Fim de linha para o projeto KC-2 Turbo Trader da Marinha. O Comandante da Marinha do Brasil, Almirante Marcos Sampaio Olsen, assinou uma portaria em 10/02, extinguindo o Grupo de Fiscalização e Recebimento das Aeronaves COD/AAR (Carrier On-board Delivery/Air-to-Air Refueling). A decisão foi publicada na edição de 13/02 do Diário Oficial da União (DOU).
Apesar de a Marinha ainda não oficializar, com este ato fica evidente que o projeto de ativar uma unidade equipada com aeronaves KC-2 foi encerrado, mais de dez anos após ser iniciado, sem um resultado satisfatório.
O projeto envolvia a aquisição de quatro aviões multimissão C-1A Trader (versão naval do Grumman S-2 Tracker), desativados pela US Navy no final da década de 1980. Eles seriam modernizados para missões de reabastecimento em voo (AAR ou REVO) e transporte logístico para porta-aviões (COD). No Brasil eles seriam designados KC-2 e operados pelo 1° Esquadrão de Aviões de Transporte e Alarme Aéreo Antecipado (VEC-1), unidade sediada em São Pedro da Aldeia (RJ).
Em outubro de 2011 o Comando da Marinha assinou um contrato com a empresa norte-americana Marsh Aviation, especializada na modernização de antigos C-1A Trader em novos Turbo Trader.
O projeto previa a substituição dos motores radiais originais Wright R-1820-8WA por novos turboélices Honeywell TPE331-14GR com um conjunto de hélices de cinco pás Hartzell HC-135MA-5; unidades auxiliares (APU – Auxiliary Power Unit ) ESA RE100CS; sistemas gerador de oxigênio a bordo (OBOGS — Onboard Oxygen Generating System); modernização do antigo cockpit analógico por aviônicos digitais; instalação de moderno sistema de voo por instrumento da Astronautics; equipamentos para operação AAR/REVO; completa revisão estrutural; entre outras melhorias.
Na época, a Marinha do Brasil planejava empregar os KC-2, principalmente, em operações REVO dos seus jatos AF-1B/C, bem como realizar voos de suprimento e transporte logístico para o então porta-aviões NAe São Paulo (A12). Missões secundárias, como lançamentos de paraquedistas, evacuação aeromédica (EVAM), SAR, poderiam ser realizadas pelos Turbo Traders.
As quatro aeronaves escolhidas pelos Oficiais da Aviação Naval do Brasil foram enviadas para um hangar da Marsh Aviation, localizado em Mesa, no Arizona. Apesar dos trabalhos iniciados, a empresa enfrentou alguns problemas com o governo dos Estados Unidos, o que levou inclusive ao seu fechamento temporário.
Entre 2014 e 2015 o projeto avançou. Novos parceiros foram adicionados aos trabalhos, como a empresa Elbit Systems of America, responsável pelo projeto dos novos aviônicos e outros sistemas. Nesses período, estimava-se que o voo inaugural do primeiro protótipo KC-2 ocorreria em novembro de 2017, e a entrega da primeira aeronave operacional para a Marinha do Brasil para o final de 2018.
Inclusive, os futuros tripulantes do KC-2 foram enviados para treinamento básico de voo na Academia da Força Aérea Brasileira. O cronograma de formação para operações em porta-aviões previa que posteriormente eles seguisse para os EUA, onde eles treinariam nos T-45 e E-2/C-2 da US Navy.
Com certo atraso, em novembro de 2018 representantes da Diretoria de Aeronáutica da Marinha participaram do primeiro acionamento dos motores de um avião KC-2 Turbo Trader, nas instalações da empresa Elbit Systems of America, em San Antonio, no Texas. Na ocasião foi informado que a aeronave, matrícula provisória “27” deveria voar em setembro de 2019 e a entrega para a Marinha do Brasil ocorreria no segundo semestre de 2021. Obviamente isso nunca aconteceu.
Essa foi a última notícia palpável do projeto KC-2 da Marinha do Brasil. A pandemia do Covid-19, mudanças de governos, desativação do porta-aviões São Paulo (A12), foram alguns dos muitos motivos que levaram à Portaria assinada pelo atual Comandante da Armada brasileira, o qual publicamos logo a seguir:
PORTARIA Nº 21/MB/MD, DE 10 DE FEVEREIRO DE 2023
Extingue o Grupo de Fiscalização e Recebimento das Aeronaves COD (Carrier On-board Delivery) / AAR (Air-to-Air Refueling).
O COMANDANTE DA MARINHA, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelos arts. 4° e 19 da Lei Complementar n° 97, de 9 de junho de 1999, e o inciso V do art. 26 do anexo I ao Decreto n° 5.417, de 13 de abril de 2005, resolve:
Art. 1° Extinguir o Grupo de Fiscalização e Recebimento das Aeronaves COD (Carrier On-board Delivery) / AAR (Air-to-Air Refueling) (GFRCOD), criado pela Portaria n° 339/MB, de 12 de dezembro de 2011, alterada pela Portaria n° 34/MB, de 26 de janeiro de 2012, tendo em vista a transferência de suas tarefas para a Diretoria de Aeronáutica da Marinha.
Art. 2° Ficam revogados os seguintes dispositivos:
I – Portaria n° 339/MB, de 12 de dezembro de 2011, publicada no Diário Oficial da União n° 240, de 15 de dezembro de 2011, Seção 2, página 10; e
II – Portaria n° 34/MB, de 26 de janeiro de 2012, publicada no Diário Oficial da União n° 30, de 10 de fevereiro de 2023, Seção 1, página 9.
Art. 3° Esta Portaria entra em vigor em 10 de fevereiro de 2023.
MARCOS SAMPAIO OLSEN
Fonte: DOU 13 de março de 2023
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