Segundo informou o governo da China na segunda-feira -26/10, Pequim vai impor sanções a empresas militares americanas, incluindo a Boeing, Raytheon e a Lockheed Martin por venderem armas a Taiwan, trazendo e intensificando uma rivalidade com Washington. Porém a China não deu detalhes sobre quais penalidades podem ser impostas ou quando isto acontecerá, deixando a impressão que é mais um discurso político recheado de provocações veladas.
“Para proteger os interesses nacionais, a China decidiu impor sanções às empresas americanas que estavam envolvidas na venda de armas para Taiwan”, disse porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian em uma entrevista coletiva na sede do governo.
O Partido Comunista Chines reivindica a posse da ilha de Taiwan, que em 1949 durante uma guerra civil, tornou-se independente da China, algo até hoje não aceito. Os Estados Unidos prometeu na década de 1980 reduzir e eventualmente encerrar as vendas de armas para Taiwan, em troca do fim da disputa entre China e Taiwan que deveria ser resolvida pacificamente.
Taiwan sempre foi um “espinho” nas relações diplomáticas. Washington não tem relações formais com o governo democraticamente eleito da ilha, mas é seu principal aliado. A lei americana exige que o governo dos EUA garanta que Taiwan possa se defender e proteger seu território. Com isto as vendas de armas para a ilha só cresceram ao longo dos anos e, atualmente, tem se tornado não só uma fonte de lucro para a indústria americana, mas um ponto de inflexão e provocação entre EUA e China.
Na semana passada, Pequim exigiu que Washington cancelasse a venda de 135 mísseis Boeing AGM-84H SLAM-ER avaliados em mais de US$ 1 bilhão para Taiwan que deverá empregar nos F-16A e nos futuros 66 F-16V, recentemente vendidos pela Lockheed Martin. A venda “minou seriamente a soberania e os interesses de segurança da China”, disse Zhao.
Por outro lado China tem intensificado a atividade militar em torno de Taiwan em uma tentativa de pressionar administração do presidente Tsai Ing-wen. Durante década a sombra de uma invasão chinesa paira sobre a ilha. Atualmente, o Partido Comunista está usando o crescente peso econômico de segunda maior economia do mundo para pressionar outros governos a cortar relações diplomáticas e não oficiais com Taiwan.
Todo este cenário vem numa esteira de provocações e sanções impostas nos últimos anos entre as dois maiores PIBs do mundo. Estados Unidos e China vem travando uma guerra comercial, política e militar velada, esta com provocações que vão desde venda de armas a Taiwan, até diversas manobras militares para demonstrar força e provocar tensão, em especial na região do Mar da China.
Do aumento de alíquotas comerciais, passando por questões de espionagem, tecnologia 5G, pandemia ou proibições financeiras e de viagens a funcionários e empresas chinesas vinculadas a abusos humanitários na região noroeste de Xinjiang, ou de cunho democrático como em Hong Kong, depois que Pequim tentou apertar o controle impondo uma lei nacional lei de segurança, tudo é motivo para farpas, embora não esteja claro ainda se elas têm algum efeito maior que perdas e ganhos econômicos.
Na área aeronáutica, Pequim pressiona regularmente empresas americanas, incluindo a Boeing, em um esforço para influenciar a política dos EUA. A China é um dos maiores mercados da Boeing para aeronaves comerciais e vive uma situação delicada atualmente, o que pode torná-la mais vulnerável com um boicote oriental. Porém, Zhao mencionou apenas o braço militar da Boeing, a Boeing Defense, não seu negócio de aviões civis será alvo de sanção, o que para muitos especialistas pode não ser verdade. Como a China emerge da pandemia como um dos únicos países com crescimento econômico, sua posição de poder ditar rumos de mercado é uma carta poderosa.
Zhao pediu a Washington que “pare as vendas de armas para Taiwan e pare qualquer interação militar com Taiwan. Continuaremos a tomar as medidas necessárias para salvaguardar a soberania nacional e os interesses de segurança”.
Não está claro o que será feito, se poderá ser feito e quais seus efeitos, mas hoje temos nitidamente outros países como Alemanha, Japão, UK e França olhando com certo receio a hegemonia e influência chinesa. Dificilmente os protestes chineses dificultarão novas vendas de empresas americanas a aliados dos EUA na região.
@CAS