Há 25 anos a FAB dava adeus ao F-5F 4809. Exatamente hoje – 1º de novembro de 2021, fazem 25 anos que a Força Aérea Brasileira (FAB) perdia se primeiro F-5F, em um acidente comovente especialmente para o 1º/14º Grupo de Aviação. Naquele início de tarde de sexta-feira, o “Pampa 12” (4809) pilotado pelo Cap.- Av. Paulo Roberto Penedo dos Santos, mergulhava no Rio Jacuí, logo após decolar de Canoas rumo a Santa Maria.
Talvez tenha sido um dos fatos mais marcantes e tristes da história do Esquadrão Pampa na era F-5. E pior, acontecia no dia seguinte o desastre com o F-100 PT-MRK da TAM, que caiu pos decolar Congonhas quando fazia o TAM 402 de São Paulo/CGH para o Rio de Janeiro/SDU. O clima que não er bom ficou pior.
No dia 21 de outubro de 1996, o 1º/14º GAV se deslocou para Santa Maria, a fim de cumprir sua segunda campanha de emprego terrestre daquele ano. Em meio a missões entre BASM e o estande de tiro de Saicã, houve um almoço festivo na BACO, realizado na sexta-feira 01 de novembro, onde haveria a necessidade de uma representação da Unidade. Vieram na manhã daquele dia a Canoas para o evento o Maj.- Av. Fábio Sahm Paggiaro (Pampa 05), o Maj.- Av. Rogério Luiz Veríssimo Cruz (Pampa 04) e o Cap.- Av. Paulo Roberto Penedo dos Santos (Pampa 12).
Terminado o almoço o regresso a SM foi feito no início da tarde em voos individuais com cinco a dez minutos de separação, onde o Maj.- Av. Paggiaro decolou na frente num F-5E, seguido pelo Cap.- Av. Penedo no F-5F 4809 e o Maj.- Av. Veríssimo de T-27. Quando cruzava o FL140 na proa de Santa Maria o “Pampa 12”, já em contato com o APP Palegre, declara emergência informando que perdera o controle da aeronave e que iria ejetar.
Foram suas últimas palavras, o que deram a sensação ao controlador e a todos que estava ouvindo, que ele havia se salvado. Infelizmente apenas o canopi foi ejetado, e devido a uma falha no assento ejetável o piloto permaneceu preso à aeronave durante 39 segundos, até o impacto com o solo a cerca de 30 km da BACO, próximo à Ilha do Cravo, no Rio Jacuí, município de Triunfo/RS. Eram 14h47 e, infelizmente, terminava ali a promissora carreira do Capitão Penedo.
Penedo saiu de Canoas isolado, decolando da pista 12 (hoje 13) com PC até chegar 10 mil pés com curva a esquerda. Quando ele tirou o PC e estava tomando proa de Santa Maria, teve uma sequência de panes, com luz do gerador acendendo, com os comandos ficando pastosos e na sequência a perda total dos comandos da aeronave. A 14 mil pés ele informou que estava ejetando, depois disto não teve mais nenhuma comunicação.
Como ele não foi encontrado nos destroços e última informação era que ele tinha ejetado, todo o Esquadrão achava que ele estava vivo e no meio do mato, em uma ilha do rio Jacuí, talvez ferido. Foi assim que a informação chegou a Santa Maria, onde o “14” estava operando deslocado. A ironia é que ele veio do F-5E de Santa Maria e na última hora, trocou com o Maj.- Av. Paggiaro pois queria voltar no F-5F.
“Foi a coisa mais triste que já presenciei na minha vida. O Esquadrão estava num momento bom, bem unido e voando bem. Naquele dia, o Penedo tinha vindo a Canoas para participar de um almoço festivo e lembro bem que ele não estava muito afim de vir. No regresso, em um voo isolado, ele teve algum problema que matou os comandos e ele falou via fonia para ‘Taba’ (APP) que ia ejetar. Só que não conseguiu devido a problemas no assento. Devem ter sido agonizantes aqueles segundos, com ele tentando a ejeção e não conseguindo. Parecia que era a hora dele, pois no briefing ele pediu para trocar de aeronave com o Paggiaro, pois a previsão era que voltasse de F-5E e não F” (Maj.- Av. Paulo Roberto Moreira de Oliveira, então Cap.- Av. 1º/14º GAv). Trecho Livro Já te Atendo Tchê! A História do 1º/14º GAV (Leandro Casella e Rudnei Dias da Cunha).
Mais tarde, 24 horas do acidente, o Capitão Celso (Cap.- Av. Celso Araújo), junto com um repórter da RBS localizaram parte dos destroços, onde havia parte do corpo dele e portanto constataram que estava morto. No Esquadrão diziam na época que o Penedo, que se acidentou um dia depois do TAM em São Paulo foi convocado para animar aquela turma que só tinha executivo, pois era animado, carismático e tocava violão!
