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ESPECIAL: Tomcat 50 anos! Half Century Baby!

21 de dezembro de 2020

Hoje – 21/12, há exatos 50 anos um dos mais icônicos e venerados aviões já construídos realizava o seu primeiro voo! Nascia o Gato Tom ou o Grumman F-14 Tomcat – o primeiro e único caça naval com asas de geometria variável.

O programa F-14 nasceu em 1968, fruto do projeto VFX (Navy Fighter Experimental) da United States Navy (USN) que resultou no Projeto 303 da Grumman, que se encaixou perfeitamente nas especificações, após o colapso do programa F-111B, um projeto desenvolvido em conjunto entre a General Dynamics e a Grumman.

O F-111B seguia um conceito do Departamento de Defesa dos EUA – não compactuado pela USN, diga-se passagem, de fazer com que USAF e USN usassem os mesmos vetores de combate para maximizar os custos de projeto, produção e operação. Isto gerou o F-111B chamado de “Sea Pig”, uma versão naval do F-111A, que não se adaptou ao ambiente naval, apesar de ter sete protótipos construídos. Ele era muito pesado e não cumpria várias das especificações.

Dia histórico! O primeiro F-14A alça voo no dia 21 de dezembro de 1970. Nascia de fato
um dos mais lendários caças já produzidos! (Foto: Northrop Grumman).

O VFX exigia um caça naval de superioridade aérea bimotor, supersônico, biplace em tandem, com um sistema de armas avançado centrado em um poderoso radar. 

A Grumman propôs oito variantes do Projeto 303, sendo o model 303E escolhido como vencedor. Durante o processo de design, cerca de 9.000 horas de teste de túnel de vento foram realizadas em cerca de 2.000 configurações diferentes e quase 400 combinações de entradas de ar e bocais de exaustão! Houve uma versão de asa fixa, que foi rejeitada por causa de seu peso, adequação de porta-aviões e por causa de seu desempenho a baixa altitude. Vale lembrar que parte do design básico do F-14 (e também do F-111) foi feito em cima do Messerschmidt Me P1101 de 1944! Aliás este jato alemão foi o “pai” de muitos projetos americanos, europeus e soviéticos.

De cima para baixo: três protótipos do F-14 vistos em voo próximo a NY (Foto: Northrop Grumman).

O primeiro voo do protótipo nº 1 do F-14A (BuNo 157980) ocorreu as 16h de 21 de dezembro de 1970 a partir da planta da Grumman em Calverton, Nova York, sob o comando do piloto de teste chefe da Grumman, Robert Smyth tendo o piloto de teste do projeto William Miller no assento traseiro. 

Em 30 de dezembro de 1970, o Tomcat # 1 fez seu segundo voo, quando veio a ser perdido em uma acidente devido à falha de uma bomba hidráulica, que causou a perda total dos controles de voo. A tripulação conseguiu ejetar com segurança e a aeronave caiu perto da pista da Grumman em e Calverton, em Nova York. Um acidente assim poderia prejudicar o projeto. Não foi o que aconteceu.

Ao todo, 14 aeronaves foram utilizadas para o programa de desenvolvimento, 12 delas para a campanha de ensaios em voo (BuNo 157980 a 157991), sendo que duas delas foram usados exclusivamente ​​para o desenvolvimento do Hughes AIM-54 Phoenix na Hughes Aircraft Corporation em Point Mugu, CA – primeiro míssil BVR. Cinco F-14 passaram algum tempo em Patuxent River, Maryland, para testes de adequação de porta-aviões e para demonstração estrutural, de motores e de desempenho. 

F-14A Tomcat do Fighter Squadron 1 (VF-1) – Wolfpack, sediado na
Naval Air Station (NAS) Miramar, Califórnia (CA), lança um míssil BVR AIM-54 Phoenix (Foto: USN).

Apenas 51 meses após o primeiro voo, a produção em série é iniciada e no dia 8 de outubro de 1972 o VF-124 – o Fleet Replacement Squadron ou a unidade que faria a conversão operacional, recebe seu primeiro F-14A. Os primeiros esquadrões operacionais, o VF-1 e o VF-2 começaram a receber seus Tomcats em julho de 1973, com um primeiro cruzeiro sendo realizado a bordo do USS Enterprise (CVN-65) em 22 de setembro de 1974. O Tomcat foi entregue a frota da USN a tempo de tomar parte das ações finais da Guerra do Vietnã.

F-14A do VF-142 Ghost Riders em uma clássica pintura vistosa dos anos 1970/80 (Foto: USN).

