Força Aérea de Israel e os 30 anos da Operação Salomão. Entre 24 e 25 de maio de 1991, cerca de 35 aeronaves Boeing 707 e C-130H da Força Aérea de Israel (IAF), e um Boeing 747 da companhia aérea israelense El Al, realizaram uma operação logística extremamente complexa. Em pouco mais de 36 horas, a chamada “Operação Salomão” retirou da Etiópia cerca de 14.400 judeus que foram levados para Israel em 41 voos.
Por ocasião do 30º aniversário da “Operação Salomão”, a IAF publicou no seu boletim uma narrativa relatada por um repórter, que acompanhou um dos voo em um sábado de madrugada.
“Embarquei com outros quatro jornalistas – três deles britânicos – no “Ram” (designação da IAF para o Boeing 707) da Força Aérea. No começo não entendi o que estava acontecendo no interior do avião. Onde antes tinha fileiras de assentos, foram instalados dezenas, senão centenas, de colchões azuis dispostos em várias camadas, firmemente presos uns aos outros. A linha interminável de colchões começou logo atrás da cabine de comando e continuou até depois da abertura da saída traseira da aeronave.
A tripulação da aeronave era quase o dobro do necessário. Os pilotos e os navegadores se aglomeraram na pequena cabine. Os mestres de carga foram responsáveis pelo embarque do avião. A tripulação da aeronave também incluía dois médicos e dois paramédicos.
Voando sobre o Mar Vermelho, o voo de Israel para a Etiópia levou cerca de três horas e meia, e ocorreu sem eventos. Meia hora antes do pouso, fomos acordados pelos mestres de cargas. A Etiópia já podia ser vista sob as nuvens esparsas.
Aproximamos do aeroporto ao amanhecer, sob os raios vermelhos do sol que iluminou a África com uma luz espetacular. Passamos a uma altitude relativamente baixa sobre grandes lagos, para os quais correm grandes rios. Ocasionalmente, eu também podia ver rebanhos de gado e cabanas redondas isoladas, cobertas de palha. A área do aeroporto é uma das áreas mais altas da Etiópia, a cerca de 7.000 mil pés de altitude. Os cinco intérpretes etíopes que faziam parte da nossa tripulação, também se agarraram nas janelas do avião, engolindo cada pedaço de terra abaixo.
Realizamos uma espera de cerca de vinte minutos, para que a única pista do aeroporto ficasse livre para o nosso pouso. Estávamos cada vez mais perto da cabeceira da pista, quando de repente observei alguns aviões acidentados espalhados na área do aeroporto. As rodas tocaram o asfalto e o capitão teve que pisar nos freios com firmeza. Mesmo assim, paramos a poucos metros do final da pista.
Fomos direcionados para o estacionamento, bem próximo do terminal israelense montado no aeroporto. A visão era quase imaginária. Entre os dois aviões da Aeroflot que carregavam os títulos “CCCP” em letras grandes, foram colocadas três enormes tendas militares. Este posto de comando estava sob o comando do Vice-Chefe do Estado-Maior Amnon Lipkin-Shahak, ao lado do Chefe do Brigadeiro Aéreo General Amir Nahum. Mais ao longe, foi possível observar um helicóptero russo, e um avião da companhia aérea nacional angolana.
Imediatamente após o desligamento dos motores, o “Ram” já estava “preso à escada”. O clima em Addis Abeba estava frio, mas suportável. Um C-130H estava estacionado com a sua rampa traseira aberta, cheio de rações para os militares no seu interior. Alguns policiais estavam sentados em caixas, comendo o café da manhã servido em embalagens descartáveis. Latas de coca-cola rolavam entre as caixas.
Poucos minutos após o pouso, quatro ônibus chegaram, e grupos de pessoas vestidas de branco começaram a descer. Foi uma quantidade enorme. Os nossos intérpretes etíopes, falando na sua língua nativa, instruíram os imigrantes durante o caminho do avião, tentando os acalmar o máximo possível.
O grupo que embarcou no “Ram” parecia ter conseguido fugir dos combates no último minuto. Muitos estavam descalços, e os que usavam calçados, geralmente eram tênis velhos sem cadarços. A maioria deles, principalmente os mais velhos, estavam totalmente envoltos em uma espécie de pano branco comprido.
O embarque foi rápido e com notável eficiência, com os nossos instrutores etíopes acelerando os mais lentos. Em menos de vinte minutos, cerca de 500 judeus foram colocados dentro do “Ram”.
Apesar de estarmos prontos, a partida demorou mais meia hora, até que fomos autorizados a decolar. Enquanto esperávamos, foi possível observar um grande número de aviões israelenses pousando e decolando. O Boeing 747 da El Al também pousou, quando estávamos prestes a decolar. Logo após a decolagem, os pilotos colocaram o avião em rota direta para Israel. Apenas dois minutos após decolar, muitos foram para as janelas em busca de Jerusalém.
Durante o voo, a equipe de médicos examinou todos os passageiros de forma preliminar. Muitos se queixaram de sede. Uma mulher de 82 anos, recebeu um tratamento um pouco mais aprofundado. O mesmo aconteceu com uma senhora no quinto mês de gravidez, que repentinamente sofreu uma crise de hipertensão. Um tradutor anunciou pelo microfone a distribuição de bolsas de água para todos. As crianças pequenas, não sabiam como beber em uma bolsa hermética, até que um adulto rasgou uma pequena abertura.
Pousamos às 10h43, e após tocar o solo o avião se encheu de aplausos e gritos de alegria. Os intérpretes etíopes sorriram timidamente. Um deles disse que encontrou primos em um dos aviões, que já haviam chegado a Israel.
Depois que cheguei em casa, nunca mais esqueci do olhar do garotinho de cerca de cinco anos, que ficou sentado na minha frente o voo todo, apenas me olhando.”
Fonte: Força Aérea Israelense