

Embraer poderá montar o KC-390 nos EUA se garantir o contrato NGAS da USAF. A Embraer está desenvolvendo um plano para montar nos Estados Unidos o seu avião multimissão KC-390 Millennium, como parte da tentativa de obter o contrato para fornecer o futuro reabastecedor da USAF. De acordo com a FlightGlobal, a empresa tem projetos em diversos locais nos EUA, os quais poderiam dar suporte à produção do KC-390, caso seja selecionada na concorrência americana.
“Estamos 100% comprometidos em investir mais nos EUA”, disse Frederico Lemos, diretor comercial da Embraer Defesa & Segurança à FlightGlobal durante a conferência da Air & Space Forces Association (AFA) em Washington, DC, realizada no mês passado.
Embora atualmente montado no polo industrial da Embraer em São Paulo, em Gavião Peixoto, no interior de São Paulo, Lemos observa que cada KC-390 contém um alto nível de conteúdo produzido nos EUA. Os fabricantes aeroespaciais americanos fornecem vários sistemas essenciais para o Millennium, incluindo aviônicos, motores, unidade de energia auxiliar, superfícies de controle de voo e sistema de manuseio de carga.

O consórcio International Aero Engines AG (IAE) fornece os motores turbofans V2500 que equipam o KC-390, enquanto mais de 90 outros componentes e subsistemas são fornecidos pela Collins Aerospace, L3Harris, Raytheon, BAE Systems e outros. A Embraer diz que 59 empresas americanas contribuem para o KC-390, respondendo por mais de 50% do total de materiais comprados para cada jato.
A montagem local nos EUA tornaria o avião da Embraer compatível com o Buy American Act, o qual exige que o governo americano obtenha seus equipamentos internamente. Quanto ao local de produção do KC-390 nos EUA, Lemos afirma que as discussões estão em andamento. Grande parte da indústria aeroespacial de defesa aguarda que a USAF finalize seus requisitos para uma futura plataforma de reabastecimento em voo, o que, segundo Lemos, influenciará as considerações sobre a logística do programa e a especialização da força de trabalho.
A fabricante de aeronaves brasileira já tem uma presença substancial com instalações em Melbourne, na Flórida, onde finaliza a montagem de jatos executivos e em Jacksonville, também na Flórida, onde monta o turboélice de ataque leve A-29 Super Tucano. A Embraer também mantém instalações de MRO no Arizona, Texas e Flórida.
O futuro reabstecedor de próxima geração da USAF
A USAF atualmente está em meio ao processo de substituição dos seus antigos aviões-tanque Boeing KC-135R Stratotanker pelos mais novos Boeing KC-46A Pegasus. Embora essa etapa resolva os problemas do ciclo de vida dos velhos KC-135R, os líderes da USAF dizem que ele também precisará de outra nova plataforma de reabastecimento avançada para sobreviver às ameaças modernas. Esse conceito é conhecido como NGAS – Sistema de Reabastecimento em Voo de Próxima Geração.

O NGAS foi originalmente concebido em 2023 como uma aeronave furtiva com design de asa voadora. Preocupações sobre possíveis custos e tempos de desenvolvimento, recentemente levaram a USAF a desistir desse conceito. Em vez disso, foi iniciado o estudo de uma abordagem baseada em sistemas, envolvendo o uso de guerra eletrônica (para ocultar uma aeronave de reabastecimento convencional), combinado com capacidades avançadas de superioridade aérea, como a proteção de caças não tripulados em desenvolvimento ou uma futura aeronave de sexta geração.
Entretanto, na recente conferência da AFA, o General John Lamontagne, chefe do Comando de Mobilidade Aérea (AMC), à qual todos os esquadrões de reabastecimento estão subordinados, disse que a USAF está aberta para qualquer solução, o que inclui um projeto furtivo do tipo asa coadora, um jato executivo convertido ou um avião-tanque convencional “gerenciado por assinatura-radar”.
Embraer KC-390 específico para USAF
A USAF divulgou uma RFI em agosto, buscando conceitos para o NGAS. As respostas devem ser enviadas até 24 de outubro. “Há uma solicitação de informações [RFI] e nós responderemos a ela”, disse Lemos

A USAF cautela sobre os custos de desenvolver um novo avião-tanque furtivo pode impulsionar a Embraer com o seu KC-390 em plena produção e utilizado por vários membros da OTAN. “Vemos que o 390 pode desempenhar um papel nessa missão. As capacidades atuais já o tornam muito resistente. A velocidade e a altitude com que pode voar, mas também os sistemas que possui, não apenas em termos de autoproteção, mas também a conectividade que lhe permite receber e disseminar informações para evitar áreas potencialmente de maior risco”, afirmou Lemos.
O Executivo da Embraer diz que um projeto do KC-390 para a USAF provavelmente também incluiria medidas adicionais de proteção contra guerra eletrônica e efeitos cinéticos não especificados, voltados para aumentar ainda mais a capacidade de sobrevivência. “Ele já tem um nível de sobrevivência muito alto. Mas, considerando o que estamos vendo em termos de ameaças, podemos complementar com outros recursos, se a USAF perceber que outras capacidades são necessárias”, acrescentou.
Em 2022, a Embraer e a norte-americana L3Harris se uniram para oferecer uma variante do KC-390 ao Pentágono, que a fabricante designou de “Agile Tanker”. Embora essa parceria tinha sido desfeita — pelas repetidas mudanças na estratégia da USAF — o trabalho inicial na configuração do Agile Tanker parece ter estabelecido uma base para os planos atuais da fabricante brasileira.

A empresa certamente enfrentará forte concorrência por qualquer contrato NGAS contra o pesos pesados do setor, incluindo Boeing, Lockheed Martin, Airbus e outros. A L3Harris e a Sierra Nevada Corporation mantém fortes parcerias coma Embraer e também podem entrar na briga.
Embora o futuro do programa NGAS permaneça nebuloso, em meio a um ambiente orçamentário apertado e inúmeras prioridades concorrentes para fundos de modernização, os líderes da USAF estão inflexíveis de que precisam de um futuro avião-tanque para operar em um espaço aéreo muito perigoso para a frota atual de reabastecedores. “Precisamos ser capazes de entrar em ambientes de ameaça muito maior”, diz o Comandante do AMC.
Na ausência de uma opção de um substituto que permita a sobrevivência, o General de quatro estrelas diz que a USAF precisaria desenvolver novas armas de precisão de longo alcance que permitam que bombardeiros e reabstecedores permaneçam bem longe das zonas de engajamento do adversário.

A USAF pretende lançar o novo reabastecedor entre o início e meados da década de 2030. Considerando esse curto cronograma de desenvolvimento, o orçamento solicitado para o ano fiscal de 2026 incluiu pouco menos de US$ 13 milhões para apoiar o desenvolvimento do NGAS. Isso representa apenas um pequeno aumento em relação aos US$ 7 milhões previstos para o ano fiscal de 2025.
O pedido para o NGAS ocorre em um momento de grande competição por recursos adicionais. Grandes projetos de aquisição, incluindo o caça Boeing F-47 de sexta geração, o bombardeiro Northrop Grumman B-21 e o míssil balístico intercontinental Sentinel, exigem investimentos substanciais. A USAF também está sendo desafiada para atender a demanda cada vez maior por poder aéreo tático e suporte à mobilidade aérea com uma frota de aeronaves antigas que diminuiu significativamente desde o fim da Guerra Fria.
Fonte: Flight Global
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