanded Response) é um míssil de alta precisão e longo alcance, empregado contra alvos terrestres com estrutura reforçada. Seu guiamento é feito através do sistema de geolocalização GPS e imageamento infravermelho para navegação e controle, sendo ele capaz de atingir alvos fixos ou em movimento. O míssil pode receber novas coordenadas do alvo na fase terminal do voo através do uso de datalink. O AGM-84H tem alcance máximo de 278 km e velocidade máxima de 853 km/h. O míssil mede 4,73 m de comprimento e tem um diâmetro de 34 cm. Ele é dotado de duas asas retráteis, situadas na parte inferior do corpo do míssil, e quatro aletas para direção, na parte traseira. A envergadura das asas estendidas é de 2,18 m. O peso no lançamento é de 675 kg e a ogiva explosiva pesa 227 kg.
Raytheon AGM-154 JSOW
A AGM-154 JSOW (Joint Standoff Weapon) é uma bomba planadora capaz de atingir alvos a mais de 60 km de distância. Seu projeto apresenta características modulares, permitindo diferentes combinações de carga útil e sistemas de guiamento. Nas suas três versões, ela é provida de duas asas retráteis que se estendem após o lançamento. A navegação é feita pelo sistema inercial GPS/INS, podendo ser empregada sob quaisquer condições de tempo. Durante a fase terminal de voo, pode ser usado imageamento IR e correção por datalink. A versão AGM-154A é equipada com uma ogiva contendo 145 submunições BLU-97/B, e destina-se a atacar alvos móveis e fixos com pouca blindagem. Essa versão pode ser equipada com um foguete, aumentando seu alcance para mais de 200 km.
A AGM-154B destina-se a atacar alvos blindados fixos e móveis. Ela emprega seis submunições BLU-108/B, cada qual capaz de lançar seis projéteis em diferentes direções formando um cone destrutivo. Já a AGM-154C é empregada para atingir alvos fixos blindados e navios; ela emprega a bomba BLU-111/B de 226 kg. Durante a fase terminal do voo, emprega uma cabeça de guiamento IR combinada com correções de curso recebidas por meio de datalink, o que garante alta precisão.
Lockheed Martin AGM-158 JASSM
O AGM-158 JASSM (Joint Air-to-Surface Standoff Missile) é um míssil de longo alcance que se encontra em desenvolvimento desde 1999. Dotado de duas asas retráteis, a navegação é feita com um sistema GPS/INS, e o guiamento terminal é feito com uma cabeça IR. O AGM-158 é dotado de um turbojato que o impulsiona a velocidades subsônicas, e o alcance máximo é estimado em 370 km.
MKB Raduga Kh-101/Kh-102
De fabricação russa, os mísseis de cruzeiro Kh-101 (armamento convencional) e Kh-102 (armamento nuclear) descendem do míssil Kh-55, e foram produzidos como resultado do tratado sobre forças nucleares de alcance médio de 1987 (recentemente denunciado pelos EUA e abandonado em 2019 pela Rússia).
Ambos são mísseis furtivos de longo alcance (entre 4.500 e 5.500 km de distância), que empregam materiais que absorvem a radiação eletromagnética emitida por radares. A propulsão é obtida através de um motor turbofan TRDD-50A, o qual permite que o Kh-101/Kh-102 alcance uma velocidade máxima de 900 km/h.
O guiamento é misto, usando navegação inercial, TERCOM e por satélite (GLONASS) na fase de cruzeiro, e por imagem óptica na fase terminal, com uma precisão alegada inferior a 6 m. O perfil de voo na fase de cruzeiro é a baixa altitude (entre 30 m a 70 m). O Kh-101 emprega uma cabeça de guerra de 400 kg de explosivo convencional, ao passo que o Kh-102 utiliza uma ogiva nuclear de 450 KT.
Esses mísseis podem ser lançados a partir dos bombardeiros Tupolev Tu-95MS Bear, Tu-160 Blackjack e o caça-bombardeiro Su-34 Fullback. Em 17 de novembro de 2015, o Kh-101 foi empregado pela primeira vez, contra alvos nas cidades sírias de Homs, Raqqa e Aleppo. Esse ataque demonstrou a capacidade de emprego do Kh-101, pois os mísseis foram lançados por bombardeiros Tu-95MS sem terem adentrado o território sírio, numa missão que percorreu mais de 11.000 km de distância desde a base russa de Engels.
