Dúvidas sobre os estoques de mísseis de precisão da Rússia. Analistas militares estrangeiros estão observando detalhes durante a intensa campanha de bombardeios da Rússia sobre a Ucrânia, iniciada como resposta ao ataque à ponte de Kersh, na península da Crimeia na semana passada. Especialistas buscam entender como estaria o nível do arsenal de mísseis mais avançados da Rússia, e por quanto tempo mais o Kremlin poderá manter a pressão sobre Kiev.
Alguns observadores acreditam que a Rússia pode estar vendo o esgotamento dos seus estoques de armas de precisão de longo alcance, à medida que a guerra de quase oito meses se arrasta. Aliado a isso, as sanções internacionais impostas ao país atingem sua economia, fazendo com que as forças armadas russas lancem mão de mísseis de menor precisão.
Respondendo as cogitações do ocidente, autoridades russas dizem que os militares têm estoques suficientes de mísseis de longo alcance, e que as fábricas do país estão produzindo mais armamentos. Não há dados públicos sobre os números do arsenal de mísseis russos, nem quantos já foram utilizados na Ucrânia.
O presidente Vladimir Putin recentemente presidiu uma reunião para discutir planos para aumentar a produção de armas, mas evitou vazar detalhes em frente as câmeras e microfones da imprensa que cobria o evento.
Quando os militares russos lançaram os primeiros mísseis sobre território ucraniano na segunda-feira (10), especialistas observaram uma diversidade de armas de precisão de longo alcance como os mísseis de cruzeiro ar-terra Kh-55 e Kh-101, os mísseis de cruzeiro mar-terra Kalibr e os mísseis terra-terra Iskander.
As forças armadas russas também usaram seus mísseis do sistemas defesa terra-ar S-300 para atingir alvos terrestres, o que foi visto por alguns observadores como um sinal de escassez de armas.
Esse redirecionamento de sistemas de defesa aérea e mísseis antinavio para atingir alvos terrestres, sugere a baixa quantidade de armas mais avançadas, de acordo com Ian Williams, membro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington, EUA.
“Lançar mísseis de um sistema de defesa aérea S-300 para atingir alvos de interesse militar como prédios, por exemplo, é apenas contar com a sorte. Essas armas não tem a precisão dos mísseis destinados para esse fim. Isso realmente é apenas jogá-los no éter e ver onde eles pousam”, afirmou William.
Essa iniciativa pode ser explicada por um estoque abundante desses mísseis mais antigos, que foram substituídos por armas de defesa aérea mais avançadas. Soma-se a isso o pssível planejamento estratégico dos militares russos para manter as armas de longo alcance mais avançadas para alvos prioritários.
Embora os números reais sejam difíceis de obter, a maneira que a Rússia está usando suas armas revela muita coisa. Em um ataque recente em Mykolaiv, um míssil terra-ar foi usado para atingir um alvo no solo. Douglas Barrie, membro sênior do setor aeroespacial militar do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres, chamou isso de “um sinal claro de que os estoques de mísseis estão acabando”.
Enquanto o governo Biden acredita que há evidências de que a Rússia esgotou os estoques de suas armas mais eficientes, autoridades dos EUA dizem que não há sinal de que Moscou cederá facilmente sua pressão contra áreas civis em Kiev e outras cidades ucranianas.
Duas fontes anônimas do governo dos EUA observaram com certo interesse que a Rússia usou mísseis de cruzeiro em suas recentes ondas de ataques, deixando de lado armas de artilharia ou foguetes de curto alcance. Essa escolha, poderia indicar que as forças armadas russas estariam ficando sem armas de médio alcance mais baratas.
A baixa nos estoques pode estar diretamente relacionada a problemas na cadeia de suprimentos, por conta das sanções, informaram analistas. A relativa calma que Kiev desfrutou antes das explosões na ponte de Kerch, pode ter sido um sinal de que a Rússia estava tentando conservar seus recursos limitados.
Disparar um grande número de mísseis imprecisos pode ter a intenção de atrapalhar as defesas aéreas, enquanto a Rússia usa seus melhores mísseis para alvos de alto valor, como áreas da infraestrutura.
Williams também sugeriu que Moscou também poderia estar agindo estrategicamente, sabendo que sua pressão atingirá alvos civis na esperança de aumentar o pânico na Ucrânia e pressionar Kiev a aceitar um cessar-fogo favorável à Rússia. “Está ficando cada vez mais claro que, como dizem, a crueldade é o ponto”, disse ele.
Fonte: AP
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