

EUA alerta Canadá sobre as consequências de cancelar a compra do F-35A. O governo dos Estados Unidos emitiu um alerta direto ao Canadá, sugerindo que a saída do programa F-35A poderia ter sérias consequências para a cooperação bilateral e para o futuro do Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD).
Segundo o embaixador dos EUA em Ottawa, Pete Hoekstra, se o Canadá optasse por uma aeronave diferente, enfraqueceria a interoperabilidade entre os dois países e, consequentemente, o NORAD. Essa posição é compartilhada por uma parcela das Forças Armadas canadenses, que veem a compra do F-35 como uma forma de preservar a integração estratégica com Washington. Esses alertas colocam o debate canadense sobre o F-35 em um contexto muito mais amplo do que simplesmente a aquisição de um novo caça.

Criado em 1958, o NORAD é uma organização binacional responsável pela defesa do espaço aéreo do continente norte-americano. Com sede no Colorado e centro de operações em Cheyenne Mountain, baseia-se na integração completa das capacidades de vigilância e resposta dos EUA e do Canadá. Suas principais missões são alerta aeroespacial, controle de tráfego aéreo e, desde 2001, alerta marítimo. Para que o sistema opere de forma eficaz, a consistência operacional é essencial. Da perspectiva de Washington, se o Canadá operasse uma frota baseada em uma aeronave diferente do F-35, isso complicaria a manutenção, o treinamento e as operações conjuntas, com impacto direto na eficácia do Comando.
O Ministro da Defesa canadense, David McGuinty, prometeu que as conclusões da revisão serão tornadas públicas antes do final de setembro. A revisão, ordenada pelo Primeiro Ministro Mark Carney, ocorre após crescente pressão do governo Trump, marcada por ameaças à soberania canadense e tentativas de coerção econômica.

Segundo a Reuters, as Forças Armadas canadenses recomendam a manutenção do projeto, uma posição que favorece a interoperabilidade crítica com os sistemas americanos. O Alto Comando militar canadense também mantém laços estreitos com seus homólogos americanos, reforçando a lógica do alinhamento estratégico.
Em março de 2022, o Canadá anunciou a intenção de adquirir 88 caças F-35A Lightning II para substituir sua frota envelhecida de CF-18 Hornet. A decisão foi confirmada em janeiro de 2023, quando Washington concedeu sua aprovação por meio do seu Programa de Vendas Militares Estrangeiras (FMS). Estimado em CAD 19 bilhões, o contrato prevê a entrega progressiva do primeiro lote de aeronaves entre 2026 e 2027.
O temor de Washington é que Ottawa diversifique sua frota de caças combinando o F-35 com uma aeronave europeia, como o sueco Saab Gripen. Autoridades americanas consideram os altos custos operacionais ao operar plataformas diferentes e o complexo processo de revisão das negociações comerciais em andamento entre os dois países.

Os defensores do Gripen ressaltam, no entanto, que a aeronave foi projetada para ambientes austeros e pistas curtas, um recurso valioso para operações no Ártico canadense. Além disso, o compromisso do Primeiro-Ministro Carney de aumentar significativamente o orçamento de defesa, teoricamente, abre a possibilidade de financiar múltiplas frotas de caças, uma estratégia que poderia permitir que Ottawa reduzisse sua dependência de Washington.
A controvérsia é agravada pelas dificuldades persistentes com o próprio programa F-35, no qual o Escritório de Prestação de Contas do Governo dos EUA (GAO), órgão de fiscalização do Congresso, divulgou um recente relatório extremamente crítico: a versão Block 4 que o Canadá planeja comprar está mais de US$ 6 bilhões acima do orçamento e pelo menos cinco anos atrasada. O relatório enfatizou que, duas décadas após seu lançamento, o programa “continua prometendo demais e entregando de menos”.

O Departamento de Defesa Nacional do Canadá indicou que estava monitorando a situação de perto. No entanto, oficiais da Força Aérea Real Canadense argumentam que o F-35 continua sendo essencial para a integração operacional com os Estados Unidos. No entanto, essa integração também reforça a dependência do Canadá de atualizações de software e peças de reposição, já que essas atualizações são totalmente controladas por Washington.
À medida que a decisão final se aproxima, Ottawa enfrenta um dilema estratégico. Manter a compra do F-35, preservando o alinhamento com Washington e garantiria da estrutura do NORAD, ao custo de uma maior dependência e de um programa marcado por estouros de orçamento. Explorar uma alternativa como o Gripen, proporcionaria maior autonomia e melhor adaptação às condições canadenses, mas correria o risco de provocar retaliações políticas, econômicas e militares dos Estados Unidos.
A revisão, marcada para segunda-feira, 22 de setembro, resolverá uma questão que vai muito além da simples aquisição de caças: ela representa uma escolha estratégica para o Canadá entre manter a continuidade da aliança norte-americana e buscar maior autonomia nacional.
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