NOVATOR 3M-14AE/3M-54AE/3M-54AE1
Os mísseis de cruzeiro 3M-14AE, 3M-54AE e 3M-54AE1 são versões da família de mísseis Club, para lançamento a partir de aeronaves. O 3M-14AE destina-se a destruir alvos estacionários de superfície; já os 3M-54AE e 3M-54AE1 podem também atacar navios. A navegação é inercial na fase inicial, e, por radar próprio na fase terminal; o 3M-14AE emprega também navegação por satélite.
O 3M-14AE e o 3M-54AE1 são mísseis subsônicos, com velocidade máxima de Mach 0,70. Já o 3M-54AE é um míssil de duplo-estágio no qual a parte inicial do voo até o alvo é feita de forma subsônica. Na fase terminal, um foguete propele a ogiva explosiva a velocidade supersônica (Mach 2,05). Isso não só reduz as chances de defesa do inimigo como também adiciona considerável energia cinética à ogiva, aumentando a probabilidade de destruição do alvo.
Os três mísseis têm um par de asas dobráveis que se abrem após o lançamento, bem como um conjunto cruciforme de aletas na traseira, para manobra. O 3M-14AE e o 3M-14AE1 medem 6,20 m de comprimento e têm um diâmetro de 53,3 cm, pesando 1.400 kg no lançamento. O 3M-54AE mede 7,90 m de comprimento, 53,3 cm de diâmetro e pesa 1.950 kg no lançamento. A carga explosiva do 3M-54AE é de 200 kg, a do 3M-54AE1 é de 400 kg, e a do 3M-14AE é de 450 kg. O alcance máximo é de 300 kg e a velocidade máxima é de Mach 0,70. A altitude de lançamento é compreendida entre 500 m e 11.000 m, e o voo até o alvo é feito a altitudes entre 20 m e 150 m, empregando acompanhamento do terreno.
NPO Mashinostroyenya Kh-61
O Kh-61 Yakhont é a versão aérea do míssil de cruzeiro antinavio P-800, cujo desenvolvimento iniciou-se em 1985. Uma outra versão derivada do P-800 é o míssil russo-indiano BrahMos PJ-10 (descrito a seguir).
O Kh-61 é provido de um foguete descartável, de combustível sólido para a fase inicial do voo, e de um motor ramjet de 4.000 kg de empuxo para sustentação. A navegação é inercial na fase inicial do voo, e por radar ativo/passivo na fase terminal; o míssil é capaz de distinguir um navio específico num grupo, mesmo sofrendo jameamento. O Kh-61 é revestido com materiais absorventes de radiação e equipamento RWR.
O míssil mede 8,90 m de comprimento, 67 cm de diâmetro e 1,70 m de envergadura. É dotado de dois conjuntos cruciformes de asas em delta, sendo um deles na metade do corpo do míssil para sustentação; o outro é instalado na parte traseira para proporcionar controle direcional durante o voo.
A velocidade de cruzeiro é de Mach 2,5 a grandes altitudes e de Mach 2,0 a baixas altitudes. Durante a fase terminal do voo, o Kh-61 atinge altitudes entre 5 m e 15 m, manobrando para se evadir das defesas do inimigo. A carga útil é de 250 kg de alto explosivo semipenetrante de blindagem.
BrahMos Aerospace PJ-10
Desenvolvido em conjunto pela indiana Defence Research and Development Organisation (DRDO) e pelo bureau russo NPO Mashinostroyenya, o PJ-10 é baseado no P-800 russo, empregando a mesma estrutura aerodinâmica e motores ramjet, mas utilizando um sistema de guiamento da BrahMos Aerospace, uma joint-venture criada para o desenvolvimento e produção do míssil.
Alegadamente, o PJ-10 é o mais rápido míssil de cruzeiro de médio alcance em serviço, podendo ser lançado de terra, de navios de superfície, de submarinos e de aeronaves. Na versão lançada do ar, o PJ-10 pesa 2.500 kg, e pode empregar uma cabeça de guerra de 300 kg de explosivo convencional, semiperfurante. Uma ogiva nuclear de potência desconhecida, também pode ser empregada. O alcance dessa versão é superior a 400 km de distância.