O Tomcat fez sua estreia em combate durante a Operação Frequent Wind, destinada a evacuação de cidadãos americanos de Saigon, em abril de 1975. Os F-14A dos VF-1 e VF-2, operando do CNV-65, voando missões de patrulha de combate (CAP – Combat Air Patrol) sobre o Vietnã do Sul, protegendo a rota de evacuação.

F-14A – Defesa da Frota!

O F-14A Tomcat foi concebido como um caça de superioridade aérea para a defesa da frota, substituindo os McDonnell Douglas F-4J Phantom. É um caça naval biplace – Piloto + RIO, bimotor (2 x P&W TF-30-P-414A = 34mil lb) capaz de voar a Mach 2,38, com um teto de serviço de 50 mil pés e um alcance de 1.730 nm. Seu peso máximo de decolagem é de 72.000 libras (32 toneladas).

Clássica pintura dos F-14A do VF-84 – Jolly Rogers (Foto: USN).

A partir de 1974 ele gradualmente foi sendo introduzido na frota da USN, passando a ser a partir de 1981 o caça padrão da Marinha embarcado nos porta-aviões convencionais e nucleares. O padrão usado pela USN era de duas unidades VF embarcadas em cada comissão, cada uma com 12 aeronaves.

Pod TARPS sendo preparado pela tripulação do VF 103 no deck do CVN-73 para os F-14B
(Foto: USN/Mate 3rd Class Andrew Kaeding).

A partir do final dos anos 1970, o F-14 ganhou uma nova função. Além de superioridade aérea e defesa aérea da frota, passou a voar missões de reconhecimento, com a integração do Tactical Airborne Reconnaissance Pod System (TARPS). Aproximadamente 65 F-14A e depois todos os F-14B/D foram modificados para transportar o pod. TARPS era controlado pelo Oficial de Interceptação Radar (RIO) por meio de uma tela extra dedicada aos dados de reconhecimento. Em 1996 surgiu TARPS Digital (TARPS-DI), uma com uma câmera digital. A câmera digital foi atualizada no início de 1998 com a configuração TARPS Completely Digital (TARPS-CD), que também fornecia transmissão de imagens em tempo real – esta exclusiva dos F-14D. 

Ao longo de sua operação, os F-14A estiveram em toda as operações de vulto da USN desde 1974. Nos anos 1980 eles participaram de todas as ações da guerra fria, em especial as ações contra a Líbia, onde se envolveram diretamente em missões CAP nas Operações “Prairie Fire” e “El Dorado Canyon” em 1986. Foi contra os líbios que os Tomcats fizeram suas primeiras vítimas em combates ar-ar.

Um F-14A do VF-151 intercepta um Tu-95 da Marinha Soviética. Cena clássica dos anos 1980 e até mesmo dos 90 já na era da Marinha Russa (Foto: VF-151).

Os Tomcats Alfas também voaram sobre o Líbano e executaram dezenas de interceptações de aeronaves soviéticas em missões de policiamento do espaço aéreo. Além disto estiveram – sempre em missões de defesa aérea proteção de aeronaves de ataque nas operações na Somalia (1983), em Granada (1983), no incidente com o navio MS Achille Lauro em 1985 e na Operation Earnest Will (1987/88) entre muitas outras.

Aeronaves da Carrier Air Wing Fourteen (CVW-14) do USS CARL VINSON (CVN-70) voam em formação no Golfo Persico na WESTPAC em 1º de maio de 1994. Os Esquadrões são: VF-11 “Red Rippers” e VF-31 “Tomcatters” – F-14A; VS-35 “Blue Wolves” – S-3A Viking; VFA-113 “First of the Fleet” e VFA-25 “Stingers” – F/A-18C; VAQ-139 “Cougars” – EA-6B Prowler; VAW-113 “Black Eagles” – E-2 Hawkeye; e o VA-196 “Main Battery” – A-6E Intruder. Esta era a formação básica dos Porta-Aviões na era F-14 nos anos 1990 (Foto USN).

Embates Ar-Ar

F-14 da VF-41 – “Fast Eagle 107” dispara um AIM-9 contra um Su-22 Líbio em 1981.

Os F-14 Alfas protagonizaram dois combates aéreos celebres nos anos 1980 contra a Força Aérea da Líbia, como consequência de anos de disputa política entre os EUA e Líbia, que se tornaram antes de mais nada um embate pessoal entre Ronald Reagan e Muamar Kadafi. Ao longo da década de 1980, por diversas vezes, aeronaves da USN e da Força Aérea da Líbia estiveram frente a frente em atos provocativos ao longo do lar mediterrâneo e, principalmente, no Golfo de Sidra.

