O Grupo Akaer está responsável pelo processo de revitalização das asas da frota de Lokheed P-3AM Orion da Força Aérea Brasileira (FAB), em um projeto que visa estender a vida útil das aeronaves e que, segundo a empresa, oferece a melhor solução de custo-benefício. A empresa apresenta o projeto, chamando a atenção que para a importância dessas aeronaves no contexto da soberania nacional. Noticiamos em 03 de setembro passado, a visita de uma comitiva do COMGAP – Comando Geral de Apoio da FAB, às instalações da empresa Arker.
O Brasil possui um litoral com 7.367 km de extensão, com uma ZEE – Zona Econômica Exclusiva, com uma área de 3.500.000 km². Situada para além das águas territoriais, a ZEE é uma faixa 200 milhas náuticas, sobre a qual cada país costeiro tem prioridade para a utilização dos recursos naturais e gestão ambiental.
Se não bastasse essa imensidão de água para vigilância e controle, o Brasil é responsável pelas operações de Busca e Salvamento (SAR – Search and Rescue), em águas internacionais, de acordo com o compromisso assumido junto à Organização Marítima Internacional (IMO – International Maritime Organization). Desta forma, a área sob responsabilidade brasileira mais do que triplica.
Constitucionalmente esta missão é de responsabilidade da Marinha do Brasil, que conta com o apoio dos esquadrões de vigilância e patrulha marítima da FAB, com as suas aeronaves Embraer P-95 Bandeirulha e P-3AM Orion.
O Lockheed P-3 Orion é uma aeronave de características únicas para realizar as diversas missões de vigilância marítima e negação do uso mar. O perfil da maioria dessas missões exige voos à baixa altitude e baixa velocidade. Esse perfil privilegia as aeronaves turboélices, que nessas condições consomem menos combustível e garantem grande autonomia. Além disto, por ser um quadrimotor, os P-3 Orion pode reduzir a potência de até dois motores para reduzir o consumo e permanecer mais tempo em missão. Em missões à baixa altura e velocidade reduzida, a autonomia dos Orion pode alcançar 16 horas de voo.
A Akaer iniciou-se no final de 2018, o seu projeto de revitalização das asas dos Lockheed P-3AM da FAB, quando equipes da empresa participaram de treinamentos nos Estados Unidos. Os primeiros conjuntos de asas estão sendo revitalizados nas modernas instalações da Akaer, localizada no complexo industrial da empresa em São José dos Campos/SP. A desmontagem e a montagem são realizadas no Parque de Material Aeronáutico do Galeão (PAMA-GL) da FAB, no Rio de Janeiro/RJ.
Visando o aumento da vida útil das aeronaves, a Akaer fará a substituição de diversos elementos primários das asas, tais como revestimentos superiores, longarinas dianteiras e traseiras, painéis superiores e inferiores dos caixões centrais asa/fuselagem, entre outras ações.
A Akaer traz também uma abordagem diferente da normalmente trazida pelas OEM’s e/ou fornecedores de equipamentos isolados. No caso da Akaer, as soluções adotadas são focadas nas análises de engenharia que, em um primeiro momento, permitam a revitalização e/ou extensão da vida operacional das soluções existentes, com um mínimo de intervenção.
A Akaer tem a inovação tecnológica como parte integrante do dia a dia e, no caso da revitalização das asas do P-3, não poderia ser diferente. Desde o primeiro momento, o projeto também era visto como uma plataforma para integrar conceitos e ferramentas de Indústria 4.0: o gêmeo digital, a manufatura avançada, a integração de sistemas, entre outros.
Para se ter uma ideia, antes mesmo de se começar a instalar os ferramentais e materiais no hangar, uma série de estudos de layout foram conduzidos em busca de uma distribuição ótima das estações de trabalho que pudesse maximizar a agregação de valor ao produto, reduzindo-se desperdícios.
Mais recentemente, uma nova revisão desse estudo foi realizada com o objetivo de possibilitar o trabalho em paralelo de dois pares de asas, além de diminuir deslocamentos e melhorar as bancadas e prateleiras de armazenamento de materiais em processo de produção.
Resumidamente, todo o layout de fábrica foi concebido, analisado e validado em um ambiente virtual, e posteriormente foi aplicado às instalações, otimizando assim o uso do espaço e permitindo melhor disposição física.
Também há inovação no que se refere aos roteiros de trabalho. O boletim de serviço a ser executado nas asas, compreende mais de 1500 instruções de trabalho, o que torna a gerência da informação e documentação um desafio importante. Para esse fim, foi desenvolvida uma solução capaz de organizar os roteiros de manufatura em grupos correlacionados e que permite uma melhor visibilidade do status geral do processo e as tomadas de decisões. Essa solução foi chamada de Rotas Alternativas, justamente por permitir que diferentes “caminhos” possam ser tomados para se executar o boletim de serviço, além de garantir maior transparência das informações de cada roteiro.
O primeiro protótipo foi desenvolvido para uma amostra de 150 roteiros e foi validado com sucesso. Neste momento, a solução está em fase de transbordamento para todo o universo de mais de 1.500 roteiros.
Todos esses roteiros de manufatura foram construídos a partir de imagens digitalizadas de plantas originais da Lockheed da década de 1950, e organizados em uma base de dados confiável e única no ambiente de Gerenciamento do Ciclo de Vida do Produto (PLM – Product Lifecycle Management). Todos os roteiros podem ser acessados pelos funcionários através de dispositivos móveis (tablets), diretamente na linha de produção, fornecendo elevada confiabilidade, pois todos os envolvidos no projeto estão acessando a mesma base de dados.
Em um futuro próximo, abordaremos outra capacidade que será implantada na execução das atividades. Além dos desenhos, será possível acessar informações tridimensionais dos roteiros de manufatura, sendo uma ferramenta ainda mais interativa e garantindo maior valor agregado à operação. Encontra-se em processo de desenvolvimento de conceito uma solução de realidade aumentada para permitir que as operações e informações de produção sejam feitas em tempo real, utilizando a própria estrutura como plataforma de imagem.
@FFO