O PJ-10 mede 8,40 m de comprimento e tem um diâmetro de 60 cm. O míssil é dotado do mesmo sistema propulsor do Kh-61, com um motor foguete descartável a combustível sólido para a fase inicial de voo e um motor ramjet a combustível líquido para as fases de cruzeiro e terminal, permitindo alcançar a velocidade de 3 Mach. O guiamento do míssil é do tipo misto, empregando navegação inercial na fase de cruzeiro, e navegação por satélite (GPS, GLONASS ou GAGAN) para a fase terminal, com uma precisão de 1 m. O perfil de voo até o alvo é do tipo rasante, voando entre 3 m a 4 m sobre a superfície do mar, o que evidentemente o torna difícil de detectar. O PJ-10 foi integrado ao caça Sukhoi Su-30MKI, que pode transportar um deles na estação central entre as carenagens das turbinas.
Air Weapons Complex Hatf-8 (Ra’ad)
O Hatf-8, ou Ra’ad, é um míssil de cruzeiro desenvolvido pelo Paquistão. Os detalhes técnicos a respeito dele são escassos, mas relatos na mídia dão conta de que ele tem características furtivas, emprega navegação acompanhando o perfil do terreno em voos a baixa altitude, e apresenta um alcance de 350 km. Não está claro se ele se encontra em operação, mas vários testes de lançamento, usando um Mirage IIIDP como vetor, foram realizados desde 2007. Como o Paquistão detém tecnologia de armas nucleares, é de se esperar que o Hatf-8 possa empregar uma ogiva nuclear, assim como armamento convencional.
Iran Aviation Industries Organization Hoveyzeh
Esse míssil de cruzeiro desenvolvido pelo Irã é parte da família de mísseis Soumar. Os mísseis Soumar são muito semelhantes aos mísseis Kh-55 de fabricação soviética/russa, os quais foram vendidos de forma ilegal pela Ucrânia ao Irã, em 2001. Apesar do Hoveyzeh ser um míssil terra-terra, o incluímos neste trabalho pela relevância que ele eventualmente venha a ter num possível conflito no Oriente Médio/Golfo Pérsico.
Novamente, informações são escassas a respeito dos parâmetros técnicos do Hoveyzeh, mas seu alcance é de 1.350 km, sendo dotado de um motor turbojato desenvolvido localmente a partir de um motor de fabricação francesa. Fotos do míssil, tomadas numa feira de armamentos que ocorreu em Teerã no início de 2019, mostram que o Hoveyzeh também utiliza um motor-foguete descartável para a fase inicial de voo (por ser lançado do solo). É interessante notar o emprego de quatro aletas com formato de treliça (semelhante às empregadas no míssil russo Vympel R-77) acopladas ao motor-foguete.
Apesar de a imprensa iraniana alegar que o míssil é extremamente preciso, não é possível acreditar que a precisão de 1 m citada por fontes iranianas seja obtida num alcance de 1.350 km, uma vez que foi publicado que o Hoveyzeh emprega navegação inercial, na qual os erros cumulativos de posição aumentam de forma proporcional à distância percorrida em voo.
Sea Eagle Mechanical-Electrical Research Academy YJ-63
Este míssil de cruzeiro antinavio chinês é parte da família de mísseis Silkworm. A China exportou para países do Oriente Médio grande número de exemplares de um dos mísseis da família, o HY-2 (designado C-201 para exportação). A partir desse míssil, foi desenvolvido o HY-4, do qual acabou surgindo a versão XW-41 e, por fim, o YJ-63.
O YJ-63 é um míssil de cruzeiro lançado por bombardeiros H-6K ou H-6H (versões chinesas do Tu-16 Badger) e emprega um motor turbojato, tendo um alcance estimado de 500 km. O YJ-63 é dotado de asas em delta e tem quatro aletas traseiras dispostas em X. O guiamento é misto, inercial e por satélite (INS/GLONASS) na fase de cruzeiro, e por imagem (TV) na fase terminal. A cabeça de guerra pode ser de explosivo convencional (500 kg) ou nuclear (90 KT). A precisão do míssil é estimada em 6 m. Uma variante do YJ-63 é a KD-63, que entrou em serviço em 2004. Aparentemente, como essa variante não tem um visor transparente no nariz, seu guiamento terminal deve ser feito por radar.
CASC KD-88
O KD-88 é um míssil de cruzeiro antinavio chinês com uma configuração aerodinâmica que lembra a do míssil francês Exocet. Ele é dotado de quatro aletas de sustentação na parte média do seu corpo, com outras quatro na parte traseira possivelmente para manobras. O KD-88 emprega um motor turbojato que o impulsiona a velocidades subsônicas de até 0,85 Mach. Seu alcance é de 180 km. O KD-88 pode ser lançado a partir do caça-bombardeiro Xian JH-7.