Em 1981 as tensões de Kadafi com o mundo estão em alta rotação. O aumento do fomento ao terrorismo por parte do Governo Líbio, ameaças a Israel, aos EUA e a consequente pressão do mundial, criou um cenário de tensão que deu a Kadafi o status de “homem mais perigoso do mundo”. Este cenários fez aumentar a presença da USN no Golfo de Sidra como forma direta de pressão.

Em resposta a presença dos EUA na região, a Líbia aumenta seu mar territorial em agosto de 1981 de 22 km para 480 km – prejudicando a navegação mundial. Além disso, Kadafi cria a “linha da morte”, uma linha imaginária dento do Golfo de Sidra e a 100 km da costa, que, quem ultrapassasse, seria alvejado.

Como respostas os EUA envia os grupo de batalha do USS Forestal (CV-59) e do Nimitz (CVN-68) para ultrapassar a linha e criar um atrito. Depois de alguns dias de provocação, finalmente, o atrito se estabeleceu.

No dia 19 de dois F-14A da VF-41 do USS Nimitz (CVN-68) estavam na CAP leste. Depois de alguns dias de ações provocativas – onde as aeronaves da LAF se aproximavam e refutavam interceptação, naquele dia algo saiu do script. Dois Sukhoi Su-22M3 Fitter do Esquadrão 1032 da LAF decolaram de Benina Air Base, visando interceptar os dois F-14 da CAP leste do CVN-68. Do nada e fora do alcance efetivo, o líder da formação disparou um MAA Vympel K-13 (AA-2 Atoll) contra os F-14. Imediatamente os Tomcats call-sing “Fast Eagle 102” (BuNo 160403) e “Fast Eagle 107” (BuNo 160390 ) regiram e abateram os dois Su-22 em 45 segundos com mísseis AIM-9L. Foi a primeira vitória ar-ar dos F-14!

O F-14A do VF-41 – Black Aces (BuNo 160403) “Fast Eagle 102” que abateu um dos Fitter Líbios
no incidente do Golfo de Sidra em 1981 (Foto: USN).

O segundo ato. A crise entre os dois países, que já durava anos, aguçou novamente quando os Estados Unidos acusou a Líbia de construir uma usina para a fabricação de armas químicas em Rabta. Foram enviados para ao Golfo de Sidra os porta-aviões USS Jonh F Kennedy (CV-67) e o USS Theodore Roosevelt (CVN-71).

Dois Tomcats “A” da VF-32 que em 1989 abateram os MiG-23 líbios (Foto: USN).

Na manhã do dia 4 de janeiro de 1989, o grupo de batalha do CVN-67 estava a 190 km ao norte da costa, enquanto a 130 km uma esquadrilha de A-6 Intruder, escoltado por dois pares de F-14A do VF-14 e VF-32, fazia exercícios ao sul de Creta.

Às 11:50 horas da manhã, depois de algum tempo em patrulha, o E-2C do VAW-126 informou aos F-14 da descolagem de quatro MiG-23 líbios do aeródromo de Al Bumbaw. Os F-14 do VF-32 voltaram-se para os primeiros dois MiG-23 a cerca de 50 km à frente do segundo elemento, enquanto os Tomcats do VF-14, mantiveram a proteção dos A-6.

Os MiGs continuaram se aproximando do elemento do VF-32 composto pelo “Gypsy 107” (BuNo 159610) e pelo “Gypsy 102” (BuNo 159437). À medida que os dois pares de aeronaves convergiam, o E-2 e outros meios de espionagem dos EUA na área monitoraram as comunicações de rádio entre as aeronaves líbias e seus controladores de solo. Os americanos ouviram os MiG-23 receberem orientação para interceptar os F-14. O combate começou a 12 nm com o “Gypsy 107” lançando dois AIM-7, que erraram o alvo. Já o “Gypsy 102” conseguiu abater seu alvo com um AIM-7. Por fim, o líder – “Gypsy 107” conseguiu abater o MiG-23 Líbia a 1,5 mn com um AIM-9L. F-14 2 x Líbia 0!

Silhueta do MiG-23 líbio no F-14A do VF-32 – Sworsdman “Gypsy 102” (BuNo 159437) – Foto USN.
F-14A do VF-32 – Sworsdman “Gypsy 107” (BuNo 159610) – Foto USN.

