Gloster no Pampa! 70 anos da era a jato em Canoas! O ano de 2024 será, sem dúvida, um ano marcante para a Base Aérea de Canoas. Depois das 100 mil horas de F-5 do Esquadrão Pampa. De ser o principal hub da Operação Taquari 2 em prol das vítimas das enchentes no RS. Dos 55 anos do 5º ETA e de completar seus 80 anos de criação. O ano ainda reservou outra data histórica: os 70 anos da chegada a aviação a jato.
Há 70 anos, em 24 de setembro de 1954, por volta das 13h, chegavam ao sul os primeiros oito Gloster Meteor TF-7 e F-8 para reequipar o 1º/14º GAV — Esquadrão Pampa da Força Aérea Brasileira. Não foi uma simples reequipagem, foi um marco, pois até aquele momento, “jatos” no Brasil só existiam no Rio de Janeiro, mais precisamente na Base Aérea de Santa Cruz, lar dos dois esquadrões do 1º Grupo de Aviação de Caça. Canoas, no Rio Grande do Sul, se tornava a segunda cidade brasileira a ter uma unidade de “Caças a Jato”! E mais, a sexta cidade da América do Sul, após Eram elas: Tandil, Caracas, Rio de Janeiro, Santiago do Chile e Guayaquil!
Não fazia muito que os “jatos” haviam se tornado sensação no Brasil, pois os Gloster dos Jambock’s (1º/1º GAVCA) e Pif-Paf’s (2º/1º GAVCA) haviam sido entregues um ano antes, em 1953. Nem empresas aéreas operaram aeronaves a reação no país. A Varig, por exemplo, só voaria seu primeiro jato em 1959, com a chegada do PP-VJC, seu primeiro SE-210 Caravelle III, que curiosamente também chegou nas oficinas da empresa em Porto Alegre, em outro 24 de setembro!
Pensando com “a visão das pessoas da época”, se a chegada do jato ao Rio de Janeiro foi um evento, o zunido dos motores Rolls Royce Derwent 8 sobre quase rural Canoas e a pacata Porto Alegre dos anos 1950 foi um assombro!
Não havia previsão de reequipar o “14” como também é conhecido o 1º/14º GAV, em 1954. A saída dos P-40 só deveria ocorrer em fins de 1955, quando o Gloster chegaria de fato a Canoas, podendo, inclusive, ser adiada para 1956 ou início de 1957 — mais provável. Porém, os velhos P-40 não conseguiram esperar tanto, e após o acidente de 9 de maio de 1954 durante um voo de ensaio com o P-40K FAB 4035, que vitimou o Capitão Flávio Argolo em Canoas, toda a frota foi desativada. Em poucas semanas, os Warhawk haviam virado história no Pampa e na FAB! Em 9 de julho de 1954 foi feita a cerimônia de despedida do P-40 na FAB em Canoas. Pouco mais de dois meses depois, os jatos chegariam ao sul.
A reequipagem teve que ser feita as pressas e precisou de uma grande dose de superação da unidade. O “14″ receberia inicialmente 16 F-8/TF-7, sendo os oito primeiros — dois TF-7 e seis F-8 em setembro de 1954, após serem montados e revisados pelo então Parque de Aeronáutica de São Paulo (Campo de Marte) hoje Parque de Material Aeronáutica de São Paulo (PAMA-SP).
Os primeiros Meteors do 1º/14º GAV saíram do Campo de Marte para a Base Aérea de Cumbica em 03 de setembro de 1954. No dia 06, com previsão de tempo bom em Gravataí (SBGI) a esquadrilha decolou em direção à então BAPA, apesar de uma frente fria sobre os estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Canoas era designada à época (desde 21/08/1949) Base Aérea de Porto Alegre (BAPA) e ficava no aeródromo militar do Gravataí (SBGI). Ela só seria redesignada Base Aérea de Canoas (BACO) em 1961.
Como as aeronaves ainda não haviam sido equipadas com rádio-goniômetro (ADF), o Comandante do Esquadrão, Maj.-Av. Magalhães Motta, tencionava subir até 35.000 ft, passando, assim, por cima da frente fria. Porém, com 25 minutos de voo, foram forçados a retornar a Cumbica, devido à frente mostrar-se intransponível. Esse retorno trouxe mais uma dificuldade: em Cumbica (BASP) não havia como recarregar os Meteors com oxigênio, de forma que às oito aeronaves decolaram para Santa Cruz, onde os pilotos do Esquadrão aguardaram a melhora do tempo no Sul por uma semana!
Neste período o Maj.-Av. Magalhães Motta conseguiu, junto ao comandante do 1º GAVCA — Maj.-Av. Josino Maia de Assis, o empréstimo do F-8 4443 equipado com rádio-goniômetro, pilotado pelo Maj.-Av. Magalhães Motta. No dia 16, os nove aviões decolaram com destino a Gravataí, mas, mais uma vez, não conseguiram atravessar a frente, mesmo voando a 30.000 ft, sendo forçados a retornarem a Cumbica (BASP). Mais precavida, a BASP solicitou o apoio do PASP, que reabasteceu de oxigênio as aeronaves para, no dia 18, decolarem para, mais uma vez, serem barrados pela frente fria estacionária no Sul, vindo desta vez a alternar em Curitiba.
Finalmente, o dia 24 amanheceu com os céus limpos, um verdadeiro “cavok” em toda a região Sul, que se estendia até a fronteira com o Uruguai. Assim, o Esquadrão Pampa, formado por duas esquadrilhas + uma aeronave isolada decolou rumo sul e, após pouco mais de uma hora de voo, finalmente, chegavam em casa. Eram 13 horas locais e a BAPA estava à espera em festa, com diversos militares e convidados para ver os Jatos! Foram diversas passagens de saudação, com algumas, individuais, muito baixas e hoje consideradas “insanas”, especialmente, nas passagens individuais sobre a base.
Para uma região quase rural comporta pelas cidades Canoas e Cachoeirinha e Gravataí e uma pacata Capital — Porto Alegre, a chegada dos jatos foi um evento! Foi um espetáculo nunca visto no Sul. Um zunido diferente que veio naquele 24 de setembro de 1954 trazendo em definitivo a era à jato! Os Gloters voaram até 31 de outubro de 1966 em Canoas. Porém, de lá para cá o Pampa, passou a sempre voar com aeronaves a jato. Primeiro o Lockheed TF-33 (1967–1975) e desde 1976 com o Northrop F-5E/F/M, que em 2026 fechará 50 anos em Canoas!
@CAS