Como o Irã burla as sanções internacionais na aviação: o exemplo da Pouya Air. O Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC), frequentemente altera o nome das suas companhias aéreas para burlar as sanções internacionais. Um exemplo é a Pars Aviation Service Company, que mudou duas vezes de nome, primeiro para Yas Air (2008) e depois para Pouya Air (2014), fugindo da lista de sansões das Nações Unidas, dos Estados Unidos e de países europeus.
Em sua essência, a Pars Air era uma companhia cargueira criada para transportar materiais perigosos que nenhuma outra companhia aérea iraniana poderia carregar, como armamentos ilícitos para a Etiópia e Sudão, e motores revisados de C-130H Hércules para a Venezuela. Com o tempo, a empresa expandiu as suas operações, impossibilitando que as autoridades ocidentais acompanhassem as suas diversas atividades.
É verdade que houve algumas sanções. O U.S. Department of the Treasury’s Office of Foreign Assets Control listou uma série de aeronaves pertencentes à Pouya Air que transportaram armamentos para a Rússia. Entre 27 de março de 2022 e 25 de abril de 2024, por exemplo, a Pouya Air realizou a maioria dos 161 voos cargueiros conhecidos de Teerã para Moscou. Esta é uma operação que ignora a forma como o IRGC fatura com outros fretamentos da Pouya Air ou como as companhias aéreas transportam pessoal e armas para outros destinos em apoio as atividades militares do Irã pelo mundo.
O IRGC tem buscado cada vez mais entrar no mercado aéreo civil, utilizando a sua pequena frota de aviões de transporte Antonov An-74T-200 e de passageiros An-74TK-200 para transportar pessoal do IRGC e civis dentro do Irã. O Departamento do Tesouro dos EUA não impediu a utilização dessas aeronaves, mas a guerra na Ucrânia fez isso porque a Rússia armazenou peças sobressalentes na sede da empresa em Kiev, antes do início do conflito.
Com os An-74 parados e um jato executivo Dassault Falcon 20F também fora de operação, o IRGC comprou dois antigos jatos regionais Embraer ERJ-145EP e um jato executivo Challenger 604 de Hossein Hafez Amini, um empresário turco ligado à Força Qods, uma unidade especial do IRCG. A substituição de aeronaves sancionadas por novos aviões continua a ser uma lacuna explorada pelo Irã.
A Pouya Air operou os três jatos, com os ERJ-145 responsáveis pelo transporte de membros do IRGC e passageiros entre bases, e o Challenger 604 transportando o alto comando do IRGC e funcionários do governo. A Mahan Air, também sancionada pelo Departamento do Tesouro dos EUA por seu vínculo ao IRGC, ajudou a Pouya Air a contratar pilotos e engenheiros de manutenção não iranianos para treinar o pessoal do IRGC para voar e manter os ERJ-145EP.
Com o final da vida útil dos ERJ-145EP, as Mahan Air e seus representantes na Rússia adquiriram três ERJ-145LR de longo alcance e um ERJ-145LU de maior capacidade de peso comprado uma companhia aérea da Namíbia. Esta aeronave foi transladada pela Argélia, Espanha e Rússia antes de sua chegada ao Irã entre fevereiro e maio de 2021. A Mahan Air recebeu um quarto ERJ-145LR em dezembro de 2023. Pilotos de An-74 e Il-76 foram treinados para voar os novos jatos em Centros de Formação da Lufthansa, na Alemanha. Isto demonstrou uma lacuna nas sanções, embora seja uma vulnerabilidade que o regime iraniano procura eliminar, estabelecendo os seus próprios simuladores de voo no país.
Os novos ERJ-145LR/LU aumentaram significativamente a lucratividade da Pouya Air, pois dobrou o número de passageiros transportados em rotas domésticas. A Pouya pode canibalizar suas aeronaves mais antigas e aposentadas para manter os atuais ERJ-145LR/LU voando por aproximadamente um ano. O fracasso em sancionar a aquisição do cinco Embraer torna mais fácil para a empresa ligada ao IRGC obter peças sobressalentes no exterior por meio de contrabando, e manter a frota operando por muito mais tempo.
Outra lacuna que o IRGC explora é fazer com que a Organização da Aviação Civil Iraniana fornece matrículas falsas e temporárias para os seus aviões de transporte Ilyushin-76TD, o que permite voos de transporte armamentos para a Rússia e para a Síria. Sancionar toda a frota de Ilyushin 76 e Antonov 74 do Irã, independentemente das suas matrículas, acabaria com esta fraude e com as operações do IRGC e da Força Qods no Iraque e na Síria.
Quando os diplomatas ocidentais debatem se as sanções são eficazes para restringir o IRGC e o comércio de armas iraniano, muitas vezes abordam a questão filosoficas em vez de identificarem como o Irã explora as lacunas dessas sanções. A Pouya Air continua a operar apesar dos bloqueios, não porque eles são necessariamente ineficazes, mas sim porque aqueles que procuram restringir o comportamento do regime não agem proativamente para restringir a extorsão da aviação do IRGC.
Autor: Babak Taghvaee via ME Forum
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