Golfo 1991

A Fighter Squadron 114 (VF-114) F-14A Tomcat voa sobre um poço de petróleo em chamas
no Kuwait durante a Desert Storm (Foto: USN).

Os Tomcats participaram das ações da Guerra do Golfo. Incidentalmente da Operação Desert Shield em 1990 e após da Operação Desert Storm em 1991.

Dois porta-aviões dos EUA participaram Desert Shield: USS Eisenhower (CVN-69) com os esquadrões F-14A VF-142 “Ghostriders” e VF-143 “Pukin Dogs” e o USS Independence (CV-62), com um único esquadrão Tomcat, VF-154 “Black Knights”. O Eisenhower e Independence terminaram seus cruzeiros antes do início da luta.

Em 17 de janeiro de 1991, primeiro dia da Desert Storm, seis porta-aviões da USN estavam estacionados na zona de guerra. Só um deles, o USS Midway (CV-41) não tinham Tomcats a bordo. Os cinco navios equipados com Tomcat eam o USS John F. Kennedy (CV-67) VF-14 “Tophatters” e VF-32 “Swordsmen”; USS Saratoga (CV-60) VF-74 “Be-Devilers” e VF-103 “Sluggers”; USS America (CV-66) com VF-33 “Tarsiers” e VF-102 “Diamondbacks”; USS Ranger (CV-61) VF-1 “Wolfpack” e VF-2 “Bounty Hunters” e o USS Theodore Roosevelt (CVN-71) VF-41 “Black Aces” e VF-84 “Jolly Rogers”.

Tomcats estiveram no Golfo 91 na Desert Storm (Foto: USN/Mate 1st Class, Martin Maddock).

Os esquadrões Tomcat realizaram principalmente missões de CAP, de escolta a aeronaves de ataque e reconhecimento com TARPS, que ajudaram na busca pelos mísseis Scud móveis do Iraque. 

Até o início da ofensiva terrestre, os F-14 eram amarrados a CAP de defesa da frota e rotineiramente se aventuravam sobre o território inimigo apenas quando escoltavam missões de ataque. Isto frustrou um pouco a unidades ávidas por embates ar-ar contra os iraquianos.

O F-14 marcou apenas uma única vitória aérea confirmada durante a guerra, quando em 6 de fevereiro de 1991, o F-14A (BuNo 162603) do VF-1 “Wolf Pack” derrubou um helicóptero Mil Mi-8 “Hip”, usando um AIM-9 Sidewinder. 

Também um F-14A+ da VF-103 (BuNo 161430) foi abatido durante a Desert Storm por um míssil superfície-ar em 21 de janeiro. O Tenente Devon Jones, foi resgatado enquanto o seu RIO Tenente Lawrence Slade, tornou-se prisioneiro de guerra, so sendo repatriado em março de 1991.

A Desert Storm marcou a estreia do F-14A+ em combate, que equipou dois esquadrões – VF-74 e VF-103 ambos do USS Saratoga. Posteriormente, os F-14A+, uma versão remotorizada e atualizada do F-14A seria redesignado F-14B.

F-14A+/B/D – nova missão!

F-14B Tomcat do VF-32 “Swordsmen” pousa no porta-aviões calsse Nimitz, USS Harry S. Truman (CVN 75). Foto: USN/Mate Airman Kristopher Wilson.

Um dos problemas que o F-14 sempre enfrentou foram os motores – 2 x P&W TF-30-P-414A de 34mil lb. Por isto, desde o inicio do projeto já se estudava trocar eles pelos Pratt & Whittney F401-P400, tanto que o protótipo nº7 F-14A (BuNo 157986) realizou testes em 1973 tendo feito seu primeiro voo em 12 de setembro.

F-14A Bombcat VF-211 “Checkmates” se prepara para lançar bombas MK-82 (500 lbs) durante um treinamento (Foto: USN/Mate 1st Class Mahlon K. Miller. (RELEASED).

Porém os ensaios não foram considerados satisfatórios, e a ideia foi engavetada até 1981, quando foram feitos novos testes com um novo motor: o General Electric F101DFE (Derivative Fighter Engine). Os voos em julho de 1981 foram bem sucedidos, inclusive mostrando que o empuxo permitia lançar o Tomcat de uma catapulta sem pós-combustão. Apesar do sucesso e de dar mais relação peso/potência a aeronave, a USN mandou parar o projeto que havia sido designado inicialmente como F-14B Super Tomcat.

F-14B Tomcat ou Bombcat do VF-143 Pukin’ Dogs, lança uma bomba Mark 83 ( 1.000 lbs). Os modelos B/D deram uma nova vida ao velho Gato (Foto: USN).

