Localizado F-5E acidentado na Lagoa dos Patos (RS) há mais de 40 anos. Poucos dias após completar 40 anos do seu desaparecimento, foi encontrado no fundo da Lagoa do Patos (RS), os destroços do F-5E Tiger II, FAB 4831, do 1º/14º GAV “Esquadrão Pampa”. O local exato da queda do caça foi encontrado em 11 de agosto, por Cristian Yanzer, piloto de linha aérea e velejador.
O Comandante Yanzer tem procurado pelo “Tigre do 14″ há alguns anos, fazendo expedições regulares com seu veleiro VIKYNG na Lagoa dos Patos, em busca do local do acidente. Munido de mapas, sonar e de dados da queda do jato, entre eles o provável local do impacto, Yanzer mapeou a região. Seus esforços deram resultados, quando no dia 11 de agosto localizou os primeiros destroços. Em 1º de setembro Yanzer encontrou mais destroços, e anunciou nas redes sociais o sucesso da expedição, batizada “Missão Tigre da Lagoa”:
Missão Tigre da Lagoa
Amigos da vela e do voo!
Gostaria de dar a notícia tão esperada acerca de um “trabalho de formiguinha” que já vinha ocorrendo há quase 5 anos e que alguns amigos, desde velejadores até pescadores, a quem sou muito grato de coração pelo apoio, participaram direta ou indiretamente. O mistério do paradeiro do FAB 4831, um caça F-5 Tiger II do esquadrão Pampa da Base Aérea de Canoas, foi finalmente desvendado 40 anos depois!
Na manhã fria do dia 28 de julho de 1982, dois caças F-5 decolaram para um treinamento de combate aéreo na área de treinamento sobre a Lagoa dos Patos. Um deles, com seu piloto a bordo, o Tenente Aviador Edson Luiz Chiapetta Macedo, jamais voltaria, e seu paradeiro seguiria um mistério por 40 anos.
Há cerca de um mês o amigo pescador, Josoé Ortiz, de Palmares do Sul, viu suas redes de tainha se prenderem em algum objeto submerso nas proximidades do banco das desertas.
Quando puxou, encontrou pequenas peças que achou que poderiam ser do caça desaparecido. Sabendo que eu procurava por pistas do F5, tendo inclusive me visto na “faina” algumas vezes por lá, me mandou as imagens e a localização aproximada do local.
No dia 11 de agosto, com a meteorologia perfeita para a varredura, partimos de Tapes na madrugada para investigar com o sidescan do veleiro VIKYNG nas coordenadas passadas pelo Josoé.
BINGO!
Reflexos metálicos visíveis na tela do equipamento indicavam muitas peças, algumas grandes, espalhadas pelo leito da Lagoa, em um local distinto do que esperávamos, e a cerca de 100 m do local onde suas redes estavam colocadas. Com as imagens de sonar e as peças entregues pelo Josoe, imediatamente contatei o V COMAR (5º Comando Aéreo Regional) através do Coronel Biasus, piloto de caça, ex comandante do Esquadrão Pampa e contemporâneo do aviador desaparecido neste fatídico e triste acidente.
Ele e a amiga Capitã Damiana, velejadora do Clube Veleiros do Sul (VDS) e dentista da FAB imediatamente se colocaram à disposição para organizar uma reunião com o Major Brigadeiro do Ar Rivero atual Comandante do V COMAR que engloba RS, SC e PR. Muito bem recebido pelo Comandante da região Sul, nesta reunião combinamos que eu tentaria fazer algumas imagens de vídeo ou foto antes do acionamento de todo o aparato de resgate e o conjunto de ações que se seguem ao encontrar uma aeronave desaparecida com seu piloto. Com as dificuldades de encaixar as folgas na escala de voo que, precisam bater com a meteorologia perfeita, a missão só pode ocorrer no dia 1º de setembro quando minha esposa Andrea e eu decidimos dar uma velejada no local e fazer mais alguns levantamentos.
Ao ancorar para preparar o almoço senti que a âncora ficara presa no maior objeto que refletia na imagem do sonar. Para nossa surpresa ao suspender o ferro de nossa embarcação trouxemos uma seção de um dos motores GE J85… exatamente o do F5.
Novo contato com o V COMAR e agora com o sinal verde do alto comando da Força Área Brasileira, em ação conjunta com a Marinha do Brasil, na próxima semana, ainda dentro da Semana da Pátria, serão desencadeadas as ações de resgate dos restos mortais deste Aviador que, na minha leiga observação dos destroços, sinto que, com a fibra de herói brasileiro e a garra de caçador do Pampa, aguerridamente tentou, até o fim, trazer seu caça de volta para casa, infelizmente, falecendo na peleia, indo pelear nos páramos do infinito celeste.
Obrigado Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil pelo apoio imediato!
Uma página da história do Esquadrão Pampa e da caça brasileira reescrita 40 anos depois.
Um “ADELPHI” ao bravo Ten.-Av. Chiapetta, que ele finalmente descanse em Paz com a certeza de que jamais foi esquecido! Bons ventos e bons voos a todos!
Missão Tigre da Lagoa Cumprida!
Cristian Yanzer,
Porto Alegre, 1º de setembro de 2022.
*Adelphi — uma saudação honrosa da aviação de caça brasileira, desde a Segunda Guerra Mundial, utilizada para saudar grandes personalidades.
O acidente
No início da tarde do dia 28 de julho de 1982, a Esquadrilha “Pampa Branco”, composta pelos F-5E FAB 4834 (Ás) e 4831 (#2) do 1º/14º GAV decolaram da pista 12 da Base Aérea de Canoas (RS), tendo como pilotos o Cap.-Av. Valter Augusto Donato de Jesus e o Ten.-Av. Edson Luiz Chiappetta Macedo, respectivamente.
A missão consistia em um combate aéreo 1×1 (chamado “dogfight“) na área de treinamento restrita sobre a Lagoa do Patos, chamada “Lagoa 2”. O voo fazia parte da instrução para a formação operacional do Tenente Aviador Edson Luiz, visto que ele havia chegado ao “14” no início daquele ano e, portando, era o “PFO” (Piloto em Formação Operacional).
O líder daquela missão, o Capitão Aviador Donato, viu pela última vez seu ala quando fazia uma evasiva após perder seu parâmetro de tiro. Eram 13h42, horário local. O laudo sobre o acidente pouco explicou o que aconteceu.
Possivelmente o Ten.-Av. Edson Luiz tenha tido uma desorientação espacial durante o engajamento, uma vez que a lâmina d´água da lagoa estava muito calma, espelhando o céu. Ao tentar se posicionar para “encaudar” o F-5 do “Ás”, ou fugir, teria “puxado o manche” e aplicado potência “PC Maxi”, mas como estava em voo invertido e abaixo de 10 mil pés, o caça literalmente “cravou” no fundo barrento da Lagoa dos Patos.
Apesar de uma intensa busca iniciada logo após a perda de contato-rádio como o Pampa Branco #2, as equipes de resgate nunca encontraram o corpo do Tenente Aviador Edson Luiz e do seu F-5E (4831). Cinco dias após o acidente, pequenos pedaços da aeronave apareceram na margem na Lagoa.
Agora, 40 anos depois, a localização da aeronave foi encontrada, e a “Missão Tigre da Lagoa” pretende retirar os destroços do fundo da lago. É provável que seja impossível que os destroços tragam o motivo do acidente, mas com certeza, essa expedição liderada pelo Comandante Yanzer, encerra um capítulo na história do Esquadrão Pampa e da FAB.
Parabéns ao Comandante Yanzer!
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