Irã contorna sanções internacionais e obtém quatro Airbus A340-300. Em uma operação digna de filme de ação, na antevéspera do Natal, quatro Airbus A340-300 registrados em Burkina Faso, decolaram quase juntos de Joanesburgo, na África do Sul – onde estavam estacionados desde 2019 – com plano de voo com destino ao Uzbequistão. Depois de percorrer quase dois terços da rota, ao passar sobre o Oriente Médio, por motivos desconhecidos, todos os voos foram desviados para Teerã, no Irã.
Os quatro A340 envolvidos nessa história tem em média 23 anos de idade, e até o final de 2018 e o início de 2019, eles voavam para a Turkish Airlines (THY). Neste período todos foram retirados de serviço e armazenados em Istambul. Entre março e abril de 2019 eles foram levados para Joanesburgo, onde foram registrados em nome da empresa AVRO Global Limited, cuja sede fica em Hong Kong, e rematriculados na Ilha de Guernsey (entre 2-AVRA e 2-AVRD).
Observe a tabela abaixo com os detalhes de cada aeronave:
TIPO | Número de Construção (c/n) | Ano de fabricação | Registro turco | Registro Guernsey
A340-311 | c/n 115 | 1996 | ex-Turkish Airlines TC-JDM | 2-AVRA
A340-313X | c/n 180 | 1997 | ex-Turkish Airlines TC-JDN | 2-AVRB
A340-313X | c/n 270 | 1999 | ex-Turkish Airlines TC-JIH | 2-AVRC
A340-313X | c/n 331 | 2000 | ex-Turkish Airlines TC-JII | 2-AVRD
Pois bem, após mais de três anos e meio parados no Aeroporto Internacional de Joanesburgo, recentemente o quarteto, de pintura branca e cauda vermelha, recebeu matrículas Burkina Faso, a saber: XT-AKA, XT-AKB, XT-AKK e XT-ALM.
Finalmente, na tarde de 23 de dezembro, dia em que o mundo ocidental estava ocupado com os preparativos do Natal, os quatro Airbus A340 decolaram de Joanesburgo, quase em comboio, entre 13:00 UTC e 16:15 UTC. O destino original preenchido no plano de voo, segundo informações não-oficiais, era o Uzbequistão.
Cerca de seis horas de voo, ao cruzar o Golfo de Omã e acessar o espaço aéreo do Irã, cada um dos A340 curvou para oeste, em direção à Teerão, onde pousaram pouco tempo depois. Em um post nas redes sociais, um observador disse que os pilotos alegaram ao Centro de Controle uma situação de “emergência” para justificar o alternado.
Os voos foram numerados sequencialmente “MAN 3808”, “MAN 3809”, “MAN 3810” e “MAN 3811”. Ocorre que atualmente o código “MAN” não é utilizado por nenhuma companhia aérea, fato que chamou a atenção. Observadores especulam que essas três letras “MAN” tem haver com o novo proprietário/operador das aeronaves, a companhia iraniana MAHAN AIR.
Fato é que, muito possivelmente o Irã usou mais uma vez, uma triangulação de países para evitar as sanções internacionais, e adquirir os quatro Airbus A340 para sua companhia aérea. Apesar de serem relativamente antigas para os padrões ocidentais, essas aeronaves são apropriadas para a frota da Mahan Air, que tem em média 28 anos de idade.
Não foi a primeira vez
Conforme o site Luchtvaartnieuws, o Irã usa com certa regularidade esse meio evasivo para obter aviões. Em 2015, por exemplo, a Mahan Air conseguiu alguns A340 da empresa iraquiana Al Naser Airlines, em ações similares, com voos desviados para o Irã.
Depois dessa situação, o governo dos Estados Unidos colocou a Al Naser Airlines em uma lista de sanções, sob acusação de apoiar terroristas. Isto porque a Mahan Air é usada regularmente pelo regime iraniano para transportar armamentos e militares.
Em 2021 um Boeing 737 da Fly Armenia supostamente fez um “pouso de emergência preventivo” no Irã, e poucos dias depois ele entrou em serviço na companhia iraniana Caspian Airlines.
@FFO