O Capitão Penedo chegou a Canoas transferido do 3º/10º GAV em 07 de janeiro de 1994 ainda como 1º Ten.- Av. Depois de anos como Centauro (voando AT-26 no 3º/10 GAV), era a hora de experimentar a aviação de Caça de primeira linha. O sonho do gaúcho de Santa Maria começava a virar realidade. Membro da esquadrilha Azul, ele realizou seu tão sonhado solo dia 08 de abril de 1994, a bordo do FAB 4875, sendo no regresso ovacionado pelos colegas de Esquadrão com o famoso banho de batismo e um ‘delicado’ corredor polonês. Porém, como piloto do CFO as coisas andaram difíceis, a ponto de quase não se formar. No final uma força da unidade para que ele su seu talento como aviador prevaleceu e ele saiu Piloto de Defesa Aérea e mais importante um Pampa!
“O Penedo não tinha aquele estereotipo de caçador, aquele estilo do piloto do cinema, alto e olhos azuis. Pelo contrário, ele era baixinho e entroncado e nós brincávamos que ele era o anti-herói. Mas ele era muito safo, esperto e inteligente e tocava um violão e cantava muito bem, sempre animando as festas do Esquadrão. Hoje refletindo sobre a história dele, vejo que a vida às vezes pode ser cruel. Ele não era para formar piloto de F-5. Lembro que por várias vezes conversamos e ele dizia que estava com deficiência e que não acreditava que conseguisse, pois o pessoal estava em cima, cobrando e ele estava com dificuldade de acertar nas missões. A chance dele reverter seria nas missões de TA, que ele precisava ir muito bem, pois se não seria desligado. O pessoal gostava muito dele e eu, que era encarregado de armamento acabei indo falar com o Minuto (1S Valmir Minuto), que era encarregado da pista, para ver se era possível dar uma força para o Penedo se formar. Depois de tudo acertado, voltei no Penedo e falei que íamos dar uma força, mas nunca dissemos qual, mas acredito que ele percebeu. Começamos a sempre deixar o melhor avião para ele, sendo que várias vezes manipulávamos a ordem prevista das aeronaves para ele pegar o F-5 mais harmonizado. Tinha gente que chegava a questionar se o 48 tal não deveria estar em tal ordem na linha, mas nós controlávamos a coisa, mantínhamos a nossa ‘escala’. Afora isto o armamento sempre caprichava e no fim ele foi muito bem e acabou declarado operacional. Ai crueldade, pois dois anos depois ele desaparece num acidente a bordo de um F-5, que ele lutou tanto para poder voar. Naquele dia houve uma série de avisos tipo não vai. Primeiro ele não queria ir a Canoas (o ‘14’ estava em SM), depois a aeronave dele deu pane antes de decolar de Santa Maria e chegou em pane em Canoas. Infelizmente ao decolar de Canoas ele acabou sofrendo o acidente. A causa do acidente foi uma pane hidráulica generalizada que matou os comandos da aeronave. A solução era ejetar, mas infelizmente o assento não comandou e ele caiu com o avião. O dispositivo feito para salvar, não o salvou! Durante a investigação se descobriu que o assento veio dos Estados Unidos com defeito. Houve um erro na montagem das tubulações que acionavam as cargas de ejeção e nós não sabíamos disto, tampouco havia cartão de inspeção previsto para aquele item. Depois de uma ampla pesquisa se descobriu o problema e foi feita uma inspeção em todos os assentos, sendo encontrado outros F-5F no mesmo estado”. (Cap.- QOEA Gelsomar Otacílio Flores de Souza, então 1S 1º/14º GAV). – Trecho Livro Já te Atendo Tchê! A História do 1º/14º GAV (Leandro Casella e Rudnei Dias da Cunha).
O F-5F FAB 4809 (C/n IH-1009) vou na USAF como 84-0457, sendo vendido a FAB em 1988, fazendo parte do 2º lote, também chamado de F-5 Aggressors, apesar dele nunca ter voado em uma unidade AGS. Na USAF sua última unidade foi o 425th TFTS (Tactical Fighter Training Squadron) baseado em Williams AFB – Arizona/EUA, responsável pela formação de pilotos. Foi carregado ao inventário da FAB em 10 de agosto de 1989 e chegou a Canoas em 23 de agosto do mesmo ano, no último translado. Na FAB só serviu no 1º/14º GAV e foi a primeira e única perda de um F-5F na história da FAB. Ele foi perdido ainda em pintura USAF – a ADC Gray FS 16473, típica do Air Defense Command (1950s-1980s), mas com as marcas FAB e o tradicional “CO” de Canoas na deriva.
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