FAB confirma atrasos e programa Gripen deve se estender para além de 2030. A entrega dos caças suecos Saab F-39E/F Gripen para a Força Aérea Brasileira (FAB), sofrerá mais atrasos devido a questões orçamentárias. O novo cronograma está em renegociação, afirmou uma alta fonte do governo brasileiro ouvida pela CNN, sob anonimato. A chegada da última aeronave deverá passar de 2027 para o início da próxima década.
A notícia não é boa, mas também não surpreende. Hoje, 10 anos depois, o projeto continua em um processo inicial de entregas, sendo que o plano original, era para ter todos os 36 F-39/E/F entregues até 2024, como vemos na tabela abaixo.
Considerado um dos principais projetos estratégicos de defesa do país, junto com o KC-390, o contrato entre a FAB e a Saab foi firmado em outubro de 2014, para a aquisição de 36 caças multifuncionais Gripen (28 do modelo E e 8 do modelo F — biplace), ao valor de 39,8 bilhões de coroas suecas (hoje equivalentes a pouco mais de R$ 21 bilhões).
Porém, o projeto vem sofrendo alterações de cronograma. O original de 2014 foi modificado em 2019 e, novamente, em 2023. Agora, a informação é que será novamente modificado, sendo prorrogado para meados de 2032.
É algo que não surpreende, visto que até setembro de 2024 apenas oito F-39E (designação FAB do modelo monoplace) foram entregues, além é claro, da aeronave usada para desenvolvimento (FAB 4100), que chegou ao Brasil em 20 de setembro de 2020. Mais quatro foram entregues em 2022; outros três em 2023 e um em 2024, perfazendo apenas nove Gripens em solo brasileiro, sendo oito em Anápolis com o 1º GDA (FAB 4101 a 4108). Menos de 1/4 de entregas prevista no projeto original para 2024.
Em 19 de dezembro de 2022, o F-39E foi oficialmente recebido pelo 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) em Anápolis, a primeira unidade do mundo a voar operacionalmente o Gripen E. Curiosamente, o Gripen é o primeiro caça moderno da história a entrar em serviço não por uma unidade aérea do país que o desenvolveu, mas sim, por um cliente estrangeiro. Não há registro similar e é no “mínimo” a situação é curiosa. Ainda não se tem uma dada de quando o Gripen E será entregue a uma unidade operacional da Força Aérea da Suécia.
Segundo a CNN, a disponibilidade orçamentária abaixo do inicialmente previsto está forçando à necessidade de uma readequação do cronograma de entregas. A FAB confirmou à CNN que está negociando um novo cronograma com a Saab, por meio de aditivo contratual, mas evitou falar em datas exatas.
“No tocante à adequação do cronograma de entregas, cabe informar que ele é dependente de disponibilidade orçamentária e que os patamares obtidos têm sido inferiores à necessidade orçamentária do projeto”, disse a FAB em nota enviada CNN. “Nesse contexto, atualmente, está em negociação uma adequação do cronograma de entregas das aeronaves F-39 Gripen aos patamares orçamentários obtidos nos últimos anos, os quais são inferiores àqueles necessários à conclusão do projeto nos prazos atualmente em vigor”, detalhou.
Conforme o último Relatório de Dados de Gestão elaborado pela FAB, entre 2016 e 2019, os recursos orçamentários foram disponibilizados conforme o planejamento original. O documento revela que de 2020 a 2023, começou a haver diferenças entre o orçamento previstos e os valores efetivamente pagos. Isto com certeza prejudica o projeto.
Todas as aeronaves entregues foram produzidas na Suécia, em Linköping e chegaram por via marítima. A versão de treinamento F-39F (biposto) continua sendo desenvolvida e a primeira unidade montada no Brasil só deverá ser entregue em 2025. O panorama atual tem despertado críticas. Os atrasos do projeto, que não só estão ligados a questões financeiras — questões técnicas também estão afetando o projeto, preocupa a muita gente. Isto porque o F-39 foi selecionado para substituir os A-1AM/BM e F-5EM/FM, este último originalmente previsto para ter sido desativado em 2026. Esta data já foi postergada para 2028, 2030 e já está em 2032, com possibilidade de ser mais uma vez adiada em um ano.
A valente frota de F-5, que hoje equipa o 1º GAVCA (Santa Cruz) e 1º/14º GAV (Canoas), fechará em março do ano que vem 50 anos de FAB, e com certeza, irá passar dos 55 anos de serviço. Por mais formidável que seja o projeto F-5, ele não é eterno. Isto está criando um gap na capacidade defensiva do país, a ponto de se pensar e estar em busca de outro vetor.
Caças usados
Para muitos na FAB e na indústria, as constantes notícias de que a FAB estaria procurando um novo caça ou ao menos um novo vetor para substituir a frota de A-1M de Santa Maria (que será desativada em 2025) e, talvez, equipar após Canoas e Santa Cruz no lugar do F-5M, tem uma só motivação: os atrasos do F-39. Se o projeto tivesse dentro do cromograma, não haveria a menor possibilidade de se pensar em outro vetor e, talvez, já se teria até comprado um segundo lote.
Hoje se fala em Lockheed Martin F-16A/B/C/D, Saab Gripen C/D, ex Força Aérea Sueca e Leonardo M-346 e HAL Tejas novos. Caças como Rafale e Typhoon também foram ventilados em uma verdadeira senda de notícias de “interesse da FAB”, algumas plantadas, outras verdadeiras.
Fontes do Governo dizem que “perdeu força no governo a ideia de um aditivo de 25% (em valores) ao contrato com a Saab, que permitiria acrescentar de 12 a 15 aeronaves na encomenda original”. É bem verdade que o atual governo não tem recursos e enfrenta um crescente aumento dos gastos, algo que preocupa todos os setores da sociedade, por haver um crescente aumento da dívida pública.
“Com relação à aquisição de aeronaves usadas, ressalta-se que a Força Aérea Brasileira analisa criteriosamente as alternativas disponíveis às suas necessidades operacionais e disponibilidade orçamentária, não existindo, no presente momento, definição quanto ao tema”, afirmou a nota da FAB enviada à CNN.
É necessária muita parcimônia ao analisar a atual situação. O que é fato? Primeiro que o cronograma está atrasado e terá que ser reformulado novamente. Segundo, que o A-1M está parando em 2025 e não há um substituto definido. Terceiro, o F-5M ruma para o fim, sem garantias que haverá F-39 disponíveis para reequipar todas as unidades atuais. Quarto, a situação orçamentária não é favorável ao país e muito menos a FAB. Quinto, de fato, a FAB busca uma solução no mercado, mesmo que seja um tampão.
@CAS