Ele só foi retomado em julho 1984, quando a Grumman recebeu ordens para retirar o protótipo nº 7 do armazenamento novamente, e desta vez, instalar um par de General Electric F110-GE-400. Em julho de 1984 começaram os testes de voo com o novo motor, testes muito bem-sucedidos, que levaria à produção do que a USN designou inicialmente como F-14A+ (PLUS). O primeiro F-14A+ (PLUS) – BuNo 162910 – fez seu voo inaugural em setembro de 1986. A produção do F-14A+ começou em março de 1987 e em 1º de maio de 1991 todos os F-14A + foram redesignados F-14B.

Durante o programa do F-14A+, estudos de uma versão atualizada – o F-14C – com motores F101DFE da General Electric ocorreram em paralelo. O F-14C deveria ter aviônicos atualizados, radar aprimorado e um sistema de controle de fogo compatível com os do A-6 e F/A-18. O F-14C foi abandonado mas, todos esses novos recursos foram posteriormente incorporados na produção final do F-14A, F-14A + (F-14B) e F-14D.

Um F-14D do VF-2. Os modelos B e D são facilmente diferenciados dos modelos A pelos bocais dos motores (Foto:VF-2).

A variante F-14D acabou sendo desenvolvida em paralelo a produção do F-14A+ e incluiu os mesmo motores GE F110-400, porém com algumas novidades, como aviônica digital e compatibilidade com datalink link 16, TARPS-DG, IRIS-T e o novo radar APG-71.

A ideia da Grumman era ocupar o espaço que o A-6 deixaria ao se aposentar. Porém, o F-14D sofreu um forte lobby da Boeing em favor do F/A-18E/F, a produção do F-14D foi encerrada em janeiro de 1991 com parte das aeronaves F-14B/D sendo construídas ou outra parte convertidas a partir de F-14A.

F-14D Tomcat VF-31 “Tomcatters” voa sobre o Golfe Pérsico, tendo como base o porta-aviões
USS Theodore Roosevelt (CVN 71) – Foto: USAF/Tech. Sgt. Rob Tabor.

Porém apesar de cancelada novas compras, as modificações feitas nos F-14A/B/D permitiram uma nova sobrevida ao Gato Tom, pois eles ganharam a capacidade Bomcat, ou seja, de emprego de armas de precisão. Se o F-14A tinha como DNA defesa aérea. Os F-14A/B/D Bombcat passaram não só a defender, mas principalmente, atacar com precisão. Os F-14B/D também ganharam mais potência se comparados aos F-14A, graças as duas GEGE F110-4000-P-414A que juntas geram 56 mil lb. Eles mantiveram a mesma capacidade de voar a Mach 2,38 dos Alfas, mas com um teto de serviço de 53 mil pés e um alcance de 2.050 nm. Seu peso máximo de decolagem subiu para 74.000 libras (33 toneladas). Outro ponto importante. Os B/D podiam agora decolar no porta-aviões sem pós-combustão.

Com a demora no desenvolvimento do Super Hornet, a USN autorizou uma adaptação nos F-14A/B/D para o uso de FLIR e do pod LANTIRN (Low Altitude Navigation and Targeting Infrared for Night) AN/ALQ-14, que permitiu navegação, designação e ataque de precisão. Com isto os Tomcat passaram a empregar diversas bombas de precisão da família Paveway, JADAM e GBU. A partir de 1992 foi iniciados os testes com bombas convencionais e em 1994 ele começaria sua vida de aeronave de ataque, que consagrou os seus últimos 10 anos de operação.

Iraque, Balcans, OIF e OEF

15 de abril de 2003: um F-14 Tomcat do VF-2 exibe as silhuetas das bombas e mísseis
lançados em apoio à Operação Iraqi Freedom (Foto: USN/Mate 2nd Class Felix Garza Jr.).

Apesar de ter sido concebido como um caça de superioridade aérea, o Tomcat viu mais ação como aeronave de ataque, mais precisamente, como caça bombardeiro de longo alcance. Esteve em ação no Balkans (1994/95), Kosovo (1999), Afeganistão (OEF 2001-2003) e Iraque (OIF 2003-2006), operando em missões de ataque sempre a partir dos porta-aviões da USN, empregando em sua grande maioria bombas inteligentes.