CAIC C-705/C-705KD
O C-705 de fabricação chinesa é um míssil de cruzeiro, lançado do ar e equipado com duas asas fixas para sustentação, localizadas na parte média do seu corpo. A propulsão é de dois estágios, com um motor foguete para a fase inicial do voo e um motor turbojato para a fase de cruzeiro e terminal. O guiamento é misto, inercial e por satélite (INS/GLONASS) na fase de cruzeiro, podendo ser guiado por radar, TV ou sensor IR na fase terminal do voo.
O C-705 pesa 320 kg e tem uma cabeça de guerra de 130 kg de explosivo convencional, semiperfurante. O alcance é de até 170 km e o míssil pode voar a uma altitude mínima de 12 a 15 m sobre a superfície do mar. A versão C-705KD dispõe de guiamento terminal por TV ou sensor IR e incorpora um datalink para permitir alterações de curso durante o voo.
Avibras Indústria Aeroespacial AV-MT 300 Matador
A Avibras vem desenvolvendo em conjunto com as forças armadas brasileiras uma família de mísseis de cruzeiro para serem lançados de plataformas terrestre e aérea, denominadas de AV-MT 300 (Avibras – Míssil Tático 300) que hoje tem as versões MTC-300 (Míssil Tático de Cruzeiro 300) e MICLA-BR (Míssil de Cruzeiro Lançado do Ar – Brasileiro). Será o primeiro artefato do gênero desenvolvido no país.
Não há informações técnicas disponíveis, uma vez que o projeto é desenvolvido em sigilo, mas as fotos disponíveis permitem concluir que ambos dispõem de asas retráteis e são equipados com motor turbojato, o que se pode verificar pelas duas entradas de ar laterais. Aparentemente, o MTC dispõe de um motor-foguete na parte traseira para a fase inicial de voo; possivelmente o MICLA-BR também o tenha. Seu peso seria em tordo de 1.150 kg e comprimento de 5,4 m, com um alcance de 300 km voando a 1.085 km/h e levando uma ogiva de 245 kg.
Segundo dados disponíveis no site do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército Brasileiro, o MTC-300 deverá ter uma precisão em erro circular provável menor ou igual a 30 m, e deverá ter dois tipos de cabeças de guerra, uma unitária e outra múltipla. Nossa interpretação é de que o termo “múltipla” se refira ao uso de uma cabeça de guerra capaz de perfurar alvos reforçados. No mesmo site, se faz referência à trajetória do voo do MTC-300 que será pré-programada, possivelmente usando rotas tortuosas. O MTC-300 foi concebido em 1999, e vem sendo desenvolvido com mais afinco desde 2012, quando o Exército assinou um contrato para sua introdução no sistema Astros 2020, cujas primeiras entregas estão previstas para 2021. De lá para cá, já foram feitos vários ajustes, incluindo o acréscimo das “asas” ao estilo Tomahawk, em 2016. Desde 2013, foram feitos lançamentos reais todos no Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), localizada em Parnamirim (RN). O último foi em uma campanha entre fins de fevereiro e início de março de 2019.
Já a versão MICLA-BR foi divulgada oficialmente em 2019, e em uma apresentação feita aos parlamentares do Congresso Nacional em setembro, foi informado que esta versão será equipada com guiamento misto inercial e por satélite (INS/GPS), com um sistema redundante de navegação por correlação de imagem. Um primeiro ensaio do MICLA-BR, para testar a configuração aerodinâmica, foi realizado em duas campanhas – março e setembro de 2019 na Ala 3, quando um exemplar inerte foi instalado na estação central de um caça F-5EM da FAB. Os pilotos do IPEV testaram comportamento aerodinâmico em voos supersônicos e fizeram ensaios de toda ordem, inclusive de separação, visando não só o MICLA-BR, mas também, o AV MTC-300, versão do Exército. Espera-se que quando entrar em operação, o míssil seja integrado ao F-39 Gripen.
A introdução em serviço do MICLA-BR na FAB representará um salto quântico na sua capacidade de dissuasão, pois todas as nossas fronteiras (terrestres e marítima) estarão dentro do alcance do míssil, sem que os vetores de lançamento tenham de sair do espaço aéreo brasileiro. O Brasil entrará para o seleto time de países que não só empregam, mas desenvolvem mísseis de cruzeiro.