Comunicação confusa foi a causa acidente fatal com T-38C Talon da USAF. A USAF divulgou na quarta-feira (25/05) o relatório de investigação do acidente ocorrido em novembro do ano passado, quando dois jatos de treinamento T-38C Talon colidiram durante o pouso em ala. Um piloto-aluno em instrução morreu na colisão.
Os fatos apurados pelos investigadores fizeram que a USAF revisasse, pela segunda vez em dois anos, as regras do treinamento de aproximação em ala para pilotos de caça. O relatório apontou falta de comunicação e falha dos instrutores, o que causou a colisão dos jatos e a morte do jovem aluno da academia.
Entre as mudanças implementadas para o pouso com Ala, foi aumentada a altitude mínima de segurança para iniciar a manobra, padronização dos protocolos de comunicação via rádio e novos requisitos no briefing das missões.
O acidente ocorreu em 19 de novembro de 2021, na Base Aérea de Laughlin, no Texas, e envolveu as aeronaves T-38C Talon, matrículas 68-8121 e 70-1586, pertencentes ao 87th Flying Training Squadron (87th FTS), subordinado à 47th Flying Training Wing (47th FTW).
O Segundo Tenente Anthony Wentz, de 23 anos, aluno em instrução, morreu ao colidir o seu avião (70-1586) contra o T-38C do Líder (68-8121) sobre a pista de Laughlin AFB. O Tenente Wentz voava com um Instrutor no assento traseiro, enquanto o Líder voava sozinho o seu jato.
Seis meses depois, um dos instrutores ainda está se recuperando dos vários ferimentos graves, e não pôde ser entrevistado para a investigação, enquanto o outro Oficial está recuperado e na ativa.
No dia do acidente, o Ten Wentz estava no seu quarto voo de formação de pilotos no T-38C. De acordo com o relatório, os dois Instrutores (chamados Mishap Instructor Pilots MIP 1 e 2), não conseguiram se comunicar adequadamente e confirmar qual dos dois aviões pousaria. A Situação ficou mais complicada quando os Instrutores usaram “técnicas conflitantes” para posicionar os aviões, assim como a confusão do Aluno durante várias etapas do voo sobre os códigos de chamada-rádio das aeronaves.
Os voos de formação permitem que dois aviões forneçam apoio mútuo durante uma missão e podem ser úteis em situações que vão desde o reabastecimento em voo até o auxílio de uma aeronave em pane.
“É importante praticar aproximações em formação durante o treinamento, tanto na posição de Líder quanto na posição de Ala, pois prepara os pilotos para a situação potencial em que uma aeronave em formação é incapaz de retornar a um aeródromo sem apoio”, disse o relatório, afirmando que “o MIP2 [que voava com Wentz] não reconheceu uma situação precária em desenvolvimento… e não interveio e impediu que as aeronaves colidissem”, disse o relatório.
Até então, não havia treinamento, orientação ou padrões para definir a manobra “one up/one down”, quando uma aeronave pousa e a outra arremete no ar e prossegue em voo. Os investigadores também descobriram que os Instrutores têm ideias diferentes sobre como resolver os conflitos de pousos, embora existam orientações oficiais sobre esse assunto.
O Segundo Ten Anthony D. Wentz se formou em 2020, com bacharelado em engenharia mecânica pela Academia Militar dos EUA em West Point, Nova York, onde também conheceu sua esposa, Cori. Eles se casaram quatro meses antes do acidente. Seus registros mostraram que ele era um aluno médio de T-38, que era bem visto por seus amigos, e era “o tipo de cara que você deseja ser”, disse um aluno aos investigadores
Na manhã do acidente, o Instrutor 1 (MIP1) e o Ten Wentz realizaram um briefing de pré-voo, sem a presença do MIP2, que chegou atrasado e não participou da reunião. Foi previamente decidido a esquadrilha faria uma aproximação reunida, e que o MIP 1 (aeronave 68-8121) pousaria, enquanto Wentz e o MIP2 (no jato 70-1586) arremeteria sobre a pista.
Ambos os instrutores foram considerados qualificados para o voo, apesar do MIP2 – que voou com Wentz – tenha recebido comentários dos seus próprios Instrutores de que ele era “lento para intervir na instrução dos alunos” e “algemavam” desnecessariamente os alunos a certas técnicas de voo, segundo o relatório.
O voo ocorreu conforme o planejado até que a Esquadrilha iniciou o retorno à base. O que se seguiu foi uma série de falhas de comunicação entre Wentz, os Instrutores e o Controle de Tráfego Aéreo (ATC): perguntas cruciais sobre quem lideraria a formação ficaram sem resposta em meio à confusão sobre os níveis de combustível e a confusão de códigos-de-chamada no rádio aumentou a incerteza.
Apesar do seu Instrutor alertá-lo sobre o baixo nível de combustível e orientar para pousar, pouco antes das 10h15 (horário local), o Ten Wentz disse ao ATC que iria arremeter no ar, enquanto o outro jato pousaria.
Apesar do seu Instrutor orientá-lo para manter-se à esquerda do outro T-38C, Wentz trocou de posição para que o outro avião pudesse usar o lado esquerdo da pista. O MIP1, por sua vez, achou que ficar à direita significava que ele deveria pousar. Confirmado o avistamento da pista, foi iniciada a aproximação final.
O relatório chama a atenção para esse ponto, que “a qualquer momento durante a aproximação, um dos Instrutores poderia ter esclarecido quem pousaria e quem arremeteria, evitando assim qualquer possível confusão.”
Os investigadores concluíram que teria sido difícil para o MIP1, que pousava o seu avião, visualizar o seu Ala estava fazendo, e que o MIP2 estava focado em pousar, em vez de observar o Líder. Assim, ambos T-38C tentaram pousar simultaneamente na linha central da mesma pista, onde vieram a colidir.
O trem de pouso do jato de Wentz atingiu o Líder, fazendo subir o nariz e e virando de cabeça para baixo. Nessa fração de segundos que os jatos estavam fora de controle sobre a pista, o MIP2 comandou a sua ejeção e de Wentz.
A ejeção do MIP2 ocorreu paralelamente ao solo, e não se separou do assento, deixando-o gravemente ferido. “A interferência com o solo danificou várias conexões do sistema de ejeção, causando falha na abertura do pára-quedas e separação do assento do MIP2”, disse o relatório.
Como ocorre no T-38C biplace, o assento da frente, onde estava o Ten Wentz, disparou após o do MIP2, o que aconteceu quando o aluno estava de dorso muito próximo ao solo, matando Wentz.
O jato do MIP1 rodou pela pista até parar, quando o piloto escapou com ferimentos leves.
Embora os T-38 tenham muitos problemas de manutenção documentados, os investigadores disseram que as duas aeronaves envolvidas não apresentaram nenhuma falha, portanto não contribuíram para o acidente. Fatores externos como ingestão de álcool, drogas, pouso tempo de descanso ou algo relativo ao estilo de vida, atuaram nesse acidente.
Na época a USAF não suspendeu as operações com os T-38. Este acidente marcou a sétima morte em acidente com os Talon desde o ano fiscal de 2018, e o segundo em 2021.
“Perder companheiros é muito doloroso, e é com o coração pesado que expresso minhas sinceras condolência. Nossos corações, pensamentos e orações estão com nossos pilotos envolvidos neste acidente e suas famílias”, disse Coronel Craig Prather, Comandante da 47th FTW.
O relatório completo pode ser acessado AQUI.
Siga-nos no Twitter @RFA_digital
@FFO