F-14 do VF-11 a bordo USS John F. Kennedy (CV-67) M em 189 de março de 2002 é
catapultado para uma missão sobre o Afeganistão na Operation Enduring Freedom
(Foto: USN/Mate 1st Class Jim Hampshire).
F-14A do VF-154, é lançado do USS Kitty Hawk (Foto: USN/3rd Class Calvert T. Frantom).
Regresso de uma missão de ataque na OEF de um F-14A do VF-24, Notar o pod AN/ALQ-14 (Foto: USN).

Adeus a uma lenda!

F-14B do VF-103 (junção da VF-84 com VF-103) – Foto USN.

Com o fim da guerra fria e os cortes no orçamento e compra do Super Hornet em 1991, a USN decidiu que o F-14 era muito caro pra se manter em serviço. A partir de 2003 apenas nove unidades de F-14 a maioria de B/D permaneciam em serviço. Este número foi diminuindo até que em 2005 apenas duas estavam voando o Tomcat. A despedida era eminente. O fim depois de mais de três décadas, estava marcado. O último cruzeiro a abordo do CVN-71 foi marcado para as VF-31 e VF-213 como parte a CAW-8 num tour no Golfo Persico para apoiar a OIF.

A VF-213 Black Lion junto com o VF-31 foram as duas últimas unidades a operarem o Tomcat. Ambas pararam de voar o F-14D em 2006 (Foto: VF-213).

Assim, a bordo do USS Theodore Roosevelt (CVN-71), os dois esquadrões realizaram, entre setembro de 2005 e março de 2006, a missão derradeira de combate dos Tomcats. O dia 8 de fevereiro de 2006, ficou marcado como o último dia de combate dos Tomcats do VF-213, quando o F-14D Tomcat (BuNo. 161159) “Lion 204” pegou o cabo do USS Theodore Roosevelt (CVN-71). No dia 13 de fevereiro, os “Black Cats” do VF-31 fazerem o seu último voo de combate – feito sobre Bagdá, que marcou o lançamento da última bomba por um F-14D em operação real. Ao regressarem, ambas as unidades começariam a transição para o F/A-18E/F.

Patch do Last Cruise do F-14 pelas VF-31 e VF-213.
Dia 11 de março de 2006 foi feito o último lançamento operacional de um F-14D na USN (Foto: Didier Kories).

O últimos lançamentos operacionais foram realizados pelo USS Theodore Roosevelt em 11 de março de 2006, quando foram catapultados os F-14D do VF-213 para o regresso a sua base terrestre na NAS Oceana.

Dia 28 de julho de 1996 o F-14D Tomcat do VF-31 AJ112 (BuNo 163417) faz o último catshot! (Foto USN/Randall Damm).

O último catshot de um Tomcat foi feito a partir do USS Theodore Roosevelt pelo F-14D do VF 31 – AJ112 (BuNo 163417) no dia 28 de julho de 2006 às 16h42. Quando o “Tomcatter 112” deixou a catapult nº 3 do convoo, pilotada pelo Tenente Blake Coleman e pelo RIO Tenente Comandante, havia se encerrado uma era, de mais de 32 anos embarcado operacionalmente.

Dia 28 de julho de 1996 abordo do USS Theodore Roosevelt (CVN 71). F-14D Tomcat do VF-31
faz o último catshot! (Foto USN/Mass Communications Specialist 3rd Class Nathan Laird ).

Em setembro de 2006 o VF-31 se despediu do Tomcat, quase 34 anos depois da VF-124 receber o primeiro Tomcat de produção em série. Chega ao fim um era na USN. Alguns foram preservados. Outros estocados e outros sucateados. O último voo foi feito pelo VF-31 F-14D AJ102 (BuNo 164904) no dia 22 de setembro de 2006 na NAS Oceana, diante de uma plateia de centenas de espectadores civis, da USN e da Northrop Grumman.

O último voo foi feito pelo VF-31 F-14D AJ102 (BuNo 164904) no dia 22 de setembro de 2006
na NAS Oceana (Foto: USN).

No Cinema

Dois filmes imortalizaram o Tomcat no Cinema. O primeiro é o “The Final Countdown” que no Brasil ganhou o título “O Nimitz volta do Inferno”. Lançado em agosto de 1981 ele tem como estrela os F-14A do VF-84. O enredo é uma ficção sobre um portal do tempo que leva o USS Nimitz através do tempo até 7 de dezembro de 1941 – dia do Ataque Japonês ao Havaí. O filme tem boas cenas embarcadas. A mais marcante, sem dúvida, é um combate aéreo entre o passado e o futuro, ou seja, um dogfight entre dois F-14A e dois A6M Zero Japoneses.

Para quem nunca viu ou quer rever veja aqui o filme.

