EUA confiscou 747 da venezuelana EMTRASUR retido na Argentina. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos finalmente confiscou o Boeing 747 da companhia venezuelana EMTRASUR, apreendido na Argentina há cerca de 18 meses por envolvimento com terrorismo. O jato foi transladado para os Estados Unidos na madrugada do último dia 12 de fevereiro.
Sob o custódia do United States Marshals Service, e tripulando por pilotos norte-americanos, o Boeing 747-300 cargueiro, matrícula venezuelana YV3531, decolou do Aeroporto Internacional de Ezeiza, em Buenos Aires, às 04:28 UTC (01:28 LT). Utilizando o indicativo de chamada no rádio “TYSON 23”, o B747 voou diretamente para o Aeroporto Dade-Collier Training and Transition (ICAO: KTNT / IATA: TNT), na Flórida, onde pousou próximo das 13:25 UTC (08:25 LT).
Curiosamente, no dia 11/02 às 22:44 UTC, portanto antes do pouso do “TYSON 23”, as autoridades de aviação dos EUA emitiram um NOTAM (Notice to Airmen) fechando o Aeroporto Dade-Collier por 24 horas para voos civis, liberando apenas operações militares.
Nos mais de 18 meses que o “Jumbo” da EMTRASUR passou retido em Ezeiza, esteve sob responsabilidade do United States Marshals Service, que contratou a empresa Risk Mondial, Aviation & Recovery que o manteve em condições técnicas e operacionais para o voo de translado. De acordo com o Procurador de Justiça do Distrito de Columbia, o destino final do Boeing 747 nos Estados Unidos será o descarte.
Entenda o caso
A Empresa de Transporte Aerocargo del Sur (EMTRASUR) é uma subsidiária de cargas da estatal Conviasa, criada através de um decreto do presidente Nicolás Maduro, publicado em 19 de novembro de 2020. Sediada na Base Aérea de El Libertador, em Maracay, a companhia aérea tem um único avião, o Boeing 747-300, matrícula YV3531, adquirido da companhia aérea iraniana Mahan Air.
A justiça dos Estados Unidos investiga a negociação do B747 cargueiro com a venezuelana EMTRASUR, que estaria servindo de “laranja” para a Mahan Air – e o governo de Teerã – furar os bloqueios internacionais, transportando cargas ilícitas para o exterior (armas, por exemplo), além de realizar ações espionagem. Por esse motivo, a empresa iraniana – e suas subsidiárias – estão proibidas de realizar negócios internacionais envolvendo artigos e bens produzidos nos EUA, incluindo aeronaves.
Em 05 de junho de 2022, o Boeing 747-300 da EMTRASUR (YV3531) foi usado para transportar “componentes automotivos” do México para a Argentina. Na decolagem do voo de retorno à Venezuela, em 08/06, era prevista uma misteriosa parada técnica em Montevidéu, no Uruguai, apenas para o reabastecimento de combustível. O pouso foi negado pelas autoridades uruguaias, sob a alegação de que a aeronave pertencia ao Irã e por isso estaria sob investigação dos EUA.
Ao retornar para Ezeiza, a Polícia Federal da Argentina reteve o avião venezuelano descobrindo que entre seus 19 tripulantes, cinco eram iranianos, incluindo o comandante da aeronave, Gholamreza Ghasemi, procurado internacionalmente por ligação com terrorismo. Em 2018, Ghasemi era um dos diretores de outra companhia aérea iraniana, a Fars Air Qeshm, apontada pelos EUA como tendo ligações à grupos terroristas vinculados à Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC). A justiça argentina liberou todos os tripulantes poucos dias após a retenção da aeronave.
Segundo o site Infobae, no dia 05 de fevereiro de 2024, um funcionário da embaixada venezuelana em Buenos Aires conseguiu chegar perto do 747 da EMTRASUR no pátio do Aeroporto de Ezeiza. O venezuelano José Jesús Jatar Díaz acessou a área restrita do aeroporto, acompanhado por um funcionário da agência argentina aviação ANAC, onde tomou diversas fotos do avião com o seu celular, antes de ser surpreendido pelos policiais da PSA. Um processo judicial foi aberto para que seja explicado o incidente.
Por sua vez, o governo de Nicolás Maduro emitiu nota oficial denunciando o confisco do avião da EMTRASUR pelos EUA, em “conluio” com a Argentina, em uma ação que chamou publicamente de “roubo descarado”.
@FFO