China vem contratando pilotos ex-Luftwaffe. Um grupo de pilotos alemães de Eurofighter EF-2000 Typhoon está atualmente na China. Os ex-pilotos da Luftwaffe (Força Aérea Alemã) teriam sido contratados para dar instrução a pilotos chineses e passar táticas e segredos da OTAN.
A revista semanal Der Spiegel e o canal público de televisão ZDF revelaram na sexta-feira dia 2/06 que vários ex-pilotos ex-Luftwaffe foram recrutados pela China para treinar seus próprios pilotos. Há indícios de que os salários pagos pelos chineses aos pilotos alemães transitavam por empresas-fantasmas sediadas nas Ilhas Seychelles.
De acordo com uma investigação da mídia alemã, dois desses pilotos são os instrutores do Eurofighter Peter S. e Alexander H., e o piloto do Tornado Dirk J. Os três nomes citados teria relações com o espião chinês Su Bin, que em 2016, foi condenado por espionagem nos Estados Unidos e, pouco depois, foi extraditado de volta para a China.
Os pilotos alemães têm um acordo com a empresa chinesa Lode Technology Ltd. como “Aviation Consultant Contractors”, onde Su Bin é o principal acionista. A investigação aponta que eles estariam na China, em Quiqihar no nordeste do país, onde existe uma base aérea da Força Aérea do Exército de Libertação do Povo Chinês formada por unidade de caças J-11 e J-20.
Este não é o primeiro registro de pilotos ocidentais contratados por empresas chinesas para dar consultoria para pilotos chineses, que, na prática, pretende é revelar segredos das táticas aéreas ocidentais. Em 2022 e 2023 também houve relatos de contratação de pilotos britânicos de Eurofighter. Um relatório do Ministério da Defesa da Austrália também afirma que pilotos da Royal Australian Air Force (RAAF) também foram recrutados pela China e chegaram no final de outubro de 2022. Segundo a Reuters, pelo menos 30 pilotos britânicos e australianos estão na China.
A revelação de que os pilotos alemães estão treinando seus colegas chineses é preocupante, especialmente à luz do último exercício aéreo conduzido pela Força Aérea Chinesa. Foi realizada em abril deste ano e o exercício foi considerado uma simulação a um ataque a Taiwan por via aérea.
Na Alemanha, existe uma lei que obriga os militares, e principalmente os pilotos de caça a reportar suas atividades privadas após o término de sua carreira militar, que muitas vezes termina aos 41 anos. A mídia alemã afirma não saber se os três pilotos alemães fizeram isso a Luftwaffe.
O ministro da Defesa da Alemanha pediu a Pequim, no dia 3/06, que pare de recrutar ex-membros da Luftwaffe para treinar seus pilotos. O governo alemão teme que informações confidenciais da OTAN, possam ser reveladas aos chineses. O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, teve uma discussão sobre essa prática suspeita com o colega de pasta chinês, Li Shangfu Li, à margem de uma conferência de defesa e segurança realizada neste em Singapura.
“Deixei claro que esperava que essa prática parasse imediatamente e disse a ele que provavelmente ele mesmo não ficaria muito feliz se eu tentasse fazer a mesma coisa”, acrescentou Pistorius, “ele não negou o fato, mas, do seu ponto de vista, relativizou a importância”.
De acordo com a imprensa alemã, o caso preocupa há várias semanas o comitê de supervisão dos serviços secretos da Câmara dos Deputados da Alemanha. “Estamos preocupados com que os militares, tendo trabalhado para o Estado alemão, possam ter empregos que os levem a trair segredos de Estado”, disse o presidente do comitê, Konstantin von Notz. Outro receio do comitê é estes segredos possam ser repassados aos russos.
O Ministério da Defesa alemão planeja abrir uma investigação sobre essas contratações opacas, revelou a emissora ZDF. Casos semelhantes vieram à tona, nos últimos anos, no Reino Unido e nos Estados Unidos. O que parece ser uma prática recorrente de Pequim torna-se ainda mais sensível em um momento em que as tensões entre a China e Taiwan aumentaram muito nos últimos meses.
Desde o fim da guerra civil chinesa em 1949, a China considera Taiwan como uma província que ainda não conseguiu reunificar com o restante de seu território. Nos últimos meses, Pequim intensificou suas incursões militares ao redor da ilha, mobilizando suas Forças Armadas para um possível enfrentamento no estreito de Taiwan, ameaça que desencadeou advertências dos Estados Unidos.
@CAS