O segundo é Top Gun ou Ases indomáveis no Brasil, de 1986, que dispensa apresentações, sendo para muitos o filme mais cult de aviação já feito até hoje. Quem não lembra desta abertura momorável!?

Produção e Esquadrões

F-14A do VF-21 pronto para o “catshot” (Foto: VF-21).

Ao todo, 712 F-14 foram construídos pela Grumman:

Total 632 F-14 para a USN

  • F-14A = 557
  • F-14B (F-14A+) = 86 (38 F-14B + 48 F-14A convertidos em F-14D)
  • 55 F-14D (37 F-14D + 18 F-14A convertidos para F-14D). 

Total 79 para o Irã

  • F-14A = 79 (80 encomendados, um construído, mas não entregue).

A USN teve ao to 41 esquadrões operacionais ou unidades de ensaio e testes de F-14A/A+/B/D Tomcat. Além destes, a NASA também voou o velho Gato!

  • VF-1 Wolfpack (14/10/1972 – 1/10/1993) = F-14A
  • VF-2 Bounty Hunters (14/10/1972 – 2003) = F-14A e F-14D
  • VF-11 Red Rippers (1980/2005) = F-14A e F-14B
  • VF-14 Tophatters (07/1973 – 10/2001) = F-14A
  • VF-21 Freelancers (1984 – 01/1996) = F-14A
  • VF-24 Renegades (12/1975 – 08/1996) = F-14A e F-14B
  • VF-31 Tomcatters (08/1980 – 09/2006) = F-14A e F-14D
  • VF-32 Swordsmen (07/1973 -10/2005) = F-14A e F-14B
F-14A Tomcat do VF-24 (Foto: USN).
  • VF-33 Starfighters (06/1981 – 24/09/1993) = F-14A
  • VF-41 Black Aces (04/1976 – 10/2001) = F-14A
  • VF-51 Screaming Eagles (05/1976 – 16/02/1995) = F-14A
  • VF-74 Be-Devilers (1983 – 28/04/1994) = F-14A/F-14A+ e F-14B
  • VF-84 Jolly Rogers (06/1976 – 11/1995) = F-14A
  • VF-101 Grim Reapers (11/1975 – 09/2005) = F-14A, F-14B e F-14D
  • VF-102 Diamondbacks (02/1981 – 03/2002) = F-14A e F-14B
  • VF-103 Jolly Rogers (antes Sluggers) 02/1983 – 03/2005 = F-14A e F-14B
  • VF-111 Sundowners (01/1976 – 16/02/1995) = F-14A
  • VF-114 Aardvarks (03/1976 – 28/01/1993) = F-14A
  • VF-124 Gunfighters (1972 – 30/09/1994) = F-14A
  • VF-142 Ghostriders (11/1974 – 03/1995) = F-14A
  • VF-143 Pukin’ Dogs (10/1974 – 03/2005) = F-14A e F-14B
VF-114 F-14A do NH114 escolta mais um Tu-95 na era da Guerra Fria (Foto: USN).
  • VF-154 Black Knights (02/1984 – 09/2003) = F-14A
  • VF-191 Satan’s Kittens (4/12/1986 – 09/1988) = F-14A
  • VF-194 Red Lightnings (1/12/1986/ 09/1988) = F-14A
  • VF-201 Hunters (10/1986 – 12/1998) = F-14A
  • VF-202 Superheats (03/1987 – 9/07/1994) = F-14A
  • VF-211 Checkmates (1/12/1975 – 09/2004) = F-14A
  • VF-213 Black Lions (02/1976 – 04/2006) = F-14A e F-14D
F-14D Tomcat do VF-213 “Black Lions” sendo preparado para ser lançado do USS Theodore
Roosevelt (CVN 71). Os Black Lions e os “Tomcatters” (VF-31) foram os últimos esquadrões operacionais de F14 (Foto: USN/Mate Airman Derek Allen).
  • VF-301 Devil’s Disciples (10/1984 – 11/09/1994) = F-14A
  • VF-302 Stallions (04/1985 – 11/09/1994) = F-14A
  • VF-1285 Fighting Fubijars (1980/1994) = F-14A
  • VF-1485 Americans (1980/1994) = F-14A
  • VF-1486 Fighting Hobos (1980 – 02/1990) = F-14A
  • VX-4 Evaluators (12/1972 – 30/09/1994 ) = F-14A
  • VX-9 Vampires (1994 – 06/2004) = F-14A
  • VX-30 redesignado NSATS = F-14A
  • VX-31 redesignado NWTS =F-14A
  • NAWC – Naval Air Warfare Center: F-14A
  • NACT – Naval Air Test Center = F-14A
  • NFWS –Navy Fighter Weapons School = F-14A
  • NSAWC – Naval Strike & Air Warfare Center (1970 – 2003) =  F-14A
  • NASA – National Aeronautics & Space Administration (1979/1987) = F-14A
Um Grumman F-14A Tomcat da USN (BuNo 159855) pertencente ao VF-126 “Bandits”
na Estação Aérea Naval Miramar, Califórnia (EUA) em 1991, com pintura soviética. Os F-14A Tomcat da Navy Fighter Weapons School também fizerem papel de aggressors (Foto: USN/Bruce Trombecky).

Gato Persa

F-14A da IRIAF com traditional camuflagem (Foto: IRIAF/Shahram-Sharifi).

Hoje o único operador do F-14 é a Força Aérea da República Islâmica do Ira (IRIAF). As aeronaves foram adquiridas antes da revolução de 1979, tempos em que os EUA apoiavam o Irã. Os primeiros contatos foram feito em 1971, e após, um processo de negociação com o Chá Mohammad Reza Pahlavi, os F-14A foram adquiridos em 1974, inicialmente em um lote de 30 unidades para a então Força Aérea Imperial Iraniana, pedido que foi ampliado meses depois para 80 F-14A e 714 mísseis AIM-54 Phoenix em um negócio de US $ 2 bilhões. Ao todo 274 AIM-54 foram entregues junto com 79 F-14A antes do regime do Aiatolás tomar o governo.

As aeronaves começaram a ser entregues em janeiro de 1976. Em outubro de 1978, dois F-14A interceptaram um MiG-25 soviético voando alto e rápido sobre o mar Cáspio, forçando-o a abortar uma operação de reconhecimento sobre o Irã.

F-14A IRIAF. Ao todo 79 foram entregues (Foto: IRIAF).

Com a queda do Chá, houve o rompimento diplomático entre EUA e Irã, e com isto, o corte de suprimentos da Grumman. Em setembro de 1980, a agora Força Aérea da República Islâmica do Irã (IRIAF) conseguiu, após usar recursos locais, colocar um número de células operacionais.

Na década de 1980, os F-14 foram usados ​​como interceptores pelo IRIAF durante a Guerra contra o Iraque (1980 – 1988). Os dados não são precisos, mas consta que os F-14 iranianos abateram pelo menos 160 aeronaves iraquianas durante a guerra, perdendo de 12 a 16 Tomcats, a maioria por acidentes.

Com os embargos, os iranianos acabaram por fazer muitas modificações e customizações, inclusive de armamento, com a integração de outros mísseis. Relatos dão conta que por vários anos os F-14 estiveram sem condições de operar no fim dos anos 1990 e início dos 2000, com a frota vivendo de canibalizações e de esforço local para refazer peças por engenharia reversa. Em 2007 os EUA pagou US$ 900 mil para destruir parte dos velhos F-14, ao em vez de vender os aviões como sucata ou a aliados, tudo para não correr o risco de peças ou aeronaves inteiras pararem no Irã.

F-14AM com o novo padrão de camuflagem (Foto: IRIAF).

F-14AM

O processo de atualização dos F-14 da IRIAF começou em fevereiro de 2017. Eles estão sendo elevados ao padrão F-14AM (“Modernizado”) a fim de estender sua vida operacional até 2030. As atualizações domésticas incluem novos aviônicos, radar e RWR, além da integração de mísseis R-73E, AIM -7E e AIM-9J estão entre os mísseis ar-ar adaptados ao sistema de controle de fogo da aeronave. Outros incluem o Fakour-90, uma cópia local do AIM-54 e o míssil MIM-23 Hawk, um SAM adaptado como MAA. Várias informações dão conta que os F-14A/AM da IRIAF também empregam bombas para ataque, sem contudo sabermos qual é sua real eficácia. Seja como for, é fato que assim como os F-4 e F-5 da IRIAF, o F-14 estão recebendo modificações da indústria local, algumas com engenharia reversa para se manter operacionais.

Os IRIAF F-14 modernization também estão recebendo um novo padrão de camuflagem. Cerca de 60 F-14 ainda estariam no inventário, mas não se sabe quantos de fato serão modernizados e mais quantos de fato estão em condições operacionais.

Hoje três esquadrões – 81 TFS, 82 TFS e 83 TFS todos sediados em Esfahãn/Shahid Beheshti Intl (OIFM) constam como operadores de F-14/F-14AM.

@CAS

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